Simplício não conseguiu entender porque a grande mídia brasileira torce tanto pela absorção da Ucrânia por potências europeias e, sobretudo, pelos Estados Unidos. “Afinal, disse ele para Angeline, o que ganhamos com isso? Não há ideologia em jogo, como na Guerra Fria. E também não há fatores geopolíticos que nos interessem diretamente.”
– Curioso é que Europa Ocidental, que não consegue se apoiar nas próprias pernas, resolveu fingir ajudar a Ucrânia, coisa que ela não conseguirá justamente porque enfrenta ela própria uma crise econômica avassaladora. Com isso, se sair debaixo de três séculos de proteção da Rússia, a Ucrânia afunda, explicou o professor Galileu. Por outro lado, não se pode esquecer que a Ucrânia, e principalmente a Crimeia, é uma região vital para a Rússia do ponto de vista geopolítico.
– Eu soube que o porto de Sebastopol, que fica na Crimeia, e considerado estratégico para a frota russa do Mar Negro, jamais seria entregue aos ocidentais pelos russos. Aquilo é casus belli, disse Angeline, gastando seu latim.
– Por que então essa iniciativa ocidental de desmantelar a Ucrânia?, perguntou Simplício.
– É o novo jogo geopolítico pós-Guerra Fria. A Rússia, por seu poderio nuclear e militar, é a única potência que pode fazer face de alguma forma aos Estados Unidos. Diante disso, os Estados Unidos, para enfraquecer a Rússia, ataca em sua periferia e procura desestabilizar seus aliados. Além da Ucrânia, temos Irã e Síria, depois de alguns infelizes países da Primavera Árabe que jamais se estabilizaram depois das revoluções exportadas pelos Estados Unidos, como Egito e Síria, sem falar no Iraque e no Afeganistão.
Simplício escreveu na agenda vermelha: A grande mídia brasileira não entendeu ainda que a Guerra Fria já acabou, e por isso continua mantendo o jogo americano.

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