O Ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal é um defensor da liberdade de imprensa. Quando a Lei de Imprensa foi revogada, foi o único Ministro a alertar que deixaria sem parâmetros os juízes, para julgar ações contra a imprensa. Ou seja, admitiu que se criara um vácuo.
Sua defesa da liberdade de imprensa o levou a defender a liberdade de um autor gaúcho de publicar livros pró-nazismo. Em outras peças, produziu textos antológicos:
“Quando somente a opinião oficial pode ser divulgada ou defendida, e se privam dessa liberdade as opiniões discordantes ou minoritárias, enclausura-se a sociedade em uma redoma que retira o oxigênio da democracia e, por consequência, aumenta-se o risco de ter-se um povo dirigido, escravo dos governantes e da mídia, uma massa de manobra sem liberdade”.
Em nome dessa liberdade, ao longo de sua carreira tomou série de medidas polêmicas, sem receio da impopularidade.
De minha parte, como jornalista, sempre procurei o contraponto. Nos anos 90 investi contra a unanimidade da mídia, e dos leitores, em um episódio polêmico, defendendo uma juíza que não acatara a sede de sangue geral, que exigia que crucificasse três rapazes que cometeram um crime rumoroso, em um momento impensado. Ir contra a maré não era tarefa fácil, mas não vacilei. Poderia ter meramente ficado de fora, já que o assunto não me dizia respeito. Mas enfrentei a turba. A juíza, em questão, era a esposa de Marco Aurélio de Mello, que eu não conhecia.
Ontem, Marco Aurélio julgou uma reclamação contra a censura imposta a 11 matérias do GGN, versando sobre caso de interesse público – a denúncia de uma licitação manipulada da Zona Azul em São Paulo. A censura foi de um juiz de 1a instância em uma ação proposta pelo BTGF-Pactual.
A licitação envolve a quantia de cerca de R$ 500 milhões. Há a possibilidade de receitas acessórias (adicionais) na casa dos bilhões. A censura mereceu o repúdio da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), da Associação Nacional dos Jornais, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, do Instituto Vladimir Herzog, de políticos, jornalistas, personalidades de vários espectros.
Foi feita a reclamação ao STF pelo advogado Cláudio Pereira de Souza Neto, com Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), sustentando que a decisão descumpria recomendações do Supremo contra a censura.
O caso caiu com Marco Aurélio, que rejeitou alegando que nada tinha a ver com a revogação da Lei de Imprensa.
A Lei de Imprensa deixou um vácuo. Essa foi a opinião do único Ministro que discordou da revogação pura e simples da lei, o próprio Marco Aurélio. Na ocasião, o Ministro que propôs a extinção da Lei de Imprensa, Ayres Brito, sustentou que não existiria vácuo, já que a Constituição prevê expressamente a liberdade de informação. Parecer recente do jurista Lenio Streck corrobora essa interpretação de Ayres Britto.
Para que não exista vácuo, no entanto, é preciso que o STF regule a questão. Justamente a posição defendida por Marco Aurélio na ocasião. No seu parecer, no entanto, sustenta que a Lei de Imprensa previa apenas a censura administrativa do Executivo, não a censura baseada em decisões judiciais.
Ao ignorar outras formas de censura, Marco Aurélio esquece os fatos, justo ele que sempre se caracterizou por julgar casos com base nos fatos, e não em interpretações genéricas do espirito das leis.
Para permitir a continuidade da censura ao GGN, invocou o seguinte precedente: uma ação Direta de Inconstitucionalidade, questionando uma ausência de lei em Indaiatuba regulando uma condenação de R$ 3 mil da Fazenda Pública.
Não se pode negar que é um precedente à altura da decisão tomada por Marco Aurélio. Graças à prefeitura de Indaiatuba, o leitor continuará sem o direito de conhecer o conteúdo das 11 matérias censuradas e os gestores públicos não serão alertados sobre as grandes operações com grandes bases de dados públicas.
O caso, agora, vai ser apresentado à 1a Turma, já que Marco Aurélio não tem o hábito de atrasar no encaminhamento de suas ações.
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… e caiu a última esperança de legalidade do stf.
Nassif, o Bem demora a triunfar. Mais fácil é o Mal dominar primeiro.
Mas é do Bem a vitória final. O plenário do Supremo vai derrubar essa sentença.
Apoio total ao seu trabalho.
Com Supremo, com tudo!
Foi um julgamento de natureza meramente processual, Nassif.
Não adentrou uma linha do mérito, apenas destacou que a ADPF que resultou na não recepção da Tv de imprensa não pode ser utilizada como fundamento para uma Reclamação constitucional, por não ter a decisão revogada descumprido diretamente essa decisão.
O STF não aceita o uso dos fundamentos de uma decisão em controle de constitucionalidade abstrato como motivo para impugnar diretamente no próprio Supremo as decisões de instâncias inferiores (é a chamada teoria dos motivos determinantes). O descumprimento tem que ser do próprio dispositivo, que decretou o fim da lei de imprensa, ou seja, caso a Lei de Imprensa fosse aplicada no seu processo caberia a Reclamação direto ao STF, por exemplo.
É uma jurisprudência defensiva do STF, para evitar que subam milhares de Reclamações ao Tribunal.
Nassif deu azar no algoritmo: saiu Marco Aurélio Mello.
Foi só isso.
O suposto precedente invocado é mero detalhe. Se não fosse esse, seria qualquer um outro ou nenhum.
…
“um crime rumoroso, em um momento impensado”
Lembremos o crime.
Cinco rapazes – dois menores – passando de carro veem um provável morador de rua dormindo numa parada de ônibus, vão a um posto de combustível, compram dois litros de gasolina, retornam, derramam no desabrigado e ateiam fogo.
Momento impensado?!!!
Haja aliviada…
O suposto morador de rua era o índio Galdino Jesus dos Santos.
Boa tarde, Nassif. Mesmo Marco Aurélio, que eu considerava um dos poucos ministros respeitáveis, ao lidar com questão envolvendo interesse de banco grande e muita grande, agiu como a maioria de seus pares. Coincidência. Recomento este trecho de uma entrevista na qual Jessé Souza entrevistou um CEO de um Banco influente de São Paulo. Fica muito claro: o Judiciário, (e todo o resto do Estado são lacaios comprados, dependentes e submissos ao interesse da grana e dos donos da grana, sem exceção, simples assim): https://www.diariodocentrodomundo.com.br/executivo-de-banco-conta-como-se-compram-politicos-juizes-e-jornalistas-em-entrevista-a-jesse-souza/
Você esperava “justiça” Nassif? Em um CIRCO como esse?
Quem sabe tira uma lição disso e passa a ver o judiciário como a juristocracia que ele realmente é.
A decisão de Marco Aurélio deverá ser derrubada na primeira Turma, devolvendo ao GGN sua merecida liberdade. Mas atenção: o leitor não está protegido de outras censuras menos ostensivas, como é o caso do tratamento dado ao discurso de Toffoli em sua despedida da presidência, que foi muito mais apropriadamente tratado em outros meios.
O prefeito do Rio tem os Guardiões do Crivella, uns Zés Ruelas sem noção, para calar os críticos, que amadorismo. Banqueiros dispõe de uma tropa togada muito mais poderosa e organizada para calar quem ousar denunciar suas jogadas e armações.
Aí vira hábito …
https://oglobo.globo.com/brasil/juiza-proibe-tv-globo-de-exibir-documentos-da-investigacao-sobre-rachadinha-no-gabinete-de-flavio-bolsonaro-anj-ve-censura-1-24625027
Desde a adolescência, eu tinha uma visão negativa do Judiciário.
Aos 50 anos, mais experiente, venci essa barreira e fui estudar Direito, numa das melhores faculdades do país.
O curso me foi uma revelação positiva e me fez ver a beleza e a importância do Direito e da Justiça.
Bastou 1 ano de trabalho em contato com o Judiciário e constatei que o antigo preconceito tinha fundamentos sólidos: realmente, o Judiciário, por suas características elitistas, orgânicas e corporativas, é o pior e o mais ineficaz dos 3 poderes.
Valeu pelo meu crescimento com o curso, mas Advocacia nunca mais.
Um novo Brasil só será viável com uma reforma, de fato, do Judiciário e com o corte das asas do monstro MP.
Com sua reconhecida competência e grande articulação, imagino que você, Luis Nassif, deve continua publicando seus textos sobre o BTPactual recorrendo os blogues e sitios amigos. Voce escreve o texto, fornece as ilustrações, planilhas, etc e o Renato Rovai, por exemplo, publica na revista Forum. E assim por diante. Imagino que a solidariedade haverá de espalhar como rastilho. O meu blogue PAGINA DO E, de Cuiabá, está à sua disposição, desde já. E assim, certamente, a coluna do Janio de Freitas, do Bob Fernandes, etc, etc. Siga em frente, Nassif. Sua contribuição jornalistica é notável.
O ” Deus Banco ” em ação , e a carne é fraca . E os tempos são outros , tá chegando a aposenta……
Eu fui censurado pelo GGN, quando disse que o próprio GGN desperdiçava energia com o debate sobre o uso da cloroquina no tratamento da COVID-19. Só para lembrar, o artigo do Jornal, criticado por mim, tratava-se de um texto longo, pelo qual se afirmava que aquele debate era inútil. Eu concordei sobre a “inutilidade”, mas afirmei que, se o debate era inútil -e no meu entendimento, realmente era- não fazia sentido o GGN utilizar-se de longo texto para apontar a inutilidade (era como se criasse um debate inútil sobre outro debate inútil). O GGN não publicou meus comentários e condiciou a publicação a uma “revisão” do texto, porque entendeu que eu usava expressões pouco amenas. Este mundo, onde uns podem mais do que outros, é sempre ingrato e quase sempre injusto. De qualquer forma, registro minha inútil solidariedade a todos os censurados.
QUANDO A JUSTIÇA SE TRANSFORMA EM REDUTO DE RICOS E PODEROSOS, SIGNIFICA QUE A DEMOCRACIA ESTÁ EM RISCO OU DEIXOU DE EXISTIR E OS CORRUPTOS, LADRÕES, E OUTROS CANALHAS EMPODERADOS, SERÃO SEMPRE BENEFICIADOS EM PREJUÍZO DOS MENOS FAVORECIDOS.
O erro crasso de Nassif foi não ter se apercebido,ao longo de todo este tempo de STF,e bota tempo nisso,que o Ministro Marco Aurélio é um ambíguo,melifluo,quem sabe meio amalucado,uma espécie de petenlho encravado.Nunca teve coerência para coisa alguma.Nassif nunca observou esse comportamento dele?Aprendi com Papai que um dos maiores defeitos do ser humano é não guardar coerência.Um merda n’agua dizia ele.
Não conclui meu comentário.Quando seus pares vão para esquerda o Ministro Marco Aurélio vai para direita,vice versa.Quando se aperta o botão do elevador para descer,ele aperta para subir.Com aquela voz mais empostada do que Hélio Ribeiro,o original,Nassif o mais brilhante jornalista da sua geração,também comete erros.Ele não atentou que o Ministro Aurélio costuma frequentar estádios de futebol com um rádio de pilha colado ao ouvido.A última autoridade que costumava fazer isso,não terminou bem nos livros de história.
Marco Aurélio quis chamar tua atenção. No plenário a situação muda. Vamos em frente.
É meu Caro Luis Nassif, isso pra mim ou para muitos de minha idade, nada mais é de que a ditadura sendo lentamente introduzida em doses homeopáticas, é nítido e visível desde o golpe que derrubou a Pres.Dilma, se parar para analisar na época de Fora Temer, eu já tinha falado, mas meus colegas ” isso é teoria de esquerdista ” Vimos o exercito infiltrado lá em 2016, hj mais de 3000 destes estão aí, e como diz Juca ” Com Supremo e TUDO”, Aquilo que se chamava Outrora “Brasil” Hoje é só resto, seremos um pedaço de terra em que todos irmãos unidos do Tio San vem aqui pegar o que bem entender e sacrificar o povo com a conveniência dos desmandos de leis geridas aos olhos do STF agindo conforme Tio San quer.