Aquífero Guarani em risco devido ao uso de agrotóxicos

Por Laura G

Comentário ao post “50% dos alimentos são desperdiçados anualmente

Do EcoDebate

Estudo mostra que o Aquífero Guarani está contaminado por agrotóxicos

O Aquífero Guarani, manancial subterrâneo de onde sai 100% da água que abastece Ribeirão Preto, cidade do nordeste paulista localizada a 313 quilômetros da capital paulista, está ameaçado por herbicidas.

A conclusão vem de um estudo realizado a partir de um monitoramento do Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp) em parceria com um grupo de pesquisadores, que encontrou duas amostras de água de um poço artesiano na zona leste da cidade com traços de diurom e haxazinona, componentes de defensivo utilizado na cultura da cana-de-açúcar.

No período, foram investigados cem poços do Daerp com amostras colhidas a cada 15 dias. As concentrações do produto encontradas no local foram de 0,2 picograma por litro – ou um trilionésimo de grama. O índice fica muito abaixo do considerado perigoso para o consumo humano na Europa, que é de 0,5 miligrama (milésimo de grama) por litro, mas, ainda assim, preocupa os pesquisadores, que analisam como possível uma contaminação ainda maior.

No Brasil, não há níveis considerados inseguros para as substâncias. Ainda assim, a presença do herbicida na zona leste – onde o aquífero é menos profundo – acende a luz amarela para especialistas. Segundo Cristina Paschoalato, professora da Unaerp que coordenou a pesquisa, o resultado deve servir de alerta. “Não significa que a água está contaminada, mas é preciso evitar a aplicação de herbicidas e pesticidas em áreas de recarga do aquífero”, disse ela.

O monitoramento também encontrou sinais dos mesmos produtos no Rio Pardo, considerado como alternativa para captação de água para a região no longo prazo. “Isso mostra que, se a situação não for resolvida e a prevenção feita de forma adequada, Ribeirão Preto pode sofrer perversamente, já que a opção de abastecimento também será inviável se houver a contaminação”.

Aquífero ameaçado

O Sistema Aquífero Guarani, que faz parte da Bacia Geológica Sedimentar do Paraná, cobre uma superfície de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, sendo 839., 8 mil no Brasil, 225,5 mil quilômetros na Argentina, 71,7 mil no Paraguai e 58,5 mil no Uruguai. Com uma reserva de água estimada em 46 mil quilômetros quadrados, a população atual em sua área de ocorrência está em quase 30 milhões de habitantes, dos quais 600 mil em Ribeirão Preto.

A água do SAG é de excelente qualidade em diversos locais, principalmente nas áreas de afloramento e próximo a elas, onde é remota a possibilidade de enriquecimento da água em sais e em outros compostos químicos. É justamente o caso de Ribeirão, conhecida nacionalmente pela qualidade de sua água.

Para o engenheiro químico Paulo Finotti, presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente (Soderma), Ribeirão corre o risco de inviabilizar o uso da água do aquífero in natura. “A zona leste registra plantações de cana em áreas coladas com lagos de água do aquífero. É um processo de muitos anos, mas esses defensivos fatalmente chegarão ao aquífero, o que poderá inviabilizar o consumo se nada for feito”, explica.

Já para Marcos Massoli, especialista que integrou o grupo local de estudos sobre o aquífero, a construção de casas e condomínios na cidade, liberada através de um projeto de lei do ex-vereador Silvio Martins (PMDB) em 2005, é extremamente prejudicial à saúde do aquífero. “Prejudica muito a impermeabilidade, o que atinge em cheio o Aquífero”, diz.

Captação

Outro problema que pode colocar em risco o abastecimento de água de Ribeirão no médio prazo é a extração exagerada de água do manancial subterrâneo. Se o mesmo ritmo de extração for mantido, o uso da água do Aquífero Guarani pode se tornar inviável nos próximos 50 anos em Ribeirão Preto.

A alternativa, além de reduzir a captação, pode ser investir em estruturas de captação das águas de córregos e rios que, além de não terem a mesma qualidade, precisam de investimentos significativamente maiores para serem tratadas e tornadas potáveis. A perspectiva já é considerada pelos estudiosos do chamado Projeto Guarani, que envolveu quatro países com território sobre o reservatório subterrâneo. O cálculo final foi entregue no fim do ano.

O mapeamento mostrou que a velocidade do fluxo de água absorvida pela reserva é mais lenta do que se supunha. Pelas contas dos especialistas, a cidade extrai 4% mais do que poderia do manancial. A média de consumo diário de água em Ribeirão é de 400 litros por habitante, bem acima dos 250 litros da média nacional. Por hora, a cidade tira do aquífero 16 mil litros de água. Vale lembrar que a maior parcela de água doce do mundo, algo em torno de 70%, está localizada, em forma de gelo, nas calotas polares e em regiões montanhosas.

Outros 29% estão em mananciais subterrâneos, enquanto rios e lagos não concentram sequer 1% do total. Entretanto, em se tratando da água potável, aproximadamente 98% se encontram no subsolo, sendo o Aquífero Guarani a maior delas. A alternativa para não desperdiçar esses recursos é investir em reflorestamento para garantir a recarga do aquífero, diz o secretário-geral do projeto, Luiz Amore.

Reportagem do DCI, socializada pelo MST.

EcoDebate, 19/05/2011

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Da Rede de Agricultura Sustentável

Agrotóxicos podem estar contaminando Aqüífero Guarani

Estudos de geoprocessamento e processamento remoto, coordenados pela pesquisadora Emília Hamada, da Embrapa Meio Ambiente, vão ser utilizados para pesquisar se o uso de agrotóxicos nas áreas de recarga do Aqüífero Guarani estão contaminando o lençol de água. O Aqüífero Guarani, um dos maiores do mundo, possui áreas de recarga próximas a culturas de cana-de-açúcar, soja, arroz irrigado, milho, entre outras. Áreas de recarga são locais ou regiões específicas por onde ocorre o recarregamento direto do aqüífero pelas chuvas, cuja profundidade média, no caso específico do Aqüífero Guarani, é de cerca de 50m de profundidade.(fonte: Campo Grande News) A Embrapa Meio Ambiente, empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, iniciou os estudos usando o SIG (Sistema de Informação Geográfica), e alimentando o programa com informações físicas (solo, clima, relevo), declividade, entre outras. O cruzamento das informações levará ao diagnóstico dessas áreas, que será utilizado para o planejamento adequado a cada cultura e também para simulação de situações com outras culturas e uso de agrotóxicos menos agressivos. As informações são da publicação Ecologia em Notícias, da Ong Ecoa. (fonte: Campo Grande News 2/5/03)

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Do Ciência Hoje

Aqüífero Guarani sob risco de contaminação

Renata Moehlecke

Agricultura e suinocultura ameaçam maior reserva subterrânea de água doce e potável

A maior reserva subterrânea de água doce e potável do mundo está ameaçada. O aqüífero Guarani, que se estende por 1,8 milhão de km na porção meridional da América do Sul, pode apresentar altos índices de poluentes decorrentes da prática da agricultura e pecuária. O risco de contaminação, apontado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é preocupante, mas ainda não compromete para o uso do homem os quase 50 quatrilhões de litros de água do aqüífero.

O aqüífero Guarani cobre quase toda a região Sul do Brasil e se estende por parte das regiões Centro-oeste e Sudeste, além de Argentina, Paraguai e Uruguai

O quadro foi descrito na dissertação de mestrado recém-defendida por Cícero Almeida no Departamento de Geografia da UFSC. De acordo com o estudo, o nível da água do aqüífero Serra Geral teria aumentado após o enchimento dos reservatórios das usinas hidrelétricas de Itá e Machadinho, em Santa Catarina.O aqüífero Guarani talvez seja o único que apresenta água a até 2 mil metros de profundidade com baixas taxas de salinidade, próprias para o consumo humano. A contaminação pode afetá-lo de forma indireta: o risco vem da poluição do aqüífero Serra Geral, que recobre o Guarani e apresenta espessuras que vão de 500 a 1500 metros. O Serra Geral tem 1,2 milhão de km e abrange o oeste dos três estados do Sul e de São Paulo, além de partes de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.

O aumento de nível teria tornado esse aqüífero mais vulnerável às infiltrações de agrotóxicos e dejetos animais presentes nos rios da região e nas próprias barragens. A poluição é decorrente sobretudo da prática da suinocultura concentrada e da agricultura extensiva, sobretudo de soja e milho.

A água se acumula nos poros da rocha arenítica do aqüífero Guarani ou nas inúmeras fissuras das rochas vulcânicas do Serra Geral. Um grande número de falhas e fraturas profundas corta esses dois sistemas. Isso os coloca em contato e potencializa o risco de que substâncias nocivas ao homem e ao meio ambiente passem de um para o outro.

A contaminação foi verificada a partir da análise de amostras retiradas de poços profundos no aqüífero Serra Geral, onde se constatou a presença de fosfatos e nitratos, relacionados à suinocultura (substâncias presentes nas fezes e urina dos porcos) e ao uso de adubos nas lavouras.

Luiz Fernando Scheibe, professor do departamento de geociências da UFSC e orientador do trabalho, afirma que “a contaminação ainda não atingiu um nível que impeça o consumo, de acordo com as normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que regula os percentuais de poluição dos rios. No entanto, a pesquisa funciona como sinal de alerta”.

Scheibe também destaca que a prática da suinocultura concentrada — único meio atual de tornar a produção lucrativa — cria um volume de dejetos imenso. “Cada criador na região tem até mil suínos, que produzem de oito a dez vezes mais excrementos que humanos”, diz. Os dejetos acumulam-se nos rios, poluem a barragem e chegam aos aqüíferos.

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Do Repórter Brasil

O perigo da contaminação por agrotóxicos

(Parte integrante da matéria Desmatamento e poluição seguem o rastro do agronegócio)

O uso intensivo de agrotóxicos é uma das facetas mais preocupantes da expansão do agronegócio no país. “Vários parques nacionais, áreas de conservação e áreas indígenas são ameaçados por agroquímicos, em função de atividades agrícolas em suas vizinhanças”, alerta o diretor de Qualidade Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcio Rodrigues de Freitas.

O Brasil é o terceiro país que mais consome agrotóxicos no mundo. O Ibama calcula que no ano passado utilizou-se 208 mil toneladas de produtos químicos, sendo que quase a metade foi consumida apenas em São Paulo (lar da indústria ligada à agricultura) e Mato Grosso (ponta-de-lança do agronegócio). O país não possui, entretanto, dados nacionais que informem o grau de contaminação dos solos e rios. De acordo com o diretor do Ibama, o Conselho Nacional de Meio Ambiente tem discutido a criação desses índices. Hoje, antes de autorizar o uso de um agrotóxico na lavoura, o instituto estuda o impacto do produto sobre o meio ambiente. Mas são os órgãos estaduais de meio ambiente os responsáveis por fiscalizar a aplicação das substâncias ou acrescentar restrições aos produtos levando em conta as particularidades da região.

Apesar de não haver um levantamento nacional, é possível saber que a contaminação dos solos por uso de fertilizantes ou agrotóxicos atinge número expressivo de cidades brasileiras. Segundo pesquisa do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) realizada em todo o país, 20,7% das cidades (1.152) indicaram casos de contaminação por agrotóxicos ou fertilizantes. Entre os estados, a maior proporção de municípios com contaminação foi verificada em Santa Catarina (56%) e, no outro extremo, Amapá e o Piauíregistraram as menores proporções do país, ambos com 2%.

Ainda de acordo com o relatório, a poluição das águas provocada por agrotóxicos ou fertilizantes é um problema para 16,2% (901) dos municípios brasileiros. Na Bacia Costeira do Sul, 31% dos municípios registraram poluição da água por agrotóxicos, e nas bacias do Rio da Prata e Costeira do Sudeste, a proporção foi de 19%.

Os produtos químicos também ameaçam o maior reservatório de água doce subterrânea do mundo, o Aqüífero Guarani – que alcança oito estados brasileiros e parte da Argentina, Paraguai e Uruguai. “Por enquanto, devemos falar somente em risco potencial de contaminação, uma vez que os produtos identificados ainda estão em concentrações muito baixas”, afirma Marco Antonio Ferreira Gomes, geólogo e pesquisador da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa).

A pesquisa coordenada por Gomes concluiu que algumas áreas do Aqüífero, como Ribeirão Preto, nascentes do Rio Araguaia, em Goiás e Mato Grosso, e no Rio Grande do Sul, estão bastantes vulneráveis à contaminação. “Normalmente, as atividades de agricultura de grãos, como soja, milho e cana-de-açúcar, são as que utilizam grande quantidade de agrotóxicos, principalmente herbicidas que oferecem maior risco para a água porque são aplicados no solo, muitas vezes, antes da germinação da erva-daninha.”

O professor explica que o principal objetivo de sua pesquisa é propor o uso agrícola sustentável, com baixo uso de produtos químicos. “As concentrações encontradas não caracterizam contaminação, mas os resíduos tóxicos encontrados estão limitados às regiões de atividade agrícola intensiva.” Mais do que pelos agrotóxicos, segundo o pesquisador, o Aqüífero é ameaçado pelos depósitos de lixo urbano e pelos resíduos industriais.

Luis Nassif

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