A quem interessa o revisionismo histórico da II Guerra Mundial?, por Thomas de Toledo

Os Estados Unidos se orgulham do "Dia D", mas quando eles chegaram, a guerra já havia sido decidida e eles só entraram para conter a expansão Soviética.

A quem interessa o revisionismo histórico da II Guerra Mundial?

por Thomas de Toledo

No dia 9 de maio de 1945, o Exército Vermelho da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas anunciou a vitória sobre a Alemanha nazista. Hoje, os Estados Unidos e a Europa conduzem uma operação de revisionismo histórico para diminuir o papel dos soviéticos neste conflito e supervalorizar o deles. Mas vamos aos fatos.

Hitler invadiu a União Soviética para tomar seus recursos e escravizar seu povo. Stalingrado foi a mais sangrenta de todas as batalhas, onde o futuro da humanidade foi decidido. Não foi o frio que venceu a guerra, mas o uso inteligente do clima e do território que garantiram com que as tropas nazistas fossem cansadas, desabastecidas e desmoralizadas.

Quando o Exército Vermelho libertou a Rússia, seguiu em direção à Alemanha desmantelando os Campos de Concentração nazistas e soltando os prisioneiros. Fala-se de 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas: metade eram soviéticos. Além do mais, neste número não se contabilizam comunistas, ciganos, negros, deficientes físicos e tantos outros esquecidos e ignorados pela literatura oficiosa. Dos cerca de 60 milhões de mortos na guerra, aproximadamente 30 milhões eram soviéticos.

Os Estados Unidos se orgulham do “Dia D”, mas quando eles chegaram, a guerra já havia sido decidida e eles só entraram para conter a expansão Soviética. Aliás, até hoje os Estados Unidos ocupam a Alemanha e a Europa com bases militares da época. Nessa operação de revisionismo histórico, demonizam a figura de Stalin que sim, cometeu muitos crimes. Só que Churchill, que é tido como herói, promoveu genocídios na Índia e no Paquistão, mas suas estátuas continuam em pé na Inglaterra. Quem jogou a bomba atômica em inocentes populações civis do Japão foram os Estados Unidos sob a liderança de Trumann. Cadê a imparcialidade histórica para julgar Churchill e Trumann com a mesma métrica que usam pra Stalin?

Então, a história do maior conflito da História precisa ser contada corretamente: a União Soviética naquele momento lutou pela humanidade. Os Estados Unidos foram importantes? Com certeza, mas não foram eles que perderam milhões de vida e lutaram nas batalhas mais sangrentas. O que dizer da França? Hitler invadiu o país e foi aplaudido pela extrema direita e a resistência só sobreviveu com apoio dos aliados, inclusive soviéticos. A Inglaterra foi bombardeada sem conseguir avançar ao continente e só entrou na guerra para perfilar na foto dos vencedores.

Hoje, interessa a esses países uma outra História: dizer que os Estados Unidos ganharam a guerra sozinhos, só os judeus foram vítimas do nazismo e que Stalin foi o único criminoso. Chegam até a romantizar algum suposto lado positivo do nazismo. A quem interessa essa versão?

Sejamos justos: graças à União Soviética, o mundo se viu livre do nazismo por quase 6 décadas. Mas, de repente, milícias nazistas, muito bem armadas e que treinam nazistas do mundo todo voltaram a surgir onde? Na Ucrânia, um antigo país da União Soviética. Quem financia esses nazistas? Este é tema pra outro debate, mas todos já sabem. Só não querem admitir…

Thomas de Toledo, professor de Relações Internacionais da UNIP, historiador pela USP, mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp e especialista em BRICS

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Redação

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  1. Como estudioso leitor da 2º guerra mundial, não posso questionar que o grande responsável pela derrota nazista foi os Russos e seus milhões de mortos. Cerca de 80% da perdas nazistas foram causadas no fronte oriental contra 20% contra Britânicos e Americanos. Também não podemos eximir Churchill como o responsável pelos milhões de mortes por fome na Índia! Assim como Roosevelt e Truman por causar a guerra e mortes no pacífico e pelas bombas atômicas e os bombardeios incendiários no Japão. Mas para isto dizer que a Grã Bretanha apenas agitou bandeiras e tirou foto com os vencedores é uma tremenda injustiça. Foi a Grã-Bretanha sozinha, já que a Russia estava em tratado de não agressão, que a partir de junho de 1940 até junho de 1941 enfrentou sozinha a Alemanhã, primeiro na campanha aérea conhecida como batalha da Inglaterra e depois nos ataques ruibabo contra a França. Foi a Grã Bretanha que impediu Hitler de tomar o petróleo do Oriente Médio que provavelmente lhe garantiria a vitória. Também foi os Britâncios com os Noruegueses que impediram a Alemanha de produzir bombas atômicas. Foi invenção inglesa o radar e o sonar que permitiu destruir os submarinos alemães que impediam o abastecimento da própria Russia de caminhões, alimentos e materias primas. Cerca de 80 dos navios de guerra aliados no Atlântico eram britânicos já que os Americanos mantinham a maioria da sua frota no Pacífico. Finalmente não podemos esquecer os mais de 50 mil mortos britânicos do Comando de Bombardeios na campanha de bombardeios sistemáticos da Alemanha, papel reconhecido e elogiádo pelo próprio Stalin. A Grã Bretanha fez sim papel dígno e importante na derrota de Hitler. Não esquecer que o mentor e estrategista da operação Overlord em 6 de junho de 1944 foi o Marechal Bernad Montgomery, que conseguiu vencer as principais divisões panzer alemãs em Caen. Os Americanos só enfrentaram estas divisões quando elas já estavam muito mais enfraquecidas em dezembro de 1944 na batalha das Ardenas

  2. Hitler foi um bandido contratado pelo Ocidente para aniquilar os comunistas. O Ocidente que falo , inclui os bilionários banqueiros judeus que só se “horrorizaram” com os campos de concentração quando Hitler já tinha perdido a guerra. E os soviéticos ameaçava chegar em Lisboa, varrendo Franco, Salazar todo o lixo que encontrasse.

  3. Existe Vida Inteligente nas Universidades Brasileiras !!!! Neste nova Era das Narrativas, Putin faz muito bem em querer mostrar como foi realmente vencida a 2.a Grande Guerra, em Solo Russo. Poderemos um dia falar que os Campos de Concentração Nazistas não tiveram quase nenhuma importância, até rendição total e a História produzida pelos Vencedores? Quase todos vazios e abandonados, semanas antes, quando da chegada das Tropas Soviéticas. Poderemos falar como párias da Ditadura Esquerdopata-Fascista no Brasil, esperaram até o final da Grande Guerra, por decidir a favor da Democracia e Mundo Livre. O Nazista Gaspar Dutra e o Fascista Getúlio Vargas, junto ao Nepotismo de seus Familiares Leonel Brizola, Alzira Vargas, João JANGO Goulart, Tancredo Neves e Satélites Lacaios da Ditadura Fascista do Estado Novo da década de 1930 (OAB/UNE/ABI/MEC/USP…), devido às suas visões e perspectivas políticas medíocres, deixam a Nação Vanguarda Mundial, rara Democracia até 1930, de fora da reconstrução de um Mundo na sua mais espetacular, produtiva e revolucionária Era de Progresso e Desenvolvimento a partir do final da Guerra. Países miseráveis, famintos, doentes e completamente destruídos, estão controlando a Política Mundial, após alguns poucos anos. A Nação Potência Continental, ao invés de tomar sua Liderança Natural, na reconstrução desta Nova Ordem Mundial, em poucos anos já é Anão Diplomático rotulado como Terceiro Mundo. Mediocridades que apenas o Revisionismo Histórico pode esclarecer. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  4. Sim demonizam Stalin, aquele que em março de 1952, entregou um documento aos representantes dos aliados ocidentais, documento esse conhcido como Nota de Stalin. O que propunha Stalin, o criminoso, o homem mau? Nada mais nada menos que a reunificação e neutralização da Alemanha, sem condições de política econômica e com garantias para “os direitos do homem e as liberdades básicas, incluindo liberdade de expressão, imprensa, religião, convicção política e reunião” e a livre atividade dos partidos e organizações democráticas. Isso significava tb. a desocupação da EUropa, em especial da Alemanha que ainda no início desse século tinha simplesmente 227 bases militares americanas. E o que os santos aliados manifestaram a respeito? Segundo o chanceler Adenauer e os outros dois aliados essa seria uma ação agressiva por parte de Stalin. Se aceita bye bye Otan. Como não foi, o resultado está aí.

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