10 mitos sobre a universidade pública no Brasil

O jornal da USP reuniu dez mitos sobre as universidades públicas e explicou se eles fazem mesmo algum sentido

Vista da Avenida Professor Luciano Gualberto, na Cidade Universitária, em São Paulo | Foto: Jorge Maruta/USP Imagens

do Jornal da USP

10 mitos sobre a universidade pública no Brasil

Conhece alguma pessoa com pressão alta? Pode ser que ela use um remédio criado a partir de uma substância descoberta na USP. E pode ser que ela tenha ido ao médico com um aplicativo de transporte criado por nossos estudantes e tenha sido atendido gratuitamenteem um dos hospitais da Universidade. E também pode ser que depois da consulta esta mesma pessoa decida levar o filho em um museu de ciências, para aprender mais sobre um assunto que vai cair no vestibular.

Essa curta história já desmente vários dos mitos envolvendo não só a USP, mas a universidade pública brasileira como um todo. Reunimos dez deles e explicamos se eles fazem mesmo algum sentido.

1 | A universidade pública vive de costas para a sociedade

As universidades públicas brasileiras são frequentemente rotuladas de “torres de marfim” e acusadas de viver “de costas” para a sociedade. Não é verdade. As universidades públicas prestam uma série de serviços importantes à sociedade, por meio de hospitais, museus, orquestras, teatros e outras atividades diversas de “extensão” — como são chamados esses serviços de atendimento à população.

Só a USP tem 4 museus e 15 coleções,que recebem quase meio milhão de visitantes por ano, cinco hospitais públicos, entre eles o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, que em 2018 realizou quase 1,5 milhão de atendimentos e 50 mil cirurgias.

A Universidade também oferece centenas de cursos gratuitos e disponibiliza 5 mil vagas para pessoas acima de 60 anos estudarem de graça na universidade.

*A extensão é uma obrigação constitucional das universidades. Como em qualquer serviço público, é claro que sempre é possível fazer mais e melhor; mas dizer que não se faz nada é uma falácia.

A USP também tem

CLÍNICAS ODONTOLÓGICAS: nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto e Bauru

MUSEUS GRATUITOS: entre eles o Museu de Arte Contemporânea, ao lado do Parque do Ibirapuera e o Museu do Ipiranga

NÚCLEO DE PESQUISA EM RONDÔNIA: onde, apenas entre 2013 e 2017, foram atendidos 38 mil pacientes e realizados 63 mil exames laboratoriais e muito mais.

2 | Nos países desenvolvidos, a pesquisa é privada

Errado. Nos países ricos, a maior parte do dinheiro que financia a ciência na universidade é público e isso vale até mesmo para as universidades que cobram mensalidades.

No caso dos Estados Unidos, 60% do dinheiro para a pesquisa vêm dessa fonte; na Europa, 77%.

Em maio deste ano, por exemplo, a Alemanha anunciou que governo federal e os estados investirão 160 bilhões de euros no ensino superior e na pesquisa científica entre os anos de 2021 e 2030.

Em seu doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Danilo de Melo Costa fez um estudo comparativo entre Brasil, Canadá e China sobre o financiamento público da educação superior.

De acordo com o pesquisador, no Canadá, o dinheiro público representa de 55% a 60%
do financiamento das universidades e na Chinade 40% a 45%.

Outra razão para os investimentos públicos na ciência é o incentivo à pesquisa básica – esse tipo de estudo busca desenvolver o conhecimento científico sobre os fenômenos do Universo e não tem o lucro nem a aplicação prática como objetivo pelo menos a curto prazo.

Pesquisa assim não é de interesse das instituições privadas, ainda que possam levar, no futuro, a grandes avanços tecnológicos e descobertas de alto impacto.

3 | A universidade pública não se relaciona com empresas

As universidades públicas não colaboram com a indústria, não ajudam o setor produtivo, são contra a iniciativa privada, etc e tal. Você já deve ter ouvido alguma frase dessas por aí.

É uma generalização injusta. O que vem ocorrendo, na verdade, é um aumento das colaborações entre universidades públicas e empresas privadas, apesar dos muitos entraves burocráticos e culturais que dificultam essa interação.

A Escola Politécnica da USP, por exemplo, abriga uma parceria de R$ 200 milhões 
com a Fapesp e a Shell, para pesquisas inovadoras no setor de gásNão por acaso, o núcleo de pesquisas tecnológicas da Petrobras também fica dentro de um campus universitário, da UFRJ, com a qual a empresa colabora intensamente desde a década de 1970.

O Centro de Química Medicinal da Unicamp trabalha com três empresas farmacêuticas e de biotecnologia na busca de novos medicamentos; enquanto que o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia USP/Ipen (Cietec) tem mais de 100 empresas incubadas e 150 graduadas no currículo.

São apenas alguns exemplos emblemáticos, entre muitos que existem por aí.

  • Em 2019, a USP regulamentou o compartilhamento e a permissão de usode seus equipamentos, infraestrutura, materiais e instalações em ações voltadas a desenvolvimento e inovação tecnológica.
  • Outra iniciativa criada para estreitar as relações da Universidade com empresas e demais instituições científicas é o Sistema USP de Centrais Multiusuários, plataforma para cadastro de equipamentos e laboratórios que podem ser utilizados de forma compartilhada pela comunidade científica da USP e de outras instituições.
  • A USP criou até mesmo um guia para ajudar na realização de parcerias com empresas.

4 | A universidade pública é cara demais

Depende. Em relação a quê?

O orçamento da USP é de R$ 5 bilhões e meio.

É errado pegar esse valor e s
implesmente dividir por seus 90 mil alunos de graduação e pós-graduação.

Realmente, as universidades públicas custam mais do que as privadas. Mas há uma razão muito óbvia e positiva para isso, que muita gente esquece de levar em conta na hora da comparação: a pesquisa científica!

E quando se fala que o governo federal gasta mais com educação superior do que com o ensino básico, é preciso lembrar que, segundo a Constituição brasileira: os municípios devem atuar prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil e os estados, no ensino fundamental e médio.

Nas universidades, os professores também são pesquisadores. E além de lecionar e desenvolver seus estudos, eles têm ainda o papel de formar novos cientistas, orientando trabalhos de mestrado e doutorado, ou seja, alimentando a pós-graduação – e como se vê, a responsabilidade por estes programas é majoritariamente de instituições públicas.

Cursos de pós-graduação no Brasil
19% estão na rede privada
81% estão na rede pública

Fonte: Geocapes 2017

*O custo operacional das universidades públicas é maior porque elas se dedicam fortemente à pós-graduação (cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado) e à ciência — atividades que exigem uma complexidade muito maior de recursos humanos e infraestrutura física, incluindo hospitais e museus, enquanto que as universidades privadas são basicamente escolas de graduação – no Brasil, 82% dos alunos estão na rede privada, segundo o Censo da Educação Superior do Inep.

5 | A universidade pública é só para os ricos

Tem um mito rolando por aí que as universidades públicas do Brasil “só tem aluno rico”. Mas veja: de cada 3 alunos das universidades federais, 2 vêm de escolas públicas; e a renda média das famílias de onde eles vêm é de um salário mínimo e meio.

Na USP, por exemplo, até 2021, metade das suas vagas serão reservadas só para alunos de escola pública.

A Lei de Cotas e as políticas de inclusão social mudaram a cara da universidade pública no Brasil.

 

Ok. Mas e como esses alunos conseguem se manter?

As universidades reservam parte de seu orçamento para isso. O dinheiro banca bolsas e auxílios de moradiaalimentação e transporte, assistência em saúde e creches. São formas de ajudar os alunos com dificuldades financeiras a continuar se dedicando à faculdade.

6 | Universidade pública não faz pesquisa

Andam dizendo por aí que a universidade pública brasileira não faz pesquisa. Muito pelo contrário! As universidades públicas, federais e estaduais são as grandes produtoras de ciência e tecnologia no Brasil.

Num ranking das 50 instituições brasileiras que mais produziram trabalhos científicos nos últimos cinco anos, 43 são universidades públicas, e apenas uma é universidade privada.

As top 10 da lista são todas públicas, e apenas uma não é universidade: a Embrapa. Há também universidades privadas que produzem pesquisa científica de qualidade, mas são poucas.

*No fim das contas, mais de 90% da produção científica nacional vem das universidades públicas, feita por professores e alunos de pós-graduação.
https://www.youtube.com/watch?v=9ipn4nsca3s

Só a USP, por exemplo, tem mais de 2 mil pesquisadores e 8,5 mil alunos de pós-doutorado dedicados à pesquisa científica,com participação em mais de 20% de todos os trabalhos produzidos no País. Ou seja: sem as universidades públicas, praticamente não existiria ciência no Brasil.

7 | A pesquisa na universidade pública não gera resultados práticos

Você provavelmente já ouviu falar que as pesquisas feitas nas universidade brasileiras “não servem pra nada”. Não é verdade. A cobrança por resultados é justa, mas a resposta é mais complexa do que parece.

A pesquisa universitária gera, sim, resultados práticos de grande relevância econômica e social, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento de novas tecnologias e para a formação de recursos humanos qualificados. O agronegócio, a produção de petróleo e bioetanol, a indústria química, a saúde pública e a medicina — todos os setores se beneficiam da pesquisa acadêmica, por meio de contribuições diversas, que não podem ser resumidas a um único produto.

Tá bom, ou quer mais?

8 | Cobrar mensalidade resolveria o problema de financiamento das universidades

Na verdade não.

Com as notícias sobre a falta de dinheiro nas universidades públicas, muita gente começou a se perguntar se elas deveriam mesmo ser gratuitas.

Na USP, um levantamento concluiu que as mensalidades não cobririam nem 8% do orçamento(lembrando que a renda familiar bruta de 45% dos calouros é de até cinco salários mínimos).

E mesmo que todos os quase 90 mil alunos de graduação e pós da USP pudessem pagar mil reais por mês, isso daria cerca de 90 milhões de reais. É muito dinheiro, mas…
sabe quanto custa manter a USP?

Professores, técnicos de laboratório, equipamentos, bolsas, infraestrutura de hospitais e museus, conta de luz e telefone, restaurantes, biotérios, despesas com transporte, segurança e limpeza, material bibliográfico… tudo isso custa quase 500 milhões de reais por mês!

*Orçamento da USP em 2019: R$ 5,7 bilhões. O custo não pode ser dividido pelo número de alunos, porque além do ensino, a Universidade precisa
investir em pesquisa e extensão.

O dinheiro financia não só a formação de pessoas, mas toda a estrutura necessária para fazer pesquisa e levar esse conhecimento para a sociedade. E é por isso que a receita da USP e de todas as universidades públicas no Brasil vêm de parte dos impostos pagos pela população.

*O MIT, nos Estados Unidos, cobra de seus alunos o equivalente a mais ou menos 100 mil reais por ano. Mesmo assim, as mensalidades representam
só 10% de sua receita
.

9 | As cotas reduzem a qualidade do ensino nas universidades

Isso não é real.

Com a Lei de Cotas, as universidades federais passaram a reservar metade de suas vagas para alunos que vieram do ensino médio público. Isso foi em 2012, mas anos antes algumas instituições já estavam colocando em prática as ações afirmativas.

Desde então muita gente já se formou e o que os dados mostram é que há pouca diferença no desempenho de quem entrou por cotas e os demais. É o que mostram estudos do Insper, da Universidade do TexasUniversidade Estadual do Rio de Janeiro,
entre outros.

As universidades estaduais não entram na Lei de Cotas, mas muitas vêm criando políticas de inclusão.

*A USP, por exemplo, estabeleceu um sistema de reserva de vagas que está impulsionando o aumento da diversidade social e racial entre os estudantes, um aspecto muito valorizado por universidades de elite como Harvard e Yale.

Em 2019, com as políticas de vagas tanto no Sisu como na Fuvest, a USP atingiu o percentual de 40% alunos matriculados oriundos de escolas públicas – e a qualidade do ensino continua referência no País.

Em 2017, quando a reserva de vagas na USP ocorria apenas pelo Sisu, foi feito um levantamento mostrando que a média das notas de ingressantes não tinha diferença significativa em relação aos que tinham entrado pela Fuvest.

Vimos que a inclusão de qualquer modalidade de cota não tem impactos significativos na nota média dos aprovados pela simulação. Essa ausência de impacto significativo ocorre porque há alunos elegíveis para as modalidades de cotas (ou seja, pobres, negros e de escola pública) com boas notas e em número suficiente para que não haja redução da nota média.

Fonte: As Cotas nas Universidades Públicas Selecionados? Simulações com dados do ENEM – Insper

10| A universidade pública no Brasil é de esquerda

A universidade pública é um lugar de esquerda? Sim.

A universidade pública é um lugar de direita? Sim também!

É que uma de suas principais missões é ser um lugar com pluralidade de ideias e isso é garantido pelo princípio da autonomia universitária, que está até na Constituição brasileira.

Art. 207 da Constituição Federal

As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

É ela que garante a independência das universidades dos governos nas quais elas estão inseridas. Ou seja, o conhecimento que elas produzem não vai ser prejudicado ou sofrer interferências das diferentes autoridades que se alternam no poder. Imagine se um único governo, poder religioso ou organização privada ditasse o que as universidades públicas devem ou não pesquisar?

E se você ainda duvida da multiplicidade de ideias na Universidade, veja o exemplo da USP. Passaram por aqui como alunos ou professores todos estes políticos:

Redação

2 Comentários

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  1. Artigo interessante.
    Mas não interessa tanto o que está escrito, mas aquilo que se quer dizer. Questão de contexto.
    Atualmente, como muita gente sabe, a Universidade pública sofre uma campanha de “quase difamação” (sic) e
    desinformação que resulta numa oposição da opinião pública contra ela. Claro, o que impressiona é quando pessoas que estudaram na Universidade pública realizam esse desserviço, cuspindo no prato em que comeram.
    Junte-se a isso uma série de pessoas que tiveram dissabores em suas carreiras acadêmicas, como se fossem pintores fracassados que, chegando ao poder, fizessem uma campanha totalitária e misológica.
    Agora, quando eu leio o artigo, o que aparece, na verdade, no seu conjunto? A USP. A questão que me parece, a título de hipótese, é que não se trata, necessariamente, de um artigo desmistificando o ensino superior público, mas de falar sobre si. Com base nisso, eu faço alguns apontamentos, direcionando-os de forma preponderante à Universidade de São Paulo.
    Atualmente, a USP como instituição sofre dois ataques: de fora, em que se juntam a campanha difamatória e de desinformação, além da CPI das Universidades públicas, promovida pela Assembleia Legislativa de São Paulo, interessada em saber e investigar a gestão das Universidades públicas estaduais paulistas USP, Unicamp e Unesp.
    A composição dos parlamentares da CPI é, desculpem, de direita, e a qualidade dos questionamentos nas audiências e sessões revela o desconhecimento e a ausência de pesquisa por parte dos próprios parlamentares sobre os trabalhos das Universidades. Essa pesquisa poderia subsidiar questionamentos e um aprofundamento das investigações, o que não significa, em si, que poderia haver alguma irregularidade a priori nas gestões universitárias. Por isso, a “sorte” se deve ao despreparo de alguns parlamentares.
    Agora, é bom que se diga, que é preciso ser honesto e colocar a posição e a apresentação do reitor da Unicamp (ver em https://www.adusp.org.br/index.php/defesauniv/3365-universidade-esta-estrangulada-diz-reitor-da-unicamp-na-assembleia-legislativa), mais direta e sem receios que o do reitor da USP. O reitor da USP, questionado sobre a presença das fundações privadas na instituição, saiu com a declaração de que elas são fiscalizadas pelo Ministério Público (https://www.adusp.org.br/index.php/defesauniv/3364-reitores-aproveitam-sessoes-da-cpi-das-universidades-para-defender-investimento-publico-no-ensino-superior). Porém, as fundações sofrem críticas pelo TCE, é bom que se diga, pois elas se mostram contrárias à fiscalização de suas contas pelo Tribunal.
    Internamente, a Universidade como instituição também sofre golpes. Há ligações entre docentes e fundações privadas, em que não faltam queixas sobre possíveis conflitos de interesse entre a Universidade e as fundações privadas.
    A galinha dos ovos mais de ouro mais comum é o oferecimento de cursos de extensão universitária (pagos) a partir de convênios entre a USP e as fundações, sobretudo especializações. A fiscalização desses cursos deveria ser realizada pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, que não prima pela transparência em relação à divulgação de cada convênio assinado e nem pela transparência em relação à prestação de contas.
    Para se ter uma ideia, é possível encontrar casos em que um coordenador de curso de extensão oferecido por meio de convênio tenha, por exemplo, uma empresa que presta serviço à fundação, justamente sobre o mesmo curso. Ou seja, o docente recebe como coordenador do curso e como sócio-proprietário de uma empresa que presta serviço para a fundação, mais exatamente no mesmo curso em que ele é coordenador. Acham isso duvidoso? Então, que se pesquise, talvez, sobre a ESALQ. Divirtam-se.
    Ou ainda: a Fundação Faculdade de Medicina realiza convênio com a USP via Faculdade de Medicina e tem problemas para realização de sua prestação de contas. Quer dizer, a Fundação não presta contas no tempo certo e a USP, por meio de sua Pró-Reitoria de Cultura, não realiza fiscalização sobre isso. E o que acontece? Mais ou assim: “olha, vcs estão com problemas nas prestações de contas, não entregaram no prazo, e nós não fiscalizamos; então, entreguem e a gente enterra esse assunto”. É duvidoso? Peçam todas as prestações de contas dos últimos cinco anos de todos os cursos de extensão universitária, sobretudo dessas fundações.
    A Adusp, a propósito, chegou a fazer uma solicitação dessa espécie, pediu cópias de documentos de todos os cursos com convênios (https://www.adusp.org.br/index.php/cinteresses/2288-fundacoes-apoio) à Reitoria. Mas o grande problema é que, ainda na época, existia dúvidas sobre alguns convênios, como os convênios com a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, FUSP. Muitos cursos foram realizados sem convênio com a FUSP, mas o aporte financeiro foi gerido pela FUSP. A FUSP é entidade externa, portanto, não poderia ser realizado isso. E qual a saída? O reitor Marco Antonio Zago, à época, aprovou as contas destes cursos sem convênio, mas com aporte administrado pela FUSP, desde que a FUSP apresentasse todas as documentações relativas às prestações de contas destes cursos.
    Contadores (desculpem pela ausência de precisão nos conceitos contábeis) sabem que é possível pegar um conjunto de despesas e créditos pra ver as contas, mas, sobretudo, diluir (como se diz) as despesas no conjunto dos valores recolhidos. Quer dizer, se um curso é deficitário, um outro cobre o déficit. E fica “tudo bem”. O problema é: e quando você aprova a prestação de contas no todo (como foi o caso) mas encontra problemas nas prestações de contas individualmente, não em todos, mas em alguns casos? Como você aprova as contas de curso com problemas? Como havia a aprovação feita pelo Reitor, o departamento financeiro da reitoria assina embaixo e assim segue; quem apontar erros na prestação de contas vai contra o reitor e a sua decisão.
    Casos de prestações de contas em atraso e que foram analisadas e aprovadas (quando foi o caso) pela USP como modo de enterrar o assunto não são objeto de investigação. A USP nem fala disso. E nesse âmbito, também é possível colocar a Fundação Vanzolini, que oferece cursos por meio, sobretudo, da Escola Politécnica. Aliás, houve em uma antiga sede da Fundação há alguns anos, um roubo em que, curiosamente, os assaltantes colocaram fogo na área de arquivos. Há um boletim de ocorrência sobre o assunto, e não parece ter havido mais investigações. O assalto foi de pouca monta. E por qual motivo haveria um assaltante estar interessado em queimar arquivos?
    Sobre o compartilhamento de equipamentos, como a USP declara, também se trata de uma esperteza da Reitoria da instituição, que, como critica a Adusp, é mais uma maneira das entidades privadas se esmerarem no uso do equipamento público sem investimento (https://www.adusp.org.br/index.php/ciencia-tecnologia-e-inovacao/3334-reitoria-permite-compartilhamento-de-laboratorios-docentes-e-tecnicos-da-usp-com-empresas-privadas-e-fundacoes-ditas-de-apoio).
    Vou expressar a minha opinião: acho que a Reitoria da Universidade de São Paulo não deveria se aproveitar de um momento tão frágil em que passa a educação como um todo para, de maneira maquiada, defender a própria instituição de modo tão mesquinho. A instituição é feita por relações, hierarquias, formas mais ou menos transparentes de gestão, expressando diversas contradições internas. E muitos estudantes, funcionários e professores (que também são trabalhadores!) têm feito críticas constantes ao modo como é gerida a instituição. O pior de tudo é quando eles saem às ruas, defendendo a instituição, enquanto os que ali estão encastelados, cada um defendendo seus grupos de interesses, tratam aqueles como refratários.
    Não posso deixar de concluir com uma provocação: com a intervenção do presidente Bolsonaro na gestão das Universidades federais, intervindo no processo de eleição dos reitores e nomeando interventores, negando o valor real da comunidade universitária no processo de escolha de seus representantes, finalmente (ao menos neste aspecto), a Universidade federal chega ao patamar de gestão da USP, pelo menos neste aspecto.

  2. Multiplicidade de Personagens e Idéias. Valeu por toda a semana. Nota 10 para quem postou as fotos. Algo pode estar mudando realmente na USP. Podemos crer que exista’ Vida Inteligente ‘ nas Universidades Brasileiras !!!!!! Mas é imperdoável que a Universidade que era integrada à toda a Cidade, tenha sucumbido à Mediocridade Tucana na figura de Mario Covas e se isolado (onde está a história do Povo ocupar e tomar os Espaços Públicos? Onde está o Progressismo?). Limitou o Câmpus e ainda murou a Raia Olímpica. Agora vem o ‘Projeto de Tucano Acéfalo’ e constrói um milionário muro de vidros, inútil e criminoso ambientalmente, que já matou quase 1 centena de pássaros. Enquanto isto a Universidade que tem a FAU e tantas outras, se permite ter um Córrego Fétido e Poluído, dentro do Câmpus. Permite que a Saída para Marginal Pinheiros (reformada na empobrecida fachada) continue mal iluminada, dando acesso perigoso entre Veículos a uma Ponte da Cidade Universitária, perigosa, escura, sem uma passarela com cobertura iluminada e policiada, para que Alunos, Alunas e Funcionárias, nas noites frias e chuvosas, possam acessar a Estação de Trens, do outro lado da Marginal. Cadê Você USP?!!!!!! Derrubemos os Falsos Mitos !!!! E Aquele Muro Monstruoso também !!!!

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