Homenagem ao espetáculo, por Sérgio Troncoso

por Sérgio Troncoso

Fico impressionado como a “sociedade do espetáculo” se impõe cada vez mais em nossas vidas. Todos os fatos mais agudos são espremidos até o bagaço, promovem-se grandes catarses e depois todo o acontecido some e é esquecido rapidamente. Até porque a sociedade humana fornece novas catarses em profusão.

O mesmo acontece na economia, onde vige o sistema de “crise permanente” ou Doutrina do Choque como chamou Naomi Klein.

No dia do desastre com o avião do time da Chapecoense, coloquei minha singela homenagem ao time, às outras pessoas e à cidade. Toda queda de avião gera tristeza coletiva devido ao número normalmente elevado de vítimas. E claro, no caso haviam pessoas conhecidas, que participavam do dia a dia das pessoas que gostam de esporte, ainda que pela TV. Porém agora entramos na fase de “espremer a catarse até o bagaço”. Um assunto que um ou dois dias depois da comoção deveria ser tratado com discrição e estoicidade, no âmbito familiar, torna-se um grande espetáculo, com ajuda das próprias famílias dos cadáveres. 

Já vi na grande imprensa os velhos chavões tais como “heróis”, “inesquecíveis”, etc. Agora todos vão tirar suas “casquinhas”. Jornalistas falam de jornalistas para fazer “jornalismo”. Políticos, como sempre, vão prestar sua “solidariedade” às pessoas que não conheciam, só para ficar bem na foto. O povão ignorante entra na onda, porque é sempre bom sair da rotina e participar de um evento na Ilha de Caras. Esse povo engole tudo quanto é espetáculo de mau gosto, basta ver como tem gente que baba com cenas de violência nas redes sociais.

Longe de mim duvidar do caráter de gente que eu não conheço, mas jogadores, jornalistas, políticos e os pobres que estavam apenas trabalhando na “cozinha”, dificilmente são heróis de alguma coisa. São só gente que sofreu uma tragédia horrorosa (que vai voltar a se repetir), agora gerando lucro prá gente mais do que viva, num assunto que já deveria ter se tornado privado.

Sérgio Troncoso (03/12/2016)

Redação

3 Comentários

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  1. Deu no IG que Lula e Dilma não têm “percepção da realidade”

    “Enquanto os corpos das vítimas da tragédia da Chapecoense chegavam no Brasil, Lula e Dilma desembarcavam em Cuba.

    Neste sábado dia 3, enquanto todo o Brasil, consternado e emocionado, parava para acompanhar a chegada dos corpos das vítimas da tragédia da Chapecoense em solo nacional, Dilma e Lula aterrissavam em solo cubano para prestar homenagens póstumas a Fidel Castro e participar do seu funeral”.

    Afinal, quem sempre se preocupou com Chapecó e o povo brasileiro foi a Globo e o Galvão Bueno, némêz?

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