O casamento indissolúvel do samba e do choro, por Luis Nassif

O choro passou a beber nas águas do samba quando Benedito Lacerda inaugurou o choro sambado, no qual Jacob do Bandolim celebrando o casamento final entre os dois gêneros.

Desde os anos 30, samba e choro convergiram para uma mesma base melódica e rítmica.

Primeiro, foi o samba bebendo nas águas do choro. Noel Rosa é o grande destaque, com obras-primas como “Conversa de Botequim”, “O X do problema” e outros clássicos.

Mas o grande autor do samba chorado foi Assis Valente, nas composições interpretadas por Carmen Miranda, das gravações dos anos 30 até os clássicos com o Bando da Lua, quando é descoberta por Hollywood. Aliás, especialmente nesse período dos anos 40, quando a interpretação se moderniza, pode-se conferir a estupenda cantora que era Carmen, não apenas no uso do sincopado, como nos recursos da fala satírica, recurso que apenas Elizeth Cardoso e Elis Regina explorariam anos depois. Repare no “Bambalele”, a interpretação de Carmen e os improvisos de Garoto.

O choro passou a beber nas águas do samba quando Benedito Lacerda inaugurou o choro sambado, no qual Jacob do Bandolim celebrando o casamento final entre os dois gêneros.

Na verdade, a evolução da MPB se dá pela miscigenação dos gêneros. “Chega de saudade”, de Tom Jobim, foi inspirada nos regionais. Os primeiros LPs de João Gilberto contem muitas composições de samba-choro e do samba-sincopado (que os cariocas chamam de samba telecoteco). É o caso de “Doralice”, de Dorival Caymmi, e “Maria Ninguém”, de Carlos Lyra, e “Prá que discutir com madame”, de Janet de Almeida.

 

 

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. O termo “samba sincopado” é uma bobagem. Qual o samba sem síncopes? Em gravação ao programa “Ensaio”, do Fernando Faro, o cantor Roberto Paiva (Helim Silveira Neves, 1921 – 2014) já havia alertado sobre essa redundância.

  2. Já reparou Nassif, que toda a MPB (Bossa, Mineiros, Carioca, Baiana, Nordestina etc), é majoritariamentem feita por brancos urbanos de classe média, são construídas em cima de ritmos populares nascidos em culturas/comunidades pobres, analfabetas, rurais ou periféricas?

    Uma dos fundamentos da MPB é seu conteúdo utópico (socialista ou contracultural, ou ambos), que nega o status quo e sonha um mundo alternativo, uma característica tipicamente moderna. O outro fundamento é uma disposição estética de experimentar as formas, misturar o popular com o erudito (na letra e na música), o nacional com estrangeiro, os ritmos de regiões diversas.

    Mas a alma da MPB, a base de cada artista ou movimento artístico, são os ritmos regionais, riquíssimos e variados, formando um caldo cultural-musical na qual a MPB se enraíza e busca suas forças.

    O que seriam Caetano e Gil sem os ritmos baianos e do candomblé, Chico sem o samba, Alceu Valença sem o frevo e os ritmos nordestino, Bossa Nova sem o samba, Almir Sater e Renato Teixeira sem a música caipira etc.
    Estas culturas populares, situadas entre o arcaico e o moderno, seimi-capitalistas, guardam muito da humanidade que foi se perdendo no mundo moderno das cidades, dominado pelo dinheiro e pela disciplina do trabalho, que sufoca a humanidade das pessoas.

    É como se os artistas da MPB invocassem a humanidade pungente destas “culturas primitivas” do Brasil profundo para se juntar aos conteúdos utópicos da contracultura ou do socialismo, no afã de romper com o staus quo da modernidade sufocante.

    Agora que todas estas culturas populares morreram, parece qua não há mais uma fonte ancestral em que se possa beber. Aos artistas que não queiram ser puramente comerciais, resta apenas a negação desesperada, como é o caso do rock. A MPB não têm mais culturas vivas para sustentar sua alma.

  3. Carmen Miranda é frequentemente ridicularizada pelos trajes extravagantes e pelo revirar de olhos, mas foi de fato uma cantora revolucionária, uma grande artista. Falando da componente satírica da Carmen, não podemos deixar de mencionar também o Mário Reis…

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