Folha divulga tese de “racismo reverso”, é criticada e rebate

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"O abaixo-assinado erra, é parcial e faz acusações sem fundamento", respondeu o jornal: "vai contra a pluralidade e liberdade de expressão".

Foto: Reprodução de artigo publicado pela Folha de S.Paulo

Jornal GGN – O vazamento de uma carta de jornalistas da Folha de S.Paulo cobrando a direção do jornal por veicular textos racistas obrigou o editorial a divulgar uma “explicação”, rebatendo: “o abaixo-assinado erra, é parcial e faz acusações sem fundamento”, respondeu o diretor do veículo.

O artigo “Racismo de Negros contra Brancos Ganha Força com Identitarismo“, assinado por Antonio Risério, gerou ampla repercussão entre o movimento negro e, internamente, mobilizou jornalistas que assinaram uma carta ao conselho editorial da Folha.

Nele, o autor afirmava existir supostos excessos na luta de movimentos identitários, o que justificaria o racismo reverso, a tese de que brancos sofreriam racismo por parte de negros.

“Nós, jornalistas da Folha aqui subscritos, vimos por meio desta carta expressar nossa preocupação com a publicação recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal”, introduziram os jornalistas, na carta.

“Para além de reafirmarmos a obviedade de que racismo reverso não existe, não pretendemos aqui rebater o que afirma o autor —pessoas mais qualificadas do que nós no tema já o fizeram, dentro e fora do jornal. No entanto, manifestamos nosso descontentamento com o padrão que vem se repetindo nos últimos meses”, acrescentaram.

Além do referido artigo, os jornalistas usaram como exemplo colunas de Leandro Narloch e de Demétrio Magnoli, também apresentando “falácias e distorções”, segundo os jornalistas, que “negam ou relativizam o caráter estrutural do racismo na sociedade brasileira”.

Para eles, o objetivo desses textos é “incendiar de imediato as redes sociais”. “Se textos como o de Antonio Risério atraem audiência no curto prazo, sua consequência seguinte é minar a credibilidade, que é, e deve ser, o pilar máximo de um jornal como a Folha.”

“Acreditamos que esse padrão seja nocivo. O racismo é um fato concreto da realidade brasileira, e a Folha contribui para a sua manutenção ao dar espaço e credibilidade a discursos que minimizam sua importância”, completaram.

Além disso, outra carta, desta vez assinada por intelectuais e artistas, com 186 assinaturas, entre eles dos antropólogos Luiz Mott e Roberto da Matta e da cineasta Ana Maria Magalhães, também criticou o jornal.

Imediatamente após a carta ser divulgada fora do ambiente interno da redação, o jornal publicou um editorial tentando se explicar. “A Folha já publicou desde então cerca de dez artigos que refutam a tese de Risério e que o acusam de tentar deslegitimar os avanços obtidos pelo movimento negro.”

O editor da Ilustríssima, aonde o artigo foi publicado, Marcos Augusto Gonçalves, chegou a rebater diretamente os colegas: “O texto do Risério, por criticável que seja, se inscreve nos limites do debate público, algo que, infelizmente, vem se estreitando nos últimos tempos.”

E, por fim, negando concordar com o grupo de jornalistas, a Direção da Folha disse “reconhecer” o abaixo-assinado como instrumento de manifestação, mas defendeu que “vai contra a pluralidade e a defesa intransigente da liberdade de expressão”.

“O abaixo-assinado erra, é parcial e faz acusações sem fundamento, três características indesejáveis em se tratando de profissionais do jornalismo”, criticou, ainda, o diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila.


Abaixo, leia a carta aberta assinada pelos jornalistas da Folha:

jornalggn.com.br-folha-divulga-tese-de-racismo-reverso-e-criticada-e-rebate-carta-aberta-de-jornalistas-da-folha-assinada-1

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Olha a Patrulha da Gestapo Ideológica Esquerdopata-Fascista aí?!!! Sabemos que estas coisas não existem e nem atingem à estratosfera onde estão nossos Intelectualóides Esquerdopatas. Simonal sabe muito bem disto !!!Os tais que tanto preservam e defendem a Liberdade de Expressão, como alguém escreveu por aqui, por serem sua vítimas preferenciais da Censura. Acreditamos. sTF e sumiço de opiniões pela tal Imprensa é só controle de Danos Colaterais. Não existe Racismo Reverso assim como não existe Censura na farsante Imprensa Brasileira desde o presente do Ditador Fascista Assassino à ABI em 1932.Pobre país rico. Mas mudamos o jogo a partir de 2018. Metamorfosde completa se dará em Outubro, quando finalmente cabeça que tornou-se em rabo nestes 92 anos voltará a ser cabeça. Mas de muito fácil explicação.

  2. Por que somente contra negros a folha se abre para o debate e a polêmica? Por que não abre espaço também para os negacionistas do holocausto ou daqueles que o justificam?
    Mêdo?
    Cadê o tal pluralismos?

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