TVGGN Justiça: Anúncio da Meta representa a nova era do tecnofeudalismo

Programa recebeu jurista e criminalista que garantem que o discurso em favor de direitos humanos e liberdade de expressão é apenas estratégia

ANDREW HARNIK / AP

O programa TVGGN Justiça da última sexta-feira (10) contou com a participação de Cláudia Carvalho, advogada, criminalista e especialista em crime cibernético, e Newton Albuquerque, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará e membro da Coordenação da Associação Brasileira dos Juristas pela Democracia do Ceará, para opinar sobre um dos principais assuntos da semana: o anúncio da Meta. 

Na última terça-feira, o fundador da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou o encerramento do programa de checagem de fatos das plataformas Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads, além de afirmar alinhamento ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem desenvolverá um trabalho em conjunto pela contra a censura.

“A primeira coisa que me veio à cabeça quando eu vi essa notícia é justamente o que vem acontecendo nos tribunais, porque justamente a internet, na cabeça de muita gente, é terra sem lei e o anonimato a princípio favorece esse tipo de crime. Mas as pessoas já estão mais informadas e ajuizam ações, principalmente contra plataformas, para poder ter uma indenização além da parte criminal, uma injúria eletrônica, uma calúnia, o que for”, aponta Cláudia. 

O incômodo financeiro causado pelos processos fez com que a big tech encerrasse o programa de checagem de fatos e, para Cláudia, tal anúncio vai impulsionar a falta de civilidade nas redes. 

Assim, a regulação das big techs volta a ser um debate urgente, a fim de prevenir a facilitação da propagação de discursos de ódio, notícias falsas e até uma suposta ajuda da Rússia na eleição dos Estados Unidos, o que teria motivado a União Europeia a retomar a discussão sobre regras para as redes sociais. 

O jurista Newton Albuquerque se declara crítico ao discurso comum sobre o fim da soberania. “Na globalização, inclusive, há a presença muito forte dos Estados, alguns Estados se fragilizam, outros se tornam muito fortes, como é o caso dos Estados Unidos, da Rússia, da China. Então, a gente não pode cair nesse canto fácil, nessa cantilena absolutamente superficial de que as soberanias estão em crise terminal e que os Estados não têm nenhum papel a cumprir.”

Albuquerque ressalta ainda que, atualmente, a disputa geopolítica mais importante é o território virtual. “Hoje nós temos essa nova realidade, que nós precisamos divisar, precisamos problematizar e precisamos enfrentar, porque, de fato, é o lugar onde se dá os grandes enfrentamentos e disputas globais de poder.”

Cláudia Carvalho observa ainda que vivemos a era do tecnofeudalismo, em que somos colonizados digitalmente pelas big techs. “Eles não querem nada, eles não querem regulação nenhuma. A gente vai nos eventos de tecnologia e a gente escuta só de empreendedor dessa área que toda lei é ruim, tudo vai atrapalhar, não sei o quê, e os direitos humanos que é a preocupação”, aponta a criminalista. 

No entanto, o discurso acima é falho. “Para eles, que são big techs, é um pretexto. Eles não estão nem aí para direitos humanos, eles estão usando os direitos humanos como pano de fundo para esconder lucro, poder, política, posicionamento global. Então é isso que se busca. Ninguém está interessado na nossa liberdade de expressão, porque quando eles quiserem, eles vão trancar a nossa liberdade de expressão na internet, desligando tudo que tem disponível de rede social. É isso que vai acontecer”, emenda.

LEIA TAMBÉM:

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eu, sinceramente, não sei o porquê de tanto alarde…

    Nenhum setor importante da comunicação aceita regulação.

    Nem de tantos outras atividades, como as concessionárias.

    Ora, as agências reguladoras são uma fraude, um embuste institucional.

    Até a propaganda fazia propaganda de um troço chamado CONAR.

    Essa é só mais uma etapa do capitalismo.

    Uai, até o banco central não é mais controlado pelo governo eleito, é “autônomo”….

    Rerere

    Autônomo para ser capturado pelo mercado.

    Então, minha gente, menos…bem menos…

  2. A união de esforços de Lula e Angela Merkel acelerou a destruição o sistema de espionagem massiva planetária criado pela NSA.
    A união de esforços de Lula e Macron contra os abusos políticos extremistas das Big Techs é o fato mais importante dessa década.
    A imprensa brasileira e europeia está minimizando os efeitos disso porque se tornou um apêndice doentio das corporações technofeudais norte-americanas?

    1. Olha, sinceramente, a NSA não deixou de espionar nada.

      Ela sofisticou suas ferramentas de coleta, e o PRISM, embrião deu azo a toda essa enorme indústria de mineração de dados (data minning) onde as big techs atuam.

      A NSA ainda mantinha um aspecto governamental.

      Hoje, os EUA entregaram essa tarefa aos empresários.

      Piorou muito.

      Não adianta Lula e Macron baterem o pezinho e fazerem beicinho, de mãos dadas pela floresta.

      Intenção? O inferno está cheio.

      O que coloca atividade economia no trilho é imposto e restrição administrativa.

      Temos normas nacionais que atendem essas demandas, nem precisa de congresso, nem do papai STF.

      Essa coisa de coalizão política global é uma perda de tempo.

      Lula precisa governar seu país sem buscar “cobertura”.

      Abandonar essa postura colonizada.

  3. Muito boa a expressão: tecnofeudalismo!!! Estamos voltando a era feudal onde o coronel será o senhor big tec e os jagunços serão os governos fascistas!!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador