NYT diz que Dilma é “um dos raros políticos sem acusação de corrupção”

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Reportagem do New York Times desta quarta-feira (11) reafirma que a presidente Dilma Rousseff  “é raridade entre os principais políticos do Brasil porque não enfrenta acusações de se enriquecer ilegalmente”. “Mas os temores estão crescendo com a perspectiva de um governo montada pelo Sr. Temer”, disse ainda o jornal norte-americano.
 
Senado brasileiro começa debate para queda de Dilma Rousseff, após meses de turbulência
 
Por Simon Romero
 
Do The New York Times
 
Depois de meses de tiradas, manobras secretas e recursos legais, o Senado brasileiro começou a debater nesta quarta-feira a possibilidade de acusar a presidente Dilma Rousseff, suspendendo-a de exercício e colocando-a em julgamento.
 
O debate, seguido por uma votação ainda nesta quarta-feira, é um divisor de águas na luta pelo poder que está consumindo o Brasil, um país que experimentou um trecho de rara estabilidade ao longo das últimas duas décadas, uma vez que fortaleceu a sua economia e alcançou maior destaque no cenário mundial.
 
Agora, esses ganhos estão se desfazendo. O Brasil está enfrentando sua pior crise econômica em décadas, enormes casos de corrupção em todo o espectro político e uma disputa amarga entre os seus líderes atormentada por escândalos – poucos meses antes que o mundo vai ao Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos deste ano.
 
Dilma, que é acusada de maquiar o orçamento para esconder as profundezas de problemas econômicos do Brasil e reforçar suas próprias perspectivas de reeleição, é amplamente esperada para ser afastada pelo Senado, encerrando 13 anos de poder político do Partido dos Trabalhadores, de esquerda.
 
Se ela for suspensa e levada a julgamento, se tornaria o segundo de quatro presidentes eleitos do Brasil a ser afastado do cargo desde que a democracia foi restabelecida em meados da década de 1980, depois de uma longa ditadura.
 
Dilma já perdeu uma votação no mês passado na Câmara do Congresso, que avançou o processo de impeachment para o Senado. Legisladores poderosos acusados de corrupção que lideraram o processo contra ela.
 
“Claramente, esta é a pior crise na nossa história, com sua combinação de calamidade econômica, política desacreditada e a violação dos mais baixos padrões éticos”, disse Boris Fausto, um historiador brasileiro, a repórteres este mês, enquanto resumia o clima sombrio do país.
 
Muitos dos que querem Dilma deposta estão se preparando para o que vem a seguir. O vice-presidente Michel Temer, o ex-aliado que está pronto para assumir a Presidência se Dilma for suspensa, é uma figura impopular, bem como constatou uma pesquisa recente, de que apenas 2 por cento dos brasileiros votariam nele.
 
Temer também enfrenta seus próprios problemas legais. Um tribunal eleitoral determinou a ele, este mês, a pagar uma multa por violar os limites de financiamento de campanha. A decisão pode torná-lo inelegível para concorrer a um cargo eleito por oito anos, criando uma situação inusitada em que um político impedido de fazer campanha acaba comandando o país.
 
“Temer é o que temos”, disse Fausto. “Espero que ele esteja acima das dificuldades e taxas altamente impopulares à sua frente”.
 
Regular a economia, o que pode exigir a adoção de medidas de austeridade impopulares, é apenas um dos desafios do Sr. Temer, 75, um advogado e carreira política que manteve um baixo perfil como vice-presidente.
 
O Brasil está lidando, simultaneamente, com a epidemia Zika, uma de suas piores crises de saúde em décadas; a queda de sua indústria de petróleo, como a empresa nacional de petróleo, Petrobras; os baixos preços de energia e um enorme escândalo de corrupção; além de dúvidas sobre os preparativos do país para os Jogos Olímpicos em agosto.
 
Mas o impasse entre Dilma e seus rivais manteve o governo em Brasília distraído com esses problemas, expondo o establishment político ao escrutínio fulminante em todo o país.
 
Dilma, que foi uma guerrilha em sua juventude, é acusada de usar dinheiro dos bancos públicos para cobrir gastos, mascarando déficits orçamentários na gigante burocracia federal do Brasil. Ela alega que seus antecessores fizeram políticas semelhantes e que o esforço para expulsá-la representa um golpe de Estado.
 
Ainda assim, Dilma é raridade entre os principais políticos do Brasil porque não enfrenta acusações de se enriquecer ilegalmente. Integrante de um partido (Partido dos Trabalhadores) que tem vários de seus quadros na cadeia ou sob investigação por acusações de corrupção foi um choque para a legitimidade de uma sigla que prometeu acabar com tais práticas.
 
Mas os temores estão crescendo com a perspectiva de um governo montada pelo Sr. Temer. Se Dilma e o Partido dos Trabalhadores mudar para a oposição, eles provavelmente irão reivindicar que sua saída foi ilegal, e aliados próximo de Temer seguirão na mira de escândalos de corrupção.
 
Vários de seus principais assessores estão sob investigação, incluindo Romero Jucá, um senador do Estado de Roraima na Amazônia, e Geddel Vieira Lima, ex-executivo de um dos maiores bancos públicos do Brasil. Michel Temer tem insistido que esses inquéritos não o impediria de nomear os conselheiros para o seu governo.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

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  1. O NYT sabe que a Presidente

    O NYT sabe que a Presidente enviou um senador da República para subornar um condenado da Justiça e ajudá-lo a fugir do país, e depois enviou um Ministro de Estado para subornar o próprio senador que fora preso em flagrante? E que Dilma nomeou um aliado político para evitar sua prisão, inclusive fazendo uso de expedientes ilegais nessa nomeação? Duvido.

    Nos EUA obstrução de Justiça é motivo não só para afastamento do Presidente (que o diga Nixon), mas também para prisão. E prisão comum determinada por juiz de 1ª instância, pois lá não tem foro privilegiado e muito menos privilégio no regime carcerário. Se o NYT soubesse metade das coisas que Dilma aprontou, estaria publicando editoriais indignados se perguntando como ela pode ainda estar no poder.

    1. O NYT é muito mal informado,
      O NYT é muito mal informado, né, não?? Eles não lêem a Veja nem estudam filosofia com Olavo de Carvalho…

      Vc devia ir pra lá ensinar como se faz jornalismo

    2. “O NYT sabe que a Presidente

      “O NYT sabe que a Presidente enviou um senador da República para subornar um condenado da Justiça e ajudá-lo a fugir do país, e depois enviou um Ministro de Estado para subornar o próprio senador que fora preso em flagrante?”

       

      ISSO JÁ FOI PROVADO? OU SÃO SÓ ACUSAÇÕES RASAS E IRRESPONSÁVEIS?

      NÃO BASTA SÓ ACUSAR, TEM QUE PROVAR! SENÃO NÃO VAI HAVER GOVERNO QUE RESISTA 3 MESES NO PODER.

      FHC COMPROU OS VOTOS PARA SE REELEGER, FICOU EXPLÍCITO, MAS NÃO FOI PROVADO NA JUSTIÇA. POR ISSO ELE NÃO FOI IMPICHADO.

      ASSESSORES DE FHC FORAM GRAMPEADOS TRATANDO DE ENTREGAR AS TELES A EMPRESAS QUE CORROMPERAM O GOVERNO. COMO O GRAMPO NÃO ERA AUTORIZADO, NÃO DEU EM NADA.

  2. O Golpe atravessou as

    O Golpe atravessou as fronteiras e já não é mais uma simples retórica da defesa. O mundo está sabendo que é verdade.

    Todos os jornais destacam esse apecto: Dilma é a única pessoa com as mãos limpas entre todos os envolvidos nesse processo.

  3. E aí nos States com

    E aí nos States com “decisões” brasileiras: decisões, liminares sem julgamento de mérito, HCs, sem julgamento de meritos, enfim, as juriprudencias lançada e usadas(varias como usuras), Tses..tribunais de contas etc… Me digam Os NYT…

     

    Cairiam quantos por aí? 

    ________________

    A Dilma é honesta? Sim. 

     

     

     

  4. Nada de novo

    Segue a mesma linha do El País e de tantos outros da imprensa primeiro-mundistas, dos impolutos países centrais, com o único objetivo de denegrir a imagem do Brasil e trabalhar para que ele seja visto como uma nação incapaz de se conduzir com as próprias pernas.

    Segue o baile, já resistimos a tanto disso ( Collor, Mensalão ), que já estamos até acostumados

  5. Tudo é possível

    Lendo o blog e lendo a mídia tradicional vemos o turbilhão do mundo político através de perspectivas diferentes, apesar de não tanto opostas .

    “…entre os diversos mundos imagináveis, a conciliação entre o máximo de bem e o mínimo de mal, o que o transforma no melhor dos mundos possível.”

  6. No jornal do golpe

    No jornal do golpe nacional,agora,falaram da repercusão internacional,mas não falaram, nem no NYT,nem no EL PAIS,que criticaram o golpe.Eita globo!!!!

  7. o mundo sabe que é golpe e

    o mundo sabe que é golpe e que dilma é honesta,

    mesnos os golpistas, cujas justificativas são  torpes, como sempre infames… 

    continuarão falando isso neste governo temeroso golpistas,mas parece que cairão cada vez mais no ridícuo na própria discurseira imbecil dos defensores de um ecidetne golpe…

    já se ouve um monte de besteiras de “especialistas”

    dizendo isso e aquilo do governo temerlão…

     

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