A morte de Isolda Bourdot, a compositora de Roberto Carlos, por Luis Nassif

 

Figura 1Milton Carlos e Isolda

Morreu hoje a compositora Isolda Bourdot, autora de grandes sucessos de Roberto Carlos. Algumas vezes pensei em procurá-la, para conhecê-la pessoalmente, muito pelo contato que tive com seu irmão Milton Carlos, precocemente falecidos, aos 27 anos, em um desastre na via Anhanguera. Teve uma carreira bastante precoce, vencendo concursos em programas de televisão.

image003

 Foi autor de algumas músicas singelas, que se tornaram sucesso na época. Mas era um compositor bastante sofisticado. Infelizmente não havia espaço comercial para suas músicas mais elaboradas, que ficavam restritas aos festivais do interior da época.

A primeira vez que ouvi falar dele foi no Festival de Passos, no sul de Minas. Inscrevi uma música, mas fiquei doente e não apareci. A segunda vez foi em um festival em Poços de Caldas, brilhantemente vencido por Milton Carlos com uma valsa em ritmo 7 por 5, bastante sofisticada. A última vez foi em um festival em Jundiaí, do qual participei como jurado. Apesar da minha torcida, a música de Newton não foi classificada.

No curso de jornalismo tinha uma colega amiga de Isolda. Perguntei-lhe na época se a família havia preservado as composições mais elaboradas do Milton Carlos. Não souber me responder

A intenção de conhecer Isolda se devia, em parte, a essa curiosidade. Mas, principalmente, devido ao seu enorme talento como compositora. Na época, estava morando no Rio de Janeiro e não encontrei tempo para ir até lá.

Milton deixou uma série de canções gravadas. Bom letrista, algumas canções foram sucesso gravadas por ele, como “Memórias do Café Nice”. Com a irmã, a primeira composição que emplacaram com Roberto Carlos foi “Amigo,Amigo”.

 

Segundo os jornais:

“Nós fazíamos vocais em estúdios e foi num desses trabalhos que tivemos a oportunidade de enviar uma canção nossa para Roberto Carlos. Algum tempo depois, para nossa surpresa, encontramos no jornal os títulos das músicas que fariam parte do disco do Roberto para aquele ano e entre elas estava lá: ‘Amigos, amigos’ – de Isolda e Milton Carlos”, revelou Isolda em seu site oficial.

O grande hit foi a música “Outra vez”. Segundo ela, a inspiração veio numa madrugada. “Uma música desprovida de qualquer ambição futura, uma confidência sincera: ‘Outra vez’. Gravei essa canção numa fita entre outras e entreguei para Roberto Carlos. ‘Outra vez’, é uma canção que nunca mais me abandonou. Ela já fez parte de trilhas para novelas, foi gravada pela maioria dos nossos intérpretes, instrumentada ou cantada nas mais diferentes interpretações e arranjos, ganhou muitos prêmios, inclusive o de música do ano e eu sei que sempre vai me acompanhar”.

Mas o grande sucesso de Isolda foi “Outra vez”, gravda por Roberto Carlos, e uma das canções românticas mais bonita da história da MPB

 

Aqui, o capítulo no Dicionário Cravo Albim sobre Isolda

Conhecida como “A compositora do Rei”, por ser compositora de “Outra vez”, um dos maiores sucessos de Roberto Carlos, participou de vários festivais nos quais o irmão Milton Carlos interpretava músicas de autoria deles. Em 1970, teve as primeiras composições lançadas pelo irmão que foi convidado a gravar um LP. Foram elas, “Desta vez te perdi”, “Tudo parou” e “Eu vou caminhar” e “Um presente para ela”. No ano seguinte, Milton Carlos gravou “Um presente para ela” e Marcos Roberto “Eu jurei”. A partir daí, passou a receber pedidos de músicas de outros cantores e cantoras. Em 1972, teve cinco músicas gravadas por importantes nomes da música jovem naquele momente: “Minha musa 1910”, com Os Incríveis, “Perto tão perto”, por Nilton César, “Calça lee”, com Nalva Aguiar, “Dados biográficos”, com Antônio Marcos e “Pinte de amarelo”, com Silvinha. Em 1973, conheceu o primeiro grande sucesso quando Roberto Carlos ouviu, através do amigo comum Eduardo Araújo, a música “Amigos, amigos”, parceria de Isolda com Milton Carlos e resolveu gravá-la. No mesmo ano, Milton Carlos gravou “Samba quadrado” e “Você precisa saber das coisas”, Joelma lançou “Errado ou certo” e Antonio Marcos “Quando o amor muda de casa”. 

Obteve novo sucesso em 1974, na voz de Roberto Carlos com a canção “Jogo de damas”. No ano seguinte, Milton Carlos gravou mais cinco composições suas, “Amanhã é outro dia”, “Foi ela um tema de amor”, “Eu juro que te morreria minha”, “Cantiga nº 1” e “Tele-rodovia”. Nesse ano, teve nova canção gravada por Roberto Carlos, “Elas por elas”, além de “Na boca do povo”, gravada por Wando.

Em 1976, teve mais duas composições gravadas com grande sucesso na voz de Roberto Carlos, “Um jeito estúpido de te amar” e “Pelo avesso”. Nesse ano, Milton Carlos gravou “Um acalanto”, “Uma valsa, por favor”, “Último samba-canção”, “Me mata” e “Vexame”. Ainda nesse ano, Ângela Maria gravou “Nunca mais” e Agnaldo Rayol, “Eu levo uma cruz na corrente”.

Seu maior sucesso veio em 1977, com a música “Outra vez”, que tomou lugar na galeria dos maiores hits da carreira de Roberto Carlos. Composta no mesmo ano da morte de Milton Carlos, foi a primeira em que fez sozinha letra e música. Grande sucesso no ano seguinte ao que foi gravada, recebeu ainda regravações de Altemar Dutra, Simone, Emílio Santiago e outros, além de ser gravada no exterior por Pepino di Capri, Armando Manzanero e Ray Conniff e sua orquestra. Nesse ano, mais seis de suas parcerias com o irmão foram gravadas pelo irmão no último disco dele, “Eu e companhia”, “Enredo”, “Ana Cláudia”, “Maria de Tal”, “Feira de artesanato” e “Saudade do Bexiga”. Em 1978, Ronnie Von gravou “Por todas as coisas” e “Cara e coragem” e Roberto Carlos, “Tente esquecer”. Em 1981, Ronnie Von gravou “Seu lugar”. 

Em 1982, teve nova música gravada por Roberto Carlos, “Como é possível”. Nesse ano, fez com Armando Mazanero as canções “Como quiseres”, “Preciso de você”, “Repartir”, “Vontade tenho”, “Meu problema”, “Te escrevo uma canção”, “Se Duvidas desse amor” e “Se existe alguém”, gravadas pelo próprio Armando Manzanero. No ano seguinte, Nelson Gonçalves gravou “A volta”. Em 1985, Roberto Carlos gravou “De coração pra coração” e no ano seguinte, “Quando vi você passar”. Em 1990, Manolo Otero gravou “esqueço tudo” e Joana “Meu jogo”. Em 1999, “Outra vez” foi regravada por Maria Bethânia, Tânia Alves e Trovadores Urbanos e em 2001, por Gal Costa e Sérgio Reis. Em 2003, foi relançado em CD um disco de Milton Carlos no qual ele canta “Jogo de damas”, “Um acalanto”, “Último samba-canção” e “Me mata”. Com mais de 400 composições, lançou, em 2007, o livro “Você também faz músicas”, em que dá orientações a iniciantes, a partir de tudo que aprendeu durante os 20 anos de carreira. Os capítulos ensinam a compor, editar e registrar músicas. No mesmo ano, gravou o disco “Tudo exatamente assim”, estreando como intérprete. O disco saiu pelo selo Toca Disco, da própria compositora e conta com “Outra vez”, seu maior sucesso, “Graças a Deus” e “Um jeito estúpido de amar”, também sucesso na voz de Roberto Carlos. Em 2008, sua composição “Outra vez”, que fora grande sucesso na interpretação de Roberto Carlos, nos anos 1970, recebeu destaque ao integrar a trilha sonora do filme “Meu nome não é Johnny”, lançado em circuito nacional, sendo interpretada pelo ator Selton Melo, no papel de João Guilherme Estrela. O filme, dirigido por Mauro Lima e produzido por Mariza Leão, recebeu grande acolhida da crítica, sendo apontado como grande campeão de bilheteria em todo o Brasil.

Aqui, gravações de Milton Carlos

 

 

 

Luis Nassif

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Uma perda a mais às que se

    Uma perda a mais às que se somam nestes tempos meio malucos. Das maiores.

    Lembro de ter feito uma cobrança, cinco a sete anos atrás, aqui, que ela tinha desaparecido de vez, o que era um tremendo desperdício, e que aquela fonte mágica não teria secado assim sem mais nem menos. Um ou dois anos depois li nalgum lugar que ela se preparava para discretamente voltar. Se fez, não o soube; mas, estarrecido vi a notícia do seu passamento há pouco e corri pra cá, infelizmente confirmando.

     

  2. O Brasil é tão rico que se dá
    O Brasil é tão rico que se dá ao luxo de disperdiçar as joias que possui…..

    Isso na indústria, na música, na engenharia……..

    Aqui se leva décadas pra se construir, e permitem que inergumenos destruam em um dia……..sim to falando do imbecil ociólogo e sua malta e do coiso e sua gangue….

    E isso prova o grande intérprete que RC foi, apesar de não ser um grande cantor……..

    A música brasileira, que anda meio esquecida, perde mais um talento…….

  3. Outra Vez foi uma música das

    Outra Vez foi uma música das mais fortes de Roberto Carlos. Lembro-me de um irmão jornalista, talvez um dos que não dava muita bola pra Roberto, pedri-me pra pôr o disco na vitrola pra ele ouvir; e ouviu com tanta atenção que quase chorou. O motivo era a sua recente separação. Aí, fui entrar na cabeça dele pra sentir que realmente a letra cai em cheio na pessoa traída, desprezada pelo amor maior. É uma letra incrível. E se já se dizia que Roberto Carlos não sabia cantar, viu-se que o cantar do Rei não carecia de voz aguda, cheia de firula,. O que fez Roberto Carlos ser o que é foi saber pôr em cada letra o seu sentimento mais profundo. E nessa OUTRA VEZ ele arrebenta quando canta, até hoje. 

    Muito linda a homenagem a esses irmãos. Imagino a falta que fez a Isolda a morte do irmão.

    Adorei a matéria. 

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador