
Os familiares que perderam seus entes no rompimento da barragem em Brumadinho (MG), que deixou 272 vítimas há mais de cinco anos, seguem incansáveis na busca por justiça. Até o momento, o sistema judiciário brasileiro não responsabilizou oficialmente nenhum dos envolvidos.
Jacira Francisca Costa, que perdeu seu filho, Thiago Mateus Costa, no rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019 — tragédia que liberou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro — afirmou que não descansará até que a justiça seja feita.
“Estivemos aqui para acompanhar presencialmente esse julgamento na CVM. Não vamos parar. Saímos de Minas Gerais para deixar claro para todos que nós não vamos parar até que a justiça seja feita. Voltaremos quantas vezes forem necessárias. Desistir não é uma opção”, afirmou a Diretora da AVABRUM (Associação dos familiares das vítimas e atingidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho-MG).
O julgamento na CVM
Em 1º de outubro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) iniciou o julgamento de dois ex-executivos da Vale S.A.: Gerd Peter Poppinga, ex-diretor de Ferrosos e Carvão, e Fabio Schvartsman, ex-presidente da companhia. Ambos são acusados de negligência e omissão em relação ao rompimento da Barragem B1, em Brumadinho, ocorrido em 2019.
O relator do caso, Daniel Maeda, votou pela condenação de Poppinga e pela absolvição de Schvartsman, prevendo, entre as punições, uma multa de R$ 27 milhões. Contudo, o julgamento foi suspenso após um pedido de vista do diretor da CVM, Otto Eduardo Fonseca Lobo, e será retomado dentro de 60 dias úteis.
A sessão resulta de uma ação movida pela Superintendência de Processos Sancionadores da CVM, baseada em denúncias feitas por acionistas críticos da mineradora em 2019, logo após a tragédia. Desde então, acionistas da Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale têm usado estratégias de oposição para questionar as decisões corporativas da empresa.
De acordo com Fernanda Martins, secretária-executiva da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale, “os investidores devem ir além dos relatórios da Vale para ter uma visão completa, e devem tomar medidas para responsabilizar a empresa pelos danos passados e atuais”.
O alerta da população antes da tragédia
Moradoras da comunidade da Jangada, em Brumadinho, vizinha ao Córrego do Feijão, relataram que os conflitos com a Vale S.A. começaram bem antes da tragédia de 2019.
“A população alertou as autoridades públicas, em diversas ocasiões, sobre a falta de rigor no processo de licenciamento ambiental da ampliação e continuidade das minas do Córrego do Feijão e Jangada, ambas do Complexo Paraopeba, da Vale S.A“, explica Maria Teresa Corujo, diretora do Instituto Cordilheira e integrante do Movimento pelas Serras e Águas de Minas Gerais.
Para a ativista Maria Teresa, a classificação ambiental da mina sobre o porte e o potencial poluidor do empreendimento, foi rebaixada de alto para médio impacto sem justificativa técnica. Além das perdas humanas, o rompimento da barragem causou grande destruição ambiental, afetando 26 municípios ao longo da bacia do Rio Paraopeba.

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