Xadrez sobre o fascismo, a Lava Jato e a cobertura da mídia, por Luis Nassif

Até hoje, mesmo estando explicitadas as relações entre a Lava Jato e a ascensão de Jair Bolsonaro, insistem que a bandeira acima de todas as demais é o combate à corrupção

Dois textos me chamam a atenção nesta manhã.

No Justificando, um excelente apanhado do fascismo e a Lava Jato pelo procurador da República Wilson Rocha, “Há fascismo na Lava Jato?” (aqui). Aliás, uma das melhores análises sobre as consequências da Lava Jato na implantação do fascismo à brasileira e a comprovação de que ainda existem procuradores no MPF.

No Observatório da Imprensa, um artigo corajoso do jornalista Carlos Wagner, “O efeito The Intercept nas redações dos jornais do Brasil” (aqui), mostrando a maneira como a imprensa se curvou à Lava Jato.

Vamos por partes

Peça 1 – o fascismo na Lava Jato

No seu artigo, Wilson Rocha não chega a apontar a Lava Jato como fascista. Mas mostra como, a partir do atropelo das leis e com a bandeira da punição a qualquer preço, abriu espaço para o fascismo.

Por partes:

A crise mundial

A crise capitalista iniciada em 2008 fez crescer a insatisfação social e estimulou novas formas de ação política (…). Novas formas de mediação social desafiaram os mecanismos tradicionais de intermediação política. Entra aqui o fenômeno radicalmente novo das redes sociais.

O Ministério Público

Para o Ministério Público, moldado constitucionalmente para a defesa da ordem democrática, tornou-se sedutor atravessar o caminho das representações tradicionais – partidos políticos e parlamento, sobretudo – para construir diretamente com o corpo social novos consensos democráticos. (…)

O capital institucional acumulado em décadas de atuação comprometida com a promoção de direitos não dispensou a instituição de fazer promessas revolucionárias para mobilizar as massas, a principal delas, o fim da corrupção.

As Dez Medidas

A Lava Jato, embora ensaiasse, não havia ainda lançado um esforço sistemático de mobilização popular. A virada ocorre com o projeto das “Dez medidas contra a corrupção”. Tratava-se de um projeto de lei redigido nos gabinetes do Ministério Público Federal, mas apresentado à sociedade como um projeto de lei de iniciativa popular.

Lançada pela Lava Jato, a iniciativa é encampada pela cúpula da instituição e corre o Brasil financiada com recursos do Ministério Público Federal. Servidores públicos receberam incentivos funcionais para colher assinaturas em diversos espaços sociais. Procuradores da República viajaram pelo país divulgando o projeto de lei.

Os paralelos com o fascismo

O avanço da operação policial-judicial proporcionou méritos concretos no combate à criminalidade, comparáveis aos de Mussolini. Ensina Hobsbawm que o fascismo foi “o único regime italiano a conseguir suprimir a Máfia italiana e a Camorra napolitana” (p. 131). A promessa da Lava Jato, para além das vicissitudes democráticas e contratempos históricos, estava lançada: doravante, não haverá crime sem pena.

Sob o nazismo, o sistema de justiça adaptou-se à nova realidade política, substituindo o brocardo “nullum crimen sine lege” pela assustadora fórmula “nullum crimen sine poena”, sinalizando uma expansão do punitivismo estatal, em prejuízo dos princípios liberais clássicos.

O eficientísmo no setor público

Contextualizando, no limiar do século XXI, o neoliberalismo reformulou a administração pública impondo-lhe métricas de eficiência com pouca permeabilidade democrática. O ativismo do poder judiciário foi fomentado e, depois, aperfeiçoado em complexos processos de planejamento estratégico. A autonomização do judiciário foi tolerada na medida em que percebida como um instrumento de eficientização do próprio estado.

A fundação de R$ 2,5 bi

Atento às entrelinhas do Acordo, vê-se que Lava Jato não apenas exclui os partidos políticos, agremiações centrais da vida democrática brasileira, mas pretende exatamente criar legitimidade em razão desta exclusão. O equívoco é tremendo. (…) Pretender a realização do princípio democrático por meio de referências pouco claras a “organizações da sociedade civil” não é suficiente, sobretudo quando evidenciada a atuação destas organizações subordinada aos poderes da corporação, no caso, do Ministério Público.

A falta da autocontenção

A autocontenção é a maior virtude de quem exerce parcela do poder soberano. (…) Impelidos pelo clamor popular, pessoas e instituições podem contribuir com o avanço do fascismo das mais variadas formas. O indiferentismo técnico é um dos instrumentos mais trágicos de ação do fascismo, porque cega o indivíduo acerca das consequências mediatas ou imediatas de suas ações, dispensando-o de sua responsabilidade ética perante os seus semelhantes.

Peça 2 – os pecados da mídia

O artigo do jornalista Carlos Wagner é igualmente corajoso, mas tem algumas diferenças que abordarei na Peça 3.

Seu alerta tem a virtude do precedente. Segundo o artigo, o jornalista formulou essas mesmas críticas em 2017, ao ser homenageado no congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Compara a cobertura da Lava Jato ao caso da Escola Base. E atribui as falhas jornalísticas à pauperização das redações.

Diz ele:

A informação que vinha para nós era de um grupo de pessoas que interrogava, investigava e julgava os suspeitos. O mínimo que se poderia esperar era que cada um cumprisse a sua função determinada pela lei. O que as publicações do Intercept estão mostrando é que isso não acontecia(…)  Descobrimos agora que os dois transgrediram a lei; falando um português simples e direto: mentiram para nós, repórteres.

A comparação com a Escola Base é relevante, e levanta a bola para as análises que fiz na época sobre o tema.

O excelente livro de Alex Ribeiro, “Os Abusos da Imprensa”, escrito quando ainda estudava, se não me engano como trabalho de conclusão de curso (TCC), historia bem o caso. Só se rompeu a unanimidade no linchamento quando denunciei os crimes de imprensa no Jornal da Noite, da TV Bandeirantes, no Jornal da Manhã, da rádio Bandeirantes, e pela Folha.

Só aí o desembargador que autorizara a prisão dos donos da escola ganhou coragem para revogar a medida. E, aí, entramos na Peça 3

Peça 3 – os mecanismos de autocontenção na mídia

Wilson Rocha aborda um dos pontos centrais dessa loucura: a responsabilidade da cúpula do Ministério Público Federal, de não fazer funcionar os mecanismos de autocontenção. Marques passa ao largo da responsabilidade das direções de redação, dos jornalistas seniores e dos repórteres, e mesmo dos órgãos de representação, dentre os quais a Abraji, e joga tudo nas costas da redução das redações.

Na Lava Jato a contenção deveria ser exercida pelos órgãos de controle, corregedoria, câmaras temáticas e pela própria Procuradoria Geral da República (PGR).  Mas o próprio PGR Rodrigo Janot entrou até o pescoço na lambança, contaminando toda a estrutura do MPF.

Na Escola Base calhou de um colunista, ainda que de Economia, insurgir-se contra o linchamento, assim como em muitos outros episódios vergonhosos dos anos 90. E a razão era simples. A cobertura era feita por jovens repórteres. Toda manhã, cada jornal fazia a comparação das coberturas. E, nessa comparação, o noticiário ia sendo homogeneizado. Se, por acaso, um repórter ousasse apresentar uma um contraponto, não era considerado. Afinal, não tinha, por ser jovem, currículo para se contrapor ao que todos os veículos escreviam. Nem espaço para veicular sua opinião.

Daí o papel dos jornalistas mais experientes: o de orientar, apontar os descaminhos, e atuar como elemento de contenção.

Acontece que o corporativismo dos jornalistas é tão ou mais forte que o do MPF. Não existe o exercício da meta crítica no jornalismo. A única experiência válida foi a de ombudsman da Folha – da qual Marcelo Beraba, da Abraji, foi um dos destaques.

No livro “Jornalismo dos anos 90” descrevo mais vinte casos de campanha de linchamento da mídia, mostrando que os jovens jornalistas dos anos 90 em nada se diferenciavam dos jovens procuradores da Lava Jato, em sua gana pelo grande feito capaz de consolidar sua carreira. Especialmente depois do Watergate, que empoderou o jornalista com a mesma prepotência que hoje assola os jovens procuradores.

Na Escola Base, a maioria dos colunistas evitou colocar a mão na cumbuca. Na Lava Jato, colunistas referenciais não apenas não atuaram como agentes de contenção, como decidiram surfar na onda, em um exemplo deletério para os jovens jornalistas.

O mesmo ocorreu com a Abraji. Lembro-me de um seminário em Tiradentes, organizado por Audálio Dantas, presentes algumas das lideranças da Abraji. Participei de uma mesa para discutir a cobertura da mídia. Uma experiente repórter investigativa, das melhores que tivemos e já aposentada, me desafiou.

– O que você faria se estivesse no comando?

Como assim? A maneira de fazer a cobertura correta era óbvia. Ouvir os advogados dos acusados, entrevistar juristas independentes, entender o que diz a lei e a constituição e o significado das infrações cometidas, questionar as delações, questionar muitos dos  anúncios de valores recuperadas, jogadas de marketing sem base factual, questionar a entrega de provas ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, transformando a Petrobrás de vítima em ré.

Uma das maiores infâmias cometidas pelo jornalismo dos anos 90 foi o episódio em que setoristas acompanharam por um mês as investigações sobre o Bar Bodega, testemunharam meninos presos injustamente e torturados, e se calaram. Na Lava Jato, a tortura imposta aos presos para que delatassem apenas o que os procuradores queriam ouvir, foi acompanhada diuturnamente pelos repórteres. E eles se calaram, cúmplices.

Fiquei pasmo, nas reportagens publicadas após a morte de Otávio Frias Filho, lendo que ele se sentia incomodado com a cobertura da Lava Jato. Porque não mudou? O motivo não poderia ser escassez de jornalistas. Apenas um jornalista poderia fazer o contraponto a toda a cobertura da Lava Jato, assim como colunistas de direito que existem em todos os jornais.

Eram fascistas? Não, assim como os procuradores da Lava Jato. Mas apenas pessoas que aproveitavam a onda ou meramente sem coragem para ir contra a maré, para não perder o supremo gozo de fazer a manchete do dia, atropelando princípios jornalísticos, abdicando de seu papel de fornecedores de informação confiável e, mais que isso, de guardiões dos avanços civilizatórios contra processos que poderiam deflagrar a selvageria das massas. Em nenhum momento a Abraji se pronunciou sobre os abusos

Empresas modernas criaram a figura do mentor. O jovem entra na empresa e escolhe um mentor, um orientador – que não é seu chefe imediato -, para se pautar nas questões mais complexas. Cabe ao mentor mencionar os princípios que regem a empresa, os valores, as formas de conduta.

No jornalismo, esse papel deveria ser exercido pelos jornalistas sêniores. Muitos deles, porém, foram omissos e até surfaram nas águas da popularidade fácil de pegar carona na Lava Jato. Escreveram livros, foram convidados para eventos literários, para palestras, posaram em fotos ao lado dos campeões Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.

E até hoje, mesmo estando explicitadas as relações entre a Lava Jato e a ascensão de Jair Bolsonaro, insistem que a bandeira acima de todas as demais é o combate à corrupção, da forma como foi feita pela Lava Jato, ao arrepio da lei.

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Luis Nassif

22 Comentários

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  1. E sobre a chamada grande mídia brasileira, com a morte dos patronos Roberto Marinho, Victor Civita e Otávio Frias as gerações insensíveis e financista que ficaram nas poltronas ajudaram a coisa a desandar muito mais rápido. Hoje o Juca Kfouri informa em seu blog que um ex-jornalista da Placar está tendo de se resolver com um processo de mais de 1 milhão de reais por ter matéria assinada, fora outros 50 jornalistas que foram largados a própria sorte pelos herdeiros bilionários, com seu processos andando nas varas. Jogaram o país, seus negócios e a economia no esgoto. É esta nação que vai caminhando, com STF com tudo.

  2. Todas as vezes que vejo uma farda imunda dizer que se soltarem LULA pode haver uma convulsão social cubro-me de vergonha.
    O PT com 2 milhões de filiados e uns 30 milhões de militantes e simpatizantes assistiu com uma passividade bovina LULA INOCENTE ser preso para não ganhar a eleição.
    Por isso sempre pergunto:- QUE ESQUERDA É ESSA?!

    1. Realmente o PT tem 30 milhões de militantes e simpatizantes. Mas quantos milhões sobram para o outro lado? Em média, o estado de São Paulo teve 70% da população votando contra o PT. E, graças a imprensa partidária e financiada pela bárbara, inculta e cruel elite brasileira, são pessoas que se alternam entre o ódio aos petistas, o preconceito porque não se identificam com um partido de representação dos trabalhadores e os bolsomonions.
      A esquerda somos nós que temos uma posição ética que nos impede de desprezarmos nossas convicções humanitárias, que defendemos o processo civilizatório e que jamais fazemos uso de fake news para combatermos a barbárie e os políticos que dela fazem parte. E temos que continuar assim senão a barbárie vai ser total.
      Nossa única satisfação é vermos pouco a pouco os que inventaram a barbárie serem consumidos por ela. Enquanto isso a gente vai levando. LULA LIVRE

  3. Vou repetir pela enésima vez que o falecido antropólogo bahiano Prof.Roberto Albergaria afirmava peremptóriamente que as Redes Sociais era o maior ponto de prostituição do Brasil,certo.Nada a ver com o Xadrez de Nassif.O que corre solto na blogosfera suja,encardida e mal lavada,em destaque na Revista Forum,é que os pendores do Ministro Barroso em relação ao menino maluquinho da Lava Jato,ultrapassa o equivalente ao genocídio da guerra de Kosovo.A minha formação intelectual não comporta certas abordagens,apenas tenho o dever de resaltar que a transformação do comportamento do Ministro Barroso,encaixa perfeitamente no que Nassif define como “barra pesada”.Quem diria,Greta Garbo acabou no Irajá.Peço minhas mais sinceras desculpas principalmente as senhoras, senhoritas,senhores,idosos e idosas,mas esse Brasil é mesmo de fuder.

    1. Ainda sobre a postagem acima o Gringo de Ouro correu para dizer que se trata de fake,mas deu uma de quibo ensaboado quando disse”Mesmo se fosse verdade blá blá blá blá.”Pessoal acorde pelo amor de Deus,quando eu escrevo que vocês prescisam urgentemende de um curso intensivo a distância sobre política comigo,vocês ficam puto da vida.Estou quase concordando com o Messias quando deblatera que vcs são inocentes uteis.
      .

  4. jornalista empregado não tinha saída…
    ou continuava servindo aos interesses
    patronais om a entrega
    de tudo aos norte-americanos e conbluiados ou
    pedia as contas e se mandava….
    foi uma guerra infame…só os que estavam
    fora do esquema é que puderam ainda resistir
    como alguns blogueirios ditos sujos…..
    vigia aquela máxima ou você era cidadão e, portanto,
    desempregado, fora da profissão de jornalista, ou
    era blogueiro…
    ou era primeiro jornalista e cidadão de segunda….

  5. Quase identificou todos os arquétipos possíveis do fascismo à brasileira que, ao tempo, vem de muito longe…
    faltando apenas a semelhança familiar nos “ninhos de luz” e o insuportável cheiro de flores belas para disfarçar o da podridão da elite lava jato de sempre

    combate à corrupção serviu apenas como isca para atrair e unir diferentes fascistas brasileiros

  6. A LAVA JATO, pra mim, tem dois agravantes peculiares

    1. Primeiro, a dificuldade em se definir o que seria crime, quais deveriam ser as penas e os réus
    alcançados.

    2. Ela foi vista, desenhada, desde o início, pra ser um instrumento pra tomada do Poder, dado pelos Poderes Permanentes, em conluio com Potencia Regional Externa (os EUA)

    Em tempo ..do CAOS psicológico PROPOSITALMENTE gerado pelos PODERES PERMANENTES, pela sensação de impotência e de impunidade passada pra sociedade ao longo de anos, reside um dos PRINCIPAIS PILARES, raramente abordados, em que se sustentam não só a LAVA JATO, como o apoio político consultado pela turma da BALA e da BÍBLIA..

    ..e digo mais, aqui da periferia de São Paulo, POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA – por ter testemunhado – digo que as forças POLICIAIS MILITARES (e civis) ainda estão instruídas e em campanha permanente, agora visando as eleições do ano que vem.

    reitero – o GOLPE esta em andamento…

    1. exatamente por aí mesmo…
      o que já me fez concluir que no fascismo à brasileira não haverá um próximo governo

      não é à toa que estão destruindo o país; estão preparando o campo para outros fascista por no mínimo 12 anos, porque a principal bandeira do fascismo em trajes civis é a insatisfação popular

      hoje combate à corrupção, amanhã à insegurança generalizada propagada pela mídia

  7. Nassif assistí o filme Truque de mestre,lá os quatros cavaleiros(Bolsonaros ou mídia tradicional)faziam “mágicas”(mentiras e diversionismo) para entreter o povo q aplaudiam eles ensadecidamente(gado Bolsonarista)os cavaleiros só QUERIAM ENGANAR E ROUBAR todos,excelente o filme,bem didático!!
    Obs:.Nassif me dá uma coluna aqui sobre cinema!!
    Obs2:.Brincadeira Nassif
    Obs3.:Pessoal tem o gado enganado 2 ops quer dizer Truque de mestre 2,belo filme tb.

  8. E pensar que o intercept se uniu aos piores dejetos jornalisticos, como a trolha e a inveja……….meu deus…….com tantos veículos melhores……
    Azenha, Rodrigo Vianna, Luís Nassif, o saudoso PHA, entre tantos…..
    Acredita que esses escorpiões não picam…..
    Além de estarem devendo material dos dias mais quentes da operação, que inclusive foi listado num post aqui…..e da participação de muitaa organizações e pessoas, preferem bater boca em público, desafiados a mostrarem gravações e vídeos, quase nada apareceu do imenso arquivo que afirmam possuir…
    Para mim, são os novos Panamá papers …..vão mostrar o que acharem conveniente até derrubar Moro, pra mim, o objetivo não é mostrar a inocência de ninguém…….

  9. …do fascismo como o gozo doentio pelo poder absoluto…
    .
    “A falta da autocontenção
    A autocontenção é a maior virtude de quem exerce parcela do poder soberano. (…) Impelidos pelo clamor popular, pessoas e instituições podem contribuir com o avanço do fascismo das mais variadas formas. O indiferentismo técnico é um dos instrumentos mais trágicos de ação do fascismo, porque cega o indivíduo acerca das consequências mediatas ou imediatas de suas ações, dispensando-o de sua responsabilidade ética perante os seus semelhantes.”
    .
    Nassif, o conceito exposto acima une, de certo modo, as práticas fascistas dos agentes por você citado em seu artigo – mídia e as autoridades da Lava Jato.
    Ambos, além de jamais praticarem essa autocontenção, na verdade, embriagaram-se na sensação do poder absoluto, não só pela inacreditável não-reação do governo Dilma – e mesmo de Lula, que por um bom tempo quedou-se algo inerte, como que acreditando que as instituições impediriam a continuidade das aberrações… – mas pelo apoio inflamado de nossas classes médias, o que lhes deu algo que ao homem comum é negado pela vida: a fama, o sucesso!
    .
    Os vazamentos do The Intercept deixam claro o quanto esse poder pode afetar as pessoas em seu exemplo mais nítido desse processo psíquico: Deltan Dallagnol, o “pai e marido apaixonado, seguidor de Jesus e combatente da corrupção”, como se autointitulava nas redes sociais, prova cabal de um provincianismo patético e sem limites… Haja deslumbramento, do garoto branco de classe média de Pato Branco, interior do Paraná, alçado a procurador com a ajuda do papai para driblar a lei, de repente, o rosto mais conhecido da turma dos procuradores-heróis da operação mais midiática da História do Brasil.
    Aposto todas as minhas fichas no fato de que Mefistófeles “comeu sua alma pelas beiradinhas”, vaidade a vaidade, narcisismo a narcisismo, um sonho de grandeza gerando o outro, num processo gradual de DEFORMAÇÃO DO SER, até que a celebridade engoliu a pessoa, o ser humano, num processo perverso em que se chegou a um “ponto de não retorno” – quando veio o desejo da grana, da corrupção pela Fundação dos 2,5 bilhões, e até mesmo a “sensação de Deus”, na intervenção criminosa e horrenda no destino de um outro país – a Venezuela – e a irresponsabilidade absurdamente imoral de colocar vidas humanas em risco direto. Provavelmente, o Deltan do início da Lava Jato jamais sonharia que uma transformação tão abjeta o alcançaria. Mas o poder corrompe aos fracos de caráter, como sabemos.
    .
    Do mesmo modo, ilustres desconhecidos como Reinaldo Azevedo (antes de sua conversão a um jornalismo mais digno…) só atingiram o sucesso por se lançarem de corpo e alma à campanha de ódio instaurada pela Veja e logo seguida pela grande mídia.
    E mesmo pessoas já famosas, como Augusto Nunes, Guilherme Fiúza, Arnaldo jabor, todos se juntaram ao banquete dos preconceitos selvagens, o fanatismo, a intolerância contra Lula, Dilma e o PT, o banquete perverso do ódio estimulado, a sociedade fraturada bebendo desse esgoto imundo e se transmutando no horror que vemos hoje.
    .
    Até Nelson Motta, conhecido por ter sido a vida toda um gentleman, emporcalhou sua biografia de modo indelével ao escrever um artigo – a essência da miséria humana!… – onde tratava dona Marisa, esposa de Lula, como “a galega”, num achincalhe desnecessário, injusto, covarde, um dos episódios mais acanalhados dessa derrocada da mídia, da nação inteira, na verdade, rumo ao fascismo da barbárie absoluta.
    .
    São tantos e tão tenebrosos os exemplos… Não à toa, vemos esgarçadas, semidestruídas, relações familiares e amizades antes sólidas… tudo em nome de um ódio nunca havido em nosso tecido social.
    Pessoas antes doces e educadas em todas as áreas de suas vidas, hoje se permitem vociferar selvagerias contra os “petralhas”, os “comunistas”, os “esquerdopatas”… – uma perda trágica de tudo o que eram “ontem”, no seu cotidiano e suas relações sociais.
    .
    Não se ensina uma nação a odiar impunemente.
    Lava Jato e grande mídia nos legaram o fascismo como herança.
    Cabe a cada um de nós desconstruir suas misérias.

  10. É? Louvável o esforço dos artigos em livrar a cara do judiciário e da mídia. Também louvável o esforço do Nassif em divulgar essa “versão” dos fatos. Mas tenho uma visão bem diferente:
    1. Concordando com o Rui Costa Pimenta, o Judiciário é, por definição, fascista. É fascista desde antes da construção das Pirâmides;
    2. Lava Jato é instrumento de Guerra Híbrida criada nos USA, como tomo mundo sabe. Judiciário, por fascista que é, abraçou porque quis. Duvido que foi por causa do tal “combate a corrupção”. Foi porque, como fascistas, tem horror a governos populares de esquerda e não viam a hora de destruí-lo;
    3. Cooptaram um bando de procuradores e juízes burros e ingênuos. Fascistas e canalhas consumados dispostos a fazer o serviço sujo para o Tio Sam. Desde que pudessem aplacar a sanha dos seus preconceitos políticos e populares, tudo era permitido. São inumanos;
    4. Sempre suspeitei que nessa p&&¨¨%$$a teve suborno não apenas a membros do judiciário, mas suborno a jornalistas;
    5. Sem essa de mídia inocente. Essa turma sempre soube o que estava fazendo. Se alinharam contra um governo de esquerda porque são QUASE todos nazistas. SBT, Globo, Veja, IstoÉ, OESP, Folha. Tudo porcaria. Porcaria direitista. nojenta, preconceituosa… genocida. São genocidas.
    É assim que vejo a coisa. Existem exceções com certeza, profissionais que não se encaixam nessa descrição, como já tivemos amostras. Mas inocentes? Essa não.

  11. Toda a sociedade brasileira, e não apenas jornalistas e operadores do golpe continuado, tem motivo para se envergonhar. Covardia, inépcia e uma mentalidade tão estúpida e tacanha que nos faz regredir um século como civilização. Assistimos à falência de uma sociedade. Valores fundamentais, há tanto tempo assentados, foram varridos, deletados.
    Que os fascistas imponham a força e ignorem verdades científicas, sociais, jurídicas ou políticas, não há surpresa. É da natureza dos estúpidos agir assim. Mas deixar-se arrastar, sem resistência, sem sequer protestar e lutar pela própria sobrevivência, é de uma torpeza e de uma covardia inexplicável, INACEITÁVEL.

  12. Bom, só tenho a parabenizar a imprensa e o Judiciário brasileiro. Financiados pela elite ignorante, corrupta, autoritária, cruel e bárbara do país foram eficientes e jogaram o PT fora. Só que junto foram as instituições e agora chegou a vez deles. As feras que desentocaram e colocaram no poder, depois de comer a esquerda e o estado de direito, continuam com fome. Na esteira vai a imprensa e as instituições do estado.
    Nesta semana o presidente do Supremo, em nome do respeito às leis e na marca do pênalti, deu uma mão para os milicianos. As Forças Armadas tem como porta voz o Heleno assessor do Nuzmann e as redes sociais tem muito mais influência do que a imprensa que sempre se locupletou de fake news. Enfim, esses desonestos que sempre desrespeitaram as instituições para se locupletar do estado brasileiro e manter as massas sobre controle serão engolidos pelo seu autoritarismo, ignorância e atraso.

  13. E o stf, e sua obrigação de fazer cumprir a constituição?
    Acrescente-se que a constituição de 88 se mostrou excelente por que tudo que se fez de criminoso se fez descumprindo a mesma.

  14. “Mas apenas pessoas que aproveitavam a onda ou meramente sem coragem para ir contra a maré, para não perder o supremo gozo de fazer a manchete do dia, atropelando princípios jornalísticos, abdicando de seu papel de fornecedores de informação confiável e, mais que isso, de guardiões dos avanços civilizatórios contra processos que poderiam deflagrar a selvageria das massas.” Disse tudo.

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