A divertida imprensa porcina, por Sérgio Saraiva

Qualquer apoio ao governo Temer é como rolar com porco na lama, acaba-se todo sujo, mas o porco se diverte. Que o digam a nossa grande imprensa e a sua credibilidade.

imprensa porcina

por Sérgio Saraiva

Diante de um quadro de recessão, o governo envia ao Congresso uma proposta de revisão do orçamento federal aumentando o déficit fiscal em 70%. Propõe, com esse déficit, implementar medidas anticíclicas que façam crescer a economia? Não, dá um aumento generalizado ao funcionalismo público dos três poderes – Judiciário incluído generosamente – e promove um “trem da alegria” com a criação de 14 mil novos cargos.

O nome disso é farra.

Para bancar tal gastança, o que propõe o governo?  Cortar na saúde, na educação e nas aposentadorias. E claro, manter os juros em 14,25% ao ano, de modo a dar garantias ao rentismo. Investimentos internacionais serão buscados alienando-se as reservas petrolíferas e com a venda do que puder ser vendido do patrimônio da União.

Rever as desonerações dadas a empresários que não as transformaram em investimentos que gerassem empregos? Imposto sobre movimentação financeira? Nem pensar. Ao invés, promover a precarização da relações trabalhistas. O pato dos patrões será pago pelos trabalhadores.

O nome disso é espoliação.

Mas, na imprensa, é chamado de racionalidade administrativa.

O governo nomeia ministros e secretários que são denunciados pelo Procurador Geral da República por improbidade administrativa e o advogado geral da União é suspeito de ter tentado obter vantagens indevidas. Mas o presidente interino dá um soco na mesa e diz que de bandido ele entende e fica tudo por isso mesmo.

Temer com um soco na mesa tem poder apenas para machucar a mão. Logo, se nada sai nos jornais, é apoio a governo corrupto. Quem se lembra da guerra feita ao ministro Orlando Silva por conta de duas tapiocas e a ministra Erenice Guerra fica em dúvida se ainda existe jornalismo no Brasil. Porcos e lama com certeza e em quantidade. Juízes ainda os há… em Berlin.

O presidente da Câmara está afastado do cargo pelo STF por corrupção, mas continua dando as cartas no governo. Nomeando aliados. O governo ainda no interinato intervém na empresa pública de comunicação revogando mandato de diretor, em outras áreas da administração pública, substitui quadros da categoria de Paul Singer – aliás, colunista da Folha, por aliados de inexpressiva competência. Por ridículo que seja, um “garçon petista” é demitido de sorte a preservar o sigílo o intraparedes do Palácio do Planalto. Mas a palavra aparelhamento não é mencionada pela imprensa.

Um general cerca a residência da presidente afastada, o governo interino lhe restringe movimentos e transporte e até alimentação. E tampouco a palavra retaliação é mencionada. Lembrando que o tal presidente afastado da Câmara, capa preta do atual governo, mantém todas as suas prerrogativas de cargo e gasto.

É altamente provável que o próprio presidente interino venha a ser envolvido nas delações e denúncias da Lava Jato, o que torna Temer um homem-bomba no governo. E expõe o comando do Executivo a toda sorte de chantagens. Parece aos nossos jornais assunto menor.

Então, o governo interino, para garantir apoio, faz um pacto com a plutocracia e com o que há de mais corrupto e retrógrado na sociedade e no Congresso e a imprensa passa a noticiar suas “vitórias políticas”. “Vitórias políticas” isentas do voto popular. Porém, à nossa grande imprensa isso não causa espécie.

Pesquisas de opinião sobre o governo? Não é o momento.

Aliás, palavras como golpe ou protestos, quando utilizadas pela imprensa, trata-se da imprensa estrangeira. A qual é criticada aqui pelo jornalismo nacional. Tratar-se-ia, mesóclises votaram a ser de bom tom, de imprensa venal, vendida. Aqui, como durante a ditadura, todos estão felizes e esperançosos.

Sem dúvida, as redações dos nossos jornais devem ter se tornado lugares muito divertidos de se trabalhar. Já, lê-los passou a exigir o uso luvas e aventais de borracha, além dos óculos de segurança de sempre.

PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia recomenda a adoção de “A Revolução dos Bichos” como novo manual de redação.

Redação

3 Comentários

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  1. É preciso ir além

    Brilhante. Tão verdadeiro que dói.

    Entretanto, esse diagnóstico tem sido feito ao longo dos anos sem que forças da sociedade organizada consigam emplacar uma agenda que enfrente o problema de forma definitiva.

    Todos têm dado contribuições mostrando o quanto a velha imprensa é danosa aos interesses do país. Nesse e em outros casos. Até mesmo jornalistas e  imprensa estrangeiros já constataram essa realidade.

    Por que, então, não conseguimos evoluir além das denúcias diárias?

    Aqui e acolá, entidades ligadas a jornalistas progressistas têm se esforçado sem que se verifique um ajuntamento importante no sentido de combater essa “ditadura” de forma consequente e eficaz.

    O que nos impede?

    Será que uma conscientização maior na formação do jornalista seria suficiente? Parte importante dos soldadinhos da velha imprena sequer frenquentou uma universidade.

     

     

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