Mídia internacional espalha desinformação sobre o Rio de Janeiro

Jornal GGN – O site The Intercept, do jornalista vencedor do Pulitzer Glenn Greenwald, fez uma reportagem sobre as matérias que estão surgindo na mídia internacional a respeito dos problemas (reais e imaginários) do Rio de Janeiro. “Os problemas atuais na cidade são inegáveis para quem não é patrocinador oficial do evento, mas dá até para sentir algum alívio se os compararmos com a visão quase apocalíptica proposta por certos membros da imprensa estrangeira – lembrando que os Jogos acabaram de começar”, diz a matéria.

Um jornalista de um veículo australiano chegou a noticiar que 75% da população do Rio de Janeiro mora nas favelas. O número real é 23%. Um repórter americano disse que 40% dos moradores das favelas usam crack. A estatística mais realista diz que 0,56% da população da região sudeste do país consome a droga.

“Existem muitas razões legítimas para desdenhar ou querer evitar o Rio nas Olimpíadas”, afirma a matéria do The Intercept, “mas o efeito coletivo de todo esse trabalho tem apenas alimentado o medo e a desinformação, reduzindo aleatoriamente o interesse internacional em visitar o Rio”.

Do The Intercept

Mais uma praga ataca o Rio: A mídia internacional “paraquedista”

Por Andrew Fishman e Juliana Gonçalves

ENQUANTO O GLOBO anuncia: “comprova-se que a Olimpíada tem sido positiva para os cariocas”, leitores da mídia internacional estão aprendendo que a cidade está sofrendo com uma série de pragas (verdadeiras e imaginárias): falênciagrevessabotagemaumento de violênciaZika,corrupçãoobras inacabadas e desmoronando. Entre verdades, mentiras e exageros, uma outra praga passou batida neste debate: a própria mídia internacional.

Milhares de jornalistas “paraquedistas” estão aterrissando na cidade pela primeira vez para cobrir os Jogos e vão embora logo depois. Muitos deles são profissionais de alto nível, sem dúvida, mas vários estão chegando sem noção de português e sem nenhum conhecimento sobre o Rio ou o Brasil além dos clichês de Tropa de Elite e Cidade de Deus.

Os problemas atuais na cidade são inegáveis para quem não é patrocinador oficial do evento, mas dá até para sentir algum alívio se os compararmos com a visão quase apocalíptica proposta por certos membros da imprensa estrangeira – lembrando que os Jogos acabaram de começar.

Como a coordenadora de pesquisa de Comunidades Catalíticas, Cerianne Robertson, observou, o jornal australiano Herald Sun noticiou que 75% da população carioca mora em favela.

A estatística seria chocante, se não fosse completamente incorreta. De acordo com o Instituto Pereira Passos, responsável pelos dados estatísticos da cidade,  o índice oficial é de 23%.

Outro alerta para os “dados estranhos” que podem ser lançados neste mês foi dado no Twitter pelo repórter escocês Andrew Downie, que cobre o Brasil há anos:

Um vídeo que acompanha um texto do USA Today chamado “Cracolândias: Onde abuso de drogas encontra as Olimpíadas” declarou, sem nenhuma preocupação em checar a procedência do dado, que “40% das pessoas de favelas cariocas usam crack”. Isto, baseado na fala de um pastor que mantém uma obra social na “cracolândia” do Jacarezinho, favela na Zona Norte do Rio. No vídeo, o repórter pode ser ouvido conversando em inglês com usuários de crack com a ajuda de um tradutor.

https://www.youtube.com/watch?v=Zm2fRZwPZ3E height:394]

O número, asssutador, não é confirmado por pesquisadores do tema. “O dado de 40% me parece matematicamente impossível”, afirmou Francisco Inácio Bastos, coordenador da “Pesquisa Nacional sobre o uso de crack”, publicada pela Fiocruz, em entrevista ao The Intercept. A estatística mais fidedigna dá conta de que 0,56% da população da Região Sudeste do país usa crack.  

“As pessoas não fazem por mal, mas é comum estimarem errado. Não são treinadas para isso”, acrescenta Bastos, notando que dados errados saem na imprensa a todo momento, principalmente sobre a Zika. Agora, no inverno, o mosquito não circula mais da mesma forma e o Rio de Janeiro não está mais em uma situação epidêmica, por exemplo.

Vários especialistas consideram o risco mínimo ou “insignificante”, mas, mesmo assim, alguns atletas chegaram a  cancelar suas viagens para o Rio, citando o medo de contrair o vírus. Com certeza, inúmeras matérias e artigoscomo “Cancelem as Olimpíadas: A ameaça potencial do vírus Zika apresenta um risco grande demais”, publicado em U.S News & World Report, não ajudam, mas a maioria das falhas de cobertura serão mais previsíveis, como a reportagem embaixo chamado “Uma visita à zona proibida do tráfico do Rio” por o correspondente do Beirute de CNN, Nick Paton Walsh.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=ELIMAcwetKM height:394

Nele, o repórter “dá um rolé” com um traficante, visita uma boca de fumo, mostra uma arma pesada ameaçadora. O roteiro da reportagem de dois minutos e 35 segundos, quase idêntico a dezenas de outros, feitos por correspondentes internacionais ao longo de 20 anos. Define as favelas cariocas exclusivamente pelo tráfico, caracterizando os bairros apenas como buracos cheios de pecados exóticos e violência aleatória – sempre sem contexto. 

“Nós passamos, fora da câmera, num mundo enlouquecido e avulso, composto de festas de rua, tráfico a céu aberto, cheio de adolescentes em um mundo sem regras nem futuro. O resto do Rio passa acelerado por aqui e não leva ninguém”, Walsh explica, com voz agitada, com funk como trilha sonora e a imagem de um fuzil em frente a um trem passando. O preconceito é tão denso e evidente que nem vale a pena desconstruir passo a passo.

Existem muitas razões legítimas para desdenhar ou querer evitar o Rio nas Olimpíadas, mas o efeito coletivo de todo esse trabalho tem apenas alimentado o medo e a desinformação, reduzindo aleatoriamente interesse internacional em visitar o Rio.

Redação

8 Comentários

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  1. lembra manobras de flanco…

    técnica ofensiva que possibilita contornar, ou fingir que não vê, o que está dando certo

    testaram com a lava jato, deu certo, e agora acreditam que pode funcionar em tudo

  2. Não é só a imprensa

    Não é só a imprensa internacional. Aqui no Brasil mesmo.  Há décadas o UOL e a Folha de São Pauo dão um show de má- vontade, implicância bairrista e provincianismo sobre o Rio de Janeiro.

  3. Oh…  sorry, so  escuto

    Oh…  sorry, so  escuto radio quando tou dirigindo, e a unica reclamacao que ouvi ate agora foi das aberturas dos “shows” do Pan e Copa -e essa ouvi hoje, nunca antes.  O que me eh interessante eh que eu reclamei extensivamente a respeito dos pretos segurando vassouras em alguma abertura alguns anos antes, pois os unicos pretos vrasileifos que aparecem na capa do jornal da rede golpe sao sucessos internacionais, presos por crimes no Brasil, ou um e outro brasileiro preto “do momento”:  e “estrelas” do mundo do esporte e…  nada mais. De outra maneira, eh so louro, branco, ou ambos na capa desse jornal de merda.

    AGORA nesse momento e mais ou menos em ordem, temos  na capa PELEH (nossa, que surpresa) no alto de capa, “Astro da NBA pediu cabine sem janela em navio“, historia do “boxeador” BRASILEIRO e “violencia” na mesma chamada (sim, ele eh preto), (nao, nao adianta insistir, Noblat nao conta), “Segredos Olimpicos” (e perdoem me por suspeitar que o preto nem eh brasileiro), e uminha foto no pagenotfound de um preto.  So isso.  A “variedade” nunca foi outra.

    Voltando ao assunto, o que eu ouvi ate agora ( com a unica reclamcao de hoje de pessimos show de abertura) eh otimo a respeito das Olimpiadas.  Pelo menos ate Temer tentar falar pros brasileiros, ai a coisa vai desandar.  E ninguem no mundo esta esperando ainda pois a cobertura que eu estou ouvindo nao eh essa.

    Acho que o erro de Greenwald eh tomar o PIG americano com representante do internauta -que hoje eh mais de 80 por cento do “leitor” tradicional -e eu devia colocar ate aspas duplas:  “leitor” “tradicional” DE HOJE…  Tem 15 anos que eu parei de ler jornal, e…  nao vou voltar:  ja escolhi minhas medias pessoais.  Nao sei o que ele esta lendo mas nao me representa nem como brasileiro e muito menos como americano.  E me considero o “leitor” “tradicional” de hoje!

    Vai ver ele eh velho de barba branca e tem dois dentes e meio e eh gagah!

    Nao, esperem…  esse eh eu!

     

    DE NOTA:  ainda estou esperando o desastre de “show” de abertura das Olimpiadas brasileiras.  Ah, estou.  E como estou.

  4. Para quem não mora no Rio ele não é tão terrivel assim…

    Realmente o Rio de Janeiro não é esse terror todo… para os turistas que vêm para a Olimpiada. Agora se voce mora no Rio de Janeiro e depende da saúde pública, se mora em uma favela e leva porrada do tráfico e da PM todo dia, se tem andar de busão, metro ou trem para ir ao trabalho todo dia, se é funcionário publico do Estado, o cenário é muito pior do que imprensa estrangeira pinta.

  5. Barcelona

    Aqui em Barcelona o canal 2, 24h,  hoje 05 agosto, um cara  (não vi o nome) falava sobre economia e citou o Brasil, dizendo que a “primeira ministra” Dilma havia sido afastada do cargo.

    O cara acha que o Brasil é um país parlamentarista? 

    Vai estudar mané. 

     

  6. Desqualificar uma país,como o

    Desqualificar uma país,como o Brasil,não é facil.Pelas suas dimensões e diversidade culturais,só os ignorantes creem em matéria divulgada ,urgente e telegráfica. Sobre  a Síria, a técnica empregada é  semelhante e os objetivos saõ  bem conhecidos,ali é uma “primavera Árabe”,que não deu certo…

    Aqui,é um quadro que começa  a ser definido a partir do pre´-sal. Se, a eleição de Lula e sua atuação como surpreendente estadista trouxe preocupações geopolíticas, a descoberta e divulgação da gigantesca província petrolífera confirmou que medidas tinham que ser tomadas. O susto   quando Lula e  Endorgan apresentaram proposta ao Irã, e  foi aceita,para disciplinar o uso da energia nuclear,naquela ocasião,o vexame  da recusa foi a única  solução encontrada  para a imprevisível resposta iraniana.Adicione-se  a rejeição de adquir caças  americanos,substituindo-os por europeus,desenvolver submarinos nucleares,contruir,equipamentos aéreos que substituam o tradicional Hércules,sem pedir licença. Independência incomoda.  Portanto, para quem,até acidentalmente acompanha a história contemporânea e o desempenho dos seus principais atores, esses movimentos não são isolados.  Jornalistas, ONGs,Fundações,Instituições transnacionais,nada são o que parecem.Exite um  senhor a servir e não são seu pseudos-empregadores.

     

     

     

     

     

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