Notável, seu nome é Maria Rita Stumpf
por Aquiles Rique Reis
Hoje eu convido vocês a compartilharem o meu prazer ao ouvir Ver Tente, o quarto álbum da cantora e compositora gaúcha Maria Rita Stumpf.
“Vertente” (Maria Rita Stumpf), assim com as palavras ajuntadas, abre o álbum. Após a intro, vem o arrebatamento – a voz de Maria – a força vocal de Maria Rita Stumpf! Apoiada em percussão pulsante (Orlando Costa), o canto soa em meio ao arranjo de Danilo Andrade, com seu piano e seus teclados. Com riqueza insofismável, o baixo e a guitarra cítara de Kassin Kamal, acrescidos de guitarra, drum machine e programações de Matheus Câmara, revelam: estamos diante de um fenômeno.
“Mata Virgem” é uma bela canção de Raul Seixas e Tania Menna Barreto, cujas cordas de Lui Coimbra (violão, charango, violoncelo) dão ao seu arranjo a intenção primordial de permitir que Maria siga o seu destino de brilhar.
“Troca de Dono – Cântico Brasileiro No. 4” (Maria Rita Stumpf) traz a levada da percussão enriquecida pelo teclado e incrementada pelo sintetizador e pelo vocal de João Guilherme Boaventura, ele que, em duo com Maria, alterna a levada com momentos arrítmicos, elevados pela perfeita dicção de MRS. Tudo sob as bençãos da produção musical e do baixo de Francisco Maffei, e das programações e da guitarra de Matheus Câmara. Maria segue me comovendo.
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Em “Melodia de Veludo” (MRS), o arranjo de Ricardo Bordini trouxe Cristina Braga (harpa), José Batista Júnior (clarinete) e Gretel Paganini (violoncelo) para o proscênio. A sonoridade do trio reforça momentos em que a melodia é mais aguda, agudos esses que Maria, graças à sua respiração feita de movimentos precisos, atinge segura. É como se o ar lhe saísse dos pulmões com a única missão de facilitar a emissão das notas garganta afora. Juro que senti a presença de Elis Regina na força com que Maria canta sem esmorecer a interpretação.
“Vertente – 1993” (MRS), com arranjo de Farlley Derze e da própria Maria, é uma versão atualizada da faixa inicial. A sonoplastia inclui vozes de crianças (Aninha, Bárbara, Beatriz, Caetano, Carolina, Fernando, Lina, Pedrinho) e ruídos de trânsito intenso, tudo misturado aos sons de flauta (Eduardo Neves), violino (André Santos) e dos teclados de Farlley Derze). A fantasia é mágica.
“Cântico Brasileiro No. 3 – Kamaiura” (MRS) foi gravado no Xingu e no Rio, e Maria encanta com indígenas de diferentes etnias. O arranjo é dela e de Mauro Podolak. (Tumbadora: Mauro Podolak; vocais e vagem: Zé Caradípia; flautas, atabaque e garrafa: Quintal de Clorofila; pau de chuva: Beto Bolo). Maria dobra a voz. Divide o canto com Caradípia. A percussão é a voz da floresta, o canto dos pássaros. A emoção é intensa. O canto da vida sobe aos poros, dali ao ar. Final definitivo. Firme como um tratado de força e fé. E Maria se entrega ao ato, inteira.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Ficha técnica: direção artística e produção musical: Maria Rita Stumpf; mixagem: Matheus Câmara e Philippe Ingrand (Doudou); masterização: Luiz Ribeiro.
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