“A guerra de extinção no Brasil também se aplica à Ciência”, diz Miguel Nicolelis ao GGN #FracassamosComoNação?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A pandemia do novo coronavírus ensinou ao Brasil que "saúde pública e ciência de ponta são investimentos estratégicos, não podem ser considerado gastos" triviais, disse o neurocientista. Assista

Reprodução/TVGGN

Jornal GGN – A ciência brasileira sobrevive à pandemia de coronavírus e ao pandemônio que é o governo Bolsonaro? Para o neurocientista Miguel Nicolelis, no de que depender dos cientistas, sim. Mas entre os fatores externos, enfrentar a asfixia nos recursos destinados a investimento talvez seja o principal desafio. “Não está fácil. A guerra de extinção que estamos tendo no Brasil também se aplica à Ciência”, afirmou em entrevista exclusiva a Luis Nassif, na tarde desta segunda (20).

Na visão dele, a pandemia do novo coronavírus ensinou algumas lições valiosas ao Brasil e ao mundo. Em primeiro lugar, “expôs todas as fragilidades do modelo de desenvolvimento imposto à humanidade desde a revolução industrial.” Em segundo, mostrou que “saúde pública e ciência de ponta são investimentos estratégicos, não podem ser considerado gastos” triviais.

“A China investe, em média, 130 bilhões de dólares ao ano. O investimento americano é 126 bilhões de dólares. O investimento por ano brasileiro é piada. A ciência e o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia nunca foram tratados como estratégico. Acho que, no futuro, a Ciência tem que voltar para o MEC para ter um dinheiro verdadeiro, porque o dinheiro que se investe em Ciência hoje é menos de 1.2% do PIB e nenhuma Nação que investe isso tem condições de ser soberana”, disse.

UMA NOVA GERAÇÃO

Nicolelis disse que a ciência brasileira “resiste talvez numa das piores situações da história.” Muito disso, em função dos novos cientistas formados no bojo de programas como o Reuni e o Ciência Sem Fronteiras.

“No começo dos anos 1990, fui embora do Brasil porque não tinham condições mesmo de eu fazer o que eu queria, depois que terminei meu doutorado. Com o governo Collor e depois o governo Fernando Henrique, as federais e as universidades estavam sendo depauperadas de uma maneira terrível. Agora o que temos de vantagem é que a infraestrutura instalada nas federais é muito melhor. Houve um crescimento muito grande. O Reuni [programa Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, criado no governo Lula] 1 e 2 permitiu a contratação e renovação dos quadros. O Ciência Sem Fronteiras deu outra força do ponto de vista de formação de quadros. Só que o estrangulamento econômico é uma loucura.”

Estou interagindo com jovens no projeto Mandacaru e no comitê científico [do Consórcio Nordeste], interagindo com a geração pós-Reuni ou pós-Ciência Sem Fronteiras, e é uma coisa espetacular”, disse. “Estou tendo a maior experiência da minha vida interagindo com jovens físicos, jovens ecologistas, que estão fazendo coisas do arco da velha mas não são do eixo Rio-São Paulo e são brilhantes. Essa moçada está levando a bronca do comitê científico do Consórcio Nordeste”, comentou.

Para ele, o Nordeste foi a única região do Brasil com a atitude de adotar um comitê científico como consultor. “A acho que temos mais independência [do que os consultores do Sudeste]. Tenho essa sensação. Nenhum gestor interfere e temos independência de comunicação completa.”

A entrevista de Nicolelis a Luis Nassif faz parte da série especial “Fracassamos como Nação?”, que todos os dias da semana, às 15h, entrevista um intelectual a respeito dos rumos que trouxeram o País à situação atual. Confira a playlist aqui.

Assista à entrevista completa:

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. Hoje li no Granma a razão pela qual Estados Unidos e Brasil sustentam a ditadura na Bolívia: gente morrendo na rua.
    Também li no Granma a razão pela qual querem invadir a Venezuela: até agora 112 óbitos por covid 19.
    Eis a quantas anda a chamada democracia.

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