A mídia tem que se precaver contra armações em manifestações políticas

Que João Dória Jr se prevaleça desses episódios para exercitar seu discurso bolsonarista, pretendendo ocupar o vácuo deixado por seu parceiro de 2018, entenda-se. Que jornalistas sérios entrem nesse jogo, é incompreensível.

À medida em que o governo Bolsonaro se esvai em sangue e lama, há o risco concreto de parte da mídia caia de cabeça novamente no jogo político do discurso de ódio.

Ontem houve manifestações pacíficas pelo impeachment de Bolsonaro, organizadas por organizações e movimentos sociais. Houve um episódio isolado, do PCO (Partido Central Operário) contra militantes do PSDB. O PCO é uma organização pequena, radical, inexpressiva, sem ter eleito um político sequer, vereador, prefeito, deputado estadual ou federal. Ou seja, sua representatividade é próxima a zero. Utilizar esse episódio para generalizar as críticas à esquerda é intelectualmente desonesto.

Do mesmo modo, daqui para diante é essencial que os organizadores de manifestações se distanciem cada vez mais dos radicais. Evitar criticá-los, por solidariedade política, seria suicídio. Mirem-se em Pablo Ortellado, filósofo que estimulava os black blocs e, hoje em dia, transformou-se em arma da mídia contra a esquerda – a pretexto de fazer “autocrítica”.

Já a quebradeira posterior foi perpetrada por grupos anônimos. Qualquer jornalista minimamente informado está careca de saber da tática de infiltração de grupos radiciais contrários, ou mesmo de P2 da polícia, visando comprometer movimentos críticos ao sistema. Há um amplo histórico de infiltração de supremacistas brancos e de policiais em manifestações por direitos

Que João Dória Jr se prevaleça desses episódios para exercitar seu discurso bolsonarista, pretendendo ocupar o vácuo deixado por seu parceiro de 2018, entenda-se. Que jornalistas sérios entrem nesse jogo, é incompreensível.

Mais do que nunca, a imprensa tem uma enorme responsabilidade de corrigir a radicalização da política – que levou a Bolsonaro -, processo da qual ela foi agente ativo. Repetir o erro  seria definitivamente fatal nessa luta pela recuperação da credibilidade.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Essa e uma tarefa para o super MP, os organizadores nao tem condicoes nem poderes pra isso.

    Quem sabem eles descobrem quem sao esses atores disfarcados que apresentam sempre o mesmo espetaculo no mesmo palco do mesmo banco que bancou o golpe enviando conselhos para seus correntistas e investidores.

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