Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Atacante corintiano Jô foi vítima da “Pan Lava Jato” da Globo, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Pobre Jô!, atacante corintiano que fez um gol com o braço e determinou a vitória do Corinthians sobre o Vasco no último domingo. A Globo, com a sua tradicional máquina de moer reputações para confirmar a pauta do jornalismo, elegeu o atacante como caso exemplar de todas as mazelas que o País precisa sanar na sua cruzada moralizadora anticorrupção. Lava Jato no futebol, pela honestidade no esporte! Implantado na Alemanha e Portugal, lá o árbitro de vídeo é uma decorrência da evolução natural da tecnologia no esporte. Mas aqui, é resultado da narrativa global da “Pan Lava Jato” na qual todas as editorias do jornalismo da emissora precisam ser encaixadas. Imolado em praça pública, Jô foi mais uma vítima do “modus operandi” da TV Globo: escândalo moral de uma suposta vitória injusta, o bate-bumbo dos seus apresentadores e comentaristas, o pronto julgamento moral e sentença do atacante corintiano e, no final, a “delação premiada” do Jô para tentar se safar da condenação.

O País agoniza não apenas na contínua crise política e econômica. Mas também afunda na fúria moralizadora para a qual a única saída é o enquadramento de qualquer coisa em algum princípio ético ou moral. De preferência religioso e conservador turbinado por algum instrumento legal – cancelamento de exposições artísticas ou peças de teatro (a negação da Justiça de Porto Alegre contra ação popular de reabertura do “Queermuseu” e a proibição da Justiça de Jundiaí/SP de uma peça de teatro sobre Jesus no SESC) ou a recente concessão de liminar da Justiça Federal que permite psicólogos tratar o homossexualismo como uma “doença”.

Numa atmosfera de conduções coercitivas, delações premiadas e meganhagem da Justiça mandando diariamente policiais federais nas ruas em alguma operação com nome insólito (e prontamente açodado pela grande mídia), o futebol não poderia mesmo ficar de fora. Afinal, esse esporte está no âmago da cultura nacional. E no processo atual do desmonte e venda a preço de banana do patrimônio do País, o futebol é mais um item que vai embora.

E, para quem ainda tinha alguma dúvida sobre a ingerência da TV Globo nesse amplo processo que varre o País, o escândalo moralista perpetrado pelo jornalismo esportivo da emissora sobre o gol de braço do atacante do Corinthians Jô liquida com qualquer dúvida.

Escândalo tão barulhento que a CBF decidiu antecipar a implementação do árbitro de vídeo nas partidas que restam do Campeonato Brasileiro, mesmo questionando-se: e os times supostamente prejudicados em lances duvidosos nos jogos anteriores? Como ficarão? 

Árbitro de vídeo na cruzada anticorrupção

E o caso do atacante Jô mostra o modus operandi do tautismo da Globo: escândalo moral sobre uma vitória supostamente injusta e sem mérito, o bate-bumbo dos seus apresentadores e comentaristas, o pronto julgamento moral e sentença  do pobre atacante corintiano, a delação premiada do Jô para o jogador se safar da condenação e, enfim, antecipação forçada da arbitragem por vídeo que era somente aguardada para o ano que vem.

 

Se na Europa a arbitragem por vídeo surge pela evolução tecnológica natural das mídias, aqui no Brasil se dá através da cruzada anticorrupção da Globo.

Lava Jato no futebol! Porém, seletiva. Moralização em tudo, menos onde a Globo mais teme: nos obscuros esquemas de compra dos direitos nacionais e internacionais de transmissão da emissora.

Em postagem anterior discutíamos o chamado “Projeto Lance Limpo” lançado pelo jovem e solerte apresentador do Globo Esporte, Ivan Moré. Que demonstra nos últimos tempos ansiedade em também encaixar a editoria esportiva da emissora na campanha de apoio irrestrito à Lava Jato e a caçada seletiva de corruptos – clique aqui.

Segundo Moré, um projeto que objetiva apresentar “exemplos nobres de lealdade, companheirismo e honestidade”. E na oportunidade completava, diante de um apoplético Galvão Bueno: “que a Verdade prevaleça!”. Para Galvão Bueno, “um projeto necessário num país que precisa ser passado a limpo…”.

O Projeto abriu com o glorioso exemplo no clássico São Paulo e Corinthians em abril: após o juiz ter dado o cartão amarelo ao alvinegro Jô por causa de um suposto pisão no goleiro adversário, o zagueiro tricolor Rodrigo Caio alertou ao árbitro que ele tinha sido o autor do choque involuntário e de que a punição seria injusta. O juiz voltou atrás e Rodrigo Caio tornou-se a pièce de resistance do projeto do eufórico Ivan Moré – Sim! Honestidade é possível no futebol.  

Desde então, o Projeto parece que não decolou pela absoluta falta de novos exemplos nobres no esporte, particularmente no futebol.

Até que nesse domingo no jogo Corinthians e Vasco, em jogada de Marquinhos Gabriel cruzando fechado na área nos minutos finais, Jô interceptou o lance praticamente na linha do gol e garantiu a vitória alvinegra. A questão é que a bola bateu no braço do atacante.

Se para emissoras como ESPN, Gazeta e Fox o gol foi “polêmico” e ainda com dúvidas se a bola já havia cruzado a linha quando Jô interceptou o cruzamento, desde o primeiro momento para a Globo (TV aberta, Sportv, jornal Extra e Globo) o jogo estava sentenciado: com gol de braço Corinthians vence o Vasco! 

 

“Lei do Jô”

No mesmo dia o pobre atacante virou alvo no quadro de gols do Fantástico com a admoestação do apresentador Tadeu Schmidt: “o vigia estava ali perto e não viu. Mas Deus tá vendo, Jô!”.

Foi ligada a máquina de triturar reputações, assim como a Globo costuma fazer com o noticiário político voltado a criação de climas de opinião pública direcionados pelos seus interesses corporativos.   

Como era esperado, no dia seguinte o noticioso Globo Esporte caiu matando em cima da resistência de Jô em admitir sua infração. “Eu me joguei na bola, não deu pra ver. O juiz deu gol, então não foi”, tentou inadvertidamente defender-se o atacante diante do modus operandi global funcionando a todo vapor.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

18 Comentários

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  1. Polêmica por nada….

    Prezado Wilson

     

    Elogiosa a reportagem, porém, não se valha do mesmo 2 pesos e 2 medidas, no que pertine a tal “cura gay” veiculada pela maior parte da mídia.

    Pergunto: Você chegou a ler a medida jurídica deferida pelo Juiz Federal?

    Se não, sugiro ler, pois não há nela qualquer menção ao doença ou cura….

    No caso, há somente o deferimento da possibilidade de que, qualquer pessoa que tenha dúvidas quanto a sua sexualidade (isso acontece com seres humanos) possa se valer de um psicólogo para se assegurar de sua escolha, ou seja, não tem nada a ver com CURA GAY ou DOENÇA.

    Um abraço,

    Luiz.

     

  2. Gostei do Jô.

    Gostei do Jô. Disse simplesmente que o juiz validou e pronto. Ora, não é isso o que o Juiz Moro está fazendo e a Globo referendando, dando gol de mão à vontade. Tenha paciência!

  3. Hipocrisia

    Rapaz, quanta hipocrisia por parte dessa infeliz concessão de serviço público. Suas novelas estão recheadas de maus exemplos, sem falar no jornalismo tendencioso e manipulador. Como disse um certo Messias, que se voltasse hoje seria inapelavelmente trucidado por esse lixo groubal: “enxergas o cisco no olho de seu semelhante e não vês a trave no seu”.

    Hê Casão heim, quem te viu, quem te vê!

  4. Com esta vitória, o

    Com esta vitória, o Corinthians voltou a abrir 10 pontos de vantagem sobre o segundo e 12 sobre o terceiro colocados na campeonato, faltando 14 rodadas. A definição do campeonato antecipadamente  diminui o interesse e a audiência. Daí, é preciso punir exemplarmente quem estragou os planos da Globo para o enrêdo de sua telenovela futebolística das quartas à noite e tardes de domingo. Também é preciso colocar pressão sobre a arbitragem que atuará “contra” o Corinthians, assim como Moro atua contra Lula. Erros e até má fé de arbitragem sempre aconteceram e até definiram disputas, mas a globo não está preocupada com isso. A globo está interessada em manter controle sobre tudo no brasil. Viva Jô! Morte à Globo.

  5. Tanto texto pra defender o gol DE MÃO?

    Depois das primeiras linhas, não li mais. Um artigo defendendo o gol de mão podia ter sido economizado. O tempo de quem escreveu, o tempo de quem pesquisou por ele, de quem inseriu no site e principalmente, o tempo de quem se deu ao nobre trabalho de aguentar ler. Depois não se sabe quais os maus exemplos que influenciam os brasileiros. Todo mau exemplo é influência. Bullshit.

    1. O articulista não é corintiano…

      Caro Joel

      Se tiver o cuidado de ler mais atentamente o texto, a argumentação não é “defender o gol de mão”… nem corintiano sou, sou santista… e nem o texto é uma crônica esportiva!

      A questão é ter colocado a infração esportiva do Jô dentro da macronarrativa de uma “Pan Lava Jato”, da cruzadora moralizadora da Globo (mas nunca de si mesma) anticorrupção em qualquer coisa que a emissora cubra. Claro, partindo da premissa que o Brasil é uma merda e que só juízes e árbitros esclarecidos poderão eliminar o suposto subdesenvolvimento espiritual.

      A crítica é que nunca a Globo faz a descrição objetiva de qualquer coisa, mas sempre com um viés que bombe sua própria narrativa – “tautismo”.

      E quanto a “maus exemplos”… será que precisamos mesmo de “bons exemplos”?

      Pronto! Fiz minha boa ação de hoje…

      1. Eu farei a minha…

        A minha boa ação de hoje tá aqui, prezado Wilson:

        A Globo trabalha e sempre trabalhou pela audiência. O Corinthians nunca teve expressão nacional, mesmo com o vice-campeonato de 1976 contra o Internacional de Porto Alegre. Mas é a maior torcida de São Paulo, centro econômico do país. E a Globo, quem acompanha futebol sabe, quer espanholizar o futebol nacional com Corinthians e Flamengo. Há anos e anos o Corinthians é favorecido, de forma vergonhosa, por ”erros” de arbitragem. Isso é feito para dar mais títulos ao Corinthians e favorecer a espanholização. Da mesma forma o Flamengo também é favorecido: há um artigo, creio que no LANCE, que denuncia o favorecimento da tabela de jogos do Brasileirão ao Flamengo. A Globo não cria uma narrativa para favorecer Lavajato: é de tal forma flagrante a acintoso o favorecimento ao Corinthians que a Globo tenta se disassociar do roubo que todos vemos. Para que não fique claro na mente dos Homers que é assim o Campeonato Brasileiro: uma mutreta danada para dar mais dinheiro à Globo. Talvez você não tenha visto a edição do GloboEsporte no dia seguinte ao escândalo Jô: somente finalizações do Corinthians, de forma a dar a entender que o Corinthians ”merecia vencer”, Caio comentando que o Jô não teve a intenção de ir com a mão (não, ele teve intenção de ir com as ”nádegas”) e toda a narrativa subliminar de que mesmo com gol roubado, o Corinthians merecia a vitória. É disso que se trata, não tem Lavajato, é a Globo fugindo escondendo e colocando a culpa nos gatos. Esses gatos de amarelo que agem de acordo com a CBF, que age de acordo com a Globo. Fico por aqui, obrigado pela sua boa ação.

  6. Sobre o extravio do processo de execução fiscal contra a Globo?

    Nicas de pitibiriba.

    Geralmente quem mais exige para si é quem menos contribui.

    Valeu, Maradona, por aquel gol clássico contra a Inglaterra.

  7. De fato, defender o gol de

    De fato, defender o gol de mão e a falta de fairplay é perda de tempo e desperdiço desse espaço. Pior é ver inúmeros defensores do Jô alegarem que num país onde se rouba tanto fazer um gol de mão é plenamente aceitável.

    Ora, essa é justamente a desculpa de todo corrupto: Se todos roubam também posso roubar. Ou dos sonegadores: Se todo mundo sonega também posso sobegar.

    E assim vai, por isso estamos nessa situação.

    Se o Geddel pode roubar R$ 51 milhões por que não posso estacionar na vaga de idoso?

    1. Releia e reflita antes de rebater com 1 ou 2 neurônios

      Exercite o cérebro, ele agradece, e nós, brasileiros carentes de boa massa encefálica, mais ainda.

  8. Isso é uma babaquice! O

    Isso é uma babaquice! O grande Nilton Santos nunca foi criticado pela sua suposta desonestidade quando deu dois passos pra fora da área depois de um pênalti vergonhoso contra a Espanha em 62, que, se marcado, talvez nos custasse o bi. Pelo contrário, sua esperteza era elogiada como mais um sinal de sua genialidade (como se precisasse). No campo juiz deu, tá valendo! E viva Maradona e sua mano de Dios (ele mesmo)!

  9. Pobres dos Handebolistas

    Eu conheço Handebolistas que só fazem gols com as mãos. A Globo não vê mas Deus tá vendo.

    Se um homem fizer sexo anal, os Marinhos darão um piripaque. Fazer algo com instrumento inadequado é crime. Não tome café em copo, tome café apenas em xícara, porque o Ximit pode não ver, mas Deus tá de olho.

  10. Fala Wilson;

    Quando começou essa discussão do Jô, na hora me lembrei do primeiro texto que vc escreveu sobre o assunto, no qual vc fala da ideia jenial do ivan moré: jogo limpo. Esse cara é mais um moralista sem moral, foi acusado de ter traído a mulher durante a Copa de 2014. 

    Ou seja, todo esse lance está fundamentado no cinismo e hipocrisia que dominou a comunicação no Brasil, um bando de gente desonesta exige que os outros sejam super honestos.

    Por isso, nesse caso, concordo com neto:

    https://www.youtube.com/watch?v=4iPk09JalJE

    Abraço! Admiro muito seu trabalho.

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