O erro dos Marinhos com a Net, por Luis Nassif

Na grande crise da NET, no início dos anos 2.000, um dia baixa no Banco do Brasil o primogênito de Roberto Marinho, Roberto Irineu. A NET tinha sido vítima dos cabeças de planilhas. Contrataram jovens financistas de mercado, que montaram um PowerPoint com projeções de venda, apontando para um cenário de 6 milhões de assinantes em pouco tempo. Com base na planilha, colocaram bonds no exterior.

A estrutura foi montada para tanto, mas não conseguiram passar de 1,5 milhão, pois o ponto de equilíbrio foi calculado em 3,5 milhões.

A Globo contratou então o ex-presidente da Petrobras, Philippe Reichstull para tentar colocar a NET em pé.

Foi uma conversa complicada, com Fernando Henrique Cardoso telefonando várias vezes para a diretoria, pressionando por uma solução. Mas o efeito Lula havia provocado uma disparada no dólar, deixando a empresa pela hora da morte.

Nas conversas com o BB,  Roberto Irineu fez o desabafo definitivo:

– Nosso maior erro foi ter feito endividamento em dólares. Nós não temos a menor condição de pressionar Margareth Thatcher e Bush.

No caso da CBF e da compra dos direitos da Copa Brasil, fizeram tudo direito: copa brasileira, dirigentes brasileiras, corrupção brasileira, Ministério Público brasileiro, Judiciário brasileiro. Como iam prever que a sociedade de Ricardo Teixeira com um espanhol, e a circulação da propina em dólares, traria para o jogo o MP espanhol, o suiço e o FBI? São as agruras desses tempos de globalização.

Luis Nassif

28 Comentários

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    1. Futebol

      O que mantém a net e a globo é o monopólio do futebol. Está na hora dos times entenderem isto e tentar sair do fundo do poço em que os puseram.

      1. Net e Futebol

        Concordo, só continuo com a TV acabo por causa do futebol.

        Sou santista, e a Globo boicota o Santos na telinha, como não posso ir em todos os jogos assino o canal paperview.

        A Netflix é uma grande opção.

      2. Doce Ilusão
        Pesquise no Google o que o dono da Netflix acha da Globo.
        Seu conceito irá mudar. Goste ou não, concorde com suas práticas e opiniões ou não, ela está entre a 3 melhores emissoras abertas do mundo.

        O tal “padrão globo” é uma realidade.

  1. É por isso que os Marinho em

    É por isso que os Marinho em breve não poderão por os pés fora do Brasil. Então por incrível que parece os donos da Rede Globo podem ser presos sim. Prisão domiciliar, o domicílio no caso sendo o Brasil inteiro.

    Mas calma meninos, não vão precisar usar tornozeleira, tá?

  2. Os oligarcas

    O Brasil, como diz um comentarista, é de facil explicação. Os oligarcas ainda vivem como se estivessem no século XIX porque a estrutura do Pais é toda feita para que seja assim. Pressionar o presidente brasileiro é facil (como mandaram calar a boca dos blogs sobre a casa de Paraty), principalmente um banana como FHC, mas quando se sai da esfera doméstica e das relações de patrão-servidor, ai é diferente: a dança é outra e ai, tal qual um maluf, os Marinho vão se esconder na barra da saia do MPF brasileiro. 

  3. Ou seja, apoiam golpes de

    Ou seja, apoiam golpes de Estado, sabotando a democracia do país, e, segundo parece, pagam propina e solapam a livre iniciativa (art. 1°, IV parte final da CRFB). Não é pouca coisa não. Não entendo como os seus pares, da economia de mercado, não reagem com indignação.

  4. TV a cabo

    Todo santo dia, acordo com a idéia fixa de cancelar meu contrato com a NET. Mas acabo procrastinando, ao ver as tristes alternativas existentes, e acabo me conformando com três ou quatro canais razoáveis (Globo News, Arte 1, Curta e CNN). Estou me preparando para romper o contrato por impulso, quando for anunciado eventual reajuste de preço – que já é extorsivo. Mas que é mico, é.

    1. Dormindo no ponto

      Os sinais de TV estão dentro do que chamamos espectro eletromagnetico, portanto sua captação no espaço é livre.

      Não dá para uma empresa de telecomunicações tentar “engarrafar” a onda só para o seu uso e cobrar por isso.

      Eles até tentam com uso de tecnologias eletrônicas, mas não conseguem o domínio total, porque existem os “hackers” que decodificam suas travas e elas continuam livres.

      Você está pagando por essa miséria de canais fechados da NET, talvez por desconhecimento.

    2. Globo News?

      Só se for para honrar Sun-Tzu!

      “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas…”

       

       

  5. o erro….

    Copa do Mundo produzida por governos petistas. Interessante é a pressão de FHC, Presidente da República AntiCapitalista a favor de emissora de tv, sobre Presidente da CEF e da Petrobrás. Um espetáculo de infraestrutura de nova tecnologia, por todo território nacional (território comercial) bancado com dinheiro público e vultosa alavancagem de BNDES. Marcas e Empregos Estrangeiros agradecem. Para o Brasileiro ficou o restolho e pagar contas extorsivas. Como diz o Manual Ideológico Tupiniquim? Empresário Covarde? Empresário Covarde Internacional não precisa nem dar as caras no Brasil. Ganha dinheiro através de algum ‘escritorinho’ que representa sua marca dentro do país. Ou a tal ‘NET’ virou brasileira? E Google? E Facebook? E Tweeter? E Microsoft? E Apple? Empregos? Quem precisa de Empregos? Esta Classe Média Alienada, que vive de pagar impostos extorsivos? Quem precisa de Empresas Nacionais? Quem precisa de Nacionalismo? Quando a Imprensa quer elevar a discussão  e mostrar o Brasil destes 40 anos, a cada enxadada é uma minhoca. Mas lembremos, todos de mãos juntas, contra a tirania e a falta de democracia, contra um Estado que não representava o Povo Brasileiro, nem seus interesses. Que diziam que era Entreguista, lacaio de Potências Estrangeiras, Traidor, Anti Nacionalista,…Todos juntos nos Palanques de Diretas Já, prometendo um novo país e uma nova forma de fazer política. A materia esta aí, para deleite dos fanáticos. Conheceis a Verdade. E a Verdade Vos Libertará.      

  6. Os membros do MPF passam o

    Os membros do MPF passam o dia fazendo propaganda da lava jato no twitter.

    Sobre o andamento das investigações dos esquemas de corrupção da globo, nada, óbvio.

    A cooperação que serviu como pretexto para atacar a Petrobrás nos EUA, resultando na entrega de10 bilhões aos yankes, não funcionará contra a globo. E segue o baile.

    1. comentario fora de contexto……

      no texto, me parece, que Nassif utiliza os verbos no passado…….Dai a minha dificuldade em entender o seu comentario……….

      1. Ok. Então está aí  a minha

        Ok. Então está aí  a minha dificuldade em entender o por que de estar se apontado esse erro dos Marinho… qual a relevância disso, então? E olhe os comentários produzidos: todos em cima de uma realidade contemporânea…

  7. Ideologia

    É bastante importante essa analise, pois demonstram que a elite econômica-midiatica acredita no que relata e expõe em suas prataformas.  Naquele periodo, todas as pessoas sensatas sabiam que a paridade dolar-real teria um fim. Claro, que a midia-hegemônica dizia que não, reproduzindo o governo do psdb. Agora, podemos perceber que os gestores da midia acreditavam que isso era possível. 

    Triste!!!

  8. A frase atribuída ao Marinho
    A frase atribuída ao Marinho em questão é o mais sucinto resumo do que tem sido esse nosso país triste, após a “redemocratização”.
    Aos militares eles não pressionavam, apenas sugeriam, servilmente. Tancredo, sarnento, o canalha de Higienópolis, ficaram no 1 a 1. Lula e Dilma, massacre. O colorido e o mordomo de filme de terror, meros estorvos passageiros.
    A Globo já era. Que o Lula lhes dê um tiro na cara, para estragar o velório.

  9. O “risco Lula” não existiria

    O “risco Lula” não existiria se o FHC não tivesse sido tão ladrão e incompetente. Portanto a culpa da alta do dólar foi da tucanalha apoiada pelo papai velhaco.

  10. Oligopólio da comunicação versus democracia

    DO SITE DO “LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL”

     

    ” ENTREVISTA – GILBERTO CARVALHO

    “NOSSO MAIOR ERRO FOI NÃO FOMENTAR 

    A MÍDIA ALTERNATIVA” 

    EDIÇÃO – 126 | BRASIL

    por Miriam Moraes

    Janeiro 9, 2018

     

    Gilberto Carvalho foi incluído em 2013 na lista dos sessenta nomes mais poderosos do Brasil pelo site IG por participar dos doze anos do governo PT como assessor do ex-presidente Lula e ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República nos governos Dilma. É amigo íntimo e conselheiro de Lula há mais de trinta anos e colabora ativamente na gestão do PT

     

    LE ONDE DIPLOMATIQUE BRASIL – Fazendo um retrospecto, em 2013 Dilma Rousseff chegou a 79% de aprovação. Em 2014, a aprovação tinha caído para 37%, atingiu 10% em 2015 e permaneceu inalterada até seu afastamento pelo impeachment. Em sua opinião, qual é o fator preponderante nessa alteração da percepção popular em apenas dois anos?

    GILBERTO CARVALHO – As razões são variadas. Desde o governo Lula, o Brasil vinha num ritmo crescente de desenvolvimento com inclusão social. Em determinado momento, Dilma decidiu corajosamente mexer no “andar de cima”, quando utilizou a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil para forçar uma queda das taxas de juros. Os bancos privados, ao verem que estavam perdendo mercado, se viram sem alternativas senão reduzir suas taxas, o que provocou uma diminuição dos juros bancários de 12,5% para 7%. Ao mesmo tempo, ela se recusou a fazer o leilão do setor elétrico que eles queriam e ainda taxou em 5% o lucro das empresas concessionárias… Esse foi o momento em que o capital deu o grito de guerra e decidiu entrar em ação para nos fazer parar, como forma de defender seus próprios interesses. Primeiro apostaram na eleição de Aécio. Para isso, desde 2012 o comportamento da grande imprensa – que faz parte desse conglomerado financeiro, dos grupos detentores do grande capital – passou a ser o de insuflar a população contra o governo com ataques ininterruptos. Em 2013, a manifestação que começou como um protesto contra o aumento de passagens foi rapidamente apropriada por esse grupo e transformada num movimento de conspiração contra o governo.

    Em 2014, o país vivia uma situação de pleno emprego; no começo de 2015, o poder de compra do salário bateu seu recorde histórico; havia muitos indicadores econômicos favoráveis ao governo Dilma. Houve falha na comunicação do governo com a sociedade?

    Eu diria que uma falha brutal. Os governos Lula e Dilma cometeram o erro de não trabalhar alternativas para a criação de uma imprensa democrática. Não falo de uma imprensa chapa-branca, que poupasse o governo, mas que trabalhasse honestamente as informações. Adotamos um sistema de “mídia técnica”, em que a verba da comunicação era distribuída na proporção da tiragem ou alcance dos veículos. Naquele momento nos pareceu uma solução justa, não percebemos que isso acabaria mantendo os grandes cada vez maiores, impedindo o crescimento dos menores e o surgimento de novos veículos de comunicação. Acabamos injetando muitos recursos financeiros em televisões, jornais e revistas, no que imaginávamos uma atitude justa, e esses veículos terminaram sendo nossos algozes. Isso foi fatal para nós.

     

    Outra falha que nos custou muito caro foi defender aquilo em que de fato acreditamos, que o acesso ao trabalho, às oportunidades, a uma vida digna é direito de todos, mas deixamos de falar que tudo depende de um governo que promova condições para que a população possa exercer esse direito. E o que vimos foi um povo feliz com as conquistas, mas que atribuía o resultado apenas ao próprio esforço, à sorte, às orações do pastor… e não entendia que era fruto do trabalho que fizemos para gerar e distribuir essas oportunidades, da nossa escolha de confrontar interesses de uma classe muito poderosa para governar com foco na inclusão e promoção da justiça social. Assim, não foi possível explicar de última hora que, para garantir essas conquistas, eles precisavam defender o governo que as oportunizara, que o golpe ameaçava justamente esses bens que passaram a ser possíveis para uma imensa parcela da população. E, sem esse entendimento, muita gente acreditou que estava pondo fim a um governo que, com o bombardeio da mídia, passou a ser visto com maus olhos, mas estava pondo fim à melhor fase de sua vida, às oportunidades que via como naturais e que já foram encerradas por meio da política elitista do atual governo, ou se encontram em declínio. A miséria e a fome já se tornam outra vez uma realidade no país. Foi uma grande falha da nossa comunicação.

     

    Mesmo dentro da esquerda existe muita crítica ao fato de o governo do PT não ter feito a regulamentação da imprensa. Por outro lado, na Argentina, o governo de Cristina Kirchner conseguiu aprovar a Ley de Medios, mas os inúmeros recursos e obstáculos judiciais acabaram impedindo a redução do poder do grupo Clarín. Na prática, a lei não funcionou, a direita retomou o poder e hoje Cristina luta contra uma condenação judicial que pode levá-la à prisão. O senhor acredita que no Brasil teria sido diferente?

    Aprovar uma lei de democratização dos meios de comunicação exige grande mobilização, porque se trata de um enfrentamento de forças. Nossa ideia era fazer algo nos moldes do que vigora nos Estados Unidos ou na Inglaterra, mas outra vez caímos no problema da comunicação que não conseguimos criar com a população, pois a imprensa acabou fazendo todo mundo acreditar que o propósito era cercear a liberdade de expressão, o que não é verdade. No campo das concessões de rádios e TVs, a situação é mais complicada, porque o Senado tem a palavra final na distribuição dessas concessões, e sabemos que a maioria dos senadores é eleita com o apoio da Globo e de outros conglomerados, e obviamente com o compromisso de defendê-los. Mas penso que nosso maior erro foi a permanência na ideia da mídia técnica, pois, mesmo sabendo que enfrentaríamos uma guerra política, era vital que tivéssemos reduzido mais substancialmente as verbas dos grandes veículos e fomentado as mídias alternativas com um viés democrático. Isso já teria feito uma diferença significativa.

     

    A situação econômica e social do país após o impeachment mudou drasticamente do começo de 2015 até o final de 2017. Há um discurso generalizado de que essa quebra do país é uma consequência do governo deposto. Isso é fato ou distorção?

    Houve uma sabotagem contra a economia do país envolvendo os grandes empresários que maliciosamente retiraram o dinheiro do mercado, transferindo para a ciranda financeira, em combinação com o ataque contínuo do Congresso, na época capitaneado por Eduardo Cunha, que se vangloriava publicamente de paralisar o governo por meio das pautas-bomba… Porém, sobretudo pesou a ação da grande imprensa, que praticava todo tipo de terrorismo para confundir e aterrorizar a população. Basta ver como o padrão adotado para divulgar notícias mudou. Hoje a situação está caótica, e eles tentam vender uma imagem de um cenário florido. Antes era: “Quem vai querer investir num país que está à beira do caos?”. Era o tipo de terrorismo praticado com o objetivo de fazer as pessoas segurarem o dinheiro para produzir uma retranca econômica que fatalmente se transforma em crise. Eles, irresponsavelmente, queriam quebrar o governo e quebraram o país. A responsabilidade não é do governo do PT, é claramente dessa sabotagem. Ela foi tão grande que agora não conseguem fazer a retomada da economia. E, mesmo que houvesse essa retomada, ela viria com os efeitos perversos das mudanças que fizeram, com a qualidade de empregos da pior espécie e expansão da pobreza. Volta-se a ser o país de até 2002, governado para apenas 40 milhões de brasileiros, e os outros 168 milhões ficaram outra vez estagnados na situação de pobreza.

     

    O Congresso tem adotado uma postura diferente: nota-se uma celeridade na votação das pautas do governo. Um exemplo é a aprovação, em 13 de dezembro de 2017, do Orçamento de 2018. Em 2014, a votação foi adiada e só pôde ser sancionada pelo governo Dilma em 22 de abril de 2015, o que paralisou o país durante quatro meses, gerando impositivos de ajustes que eram usados pela imprensa como uma escolha do Executivo. Em sua opinião, é o governo Temer que faz concessões ao Congresso ou o Congresso que mostra maior disposição de colaborar com o governo Temer?

    A mudança na postura do Congresso é a maior prova do grande acordo relatado por Romero Jucá. Eles atuaram em conjunto. Note que nunca se viu tanta rapidez na aprovação de medidas tão fundamentais para a mudança do enquadramento econômico e social do país. A aprovação da PEC dos gastos, da reforma trabalhista, da lei das terceirizações, a liberação para exploração do pré-sal por petrolíferas estrangeiras, a isenção de impostos para elas, algo que nenhum país faz e que configura a entrega das nossas riquezas… Tudo aprovado a toque de caixa. Isso revela claramente a razão da sabotagem contra o governo Dilma. Esse é um Congresso comprado, desmoralizado, são congressistas em sua maioria vendilhões, movidos apenas por interesses pessoais, não há nenhum interesse no bem do país ou do povo em suas ações. Essa é seguramente a pior composição do Congresso na história, e eles são responsáveis pela deformação de um modelo de desenvolvimento do país que vinha dando muito certo, que promoveu desenvolvimento com inclusão social, que foi inclusive adotado como modelo para muitos outros países. Eles deformaram até a Constituição, tudo isso em troca do vil metal.

     

    O PT tem um plano para recuperar o espaço da esquerda e reverter essas medidas?

    Sim. Garantir a eleição e a posse de Lula em 2018.

     

    Lula e o PT acusam Sérgio Moro e o Judiciário de estarem a serviço do golpe. Não há uma contradição no fato de denunciarem o atropelo das leis para privilegiar um grupo político no presente momento e confiarem justamente no Judiciário para garantir o direito de eleição e posse de Lula, algo inteiramente contrário às aspirações dos que vocês afirmam fazer parte do golpe?

    Essa questão é importante, porque infelizmente o Judiciário foi sendo transformado no elemento central do golpe, da mesma maneira que as Forças Armadas foram usadas em 1964. Isso é trágico para o país, porque, quando o Judiciário se desvia de suas funções, você não sabe mais a quem recorrer. Mas estamos trabalhando com a seguinte perspectiva: a candidatura de Lula crescendo mesmo sob esse fogo brutal da imprensa e o uso do regime de exceção… Aliás, a última surpresa foi esse açodamento do julgamento marcado para 24 de janeiro. Mesmo assim, a candidatura de Lula vai crescendo, vai se consolidando, e vai aumentar para eles o custo dessas arbitrariedades a ponto de eles terem de calcular se essas provocações não vão resultar numa reação forte da sociedade. Porque acreditamos que em algum momento o povo vai dizer “Basta!”. Nossa aposta não é no Judiciário, é na reação da sociedade.

     

    No momento da eleição, a esquerda estará focada em usar os poucos recursos para promover seus candidatos. Quem mobilizaria a reação popular no caso de Lula ser impedido de disputar a eleição de última hora?

    Tenho de reconhecer nossa enorme dificuldade de mobilização. Já aconteceu de tudo, como a reforma trabalhista e esse escandaloso benefício às petroleiras estrangeiras, e o povo não sai às ruas. Mas acredito que as coisas começam a mudar. Não me preocupa absolutamente o fato de Guilherme Boulos lançar seu nome pelo Psol e Manuela D’Ávila pelo PCdoB, porque ao fim e ao cabo haverá uma galvanização dessas candidaturas.

     

    Isso no segundo turno.

    Talvez até mesmo no primeiro. Estamos conversando bastante e no momento não dá para ter certeza de nada.

     

    Mas vocês acreditam que, mesmo tendo candidatos próprios, essas siglas brigariam pelo PT e pelo direito de Lula disputar as eleições, caso ele seja impedido às vésperas do pleito?

    Brigariam, sim. O PCdoB já afirmou isso no Congresso; Boulos tem conversado com Lula, manifestando sua solidariedade… Eu já antevejo em 24 de janeiro, no dia do julgamento, uma mobilização muito forte não apenas em Porto Alegre, mas em diversas cidades do Brasil. Isso mostrará que não é prudente que os setores dominantes prossigam nessa retirada de direitos. Estou vendo chegar a hora em que teremos uma situação semelhante à de 2013, só que pelo outro lado, desta vez com a ocupação das ruas pelas classes que estão sofrendo as perdas. Não será surpresa se o ano de 2018 for de muitas mobilizações, com o risco de violência. As pessoas estão com os nervos à flor da pele, revoltadas com o comportamento do Congresso e de Temer. Quando isso acontece, a qualquer momento a violência pode eclodir. O pior dos cenários é essa eclosão ocorrendo sem nenhum controle, o que pode resultar numa guerra civil. É hora de alertar a esses senhores que tudo tem limite, e eles estão extrapolando há tempos o limite de segurança.

     

    O senhor confia na lisura do processo eleitoral organizado pelos que não aceitaram a derrota nas urnas?

    Eu não tenho elementos para duvidar do processo eleitoral, até porque nós ganhamos diversas eleições, inclusive a de 2014.

     

    Mas foram eleições coordenadas por um governo democrático. Se houve um golpe, isso não produziria mudanças na condução do processo eleitoral?

    Era o TSE, em sua autonomia, que conduzia o processo. Não tivemos até aqui nenhuma razão para acreditar em fraudes, tanto que eles recorreram ao golpe porque não podiam fraudar as eleições. A fraude que eles podem vir a fazer é a fraude pré-eleitoral, no sentido de inviabilizar Lula ou criar um sistema semipresidencialista e até impedir as eleições. Havendo eleições com Lula, eu não tenho dúvidas de que seremos vitoriosos, porque temos força de fiscalização, temos militância e temos sobretudo o apoio do povo.

     

    E se adotarem como estratégia a não condenação com o intuito de impedir a candidatura dele por meio de outro recurso jurídico às vésperas da eleição?

    Se Lula for absolvido no dia 24, vamos comemorar, será festa nas ruas. Havendo a condenação, não vai ter festa, terá protestos, mas vamos continuar no mesmo tom, com as caravanas pelo país, vamos registrar a candidatura de Lula e fazê-la crescer o máximo possível, de modo a aumentar de tal forma o constrangimento dos golpistas que as instâncias superiores se vejam compelidas a corrigir esse erro brutal cometido por Moro, que o TRF-4 pode ou não validar. Para nós não tem plano B, é Lula, Lula, Lula… Não há outro candidato. Lula tem afirmado que não quer tomar posse sob suspeição, ele vai lutar pelo direito de ver a Justiça fazendo a sua absolvição. “

     

    *Míriam Moraes é jornalista.

    (http://diplomatique.org.br/nosso-maior-erro-foi-nao-fomentar-midia-alternativa/)

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    Sampa/SP – 19/01/2018 – 16:52

  11. 2 coisas sobre a NET.

    Nos anos 90, o entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas era uma porcaria.  Não havia calçamento e só alguns ciclistas e corredores mais corajosos, corriam e pedalavam por aquelas plagas. De vez em quando, a mortandade de peixes deixava a linda lagoa fedorenta. Aí, um tal de César Maia (pai do Rodrigo Maia), prefeito da cidade, ex-brizolista e traidor de escol, resolveu fazer uma ciclovia em torno da Lagoa. Que beleza, minha linda bicicleta poderia deslizar por um piso adequado. Vi um monte de cabos sendo embutidos sob a ciclovia. Eram cabos lógicos. Pensei que faziam parte da rede de informática da prefeitura. Naqueles tempos bicudos, um taxista confessou que era engenheiro eletrônico e até pouco tempo tinha trabalhado na instalação daqueles cabos. Eram para uma tal de NET, da Globo. A prefeitura cavava a vala, a NET enfiava os cabos, a prefeitura cobria e o povo levava nabo. Fiquei tão chocado que até dei gorjeta para o taxista.

    Hoje, a NET, consolidada, me serve por precos caríssimos, telefone, TV a cabo e banda larga. Na época, eu só queria banda larga, mas governo FHC, Agostinho Guerreiro no comando da ANATEL, tive de comprar TV a cabo para ter banda larga de fribra ótica. Venda casada, proibida por lei, mas fazer o quê?

    Hoje, minha banda larga contratada é de 120Mb/s. Fiz várias medidas, não passava de 10Mb/s para download, menos ainda para upload. Fui ao PROCON, ganhei, trocaram o modem. Eu sabia que não era isso. O técnico, na instalação do novo modem, só conseguiu 90Mb/s (megabit por segundo). Alegou que minha placa de rede não era gigabit, daí a limitação. Ele foi embora, um mês depois, voltei às velocidades revoltantes de 10 megabit/s. Procurei o manual da minha placa-mãe, o chip de rede é gigabit, minha conexão é cabeada, não é wiFi. Tentaram me enrolar aí, mas a conexão WiFi só é usada para celular e Smart TV. Meu computador é cabeado. Terei de voltar ao PROCON. Apelo aos leitores, meçam a velocidade de suas conexões (www.minhaconexao.com.br), esse site é muito bom, recomendo. Usei suas medições na queixa ao PROCON e vejam se estão sendo roubados por essas operadoras da vida.

    1. Gato por lebre

      Há alguns anos, eu fui ao Procon reclamar da velocidade de conexão da NET que, para download, é de míseros 10% da velocidade contratada. Mas o atendente me informou que, neste caso, a reclamação teria que ser feita na ANATEL.

  12. Oligopólio da comunicação versus democracia (II)

    DO “LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL”

    “MÍDIA E RELAÇÕES EMPRESARIAISnotícia

    Quem controla a notícia no Brasil?

    EDIÇÃO – 126 | BRASIL

    por Olívia Bandeira e André Pasti

    JANEIRO 9, 2018ré P

    Negócios desenvolvidos pelos principais grupos de mídia brasileiros revelam potenciais interesses por trás das agendas dos meios. A pesquisa Monitoramento da Propriedade da Mídia no Brasil, publicada pelo Intervozes e pela Repórteres Sem Fronteiras, expõe que muitos dos veículos de maior audiência no país são também parte de grupos econômicos

    Os veículos de grande circulação costumam declarar em suas linhas editorais que buscam informar de modo isento, apartidário e plural. Alguns de seus manuais ainda advogam a necessidade de independência dos interesses de grupos econômicos e políticos e de separação entre conteúdo jornalístico e publicitário, notícia e opinião. No entanto, como apurou a pesquisa Monitoramento da Propriedade da Mídia no Brasil (Media Ownership Monitor – MOM),1 publicada pelo Intervozes e pela Repórteres Sem Fronteiras, muitos veículos de maior audiência no país são também parte de grupos econômicos – além de políticos e religiosos – que possuem interesses específicos.

    O objetivo do MOM-Brasil é deixar visível quem controla a mídia brasileira. O projeto mapeou os cinquenta veículos ou redes de comunicação de maior audiência no país em quatro segmentos: mídia impressa, on-line, TV e rádio. Esses cinquenta veículos pertencem a 26 grupos de comunicação, e metade deles está sob o controle de apenas cinco grupos: Globo, Bandeirantes, Record, Folha e o grupo de escala regional RBS. Tal quadro indica uma alta concentração das maiores audiências nas mãos de poucos proprietários. Além disso, os 26 grupos pesquisados possuem negócios em mais de um tipo de mídia, o que configura a propriedade cruzada dos meios de comunicação, uma das formas mais graves de controle monopólico do setor.

    A pesquisa revela, porém, um quadro menos conhecido: 21 dos 26 grupos ou seus principais acionistas possuem atividades em outros setores econômicos, como educacional, financeiro, imobiliário, agropecuário, energético, de transportes, infraestrutura e saúde. Somam-se a esses os interesses dos grupos de mídia de escalas regional e local que, por meio do sistema de afiliadas, permitem que as grandes redes de TV e de rádio cheguem a todo o território nacional e que os grandes portais de internet atraiam audiência pela produção de conteúdo local.

    A cidade como negócio: mídia e mercado imobiliário

    Vimos nos últimos meses os novos capítulos da disputa entre o empresário da mídia Silvio Santos e o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. O conflito é motivado por um grande investimento imobiliário que Silvio, dono da rede de televisão SBT, da incorporadora Sisan e de negócios financeiros, quer realizar no terreno vizinho ao Teatro Oficina, localizado no bairro do Bixiga, em São Paulo. O Oficina, tombado em 1981 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), foi planejado pela arquiteta Lina Bo Bardi para que tivesse uma integração com a paisagem do entorno. Silvio quer que o Condephaat limite o tombamento ao prédio e permita a construção de três torres no terreno ao lado. Zé Celso quer que o governo do estado, dono do teatro, transforme a área em um espaço público de uso cultural.2

    Essa disputa é símbolo de modos distintos de ver as cidades: seus terrenos devem estar disponíveis a interesses privados, dando ênfase a seu valor de troca, ou o planejamento urbano deve levar em consideração o valor de uso, como sonhava Henri Lefebvre?3 O caso é também exemplar, de um lado, do investimento de grupos de mídia e seus acionistas em especulação imobiliária, e, de outro, de sua atuação no setor de construção.

    No primeiro caso, chama atenção o Grupo Objetivo, um dos maiores conglomerados de educação privada no país, dono da rede MIX FM de rádio, a sexta rede nacional na preferência dos ouvintes.4 Seu fundador e presidente, João Carlos Di Genio, foi apontado como o maior proprietário de imóveis de São Paulo,5 e suas empresas imobiliárias, segundo dados obtidos na Receita Federal e nas Juntas Comerciais, têm capital de quase R$ 1 bilhão. Di Genio não está sozinho. Outros proprietários de mídia que investem sua fortuna em imóveis são os irmãos José Roberto, Roberto Irineu e João Roberto Marinho, do Grupo Globo; membros da família Saad, do Grupo Bandeirantes; e Aloysio de Andrade Faria, do Grupo Financeiro Alfa, da Rede Transamérica de rádio e da Rede Transamérica de hotéis.

    No segundo caso, além dos já citados exemplos do Grupo Silvio Santos e do Grupo Alfa, há também grupos de mídia regionais ligados aos grandes veículos de comunicação por meio do sistema de afiliadas. Na pesquisa, destacaram-se dois grupos, ambos do Espírito Santo, que possuem empreendimentos imobiliários e shopping centers: o Sá Cavalcante, dono da TV Capixaba (Band ES) e da BandNews FM ES, e o Buaiz, que possui afiliadas da Jovem Pan, Jovem Pan News e RecordTV.

    O embate entre diferentes interesses na definição do planejamento urbano e da legislação envolve também as Igrejas. O exemplo de maior escala é o da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), dona da rede de rádios Aleluia, nona rede nacional na preferência dos ouvintes, e ligada também ao Grupo Record. Dois dos “megatemplos” da Iurd tiveram sua construção envolta em polêmica em relação ao uso do espaço urbano: a Catedral da Fé, construída em um terreno de 72 mil m² no bairro de Del Castilho, no Rio de Janeiro,6 e o Templo de Salomão, no Brás, em São Paulo, em um terreno de 100 mil m².7

    “O agro é pop” entre os donos da mídia

    As relações entre os grandes grupos de mídia brasileiros e o agronegócio são antigas, como conta a história do Grupo Folha.8 Essa ligação pode ser observada hoje em outros grupos, como Globo, Objetivo, RBS, Bandeirantes e Conglomerado Alfa.

    Os membros da família Marinho são donos de diversas fazendas e empresas de produção agrícola, algo que ajuda a compreender as motivações dos bilionários donos do Grupo Globo quando sua rede de TV lança a campanha “Agro é Pop, Agro é Tech, Agro é Tudo” – informes publicitários que buscam criar uma imagem positiva do agronegócio.9 Deve-se considerar também que, historicamente, assim como outros grupos de mídia, veículos do grupo produziram uma cobertura que criminalizava os movimentos de luta pela reforma agrária.10 Outros empresários do agronegócio foram identificados na pesquisa, como João Carlos Di Genio (Grupo Mix de Comunicação/Grupo Objetivo), os donos da TV Vitoriosa (SBT Uberlândia, MG) e da TV Goiânia (Band Goiânia, GO) e o Conglomerado Alfa, dono, entre outras, da Agropalma.

    Relações com o agronegócio podem ser observadas ainda na produção de conteúdo das mídias. A família Saad, do Grupo Bandeirantes, também proprietária de terras, algumas delas desapropriadas para a reforma agrária, possui o canal de TV a cabo Terraviva e, na Band News, o Jornal Terraviva. Além disso, diversos portais de notícias têm cadernos especiais para o setor, como o G1 (Globo.com), o Correio do Povo (Grupo Record) e o Grupo Estado.

    Interesses e negócios no mercado financeiro

    A agenda econômica dos meios de comunicação também corresponde a uma forte presença dos grupos no mercado financeiro: entre os grupos de mídia analisados na pesquisa, nove têm negócios no setor. O maior deles é o já citado Conglomerado Alfa, formado pelo Banco Alfa, Banco Alfa de Investimento, Alfa Financeiro, Alfa Leasing, Alfa Corretora, Alfa Seguradora e Alfa Previdência. Além dele, outros grupos atuam no mercado de previdência privada, como o RBS, afiliado da Globo no Rio Grande do Sul, e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, proprietária da rede de rádios Novo Tempo.

    Já a família proprietária do Grupo Record tem 49% do Banco Renner. O Grupo Silvio Santos é dono do Baú da Felicidade Crediário e da Liderança Capitalização (a “Tele Sena”), ambos impulsionados por sua rede de TV, o SBT. No mercado de soluções financeiras, destaca-se o Grupo Folha, detentor da empresa de pagamento on-line PagSeguro, e os sócios da RedeTV!, donos da Débito Fácil Serviços.

    Um dos vínculos mais explícitos com o mercado financeiro é do portal de direita O Antagonista, uma sociedade entre os ex-jornalistas da revista VejaDiogo Mainardi e Mário Sabino e a Empiricus Research, empresa especializada na venda de informações sobre o mercado financeiro por meio de newsletters. A Empiricus, por sua vez, é uma sociedade da empresa norte-americana The Agora com três brasileiros.

    Educação e saúde: serviços públicos

    nas mãos de agentes privados

    A desqualificação dos serviços públicos e a defesa da gestão privada em áreas de competência do Estado são pautas constantes das empresas de mídia analisadas. Não surpreende, então, que o MOM-Brasil tenha identificado a existência de vínculos entre os grupos de comunicação e as empresas que atuam em educação e também em saúde, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, os grupos Folha e Globo, além de grupos regionais afiliados.

    Em educação, é importante ressaltar não apenas a relação de propriedade, mas o papel dos grupos privados na disseminação de consensos sobre os rumos das políticas educacionais no Brasil que tiveram grande impacto na recente reforma do ensino médio e na proposta da Base Nacional Comum Curricular, como mostram as pesquisas em desenvolvimento pelo Observatório do Ensino Médio, da Unicamp.

    Os grandes grupos de comunicação fazem parte desse processo há bastante tempo.11 O Grupo Abril, que publica a Veja, revista semanal de maior tiragem no Brasil,12 foi pioneiro nessa área ao desenvolver materiais didáticos do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) durante a ditadura militar. Nos anos 1990, fundou a Abril Educação, um dos maiores grupos de educação privada do Brasil.13 Por meio da Fundação Victor Civita, lançou revistas como Nova Escola e Gestão Escolar,14 que desempenham papel ativo na elaboração de diretrizes educacionais. Outra atuação pioneira é a da Fundação Roberto Marinho (Grupo Globo), que, desde sua criação, em 1977, desenvolve o Telecurso, voltado para a aceleração da aprendizagem (supletivo) nos ensinos fundamental e médio e na educação de jovens e adultos (EJA).

    Na área de educação básica e universitária, o maior destaque é o já citado Grupo Objetivo, formado por escolas, cursos pré-vestibulares, universidades (Unip – Universidade Paulista) e editoras de produção de material didático. Yugo Okida, sócio do grupo, vice-reitor de pós-graduação e pesquisa da Unip, é ainda membro da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação. O órgão do Ministério da Educação tem como uma de suas funções dar permissão para funcionamento de cursos superiores, emitir parecer sobre os processos de avaliação da educação superior e elaborar propostas de legislação para o setor.

    Na área de educação a distância, o Grupo Folha é proprietário da UOL edtech, formado por seis empresas: Cresça Brasil, Portal Educação, Ciatech, Concurso Virtual, Casa do Concurseiro e EA Certificações. Entre seus serviços estão cursos on-line profissionalizantes, de idiomas e de concursos, cursos livres e pós-graduação a distância, além da produção de tecnologias educativas.

    Se as relações entre mídia e educação são antigas, as relações com a saúde são mais recentes e igualmente preocupantes, uma vez que também nesse setor o Brasil passa por um processo de crescente participação de organizações sociais (OSs) na gestão dos recursos públicos. Nessa área, a Igreja Adventista possui clínicas, SPAs e o Hospital Adventista, com unidades em Belém, Manaus, São Paulo, Campo Grande e Rio de Janeiro, além do Plano de Saúde Proasa. O Grupo Hapvida, sistema de saúde privado que conta com uma administradora de planos de saúde, hospitais e laboratórios, é dono também do Sistema Opinião de Comunicação, com emissoras afiliadas às redes SBT e Bandeirantes. Podemos citar ainda o Grupo NC, que possui afiliada da Globo em Santa Catarina e é parceiro do Grupo RBS; no ramo farmacêutico, o grupo é dono das empresas EMS, Brace Farma, Legrand, Germed Pharma e Novamed, entre outras.

    Perguntas essenciais

    Conhecendo melhor os interesses empresariais da mídia brasileira, é fundamental questionar: qual é a participação dos grupos com negócios imobiliários na produção do atual modelo de urbanização corporativa15 e mercantilização do espaço urbano? Que informações são dadas sobre a reforma agrária, o uso de agrotóxicos e a agricultura familiar, já que foram identificados tantos vínculos com o agronegócio? Que soluções para a educação pública são apresentadas nas pautas de veículos com investimentos na educação privada? Que política econômica os grupos com negócios no mercado financeiro defendem?

    Ainda que o MOM-Brasil não tenha analisado o conteúdo veiculado pelos principais meios, a sistematização de dados de propriedade em um banco de dados aberto e acessível (em quemcontrolaamidia.org.br) abre possibilidades de investigações necessárias para compreender os entraves criados pelos grandes grupos de mídia ao debate público e plural de temas fundamentais para o país.

    *Olívia Bandeira é jornalista, doutora em Antropologia e integrante do Intervozes; e André Pasti é mestre em Geografia, professor do Cotuca/Unicamp e integrante do Conselho Diretor do Intervozes.

    1 Disponível em: http://quemcontrolaamidia.org.br.

    2 “Teatro Oficina e Grupo Silvio Santos, uma briga que dura há décadas”, Jornal da USP, 28 nov. 2017.

    3 Henri Lefebvre, O direito à cidade, Centauro, São Paulo, 2008 [1968].

    4 SECOM/Presidência da República, Pesquisa Brasileira de Mídia 2016. Disponível em: http://pesquisademidia.gov.br.

    5 “Dono de universidade é o maior dono de imóveis em SP”, Exame, 14 ago. 2016.

    6 Edlaine de Campos Gomes, A era das catedrais: a autenticidade em exibição, Garamond, Rio de Janeiro, 2011.

    7 “Inauguração de templo da Igreja Universal reuniu petistas e tucanos”, Folha de S.Paulo, 31 jul. 2014.

    8 MOM Brasil, 2017. Perfil Grupo Folha. Disponível em: <https://goo.gl/ai2mXX&gt;.

    9 Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares, Fiocruz, 22 fev. 17. Disponível em: <https://goo.gl/VuzfUJ&gt;.

    10 Kleber Santos de Mendonça, Ruínas discursivas: a ocupação midiática sem-terra como máquina de guerra nômade, tese (doutorado em Comunicação Social), UFF, Niterói, 2007.

    11 Jane Santos da Silva, Relações de força e a política educacional no Brasil: a caixa de Pandora brasileira, Gramma, Rio de Janeiro, 2016.

    12 IVC – Instituto Verificador de Comunicação, 2016.

    13 A Abril Educação foi vendida, em 2014, para a Tarpon Investimentos e o Governo de Cingapura e se tornou Somos Educação.

    14 As revistas pertencem hoje à Fundação Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, dono do conglomerado de cervejas InBev e um dos fundadores do portal IG.

    15 Milton Santos, A urbanização brasileira, Edusp, São Paulo, 2008 “

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    https://www.youtube.com/watch?v=050xNbpGeOU

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    Sampa/SP – 19/01/2018 – 18:21

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