A farsa venezuelana

Os fatos

Em fins de agosto, começaram a surgir relatos de manchas de óleo nas praias do Nordeste, primeiramente no Sul da Bahia, em Maraú, depois no Ceará Piauí, Maranhão e nos demais estados da região, cuja costa continua sendo varrida pelo petróleo.

No dia 26 de setembro, quase um mês após os primeiros relatos, quando as manchas ganhavam destaque devido à quantidade imensa que passava a chegar, tendo sido exigidas explicações da Petrobrás sobre o derrame, um de seus funcionários esclareceu que exames feitos pela companhia revelaram que a contaminação “não é nossa”.

A declaração de que o derrame não havia sido causado pela Petrobrás foi entendida pela reportagem e retransmitida sob a forma: o petróleo que contamina as praias não é brasileiro.

Houve então quem concluísse da informação que o petróleo a poluir as praias de todo o nordeste só poderia ser de origem venezuelana.

A versão caiu como uma luva nos propósitos do google, que tratou de dar-lhe forte destaque, ainda que originalmente veiculada apenas por sites irrelevantes.

Foi então que, com o duplo propósito de encobrir o crime ambiental sem precedentes que estava a ocorrer em águas brasileiras, e estocar a Venezuela, o imbecil do presidente decretou sigilo sobre o relatório da Petrobrás que esclarecia o caso, e revelava, senão a identidade exata do poço originário do vazamento, ao menos sua região aproximada, passando, ele mesmo, a insinuar a existência de um país já em seu radar que teria sido o responsável pelo ato.

Embora nem o imbecil, nem qualquer de seus assessores, tenha se pronunciado assertivamente sobre o assunto, tendo tido todos eles o cuidado de insinuar a responsabilidade da Venezuela sem afirmá-lo peremptoriamente, os meios de comunicação trataram de repetir a falsa notícia que já havia sido divulgada com destaque anteriormente.,imputando explicitamente a origem do petróleo à Venezuela.

Trata-se de uma farsa, o petróleo que está chegando às praias não vem da Venezuela.

A questão seria pronta e simplesmente esclarecida com a divulgação do laudo da Petrobrás ao qual o presidente impôs sigilo.

Origina-se do sigilo o boato de que o óleo é oriundo da Venezuela.

A grande mancha

No dia 11 de outubro, foi noticiada a detecção de duas manchas monstro, verdadeiras ilhas de petróleo que perfaziam, juntas, uma área de 25 quilômetros quadrados.

A revelação bombástica destrói qualquer hipótese de vazamento de navio, dado o volume descomunal de óleo no oceano. A constatação decorreu da interpretação de imagem de satélite, procedimento padrão no caso, que tinha que estar sendo utilizado desde o momento da primeira detecção, um mês e meio antes.

A notícia da sexta-feira foi desmentida em seguida pelo IBAMA – órgão que vinha sendo criticado pela inércia durante as 6 semanas anteriores –, que pôde demonstrar toda a sua agilidade na manhã do sábado, ao apresentar relato de funcionário afirmando ter realizado sobrevoo no local indicado, tendo encontrado lá apenas nuvens.

A notícia recebeu grande destaque do google.

A farsa da Globo

Não pode haver nada mais convincente que uma reportagem do Fantástico, que se imbuiu do propósito de esclarecer por completo a questão, e eliminar a mais leve sombra de dúvida sobre a origem venezuelana do petróleo nas praias brasileiras.

Ecoando hipótese ladina levantada pelo vice-presidente da república, a Globo aventou a possibilidade de que um “navio fantasma” tivesse sido o responsável pelo derrame de petróleo. A vantagem dessa hipótese sob outras – se o propósito é encobrir os fatos –, é que ela favorece uma solução vazia, quero dizer, a hipótese de um navio fantasma favorece a conclusão de que o despejo monstro de petróleo, sem precedentes no Atlântico Sul e talvez no mundo inteiro, possa nunca ser esclarecido, dada a dificuldade de se localizar o fantasma.

Note, estamos falando de um vazamento monstro de petróleo cujos resultados – um mês e meio após o crime! –, manifestam-se sob a forma de ilhas de petróleo que perfazem extensão de 25 quilômetros quadrados (pense no avião que constitui o Plano Piloto de Brasília).

Quase todas as mentiras espalhadas sobre o caso, embora gritantes, têm tido o cuidado de não serem absolutamente comprometedoras. A Globo poderia ter forjado provas que comprometessem a Venezuela, não o fez, simplesmente porque em tal caso seria rebatida pelos venezuelanos.

A farsa da Globo consistiu, simplesmente, em não apresentar provas da acusação lançada enfaticamente.

Assim, como se fosse um dos espetáculos de mágica tradicionalmente apresentados nesse programa de variedades, os prestidigitadores que compuseram a reportagem trataram de apresentar as imagens das “impressões digitais” do petróleo das manchas comparadas com a de petróleo brasileiro e do Oriente Médio. Lamentavelmente a reportagem publicada no site G1 foi editada e essa parte da prestidigitação jornalística retirada. Por sorte, eu havia copiado uma das imagens, embora não possa citar as palavras EXATAS que as acompanharam.

A farsa, contudo, deu a entender que se tratava de petróleo venezuelano ao mostrar que a imagem amarela, correspondente ao petróleo da mancha, não se molda perfeitamente ao traçado branco, que descreve amostra de petróleo brasileiro, ambas distintas do gráfico azul, do Oriente. Tendo a reportagem afirmado haver mistura de petróleo refinado na mancha, não seria esperado que ela se encaixasse perfeitamente a qualquer outra.

A pergunta óbvia a ser feita aos prestidigitadores, no entanto, é bem simples:

por que não apresentaram um gráfico do óleo venezuelano como prova?

Por que nenhum dado sobre a Venezuela foi apresentado?

Como afirmar que o petróleo é venezuelano sem mostrar qualquer evidência da afirmação?

Seria esse um ato de pura irresponsabilidade? Ou se trata de uma impostura pérfida idealizada para incriminar a Venezuela?

O crime

Houve um vazamento de óleo monstro em águas brasileiras que está contaminando uma área imensa do Atlântico Sul, região relativamente ainda preservada. O vazamento talvez ainda não tenha sido contido, nem se sabe onde ocorreu. O crime vem sendo ocultado há mais de um mês e meio por cúmplices desde o mais alto posto do governo, que tem transformado os órgãos fiscalizadores de irregularidades no meio ambiente em órgãos de encobrimento de crimes ambientais.

A cumplicidade dos meios de comunicação e do google também é evidente. Seria impossível, aliás, que um acidente de tamanhas proporções pudesse estar sendo ocultado sem a cumplicidade de todos esses agentes.

Adendo: Esse corpo encontrado coberto de óleo, cuja fotografia se encontrava censurada na internet, talvez tenha alguma relação com o acidente.

Leia também:

https://jornalggn.com.br/artigos/a-catastrofe-oceanica-e-a-farsa-em-andamento/

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Crime ambiental em andamento no Atlântico Sul, por Gustavo Gollo


https://jornalggn.com.br/blog/gustavo-gollo/catastrofe-ambiental-no-atlantico-sul/

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Redação

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