A classe trabalhadora virou a vanguarda do atraso?

A classe trabalhadora virou a vanguarda do atraso?

O exemplo norte-americano, com a eleição do Trump, mostra que, mais do que migrarem para a direita, os trabalhadores estão sendo induzidos ao alheamento político.

Muita coisa se diz, mundo afora, sobre a migração da classe trabalhadora para os partidos e candidatos da direita. Isso teria acontecido na Europa, nas últimas duas décadas. Repetir-se-ia agora, na eleição norte-americana: o Tea Party e Donald Trump teriam seduzido a “white working class”, arrancando-a da tutela política do Partido Democrata. Muita confusão reina em todas essas interpretações. Mas vamos nos concentrar no caso americano.

Redação

3 Comentários

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  1. O título já foi ruim, a introdução pior, e o artigo….

    Caro colega. Chamo-o de colega, pois durante 36 anos fui professor da UFRGS, porém por pertencer à área das engenharias, felizmente ou infelizmente não tive a chance de me permitir a dizer bobagens na minha área (só poucas) coisa que vejo sistematicamente na área de ciências humanas me dando a liberdade de classificar este teu texto como tal e talvez refutá-lo com outra, mas deixando de lado o prólogo vamos ao que interessa, a crítica.

    Eu fico abismado quando vejo que ainda até agora os cientistas sociais não entenderam o processo atual que ocorre na política, a falta de sensação de representatividade dos candidatos simplesmente porque deixaram de lado o discurso básico para caírem no que os profissionais da comunicação chamam de “retribalização” da sociedade moderna e da forma de fazer política.

    Este conceito emprestado do guru da teoria da comunicação moderna (guru é uma boa expressão para quem trabalha em comunicação) “Marshall Mcluhan”. Num dos seus principais livros, “A Galáxia de Gutemberg” ele lança uma espécie de divisão histórica em que o homem primeiro se comunica via de tradição oral no que ele chama a tribalização primitiva. Após esta tribo primitiva há toda uma evolução, que não vem o caso, para desembocar no que ele chama a tribo moderna.

    Como na época em que Mcluhan escreveu e teorizou sobre isto, não havia um ciberespaço como nos dias atuais ele não desenvolveu muito o conceito, mas seus continuadores criaram o conceito das “cibertribos”, que acham estes mesmos como uma nova forma de democracia participativa que poderiam através de superposição de diversas superestruturas atingirem uma verdadeira democracia participativa. A concepção do partido REDE é mais ou menos baseada nisto.

    Porém o problema da concepção da grande superestrutura que abraçaria as demais tem diversos problemas inviabilizam esta organização e não permitem que o conceito e a organização da primitiva tribo transfiram-se ao grande congraçamento de tribos, pois vamos a eles e no fim encaixar a crítica ao teu artigo.

    Primeiro, e o mais básico, que a tribo primitiva tinha uma característica humana que não conseguimos transferir para as “cibertribos”, o contado direto entre os membros e estabelecimento de laços de irmandade e confiança entre os seus membros. Na tribo primitiva a confiança entre os membros e ao chefe era baseada no conhecimento direto além do discurso da atitude dos mesmos. Nas “cibertribos” enquanto elas estão se constituindo e os ingressantes são novos nesta superestrutura confiam-se no discurso inicial, não se procurando contradições nas chefias das tribos ou reais ou aparentes traições nestes chefes. À medida que a tribo vai evoluindo as desconfianças e as contradições aparecem e com elas o segundo problema, a nucleação.

    Com o aumento do tamanho da tribo, pequenas diferenças entre seus “chefes” iniciais e o surgimento de lideranças que além de pensarem um pouco diferente que no início, há uma tendência natural de surgirem os embates ideológicos ou até mesmo de egos. Criando um impulso centrífugo que pode gerar a divisão do grupo. Na tribo primitiva, além do constrangimento físico de necessitar de outro espaço físico para o grupo se dividir, havia outras formas de resolução de disputas das mais diversas formas, coisa que nas “cibertribos” não existe.

    Porém se parasse por aí os problemas da nova organização, temos nas “cibertribos” duas formas de manifestação do individualismo são manifestadas. O individualismo que conhecemos, característica humana que é exacerbada quando não há um controle do grupo sobre o indivíduo e algo ainda pior para a criação de “cibertribos”, o individualismo de cada tribo em relação a outra.

    Esta última forma de individualismo tribal, faz com que os membros de cada grupo que se comunicam somente em torno de seus problemas terminam de os supervalorizarem e torna-los prioritários em relação aos demais. Quanto mais antigo for o grupo, quanto mais tradição na luta pelos seus direitos específicos em relação aos direitos gerais, será mais difícil a união.

    Pois agora vamos às eleições norte-americanas, no início havia dois grandes candidatos democratas, Bernie Sanders, que apesar de ser membro do partido democrata estava fora do “mainstream” do partido, e Hillary Clinton (por muitos chamada de Killary Clinton, devido a sua ideologia e ação belicosa) que adotava claramente o discurso das grandes tribos, ou seja, a união entre a tribo das mulheres, dos negros e dos latinos.

    Sanders por se negar a um discurso de tribos, adotando um discurso mais tradicional de classes sociais, foi preterido por Hillary, pois esta aparentemente (na verdade nunca se pronunciou a favor) estava pró discurso de reparação dos descendentes de ex escravos algo impossível de ser aprovado no congresso norte-americano. Em todas as pesquisas tendo um bem mais claro discurso de esquerda que beneficiaria os negros pobres do USA e conseguia intenções de voto até em grupos tradicionais republicanos, porém devido ao negar as tribos perdeu o voto exatamente na comunidade negra.

    Com a exclusão de Sanders, Hillary voltou ao velho discurso segmentado dos democratas, onde os direitos das mulheres, dos LGTBs, dos negros e latinos eram premiados individualmente. Salvo se houvesse propostas revolucionárias em termos de direitos específicos destes grupos, o seu discurso era velho e cansado e por motivos pessoais e da evolução da vida política da mesma ela não conseguiu nuclear em torno do seu nome das grandes tribos citadas.

    Agora a pergunta que resta, e porque Trump ganhou? Simplesmente porque ele notou que o discurso de Hillary não atingia um grupo remanescente que não está organizado em termos de tribo, porém simplesmente notou que estava excluído das tribos existentes, por isto aceitava Sanders que mesmo mais a esquerda os incluía, porém não aceitava Hillary.

    A minha conclusão é exatamente contrária a opinião do artigo comentado, o voto foi negado, pois o discurso de Hillary nunca foi um discurso direcionado a classe trabalhadora, mas sim a tribos específicas em que nelas muitos que naturalmente pertenciam, como as mulheres, não pensaram como tribo.

    Vanguarda não significa simplesmente dizer, eu sou liberal (caso norte-americano) ou eu sou de esquerda (caso europeu em geral), vanguarda é apresentar posições inclusivas de vanguarda e executá-las.

    1. Só agora li o comentário, por

      Só agora li o comentário, por acaso. Passou bom tempo. Bom, como o senhor utilizou o termo, devo dizer que já escrevi e disse bobagens, sim. Mas acho que seria difícil concorrer com essas aí que estao no seu comentário. Nao, retifico: nem só de bobagens vice o comentário,  há coisas com as quais concordo, já escrevi sobre elas também (outras bogagens, talvez). O problema é que o comentário nao tem nada a ver com meu texto. Por vezes tenho a impressao de que o comentário foi feito sem ler o texto. Leu o título, uma provocação, pergunta retórica. E a partir daí dissertou sobre o que pensa, nao dialogou com o texto. Por isso pode dizer (pode?) que sua conclusão é “contraria à opiniçao do artigo”. Nao é “contrária”, apenas pega aspecto diferente. Nao inteiramente falso, a meu ver, apenas diferente. Não era esse o tema do artigo – visava apenas contestar a visao, muito simplificada a meu ver, de que a classe operária era “progressista” antes, votando PD, e “virou” atrasada, caindo na conversa do Trump. As duas afirmações (para dois momentos) são vesgas. Obrigado por ensinar o que significa ser vanguarda, nao havia pensado nisso….

  2. Meu caro amigo, fazendo uma crítica e autocrítica ……

    Meu caro amigo, fazendo uma crítica e autocrítica ao mesmo tempo chego a imensa conclusão que tanto o artigo como o meu comentário estão extremamente ruins, realmente poderia fazer uma crítica a todo o imenso exercício de contas e mais contas, por ti feitas, para descobrir as razões da derrota de Clinton, porém aceito a crítica que ao tentar chegar a uma conclusão sobre o teu texto simplesmene não o critico, faço outra releitura dos fatos (poderia é ser reescrita como um outro artigo e não como um comentário).

     

    Na realidade os dois, tanto o teu como artigo e como o meu como uma pretensa, são duas BOSTAS!

     

    Por que escrevi o artigo como crítica? Sem mentir, demoraste tanto tempo na contra argumentação, que hoje em dia não vendo uma conexão mais forte entre os dois, nem mais me lembro dos motivos da época. Talvez se a contracrítica fosse feita há mais tempo poderia dar um motivo do comentário da maneira que foi feito, porém agora acho que nem é mais o caso, são duas visões diferenciadas do mesmo fenômeno.

     

    Apesar da minha autocrítica a verdadeira não crítica do teu artigo, vejo que pelo menos a minha bosta, procurou enxergar o mesmo fenômeno de um ponto de vista de uma forma menos convencional e mais ampla do que a tua bosta!

     

    O assunto está superado, e ficará até ridículo levar a diante esta discussão, pois o que concordo em 100% ao ler mais uma vez todo o artigo original (e li na época não aceitando isto como acusação) que os dois são pontos de vistas totalmente diversos sobre um fenômeno atual da tentativa da direita política trazer para um novo e enganador discurso contra a esquerda tradicional. Este ponto que não entendeste, procurei não aceitar uma crítica tua da situação atual sem ao mínimo tentar entender o que procuram fazer.

     

    Só “en passant” se verificares os discursos e os resultados das eleições francesas no primeiro turno (no segundo seria outra a análise) verás que o meu texto explica-os tenta demonstrar toda uma farsa que está sendo criada nos dias atuais pelas forças de direita de um novo discurso de uma antiga técnica colonialista, o de dividir para conquistar.

     

    Escutei hoje mesmo uma reportagem da TV francesa que chamava a atenção de toda a propaganda do Macron na direção de tratar os problemas franceses de forma segmentada através dos chamados grupos sociais (feministas, LGTB, muçulmanos, ….), ou seja, há um discurso CLARO e EXPRESSO da nova direita francesa em trabalhar não com conceitos “atrasados” como “proletariado”, “burguesia” e o principal, “luta de classes”.

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