Exatamente no dia de hoje… Lúcio Bellentani, presente!

Lamentamos muito informar que, na madrugada deste 19 de junho de 2019, faleceu Lúcio Bellentani, o corajoso metalúrgico que denunciou para o mundo as torturas praticadas dentro das instalações da Volkswagen.

Foto Opera Mundi

da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

Exatamente no dia de hoje… Lúcio Bellentani, presente!

Lamentamos muito informar que, na madrugada deste 19 de junho de 2019, faleceu Lúcio Bellentani, o corajoso metalúrgico que denunciou para o mundo as torturas praticadas dentro das instalações da Volkswagen.

Infelizmente, ele não conseguiu realizar o sonho de ver a Volkswagen condenada em solo brasileiro pelas atrocidades cometidas em suas instalações. Mas a voz de Lúcio foi ouvida no mundo todo e a empresa, na Alemanha, chegou a reconhecer o seu nocivo papel durante a ditadura brasileira.

O comunicado abaixo é do IEP, umas das principais entidades empenhadas na luta de metalúrgicos perseguidos pela ditadura com o apoio das grandes fábricas do período.

– Lúcio Bellentani?
– Presente!

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Perdemos nessa madrugada o camarada Lúcio por complicações de saúde. Morava em Jacareí, SP.

Era militante do Partido Comunista Brasileiro em 1972 e o principal quadro operário na organização clandestina do Partido na Volkswagen, em São Bernardo do Campo. A empresa, em cooperação direta com o *terrorismo de Estado*, organizou a prisão dos militantes *dentro da fábrica, em seus postos de trabalho*.

Em 2015, por iniciativa política do _Fórum dos trabalhadores por verdade, justiça e reparação_, o IIEP elaborou a representação ao Ministério Público Federal, composta de pesquisa documental e fundamentação jurídica baseada nos princípios da Justiça de Transição e na experiência internacional de casos semelhates. A representação foi assinada por *todas as dez CENTRAIS Sindicais brasileiras*, presidentes de Comissões da Verdade, juristas, militantes de direitos humanos, trabalhadores atingidos pela Volks e pelo IIEP.

Desde o início do Caso Volks, Lúcio foi incansável militante. Ia onde fosse necessário
para testemunhar e pedir REPARAÇÃO pelos crimes cometidos pela Volks e outras empresas. Fizemos várias exibições da película _Cúmplices? A Volkswagen e a ditadura militar brasileira_ * . Foram muitos debates, entrevistas (por sorte, disponíveis na internet) e reuniões junto com os Ministérios Publicos Federal, Estadual e do Trabalho para as oitivas das testemunhas contra a Volks e da busca e uma solução para o caso que não deixasse a empresa impune. Recentemente, dia 04/06, participamos do programa Bom Para Todos, da TVT, sobre o Caso Volks**.

Lúcio teve um longo percurso como militante, passando no movimento sindical pela Oposição Metalúrgica de São Paulo, quando trabalhou na fábrica da Ford, na Móoca, onde foi presidente da Comissão de Fábrica. Em 87, encabeçou uma chapa de oposição nas eleições do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Depois, foi dirigente da Forca Sindical.

Estava afastado das atividades políticas públicas quando foi contatado para depor à Comissão Nacional da Verdade. A partir daí, foi retomando as atividades públicas. Jogou um papel insubstituível no testemunho contra a Volkswagen por ser, *dos presos de 1972, o único que estava vivo para depor*. Posteriormente, em outubro de 2017, foi localizado Heinrich Plagge, que foi ouvido pelo Ministério Público em São José do Rio Preto. Por incrível que pareça, esses dois militantes, Lucio e Heinrich, só voltaram a se encontrar, desde 72, em outubro de 2017.

*Lúcio ficou sequestrado no DOPS em SP durante 47 dias e Plagge, durante quatro meses* ***. Foram torturados e submetidos a acareação com outros trabalhadores da Volks e de outras empresas. O comportamento dos dois diante das torturas, do isolamento da família e do impedimento de acesso aos advogados, não quebrou a sua fibra militante. Cumpriram anos de prisão, tiveram suas vidas pessoais e familiares arrasadas. Quase 50 anos depois, foram acusadores chave ao relatarem as prisões dentro da fábrica, feitas em conjunto pelo Dops e pela segurança da empresa, sob supervisão direta do Coronel Adhemar Rudge.

Plagge faleceu no dia 6 de março de 2018. Nessa data, em sua homenagem, foi criada a Associação Heinrich Plagge, que reúne os trabalhadores e trabalhadoras vitimados pela Volkswagen.

Lucio foi fundador e era presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados do Brasil (SINAB), filiado à Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB).

As cerimônias de despedida do companheiro Lucio ocorrerão em Jacareí.

19/06/2019
Equipe IIEP
(11) 9 7110-2474
[email protected]

* Filme produzido pela DW, canal de TV público alemão. Está disponível com legendas:

** Vídeo do programa Bom Para Todos:

*** Matéria sobre a prisão de Plagge, produzida pelo jornalista Gabriel Baldocchi, da Isto é Dinheiro:

Redação

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