Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Bolsonaro-Tamagotchi NÃO pode ser preso! Deve ser esquecido, por Wilson Ferreira

Como esquecer (pular fora de uma agenda criada pelo próprio inimigo) se a própria mídia progressista está sendo alegremente conduzida?

Bolsonaro-Tamagotchi NÃO pode ser preso! Deve ser esquecido

por Wilson Roberto Vieira Ferreira

Bolsonaro NÃO pode ser preso! Calma! Esse humilde blogueiro não trocou de lado. Hoje a grande mídia faz a pergunta para os indefectíveis especialistas: “Bolsonaro pode ser preso?” Ela já está calculando a mais-valia semiótica que ganhará com a prisão. Como parte de uma Operação Psicológica de guerra híbrida da inteligência das Forças Armadas: todas as etapas do projeto manchuriano Bolsonaro (iniciado em 2014) podem ser encontradas no “Manual de Campanha de Operações Psicológicas” do Estado-Maior do Exército, de 1999. Tal como aquele bichinho virtual, o Tamagotchi, que precisava ser alimentado, a Op Psi Bolsonaro precisa ser alimentada midiaticamente, através da hipernormalização do jornalismo corporativo. Tamagotchi morria quando era esquecido. Esse é o único antídoto contra esse golpe militar híbrido. Mas como esquecer (isto é, pular fora de uma agenda criada pelo próprio inimigo) se a própria mídia progressista está sendo alegremente conduzida para esse desfecho?

Os leitores mais velhos desse humilde blogueiro lembram daquela espécie de animal de estimação virtual japonês chamado “Tamagotchi”. Lançado em 1996, era um game boy que consistia em cuidar de um animalzinho virtual como se fosse real, dando-lhe carinho, comida, banho, e outros cuidados virtuais. Numa versão avançada o bichinho poderia até se reproduzir…

Professores foram os primeiros a expressar preocupação com a nova mania. Alertavam que as demandas constantes do pequeno Tamagotchi interrompiam as aulas e distraiam a atenção dos trabalhos escolares, levando escolas a banir o produto. Isso quando crianças não se deprimiam com a morte do seu pet eletrônico, organizando velórios em cemitérios virtuais.

Tamagotchi não foi um mero brinquedo curioso e pitoresco, mas a cabeça de ponte de uma ofensiva para o desenvolvimento das estratégias de economia da atenção em uma World Wide Web seminal.

Da economia da atenção à inteligência na Guerra Híbrida, há uma linha de continuidade. Como podemos atestar aqui e agora: Bolsonaro e seu clã são os novos Tamagotchis, tão virtuais quanto: são seres que vivem, respiram e se reproduzem em um ecossistema midiático e digital. Foram criados pelos programas de infotenimentos graças as suas falas bizarras que se confundiam com humor politicamente incorreto. Enquanto cresciam à sombra dos proventos públicos e hipernormalização do jornalismo corporativo.

Como o famoso bichinho virtual, Bolsonaro precisa ser alimentado. Mas não com comida e carinho. Mas com raiva, indignação e muitos clickbaits em postagens nas redes sociais e matérias jornalísticas contra, a favor ou “neutra” (hipernormalizadora).

Desde que Bolsonaro foi lançado com um candidato manchuriano em 2014, em cerimônia na AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras), tal como um Tamagotchi, se fortaleceu no ecossistema eletrônico-digital. Ganhando atenção, gerando polêmicas, cometendo sincericídios, fixações escatológicas, praguejando, ameaçando… até receber a facada (o cume midiático) e ser eleito em 2018.

Consolidou-se o golpe militar híbrido (que, parece, ninguém viu) e o governo de ocupação militar da máquina do Estado – mais de cinco mil ocuparam todos os níveis. Com STF, TSE, eleições democráticas e com tudo.

Mas um problema se interpôs ao golpe militar híbrido: o candidato manchuriano Bolsonaro é um ser virtual. Como um Tamagotchi governaria um país? Gerir uma nação significa implementar políticas públicas, ser o fiador de projetos e iniciativas de ministros, defender interesses geopolíticos nacionais etc.

Tornar visível à opinião pública essa agenda significaria viver num ecossistema midiático ultrapassado – propaganda, meios de comunicação de massa, agências de publicidade, marketing político tradicional. Tudo isso que Tamagotchi nos anos 1990 e Bolsonaro a partir de 2014 deixaram para trás.

O ecossistema de Bolsonaro é outro: não é mais a esfera pública clássica, mas o contínuo midiático atmosférico – contínuo amorfo sensível aos impactos das bombas cognitivas ou semióticas, capazes de “irritar” as bolhas solipsistas criadas pelas redes sociais e motores de busca na Internet. Propaganda tradicional seduz e persuadi. No contínuo midiático atmosférico se LACRA.

Bolsonaro não pode governar

Portanto, a estratégia da inteligência militar foi que Bolsonaro não governaria. A contrário, tomando o caos como método tornou-se uma usina de crises. Com a ajuda do ativismo digital alt-right.

Se o leitor tiver a paciência de fazer uma retrospectiva, praticamente toda semana Bolsonaro e seu ministério detonavam algum tipo de crise: clã Bolsonaro denuncia o “golden shower” dos blocos de carnaval, Bolsonaro queixando-se de “caneladas” de algum ministro, ministro xingando o presidente da Câmara Rodrigo Maia de “Nhônho”,  Bolsonaro dizendo que “só existe democracia se as Forças Armadas quiserem”, Bolsonaro divertindo-se nas domingueiras participando de manifestações antidemocráticas pró-ditadura militar, constantemente ameaçando que “a corda está esticando” etc.

Derrotado na eleição de 2022, comanda uma série de movimentos que culmina no 08/1 – o parque temático do golpe, a simulação de uma tentativa de golpe para ocultar a incômoda verdade de que o golpe militar já tinha acontecido. 

Mesmo sem cargo e inelegível não sai das manchetes. Agora o holofote cai sobre as consequências das investigações sobre as crises semanais que Bolsonaro criou em seus quatro anos de governo – joias das arábias, reunião com embaixadores denunciando as urnas eletrônicas, minutas do golpe, discursos preparados supostamente para o pós-golpe etc.

Ele é um Tamagotchi. Precisa da atenção midiática e do ódio retaliatória das esquerdas, sedenta por justiça. Falem bem, falem mal… mas continuem falando sobre mim. POR QUÊ?

Se o leitor tiver ainda mais paciência, poderá checar o “Manual de Campanha de Operações Psicológicas” do Ministério da Defesa, Exército Brasileiro e Estado-Maior do Exército – lembrando que em 2002 o Exército criou o 1BTI Op Psic – 1o Batalhão de Operações Psicológicas, a única organização militar dessa modalidade de operação na América Latina. Diretamente influenciado pela doutrina de segurança da Atlantic Council (lobby americano de grande penetração no Departamento de Estado dos EUA) – clique aqui

Princípios de uma Operação Psicológica

Nesse Manual estão os princípios de ação de uma Op Psico que batem com todos os movimentos do nosso Tamagotchi/Bolsonaro:

(a) Credibilidade: o “público-alvo” deve ser levado a “acreditar” na mensagem. Claro que a verossimilhança dada a não-acontecimentos tão canastrões fica a cargo do jornalismo corporativo – através da cobertura e dos seus “colonistas” hipernormaliza toda e qualquer crise;

(b) Oportunidade: timing é um dos vetores principais dos não-acontecimentos. Como, por exemplo, a rodada de denúncias contra o ex-presidente e ações da PF antes do Carnaval. 

(c) Progressividade: “As ações a realizar devem ser escalonadas no tempo, segundo um ritmo adequado. Cada fase deve ter um ou mais objetivos definidos que contribuam para o sucesso da seguinte”. Tudo está sendo conduzido à desejável prisão de Bolsonaro. Como veremos, o ápice da Op Psico “Nem-Nem”: Bolsonaro terminando preso como Lula, os dois extremos políticos não desejáveis na busca de uma “direita limpinha”;

(d) Continuidade: “uma vez desencadeada, deve prosseguir sem interrupções até atingir o objetivo”, descreve o Manual. Mesmo com o ex-presidente inelegível e sem cargo, o show tem que continuar. Depois dos sucessivos spin-offs da facada (as sucessivas internações a cada crise política produzida por ele mesmo), agora os spin-offs do 08/1: depois da ação da PF contra o deputado federal Carlos Jordy (PL), por ex, a manifestação na Avenida Paulista dos verde-amarelos convocada por Bolsonaro;

Continue lendo no Cinegnose.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

1 Comentário

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  1. O paralelo de Bolsonaro com Tamagotchi é muito bom, o problema é que Tamagotchi era objeto de um ser solitário, que apenas as vêzes compartilhava com mais alguém. Bolsonaro é um ser coletivo. Não é apenas a esquerda que o alimenta, (no sentido do texto ), mas sim todo uma mídia e imprensa que não se transformaram com a queda de Bolsonaro. O que alimenta Tamagotchi é sem dúvida o que é pautado na imprensa e principalmente naquela que criou Tamagotchi em defesa do neo liberalsmo, isto é, do terraplanismo economico, e de uma certa narrativa política e social, um antipetismo. Não sei quem vem primeiro Tamgotchi ou Bolsonaro. A volta de Lula não mudou nem as instituições, nem a imprensa e nem uma boa parte da sociedade. E tampouco trouxe de volta a realidade para os noticiários. O que se vê é a continua criação de uma narrativa que permite apenas que se estabeleça uma pauta e que se esconda a realidade. Por exemplo a enfática colocação sobre a briga com o legislativo torna isto a única função e atividade do governo. Agora temos a fuga do presídio, e a fala sobre o holocausto. A fuga do presídio, transformada em problema de segurança nacional esconde a Operação escudo no Guarujá e mais tantos outras ações louvadas pelo Bolsonarismo. Em nenhuma delas cita-se Bolsonaro mas em ambas se alimenta Tamagotchi. Fortalecendo a idéia do Wilson Ferreira, acho que se deixar pautar alimenta o Tamagotchi. A imprensa nunca pretendeu que a sociedade discutisse Gaza, para jamais discutir a relação doentia e fraudulenta de Bolsonaro com Netanhyahu.Mas agora vão discutir. Tudo isto alimenta Tamagotchi mesmo que não se cite Bolsonaro.

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