COP26: Jovens protestam contra o “blá blá blá” de líderes mundiais

Com Greta Thunberg à frente, mais de 20 mil ativistas marcham pelas ruas de Glasgow para protestar contra o fracasso nas negociações para combater o aquecimento global.

Na imagem acima, Sâmela Saterê Mawé com lideranças jovens indígenas do Brasil na manifestação (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)

da Amazônia Real

COP26: Jovens protestam contra o “blá blá blá” de líderes mundiais

Por Alicia Lobato


Glasgow (Escócia) – Com gritos pedindo ação imediata no combate à crise climática e cartazes com os dizeres “Parem o ecocídio” e “Saia da sua casa e tome uma atitude”, mais de 20 mil pessoas, a maioria jovens, de diversos lugares do mundo ocuparam as ruas de Glasgow, na Escócia, para protestar contra o que eles consideram um “fracasso” nas negociações da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). O ato desta sexta-feira (5) ficou conhecido como “Fridays for Future” (em tradução literal, “Sexta pelo Futuro”), iniciada pela ativista Greta Thunberg dois anos atrás. Na época, ela tinha 16 anos e decidiu se sentar sozinha, em frente ao Parlamento da Suécia, carregando um cartaz em que se lia “Greve escolar pelo clima”. 

Hoje Greta disse: “Não é segredo que a COP26 é um fracasso. Não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que nos colocaram nela”, protestou.

O  “Fridays for Future” começou pela manhã na Blue Zone, área dos líderes no espaço da COP26,  seguiu pelas ruas de Glasgow. Na parte da tarde avançou com os manifestantes se encontrando em uma praça onde já estavam ativistas e lideranças. Em um palco, os convidados subiam para dar algum recado contra o aquecimento global. A ativista Greta Thunberg nomeou a COP16 a mais excludente e questionou: 

“Quanto tempo vai levar para os políticos acordarem? A Cúpula do Clima se tornou um festival de duas semanas para lavar sua consciência, e tudo continua igual e tudo é blá-blá-blá”. 

Greta com os jovens do Fridays for Future (Foto: Instagram@gretathunberg)

Depois de afirmar que não iria ao centro de eventos, onde acontece a Cúpula do Clima, no começo desta semana, Greta criticou, principalmente, o “greenwashing”. O termo em inglês faz referências a empresas privadas que usam do discurso ambiental para promover seu produto, em campanhas de marketing e de relações públicas, mas agem de maneira contrária e, na prática, vão na contramão do desenvolvimento sustentável. “Isto já não é uma conferência climática. Este é um festival Global North Greenwash”, disse ela. 

No mesmo palco ocupado por Greta, falou a jovem Samela Sateré-Mawé, que é uma das representantes da  “Fridays for Future” no Brasil. Ela aproveitou sua participação para denunciar a destruição ambiental nas terras indígenas da Amazônia. “Nossos parentes indígenas estão morrendo, nossas crianças Yanomamis estão morrendo, o povo Munduruku bebe água poluída de mercúrio, porque grandes empresas de mineração estão matando nossos rios.”, clamou, fazendo referência à mineração ilegal de ouro que tem massacrado o povo Yanomami, em Roraima. 

Samela Sateré-Mawé na manifestação (Foto: @edvan.guajajara /Mídia Índia/#CopCollab26)

Samela Sateré-Mawé pertence à família de mulheres que fundaram Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (Amism) e que vem despontando como uma grande liderança do Amazonas. Estudante de biologia, ela integra a equipe de comunicadores do Blog Jovens Cidadãos da Amazônia Real. Em sua fala, fez questão de expor as violações contra os indígenas.

“Muitas terras indígenas do Brasil estão em processo de destruição porque o governo não faz demarcação. Queremos demarcar nossas terras, porque chega de genocidio, chega de mineração, chega de desmatamento, chega de queimadas nos nossos territórios”, afirmou Samela Sateré-Mawé.  

No Brasil, o movimento de Greta Thunberg ganhou o nome de “Greve pelo clima”, e é puxado por dezenas de jovens que também vieram à COP26. “Colocar as pessoas do sul global no centro da greve para ter mais visibilidade e ter a nossa voz ecoada. Por mais de ter pessoas que falam, muitas vezes não somos escutados. Colocamos o povo indígena na linha da frente, com as pessoas negras, e fazendo ações contra o Bolsonaro”, explicou a ativista nordestina Mikaelle Farias. Ela chegou a Glasgow acompanhada da delegação brasileira da Fridays For Future.

Os objetivos para redução do aquecimento global apresentados pelos países e pelas empresas na primeira semana da COP26 não foram tão ambiciosos como os ambientalistas esperavam. Mas os jovens brasileiros não perderam a esperança. A presença maciça do movimento mostra que uma renovada força de pressão tem surgido por todo o mundo. “O Brasil tem assinado diversos acordos ambiciosos em relação às questões ambientais. Mas cumprir é outra questão, estamos tentando fazer o máximo que pudemos”, afirma Mikaella. “Não é um trabalho fácil, mas estamos nos esforçando.” 

  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @edvan.guajajara /Mídia Índia/#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @anapessoagg/@midianinja/#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @anapessoagg/@midianinja/#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto JP Amaral/#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @anapessoagg/@midianinja/#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @anapessoagg/@midianinja/#CopCollab26)
  • Manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @edvan.guajajara /Mídia Índia/#CopCollab26)
  • Greta Thunberg na manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Vanessa Nakate na manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Marcelo Rocha da Coalizão Negra na manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Samela Sateré-Mawé na manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Samela Sateré-Mawé na manifestação da juventude nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @oliverninja/@midianinja /#CopCollab26)
  • Greta e Samela nas ruas de Glasgow durante a Cop26 (Foto: @edvan.guajajara /Mídia Índia/#CopCollab26)

O “blá-blá-blá” de Guedes

Joaquim Leite e Guedes em Brasília (Foto:MMA)

Na conferência Programa de Crescimento Verde, um painel do Pavilhão Brasil na COP26, o ministro Paulo Guedes participou remotamente com o objetivo de passar o pires. Nesta sexta-feira (5), ele voltou a defender a remuneração de países como Brasil, Índia e Indonésia pela prestação de serviços de preservação do meio ambiente. 

Defensor do mercado de carbono como forma de pagar pela manutenção das florestas, como a Amazônia, o ministro da Economia afirmou que é preciso criar mecanismos globais para que esse financiamento sirva como um “estímulo”. Guedes também afirmou que é preciso criar uma concessão de “20 anos de desoneração” para empresas de tecnologia criarem uma “selva do silício” na Amazônia para incentivar o desenvolvimento de uma indústria verde.

Ao seu lado, na videoconferência feita a partir de Brasília, estava o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que reforçou o desejo do governo pela adoção de mecanismos de financiamento para os serviços ambientais. “[Esse] benefício ecossistêmico que a floresta e vegetação nativas têm no Brasil devem ser reconhecidos e remunerados e o mercado de carbono é o começo disso”, disse Leite.

A conferência faz referência ao chamado Programa do Crescimento Verde, que foi divulgado vagamente pelo Palácio do Planalto no último dia 25. Até agora, ambientalistas tentam entender a essência do programa, já que não houve detalhamento de suas ações. (Com informações da Agência Brasil)


A repórter Alicia Lobato é a enviada especial da Amazônia Real na cobertura da #COP26. A agência também integra a COPCOLLAB26, cobertura colaborativa da conferência realizada por coletivos, organizações, mídias independentes, midiativistas, jornalistas e comunicadores. Fazem parte do grupo colaborativo, entre outras organizações, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), as Mídias Índia e Ninja.


Alicia Lobato é acadêmica de jornalismo, natural de Belém no Pará, e vive em Manaus desde 2017. Integra a equipe da agência Amazônia Real desde 2019, quando iniciou como estagiária depois de participar da 1ª Oficina de Jornalismo Socioambiental promovida pela Amazônia Real e a organização internacional Climate Tracker. Na agência escreve reportagens que pautam a violência contra a mulher e o racismo. Tem interesse pelo jornalismo ambiental e de dados. ([email protected])

Redação

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