Ritchie: a rasteira invisível do Rei

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Enviado por Jns

A rasteira invisível do Rei e a sabotagem explícita do Velho Guerreiro ao autor de Menina Veneno

Em meio a esse bafafá sobre as mudanças que a Rede Globo fez no especial sobre Tim Maia, adicionando elogios ao “Rei”, ninguém lembrou uma das melhores histórias envolvendo os dois personagens.

O caso está em meu livro “Pavões Misteriosos – 1974-1983: A Explosão da Música Pop no Brasil” (Editora Três Estrelas) e me foi contado por Ritchie, personagem central do imbróglio.

Só para situar o leitor, o caso aconteceu no meio dos anos 1980. Em 1983, Ritchie havia lançado o LP “Vôo de Coração”, pela CBS.

Somando as vendas do LP e do compacto de “Menina Veneno”, Ritchie se tornara o artista de maior sucesso do Brasil entre 1983 e 1984. Até então, apenas um artista brasileiro vendera mais discos que Roberto Carlos: os Secos e Molhados, em 1974. Mas nenhum artista da gravadora de Roberto, a CBS, o tirara do topo do pódio, e isso, segundo Tim Maia, teria causado uma reação fulminante por parte do “Rei”.

Aqui vai o trecho de “Pavões” em que o “Síndico” explica a Ritchie como funcionam as coisas no mundo encantado de Roberto Carlos:

O futuro parecia promissor para Ritchie: rico, famoso, e com um contrato de mais três discos com a CBS. Mas uma série de desentendimentos e crises acabaria por prejudicar sua carreira. Depois do sucesso de “Vôo de Coração”, ele nunca mais teria um LP entre os 50 mais vendidos do ano no Brasil. Quando foi gravar o segundo disco, “E a Vida Continua”, o cantor sentiu certa má vontade por parte da CBS. “Eles não divulgaram o disco, não pareciam interessados.” A música de trabalho, “A Mulher Invisível”, outra parceria com Bernardo Vilhena, fez sucesso nas rádios, mas logo sumiu das paradas. O LP vendeu 100 mil cópias, uma boa marca, mas pálida em comparação ao 1,2 milhão de “Vôo de Coração”. O disco seguinte, “Circular”, vendeu menos ainda: 60 mil.

Ritchie ficou perplexo. Não entendia como havia passado, em tão pouco tempo, de prioridade a um estorvo na CBS. Até que leu uma entrevista de Tim Maia à revista “IstoÉ”, em que o “Síndico” afirmava que Roberto Carlos, o maior nome da gravadora, havia “puxado o tapete” de Ritchie. “Eu não podia acreditar. O Roberto sempre foi muito carinhoso comigo, sempre fez questão de me receber no camarim dele, sempre me tratou muito bem. Até hoje, não acredito que isso tenha partido do Roberto.”

Um dia, Ritchie foi cumprimentar Tim Maia depois de um show no Canecão. O camarim estava lotado. Assim que viu Ritchie, Tim gritou: “Agora todo mundo pra fora, que vou receber meu amigo Ritchie, o homem que foi derrubado da CBS pelo Roberto Carlos”. Claudio Condé, da CBS, nega: “Isso é viagem. O Roberto nunca teve esse tipo de ciúme”.

Para piorar a situação, Ritchie havia comprado briga com outro peso-pesado da indústria da música: Chacrinha. Por um bom tempo, o cantor havia participado dos playbacks que o Velho Guerreiro promovia em clubes do subúrbio do Rio de Janeiro, mas essas apresentações começaram, gradativamente, a atrapalhar a agenda de shows de Ritchie. “O filho do Chacrinha, Leleco, marcou um playback comigo, a Alcione e o Sidney Magal no estacionamento de um shopping, mas eu tinha um show de verdade em Belo Horizonte, e meu empresário disse que eu não poderia comparecer.”

Resultado: Ritchie passou a ter cada vez mais dificuldades em aparecer na TV e viu notinhas maliciosas plantadas em colunas musicais. Uma delas dizia: “O artista inglês Ritchie, tão bem acolhido pelos brasileiros, se recusa a trabalhar com artistas brasileiros”. “Fiquei puto da vida.” Em janeiro de 1985, Ritchie, o maior vendedor de discos do Brasil no ano anterior, foi ignorado pelo Rock in Rio. “Aquilo me deixou arrasado. Lembro que um dos organizadores do festival deu uma declaração de que eu ‘nem brasileiro era’. Como pode uma coisa dessas?”

Ritchie estava tão por baixo na CBS que a gravadora concordou em rescindir seu contrato, mesmo faltando um disco. O cantor assinou com a Polygram e lançou, em 1987, o compacto de “Transas”, tema da novela global “Roda de Fogo”. “Transas” vendeu muito bem, mas o primeiro LP pela Polygram, “Loucura e Mágica”, não passou de 25 mil cópias. Em três anos, Ritchie fora de maior astro do Brasil a fracasso de vendas, tornando-se um exemplo marcante da efemeridade dos fenômenos pop.

Anos depois, quando fazia um show em Angra dos Reis, o cantor foi procurado por um homem, que se apresentou como radialista e lhe disse: “Há anos quero te contar um caso: quando você lançou ‘A Mulher Invisível’, aconteceu algo que eu nunca tinha presenciado em mais de 30 anos trabalhando em rádio: eu ganhei um jabá da sua própria gravadora para não tocar sua música!”.

Informações de André Barcinski, publicadas no R7, com inserção de imagens e vídeos da Internet

27 Comentários

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  1. É compreensível que acreditem

    É compreensível que acreditem muito no valor estético do que fazem. Mas o fato é que sem propaganda massiva a novidade passa rápido. Talvez a disputa toda seja essa: verbas (finitas) de “promoção”; o famoso jabá mencionado no final do texto.

  2. Jovem Guarda

    Jns,

    Chacrinha já descansa há muitos anos e o filho não era nada, logo, no comments.

    Quanto ao resto, nunca fui do meio mas conhecia muita gente, e os de cabeça no lugar sabiam perfeitamente bem como aquela máquina funcionava.

    Tim Maia foi um ponto fora da curva, sempre falou tudo aquilo que queria sem qualquer tipo de censura, mas como era um extraclasse conseguiu sobreviver naquele ninho de cobras, prá terminar descansando por outros motivos.

    Ritchie, cantor de enorme sucesso na sua fase de ouro devidamente arrebentada, foi literalmente moído. Pessoa séria, o cantor nunca abriu a boca, preferindo ficar calado e viver a vida.

    E ainda tem o zilhão de histórias de compra de músicas por parte de diversos famosos na época, décadas de 70 e 80, mas se o camarada autor oferece a música para venda e recebe a $$$ combinada, reclamar de quê ? 

    1. Alfredo, concordo com quase

      Alfredo, concordo com quase tudo que disse….Mas Leleco “não era nada”  não concordo. ERA PRODUTOR DO CHACRINHA.  Era sabido que “só se chegava ao Velho Guerreiro passando pelo Leleco.” Este foi noivo de Wanderléia, no AUGE da JG e sa carreira dela. Certamente não seria um pé de chinelo ou “um nada” que chegaria perto dela…naqueles tempos. 😉 

      Quanto a TIM MAIA E RITCHIE, tuuuuuuuuuuudo de BOM! 🙂 

      Abs amigo.

      1. Jovem Guarda e Chacrinha

        Dulce,

        Tudo em paz?

        Quando eu disse que o filho de Chacrinha não era nada naquele meio, é porque era somente o “filho do pai”.

        Após a morte do Velho Guerreiro, que todos diziam ser gente fina, Leleco, como “filho do pai” que era, ficou sem espaço naquele ambiente musical, tendo mais tarde comprado horário para se distrair com programa de entrevista.

        Wanderléa foi casada com um dos irmãos de Leleco, falecido recentemente.

        Um abraço

    2. A vida como ela é

       

      Conflitos com Roberto Carlos começaram na década de 1950

      Folha de São Paulo | 05/01/2015

      Tim Maia e Roberto Carlos dividiam os violões e as atenções no conjunto Sputniks, nos anos 1950. No fim da década, eles se apresentaram no programa “Clube do Rock”, na TV Tupi, do compositor e empresário Carlos Imperial. Depois do programa, Roberto aproveitou a ocasião para conseguir com Imperial uma apresentação solo na próxima edição do programa. Roberto logo contou a novidade aos colegas da banda e armou-se ali mesmo uma confusão com Tim Maia.

      Tim Maia e Roberto Carlos dividiam os violões e as atenções no conjunto Sputniks, nos anos 1950. No fim da década, eles se apresentaram no programa “Clube do Rock”, na TV Tupi, do compositor e empresário Carlos Imperial.

      Depois do programa, Roberto aproveitou a ocasião para conseguir com Imperial uma apresentação solo na próxima edição do programa.

      Roberto logo contou a novidade aos colegas da banda e armou-se ali mesmo uma confusão com Tim Maia. “Seu filho-da-puta! Eu boto você no meu conjunto e você vai cantar sozinho, porra!”, berrou ele, em episódio relatado na biografia “Vale Tudo – O Som e A Fúria de Tim Maia”, de Nelson Motta.

      O livro narra algumas rusgas entre os dois cantores, como quando o “síndico” culpou Roberto e a TV Globo pelo cancelamento de uma temporada de shows no Canecão, no Rio, em 1987.

      Tim Maia também não poupou alfinetadas ao ex-companheiro nas entrevistas que concedeu. “Eu toco nos que sobram, porque os bons estão com o Roberto Carlos”, disse ao “Jornal do Brasil” em 1983, quando perguntado sobre os poucos lugares disponíveis para shows no Rio.

      Em entrevista concedida em 1995 aos repórteres Márcio Gaspar e Lauro Lisboa Garcia, publicada em 2009 pela revista “Brasileiros”, Tim falou sobre as inúmeras tentativas de contatar Roberto quando voltou ao Brasil. “Nós fomos criados juntos. Por isso, eu achei muito estranho quando eu voltei dos Estados Unidos e ele me deu a maior podada. Porque quando eu voltei, precisava de um apoio.”

      Alfredo

      Estou convencido que a vida não é construída com base nas teorias que são brandidas pelos enfurecidos teóricos versados sobre o bem torpe e o mal desejado, e, prá fechar o pano, sem vilãs filosofias: o mal, quase sempre, vence e a gente finge que não vê.

      Sim, Tim era um classudo Maia extraclasse, genial e genioso, que dificultava a própria vidinha, com as suas  recorrentes explosões de fúria e insensatez.

      Abs!

      1. Tim Maia

        jns,

        Tim Maia era aquilo mesmo, se por um lado foi formidável, por outro levou quase ao exagero a arte de dificultar a própria vida, e desta maneira descansou em Niterói.

        Um abraço

         

         

  3. Na maionese

    Nãp acredotp em nada disso.

    Ritchie criou uma linda canção – MENINA VENENO – cujo sucesso o surpreendeu pois, para ele, era apenas “mais uma” de tantas até então compostas por ele..

    Depois disso veio o vazio de antes.

    Ritchie, na verdade, nunca caiu porque nunca subiu.

    Embora até hoje, nos meus 74 anos, ainda me deliciou com sua musiquinha venenosa.

    1. Esse negócio de dizer q

      Esse negócio de dizer q Ritchie só teve uma música de sucesso ñ é correto,só essa página tem 3,lembro de mais ainda,portanto,Menina veneno foi a maior mas ñ a única….

  4. Vôo de Coração

    Sou um grande fã do cantor Ritchie, a música “Vôo de coração” é parte integrante de minha formação pessoal, da minha personalidade. Daí tirem uma idéia do quanto isso me deixou profundamente triste.

    O carto Roberto Carlos, me influenciou bastante na infancia, principalmente a música “Eu quero ter um milhão de amigos”, eu como criança, quando ouvia essa música entrava em um transe de felicidade, em meio aos bucólicos anos 70. Tanto que decorei a música, uma das primeiras, e brandava aos plenos pulmões na minha tenra idade me enchendo de felicidade, acreditando tratar-se de um mundo melhor, daquele ao qual eu vivia em meio as grandes dificuldades de vida e de sobrevivência  que vivia meus pais.

    1. Santos

       

      Quem não?

      Cresci ouvindo as eternas canções do Rei e sou fã dele.

                                                      “Errare humanum est
                                                        Nem deuses
                                                        Nem astronautas”

      [video:http://youtu.be/OVzWAsYOBFI width:600 height:450]

      Os eternos deslizes na vida pessoal de qualquer arteiro não me perturbam.

      Abs!

  5. Boas ações

    O tal do “rei” sempre foi o rei da safadeza pesada. Involuntariamente produziu uma boa ação: varrer essa mistificação chamada Ritchie do cenário das muitas outras mistificações que desaguam hoje nas fecais sertanejices (só pra manter o grau de boçalidade). Afinal, ou o tal rei comeu ou naum comeu a Paula Fernandes?

  6. nosso rei roberto o isperto

    nosso rei roberto o isperto… mora! já está a merecer uma bela biografia historiográfica no conceito de “biografia total” inventado pela école des hautes études en sciences sociales, que explore e aprofunde, em torno da figura mítica de seu reinado artístico popular, a complexa poderosa engrenagem de mercado econômico global que move as estruturas ideológicas, culturais, políticas e mercadológicas do mundo do entretenimento de massa e que chegue, na sua totalidade irrestrita geral, até, por exemplo, o lugar-comum do “inocente costume nacional” do jabá para jornalistas, críticos culturais e programadores-produtores artísticos de rádios e tvs.

    escarafunchar com método historiográfico a vida de nosso rei-santo do pau oco será um excelente exercício de antropologia histórica aplicada à história politico-econômica e à história das mentalidades do país num determinado período político e social.

    o rei roberto o isperto come quieto tem muito a oferecer para a memória da verdade histórica do país da verdade tropical que não sejam apenas suas canções a gosto adocicado para embalar multidões de consumidores do cartel internacional da indústria cultural.

    1. As Mais Belas Histórias

       

      Caro Pompeu,

      Existem causos curiosos e intrigantes – a intriga corrosiva rolava solta – na fase de consolidação da Jovem Guarda e da Bossa Nova.

      O pau comia entre bacanas como Gil, Caetano, Gal, Bethânia, Vandré, Elis e a Turma do Banquinho e o Violão.

      O patrulhamento era do tipo “islâmofóbico” e uma galera não misturava com a outra.

      Houve até passeata em São Paulo em defesa da nossa genuína música brasileira.

      Mais um caso clássico de estrabismo intelectual na veia!

       

  7. Pessoas e Restaurantes

    Boa tarde.
    Cada vez mais me convenço que pessoas e restaurantes têm algo terrível em comum: não lhes visite os bastidores. Como homem quase idoso, conheço a trajetória de “Rei” desde quando sua eminência parda nas letras se chamava Izolda. As letras eram bem mais elaboradas. Só apreciei, dele, confesso, esta fase. Em me tornando adulto, admirava-me o trânsito “livre” do “Rei”, nunca tendo sido acossado pelos “patriotas” de farda. Muita coisa vêm à mente, agora. Quanto ao “jabá”, confesso surpresa. Conhecia o clássico, para executar músicas, boas ou não. Essa do “jabá reverso” foi dila.

  8. RC é mau,pega um,pega geral

    Jabá contra é demais. Será que saiu do bolso do Roberto?

    E o Tim tudo sabia, tudo via. Por isso era o síndico. Vivia pegando no pé (êpa) do Roberto:

    — ”O Robertucarlus fala com as plantas e eu que sou maluco!”

    Saudades.

  9. 1967

     

    O ‘Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band’ sem chance

    Há 44 anos, em 17 de julho de 1967, com o intuito de “defender o que é nosso”, foi organizada em São Paulo a famosa “Passeata da Música Popular Brasileira”, que entrou para a história como a “Passeata contra a Guitarra Elétrica”, uma passeata contra a invasão da música estrangeira.

    Uma das líderes desse movimento era Elis Regina. Gilberto Gil, meio desconfiado, também compareceu à marcha em defesa da MPB. Geraldo Vandré, Edu Lobo, Jair Rodrigues e muitos outros artistas que representavam a música brasileira à época (e até hoje) entoaram gritos contra a guitarra e a música norte-americana.

    Chico Buarque não participou. Caetano Veloso, amigo de Gil, conta no documentário “Uma noite em 67” que ele também não foi à passeata, mas assistiu a tudo do Hotel Danúbio ao lado de Nara Leão.

    – Acho isso muito esquisito, ele teria dito.

    Nara devolveu:

    – Esquisito, Caetano? Isso aí é um horror! Parece manifestação do Partido Integralista. É fascismo mesmo.

    A tal passeata contra a guitarra elétrica se revela hoje um movimento infantil, bobalhão, como sugerem Caetano e o próprio Gil no documentário. Até mesmo “idiota”, como diz o jornalista Sérgio Cabral, jurado no Festival da Record de 1967. Resgatar essa história, no entanto, revela muita coisa sobre a música brasileira.

    Em 1967, a música ocupava o horário nobre da TV Record e gerava acalorados debates. A “Jovem Guarda” fazia enorme sucesso nas tardes de domingo e o programa “Fino da Bossa”, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues, começava a perder espaço. O êxito de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa era, para muitos, um sinal de que a MPB estava perdendo força. E tudo isso acontecia em uma ditadura militar, o que fazia com que os debates ganhassem contornos de arena. Segundo Nelson Motta, “a Jovem Guarda representava a música jovem e a MPB, a música brasileira. E a gente se perguntava: por que não pode haver uma música jovem e brasileira?”

    Três meses depois da passeata contra a guitarra elétrica, em outubro de 1967, começou a primeira eliminatória do III Festival da TV Record. Jornais, revistas e todos os meios de comunicação deram grande espaço ao evento mesmo antes de ele começar. Não faltavam elementos para tornar aquela disputa emocionante.

    Caetano Veloso era conhecido pela maioria do público apenas pela sua vasta cultura musical. Duelava com Chico Buarque no programa “Esta Noite se Improvisa”. No jogo, comandado por Blota Jr, ganhava quem conseguisse cantar uma música a partir de uma palavra dada pelo apresentador. O bordão “A palavra é…” se tornou famoso em todo o país. Quando subiu no palco pela primeira vez para defender “Alegria, Alegria”, Caetano tinha ambições muito maiores do que o primeiro lugar. Apresentou-se com um grupo de cabeludos argentinos chamados Beat Boys que empunhava um instrumento profano para aquela plateia:  a guitarra elétrica. Recebeu uma imensa vaia. Entrou com uma cara furiosa e, sem pestanejar, atacou os acordes iniciais de sua música. As vaias foram baixando e alguns aplausos começaram a ser ouvidos. À medida que a música prosseguia, mais e mais vaias iam se transformando em aplausos. Caetano terminou ovacionado e, emocionado, tombou para trás. Caiu no chão de costas embevecido pelo estrondoso sucesso instantâneo. Estava provado que poderia haver uma música jovem e brasileira.

    A maior surpresa musical do festival estava guardada para a segunda eliminatória. Para apresentar seu número, Gilberto Gil procurou o Quarteto Novo, composto por Hermeto Pascoal, Theo de Barros, Airto Moreira e Heraldo Do Monte. Mesmo tendo participado da passeata contra as guitarras elétricas, Gil estava profundamente influenciado pelo som dos Beatles – especialmente o disco “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” -, dos Rolling Stones e da vanguarda do rock internacional. Na sua cabeça, pipocavam ideias de mesclar as guitarras de George Harrison e Keith Richards com o violão de Jorge Ben, a sanfona de Luiz Gonzaga e os ritmos regionais brasileiros com os sons eletrônicos. Eram ideias arrebatadoras. E o Quarteto Novo não topou a encrenca. O grupo acabou acompanhando Edu Lobo em “Ponteio”. O maestro Rogério Duprat, que seria o arranjador da obra-prima de Gil, sugeriu que ele conhecesse uns meninos: um grupo de jovens de extrema sensibilidade musical e, principalmente, com afinidades estéticas em relação a Gil. Dessa forma, Rita, Arnaldo e Sergio – Os Mutantes – foram convidados a tocar guitarra, baixo e cantar “Domingo no Parque”. Nos bastidores do festival, o repórter da TV Record Randal Juliano entrevistou Arnaldo Baptista ao lado de Gilberto Gil e perguntou: “Qual foi a reação de vocês quando Gilberto Gil chegou e disse: ‘quero vocês no meu número no festival tocando guitarra elétrica’?”. Arnaldo respondeu “nós achávamos que dava certo”. Deu certo. A música de Gil também começou vaiada e conquistou o público durante a apresentação. Os jurados também ficaram de queixo caído.

    Na finalíssima do III Festival da Música Popular Brasileira, “Domingo no Parque” (Gilberto Gil) ficou em segundo lugar, atrás de “Ponteio” (Edu Lobo). Em terceiro lugar ficou “Roda Viva” (Chico Buarque) e “Alegria, Alegria” (Caetano Veloso) ficou em quarto.

    Além da qualidade musical, o III Festival da Record teve uma influência imensa na música brasileira. Segundo Nelson Motta, em seu livro “Noites Tropicais”, “é naquele momento que explode o tropicalismo, que racha a MPB, que Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos, que se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época.”

    Imagens da Internet com informações do site

    http://www.eradosfestivais.com.br/festivais.php?idMidia=14&idFestival=7

    Mais:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-passeata-da-mpb-em-1967-contra-a-guitarra-eletrica

  10. .

    Pode ser até tudo verdade, de jabás ao contrário a rixas intransponíveis, mas a verdade é que a CBS (ou Roberto Carlos) nem precisariam disso. Ritchie, cuja música “Menina Veneno” gostei muito na juventude, não continuou com sucesso por muitas outras razões, como muitos outros artistas que criaram evergreens e sumiram depois. Quem sabe, ele mesmo procurou este caminho, com seu jeito e perfil. O próprio Tim Maia jamais teria feito algum sucesso, se a qualidade de suas canções não ultrapassassem os limites de “Primavera”, seu primeiro grande sucesso.

  11. “O êxito de Roberto

    “O êxito de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa era, para muitos, um sinal de que a MPB estava perdendo força. E tudo isso acontecia em uma ditadura militar”

    Passadas as décadas soa como pleonasmo …

  12. Sei que nao vai passar na

    Sei que nao vai passar na moderação….. Mais tudo bem……. faz parte……. Eu nao votei para eleger um Rei da musica……. eu nao voltei para eleger um rei do futebol……… Eu nao votei para eleger a rainha dos baixinhos….. eu vivo em um pais que nao existe rei ou rainha e eu quero que esses reis e rainhas e o esquema que construiram eles….. que vão tudo para o quinto dos infernos.

    Foram todos eles enfiados na garganda do povo e o povo teve que engolir na mara. são todos uns montes de merda

  13. o anti-jabá

    Futebol, musica, religião, sexo,  etc  nada mais  é do que  negócio.  Todos, sem exceção, querendo ao final  do processo ganhar o famigerado e bom dinheiro. Sem hipocrisia quem é ator de um  destes negocios sabe como funciona o esquema.  Mentiras, trapaças, traiçoões, covardias, etc são molas propulsoras que elevam derterminadas pessoas, grupos as alturas. Nestes negócios que o produto final é a grana não há tempo para choros nem velas. 

  14. Roberto Carlos é o cantor da

    Roberto Carlos é o cantor da ditadura, um sujeito medíocre, sem caráter, plagiador, sem nenhum talento. O mesmo serve pra Jovem guarda.

  15. Tim Maia era uma exceção, um

    Tim Maia era uma exceção, um sujeito de talento em meio às nulidades produzidas na formação da indústria cultural brasileira. Raul Seixas era outra exceção. Os de antes, a Bossa Nova, e o Chico Buarque, também tinham talento. Caetano também tinha talento, maculado por sua incompleta falta de caráter. O resto era só massificação: jabá, ditadura kids, tocar no rádio 24h por dia.

  16. Lembro da “febre” do pop

    Lembro da “febre” do pop rock,gostava de vários cantores e banda e um dos que mais curtia era o Ritchie. Gostava das músicas dele na época,menina veneno era uma das várias dele q fizeram sucesso.Gostava mais de casanova do q de menina veneno,adorei voo de coração,pelo teefone e outras;Para mim ñ fazia diferença nenhuma o ffato dele ser ingles,mas agora penso q ele tenha sofrido discrimiinação por ser estrangeiro por uma parte dos próprios músicos brasileiros,o q foi uma bobagem tremenda assim como foi a paasseata contra a guitarra elletrica.Quanto a Roberto Carlos a essa altura do campeonato tudo q for revelado sobre ele já nem é mais surpresa,acho que ele está apenas acertando as contas com seu passado nebuloso que tanto luta p/ ñ ser revelado através de liminares contra biografias.

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