Análises devem ser apoiadas em fatos e não em discursos.

Análises devem ser apoiadas em fatos e não em discursos.

Analisar o fascismo pelo discurso de seus líderes é uma falha que muitas pessoas de boa formação intelectual o fazem, por exemplo, falar que o fascismo é em teoria anticapitalista e antiliberal é cair no falso discurso que os grandes líderes fascistas empregaram para chegar ao governo e enganar uma parte da pequena burguesia europeia.

Falar que o fascismo era uma forma centralizada de poder para eliminar o liberalismo político dando a este um extra a mais que justifique o apoio de políticos que também se dizem liberais, mas não adotem abertamente políticas fascistas de partido único é simplesmente desviar a atenção dos inimigos.

Para não ficarmos numa argumentação também baseada em discursos vamos a exposição de fatos, que contrariam esta visão adotada inclusive por intelectuais progressistas, e mostram que apesar dos líderes fascistas fazerem um discurso antiliberal e antidemocrático o objetivo real dos governos fascistas era simplesmente da continuidade do capitalismo sem a necessidade do voto plebiscitário.

O primeiro fato a ser registrado, é que diferentemente das falas atuais dos neoliberais contra o fascismo por estes últimos como o fascismo algo que atrapalharia o mercado, os grandes líderes do liberalismo teórico da época, como Ludwig von Mises, apoiaram descaradamente os regimes nazi-fascistas.

Von Mises em 1927, ou seja, cinco anos após os fascistas chegarem ao poder na Itália, que ele se manifesta num livro em que elogia o fascismo através da seguinte frase:

Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes que visam o estabelecimento de ditaduras estão cheios das melhores intenções e que a sua intervenção salvou por um momento a civilização europeia. O mérito que o fascismo conquistou por si só viverá eternamente na história.

Após esta frase ele critica o fascismo com outra:

Mas embora sua política tenha trazido a salvação no momento, não é do tipo que poderia prometer sucesso contínuo. O fascismo era uma emergência improvisada. Para visualizá-lo como algo mais seria um erro fatal.

Os liberais utilizam estas frases extraídas do livro “Mises, L. von, 1927. Liberalismus, G. Fischer, Jena.” Para dizer que ele era antifascista, para isto eles contraem o tempo dizendo em suas publicações que o livro foi editado logo após a ascensão do fascismo ao poder.

É interessante ressaltar, que entre a subida de Mussolini ao poder em 31 de outubro de 1922, quando é nomeado o 40º primeiro ministro da Itália pelo Rei Vítor Emanuel III até a publicação do livro que ele num verdadeiro morde e assopra contra o fascismo italiano, passaram-se quase cinco anos (1922=>1927).

Os neoliberais da atualidade simplesmente distribuem a responsabilidade de von Mises com o resto da grande capital que apoiou o fascismo desde o seu início. Dizendo inclusive que até 1933 havia na imprensa Imperialista internacional, elogios ao fascismo.

Para reforçar mais a simpatia de von Mises aos fascistas, é importante dizer que até 1934 ele atuou como conselheiro do governo austro-fascista de Engelbert Dollfuss e a sua fuga e exílio na Suíça se deve não as suas convicções pró-fascistas, mas sim pelo seu medo de como Judeu ser perseguido pelo antissemitismo de Hitler. Os fatos tornam claro que o fascismo era não só tolerado, mas também aplaudido, pelos liberais da escola Austríaca.

Outro fato inegável da tendência liberal dos governos fascistas foi desnudado com dados objetivos levantados pelo pesquisador espanhol-catalão Germà Bel, da Universidade da Catalunha, que nas suas publicações sobre as privatizações no governo fascista italiano “From Public to Private: Privatization in 1920’s Fascist Italy” e no governo alemão “Against the mainstream: Nazi privatization in 1930s Germany”. Tanto num dos trabalhos como no outro fica claro e inequivocamente demonstrado (os trabalhos são baseados em dados contábeis, não em suposições teóricas), que tanto na Itália Fascista como na Alemanha Nazista, a reprivatização do patrimônio público na Itália como na Alemanha foi maior do que os programas de privatização modernamente levados a cabo pela ditadura de Pinichet no Chile, considerado erroneamente como o primeiro grande programa de privatização do mundo.

Germà Gel no seu texto sobre a Alemanha nazista chega a escrever:

privatizations in Chile and the UK, which began to be implemented in the 1970s and 1980s, are usually considered the first privatization policies in modern history, … none of the contemporary economic analyses of privatization takes into account an important, earlier case: the privatization policy implemented by the National Socialist (Nazi) Party in Germany. … Although modern economic literature usually fails to notice it, the Nazi government in 1930s Germany implemented a large-scale privatization policy”.

Germà Gel, inclusive detalha que grande parte dos déficits tanto da Alemanha Nazista como da Itália fascista foram cobertos pelos recursos das privatizações.

Em resumo, a ideia da diminuição do papel do Estado tem início nos movimentos fascistas e não ao contrário que os liberais tentam passar, que os estados fascistas eram intervencionistas na sua política econômica.

Um terceiro e fundamental fato que demonstra a tendência privatizante e “laissez faire” dos governos fascistas é demonstrado quando em fevereiro de 1942, quando Albert Speer, o arquiteto de Hitler, assume o ministério do armamento ele descreve em sua biografia que a indústria alemã, ao contrário da britânica, não estava voltada totalmente para a guerra, bens de consumo eram produzidos como em tempo de paz, as fábricas trabalhavam em horário único para maximizar seus lucros. A surpresa de Speer começa no dia de sua nomeação, quando ele visita a noite uma das maiores fábricas de armamento alemãs e para sua surpresa não tinha ninguém trabalhando.

O último parágrafo mostra que no meio de um esforço de guerra, quem coordenava a produção eram os próprios industriais sempre tentando maximizar seus lucros. Estas afirmações são demonstradas fisicamente pela produção de armamentos na Alemanha que começa a crescer significativamente somente em 1942, enquanto na Inglaterra e USA isto começa um ano antes.

Conforme pode se provar por dados financeiros e físicos, além do apoio de liberais as causas fascistas, o DISCURSO FASCISTA de um Estado forte e centralizado só serviu para impedir que houvesse uma oposição de esquerda ou no mínimo democrática, pois em termos econômicos a dominação do capital sobre o Estado foi clara e inequívoca, só perdendo esta característica em 1942 quando os países do eixo começam a ficar com problemas de abastecimento de equipamentos militares devido a uma gestão da produção desse tipo de produto comandada pelo grande capital.

Uma análise focada no discurso e não em fatos, pode fortalecer candidatos de extrema-direita que diferentemente dos toscos candidatos como Jair Bolsonaro ou Cabo Dalciolo, pregam aos quatro ventos ideologias neofascistas evangélicas enquanto os verdadeiros neofascistas de outras denominações religiosas, como os apoiados pelas Opus Dei que se eleitos aplicarão a mesma política regressiva com apoio mais consistente de uma direita nacional e internacional mais sólida e com capacidade de governar.

 

Redação

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    1. O texto é importante e oportuno – apesar da redação um tanto atrapalhada, conforme reconhece o autor. Valeria um pequeno esforço de revisão para republicação.

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