A morte de Danilo Miranda, o Senhor Cultura, por Luís Nassif

Danilo Miranda morre com a justa distinção de mais relevante pessoa da cultura de São Paulo e, provavelmente, do país

Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. | Foto: Divulgação/Sesc

Ninguém influenciou mais a arte brasileira, nas últimas décadas, que Danilo Miranda, o homem do SESC. Com o apoio do sempre presidente da Federação do Comércio de São Paulo, Abraham Szajman, Danilo transformou o SESC no maior ponto de apoio para as artes paulistanas, seja com seus teatros ou com seus cursos.

Sua biografia, na Wikipédia, traz uma síntese preciosa de sua atuação.

“Era membro do conselho de entidades nacionais como a Fundação Bienal de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), o Itaú Cultural, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e a SP Escola de Teatro. Foi presidente do Conselho Diretor do Fórum Cultural Mundial (2004) e presidente da comissão que organizou o Ano da França no Brasil (2009). Sua atuação internacional também abrange a vice-presidência do Conselho Internacional de Bem-Estar Social – ICSW, na sigla em inglês, de 2008 a 2010, além da composição atual da diretoria da ONG Art for the World, sediada na Suíça e dedicada à difusão da arte contemporânea.

Estudou Filosofia e Ciências Sociais, tendo realizado estudos complementares em gestão empresarial no International Institute for Management Development – IMD, na Suíça. Organizador de livros como “Ética e Cultura”, é reconhecido nacional e internacionalmente pelo trabalho que realiza à frente do Sesc São Paulo. Sua abordagem se baseia na perspectiva de que a cultura deve ser entendida de forma ampliada, de forte sentido educativo, entrelaçando o mundo das artes e do espetáculo à memória, à aprendizagem e à convivência. Para ele, “cultura e educação são duas facetas de uma mesma realidade”.

Entre as diversas distinções recebidas ao longo da carreira constam a Condecoração de Mérito da República da Polônia, pelas contribuições às relações culturais Brasil-Polônia (2000); a Ordem do Mérito Cultural, concedida pelo Governo Federal (2004); o grau de Oficial da Ordem das Artes e das Letras, concedido pela França (2005); o Diploma de Mérito do Governo Japonês, pelo empenho na difusão da arte e cultura japonesa no Brasil (2006); a láurea de Comendador da Ordem do Mérito da República Francesa e da Ordem do Ipiranga (2010); e diversas condecorações de Ordem do Mérito, recebidas dos governos da Alemanha (2011), Bélgica (2012) e Polônia (2015), além do título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, concedido por Portugal (2016).

Entre os prêmios, constam o Troféu HQ Mix, na categoria “Homenagem especial” (2003). O Prêmio Bravo! Prime de Cultura, na categoria “Personalidade cultural” (2009); e o Jürgen Palm Award, recebido da Tafisa – The Association For International Sport for All (2011)”.

O homem Danilo

Danilo foi aluno jesuíta e caminhava para ser da ordem. A disciplina jesuítica e os conceitos de que as pessoas são moldadas pela educação e pela cultura sempre inspiraram sua atuação.
Sempre esteve em linha com todos os avanços civilizatórios. Como declarou em uma entrevista ao próprio portal do Sesc:

“Melhorar, por exemplo, o nível de conhecimento das pessoas frente ao mundo à sua volta é uma missão permanente. A questão da diversidade e a questão LGBTQIA+, a gente já discute há algum tempo. Nós não nos antecipamos com “a intenção de…”. É algo natural. Dou outro exemplo: o foco na terceira idade, no idoso. Nos anos 1960, ninguém no Brasil fazia nada nesse sentido e o Sesc começou esse trabalho em 1963, buscando especialistas no mundo inteiro, fazendo debates, seminários, e criando tecnologia social para isso. Ao longo do tempo, praticamente todas as unidades do Sesc no Brasil, além de outras instituições, assumiram o trabalho com o idoso. Isso também vale para os programas de férias. O Sesc foi a primeira instituição a implantar um programa de férias organizadas, que chamávamos de “colônia”, termo hoje inadequado. Eu citaria mais dez modelos de ações que foram iniciadas no Sesc e que se tornaram políticas públicas. Ações que ganharam uma dimensão para além da instituição. A própria questão do lazer, do tempo livre, como um momento importante na vida do ser humano, e a questão do aproveitamento de espaços amplos para atuação cultural – caso do Sesc Pompeia, a primeira fábrica transformada em centro cultural no Brasil”.

Pouco se fala de sua âncora maior, a esposa Cleo. Militante política na juventude, jamais abandonou as causas iniciais, a bandeira dos desaparecidos políticos.

Recebemos ambos muitas vezes em casa, nos saraus musicais. Embora cortejado por todos os músicos e artistas do país, Danilo jamais se deixou deslumbrar. Era, acima de tudo, um servidor público da cultura.

Muitas vezes foi indicado para Ministro da Cultura, provocando reações negativas de toda a classe artística, que era unânime em afirmar que a maior contribuição à cultura estava justamente em seu trabalho à frente do Sesc-SP.

Quando Paulo Guedes tentou reduzir os recursos do Sistema S, a grande batalha contra os cortes veio justamente da classe artística e do trabalho de Danilo.

Ele foi uma das vítimas da Covid. Contraiu a doença e, depois disso, não mais se recuperou integralmente.

Morre com a justa distinção de mais relevante pessoa da cultura de São Paulo e, provavelmente, do país.

Luis Nassif

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