
É fantástico o malabarismo de economistas de mercado para desqualificar políticas industriais.
Ontem, no Valor Econômico, o economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, via a economia em céu de brigadeiro, e sem a menor necessidade de estímulos adicionais. Seu otimismo baseava-se nos resultados do PIB (Produto Interno Bruto).
“A economia brasileira não parece precisar de estímulo extra no momento, o que coloca em dúvida o sentido de medidas como a isenção tributária para veículos, na avaliação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. Após a surpresa com a alta de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre, ele estima que as projeções para p ano, que devem migrar de um intervalo entre 2% e 3%”.
O PIB foi puxado exclusivamente pela produção agrícola, basicamente exportadora, com queda da produção industrial. Mas, aos olhos do economista, a anomia de outros setores é bom sinal:
Foi um PIB bom, gerando uma expectativa favorável para o ano, mas sem sinais de pressão adicional de demanda”, afirma Mesquita, ao destacar que a evolução do consumo das famílias e dos investimentos não tem sido de aceleração. “É uma composição de PIB que não deve gerar muita preocupação para o Banco Central”, observa.
Que tal, agora, olhar o mundo real sem as lentes do mercado – para quem desemprego alto é bom, porque significa menos pressão inflacionária; consumo baixo é bom, porque não gera preocupações para Banco Central.
Em abril, a produção industrial caiu 0,61%; em 12 meses, caiu 0,79%; em 10 anos, caiu 16,81%. O programa do carro popular visa exclusivamente resolver uma questão pontual da indústria automobilística, que está com os pátios coalhados de estoques. Não deve ser confundido com política industrial.
Mas os dados de abril, que tanto conforto trazem ao Banco Central, mostram o tamanho da crise, de uma queda em cima de uma base deprimida.

Os setores que cresceram, não tem a menor relevância econômica.

Os que mais caíram, são os de maior impacto na economia.

Entre os 26 setores de atividades industriais, apenas 9 registraram alta e 17 registraram queda. Em um ano, apenas 7 em alta e 19 em queda. Em 10 anos, apenas 2 em alta e 24 em queda.

Na medida das Grandes Categorias Econômicas, em 12 meses houve alta apenas em Bens de Consumo e Bens de Consumo Semiduráveis, e queda em Bens de Capital, Bens Intermediários, Bens de Consumo Duráveis.


Na divisão por grupos e classes industriais, o quadro nao é melhor.


Uma análise no tempo ilustrará melhor a perda de dinamismo da indústria.

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A grande contradição brasileira é essa; mesmo um crescimento baixo e de pouca qualidade no PIB, provoca em parte da sociedade a sensação de que o País pode prosseguir no caminho que está. De um ponto de vista não pode ser contestado: ao longo dos dez anos aferidos se aceitou deixar de investir na indústria. Foi praticado no País um incentivo ao não investimento estruturante, aquele que alavanca e proporciona que o Brasil tenha condições de crescimento para setores de destaque, de uso intenso de capital tanto humano como de recursos financeiros. Um representante de banco, que é um segmento que tem apresentado números positivos a ele só poderia defender a continuidade dessa política. Indústria só é negócio pra quem faz investimento. Pra quem paga o risco. Com a tranquilidade dos juros aplicados no País, torna-se difícil querer outra coisa, principalmente se o PIB pode crescer acima dos patamares desses dez últimos anos.