Manual do perfeito midiota – 15, por Luciano Martins Costa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Luciano Martins Costa

Da Revista Brasileiros

Antes desse presidente que ela considera machista, houve outro que enxovalhou a honra da própria esposa, com casos extraconjugais que lhe custaram o tornaram refém do maior conglomerado de mídia do País – e nossa amiga socióloga certamente acha que esse é quase um ícone do feminismo

Esta é uma semana decisiva para as chances do Brasil finalmente se tornar um País moderno, como as democracias que se consolidaram no século passado.

Existe uma chance de alcançarmos esse estágio sem uma guerra ou sem conflitos sociais muito graves. Basta que as regras do jogo democrático sejam respeitadas.

E acredite, prezado midiota (não consigo perder o otimismo e a simpatia por essa figura tão patética da contemporaneidade), você pode jogar um papel muito importante nessa história.

Imagine, por exemplo, uma socióloga experiente, com anos de vivência em uma grande empresa de comunicação, que resolve assinar uma petição pública em favor do impeachment da presidente da República – por que ela nomeou ministro o ex-presidente que vem sendo ameaçado de prisão num processo arbitrário que os mais conceituados juristas do País consideram kafkiano.

A pessoa em questão decide que é a favor do impeachment por considerar que o ex-presidente é o maior machista que este País já teve. Ora, não foi esse suposto machista que escolheu e fez eleger a primeira mulher presidente da história do País?

Então, caríssimo midiota, é assim que funciona o programa fascista dirigido pela mídia tradicional: vai queimando diariamente os neurônios de gente que até sabia pensar, e produz absurdos como esse.

Antes desse presidente que ela considera machista, houve outro que enxovalhou a honra da própria esposa, com casos extraconjugais que lhe custaram o tornaram refém do maior conglomerado de mídia do País – e nossa amiga socióloga certamente acha que esse é quase um ícone do feminismo.

É o mesmo roteiro que faz o movimento dos golpistas pagar um grupo de miseráveis sem teto para que se misturassem aos manifestantes que pregam o golpe: é que faltavam pobres e escurinhos no movimento.

Voltando ao enunciado lá do começo: você, midiota, acha maravilhosa a civilização europeia, certo? Tanto, que eventualmente faz questão de dizer que descende deste ou daquele povo imigrante. Mas não lhe passa pela cabeça que nessas democracias não se considera tirar do poder alguém que foi eleito pelo voto?

Você foi se manifestar, acreditando no que a mídia empurra diariamente, desde o dia em que foram anunciados os resultados da eleição de 2014. Acredita também que aquele juiz de primeira instância está conduzindo um processo judicial.

Aliás, muita gente bem intencionada, incluídos alguns juristas honestos e esclarecidos, ainda tentam analisar os atos do juiz como jurisprudência. Mas não se trata de um processo conduzido, como se diz, com o objetivo da justiça.

O que se vê e se pode cheirar não é o “fumus de boni juris” – ou seja, a fumaça, o sinal do bom direito. Trata-se de um processo político, orientado por valores fascistas.

Não é mero acaso que, paralelamente à ação do julgador, proliferem listas com nomes de artistas, intelectuais e jornalistas que, na opinião dos defensores desse processo, deveriam ser postos numa “lista negra”.

Esses são os sinais do obscurantismo que tenta se ocultar por trás da sua boa-fé. Sim, porque acredito que o midiota é um indivíduo de boa-fé. Acredita que está combatendo a corrupção na política, sem perceber que há um jogo de cartas marcadas.

Há corrupção? Sim, há corrupção. Mas não é essa que você lê nos jornais de circulação nacional, nem as que você assiste na interpretação teatral dos apresentadores da TV.

Para ler: veja os posts da jornalista Barbara Gancia nas redes sociais, por exemplo. Ou do filósofo Renato Janine Ribeiro, especialista em Thomas Hobbes. Pode começar lendo um ensaio dele, muito interessante, chamado “A Sociedade contra o social”.

*Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. ?!?!

    Quem seria esta besta quadrada que considera Lula machista? O criador da “lista negra” é uma figura tão estúpida que conseguiu ser censurado e demitido da Veja, ou seja, mais desqualificado impossível.

    1. Respondendo sua pergunta: Marta “Traira” Suplicy

      Aquela que trai o marido mas conserva seu sobrenome na praça…

      Que trai seu partido porque o “machista” promoveu o protagonismo de outra MULHER, que nem era “quatrocentona dos jardãns”.

      Não é crítica, só a descrição dos fatos.

  2. http://www.conversaafiada.com
    http://www.conversaafiada.com.br/mundo/2010/09/07/escandalo-da-receita-de-serra-chega-aos-eua/

    Nassif, você e os seus leitores deveriam lembrar disso. Fhc e Serra foram financiados pela CIA norte-americana, recentemente eu li que a sua polícia federal estava na folha de pagamento do FBI (talvez da CIA também) e depois levantei que até Moro andou nos EUA em lugares onde é possível haver o recrutamento (quando que convida dissidentes ou descontentes de um país para agirem como agentes). O seu país está sendo vendido e o seu povo está sendo feito de tolo.

  3. LMC é o cara: jornalista e

    LMC é o cara: jornalista e crítico de uma lucidez e agudez crítica admiráveis. Já sugeri ao Nassif que o coloque como como colaborador do blog.

  4. Diálogo chamando o interlocutor de idiota

    É isso ae Nassif. O texto do Luciano Martins Costa não visa a educação, não tem nenhum cunho pedagógico. Citar textos do Janine Ribeiro, uma das vozes mais equilibradas no momento, não acrescenta em nada quando, durante todo o texto, o autor ofende todos aqueles que não concordam com a sua visão.

     

    Esse tipo de texto só joga ainda mais lenha na fogueira, pois não reconhece o Outro em sua igualdade no diálogo, não há nenhum desejo compreensivo e, no momento em que vivemos, isso já está transbordando para outros tipos de violências físicas e simbólicas!

     

    Chamar aquele que pensa diferente de idiota é tudo o que não precisamos agora!

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