Pelos critérios de Moro, Zucolotto deve responder pelo crime de obstrução de justiça, por Wadih Damous

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Pelos critérios de Moro, Zucolotto deve responder pelo crime de obstrução de justiça

por Wadih Damous

O dileto amigo do juiz Sérgio Moro, o advogado Carlos Zucolotto, acusado por Tacla Duran, réu na Lava Jato, de intermediar negociações paralelas de delação premiada com a força-tarefa da operação, apagou as postagens de seu perfil no facebook.

Dentre elas, fotos nas quais Moro, Zucolotto e esposas aparecem em restaurantes de luxo em Nova Iorque. O problema é que pelos critérios adotados por Moro à frente da Lava Jato muitos já foram acusados, condenados e presos por procedimentos semelhantes.

E agora, doutor Moro? Será que a sociedade não tem o direito de saber o que teme seu padrinho de casamento ao limpar o perfil do facebook? Podemos pensar que seja o medo da revelação de evidências e fatos comprometedores. Embora saibamos todos que a seletividade e adoção sistemática da prática dos “dois pesos e duas medidas” sejam marcas visíveis de sua atuação como juiz, o caso em questão requer explicações.

Não custa lembrar que Moro foi pilhado em flagrante demonstração de deboche quando as denúncias de Duran vieram à tona, através de matéria do jornal Folha de São Paulo assinada pela jornalista Mônica Bergamo.

Na ocasião, o juiz de 1ª instância, que vem dando fé pública e crédito ilimitado à palavra de acusados e criminosos, para condenar sem provas desde o início da Lava Jato, teve a desfaçatez de sair-se com essa : “É lamentável que a palavra de um foragido da Justiça brasileira seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da justiça brasileira.”

Na mesma linha, ele negou o pedido dos advogados do ex-presidente Lula para que Duran fosse ouvido na condição de testemunha de defesa. Está claro que Moro quer calar Duran a todo custo e abafar o episódio. Mas a Lava Jato acusou a presidenta Dilma de obstruir a justiça ao nomear Lula ministro e do mesmo crime por ter nomeado um ministro do STJ, segundo delação do ex-senador Delcídio Amaral.

Nos porões de Curitiba não faltam presos por obstrução da justiça, com base nos parâmetros de Moro para tipificar esse delito. Agora, a pergunta que inquieta os defensores do estado democrático de direito é : por que diabos seu amigo e compadre está a salvo do entendimento padrão da Lava Jato sobre obstrução de justiça ?

Wadih Damous – deputado federal e ex-presidente da OAB

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Com a palavra o intocável e imparcial juiz Sergio Moro

    A palavra de um ladrão acusando Lula, para o senhor é prova, mas a palavra de um ladrão acusando seu amigo, é calúnia?

    Como é que é isso?

    Com a palavra o imparcial e intocável juiz Sergio Moro.

  2. A falha fundamental do filme sobre a Lava Jato

    Não assisti ao filme da Lava Jato ainda. Na verdade, eu nem pretendo.  Não que o tema não me interesse ou que eu julgue o trabalho dos outros sem contato – isso é coisa de juiz e de Narcisos.

     

    Só que tem uma falha, tão básica e óbvia, que parece gritar na minha cara toda vez que penso no filme: ele se propõe a contar uma história que ainda não está clara. Como o roteirista, diretor, produtor, que o seja, pode se propor a contar a história da Lava Jato se há milhares de documentos e pontos obscuros? Peguemos, por exemplo, a história da advogada que largou a defesa de seus clientes e mudou para os EUA. Essa história nunca foi esclarecida, como alguém poderia abordá-la em um filme?

     

    Nossa ditadura acabou há mais de 30 anos, e ainda hoje são divulgados e disponibilizados documentos que contam melhor esse período. Depoimentos, sigilo expirado, revelações…isso se chama história, se chama perspectiva histórica, e o filme carece disso de um modo tão bruto e tacanho que não consigo entender porque ninguém comentou ainda.

     

    Sempre achei que era uma idiotice ler biografias de gente viva. O filme da Lava Jato é exatamente isso: a biografia de um vivo, uma história que ainda não terminou e que está muito bem escondida. Espero viver o suficiente para ter todos os detalhes.

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