Atacado pelo presidente na ONU, cacique Raoni defende: “Bolsonaro tem que sair”

Em coletiva de imprensa na Câmara dos Deputados, Raoni recebeu apoio de parlamentares do PT, PCdoB, PSB, Psol e Rede

Em desagravo coletivo, indígenas, parceiros e parlamentares de oposição criticaram discurso do presidente na ONU / Foto: Mídia Ninja

do Brasil de Fato 

Atacado pelo presidente na ONU, cacique Raoni defende: “Bolsonaro tem que sair”

por Cristiane Sampaio, do Brasil de Fato | Brasília (DF)

Em resposta aos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o cacique Raoni Metuktire pediu, nesta quarta-feira (25), na Câmara dos Deputados, a saída do chefe do Executivo do cargo.

“Quero falar pra vocês que meu pensamento é tranquilo, é pela paz. O Bolsonaro falou que eu não sou uma liderança, mas ele é que não é uma liderança e tem que sair. Antes que algo de muito ruim aconteça, ele tem que sair, para o bem de todos”, defendeu.

No pronunciamento feito na ONU na terça (24), o presidente criticou ambientalistas, lideranças indígenas e questionou a representatividade do cacique para falar em nome dos povos tradicionais. “A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes, alguns desses líderes, como o Cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”, disse o presidente.

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A declaração tem como pano de fundo as disputas travadas entre o grande capital e comunidades tradicionais pelos territórios indígenas. Apesar de histórico, o confronto se acirrou nos últimos anos, com o fortalecimento do agronegócio predatório, endossado pela chegada de Michel Temer (MDB) ao poder, em 2016. O conflito chegou ao ápice após a eleição de Bolsonaro.

Conhecido pelos ataques frequentes a indígenas e quilombolas, o presidente conta, em seu governo, com o apoio oficial da bancada ruralistatradicionalmente interessada nas terras em questão. Como consequência, a disputa tem provocado também um aumento dos ataques a indígenas, como é o caso de Raoni, conhecido internacionalmente pela luta em defesa da Amazônia.

“Minha fala é para o bem viver, é tranquila e não ofendo ninguém. [Quero] que todo mundo viva com saúde e tranquilidade. Minha luta é pela preservação do meio ambiente e hoje todo mundo está com olhos voltados para a destruição do meio ambiente. Meu trabalho é pra fortalecer o meio ambiente, para preservá-lo para todos”, reforçou o cacique nesta quarta, acrescentando que sua luta é pelos povos indígenas, pela sobrevivência de seus descendentes e dos territórios.

“É exatamente por isso que reconhecemos ele tanto como avô quanto como uma liderança do nosso povo e do Brasil”, acrescentou Maial Kayapó, neta do cacique, que traduziu o conteúdo da fala do líder para a imprensa.

Raoni chegou à Câmara acompanhado de diferentes apoiadores, entre indígenas e parceiros da sociedade civil organizada. Entoando o mantra “Raoni sim, Bolsonaro não”, eles foram recebidos por deputados das siglas PT, PCdoB, PSB, Psol e Rede.

“Esta é a mais clara demonstração de que o Congresso Nacional pensa exatamente o contrário do que disse o presidente da República perante o mundo inteiro. O cacique Raoni é um orgulho pra todos nós e não poderia ter recepção maior do que esta”, disse o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ).

Nos bastidores de Brasília, a leitura é de que o ataque do presidente ao líder ajuda a projetar ainda mais a defesa da luta indígena e também a candidatura de Raoni ao Prêmio Nobel da Paz de 2020, para o qual foi recentemente indicado por ambientalistas e antropólogos por conta do trabalho em defesa da Amazônia.

“Bolsonaro promoveu meu tio. Ele vai continuar defendendo indígenas, defendendo a Amazônia, e eu estou junto com ele. Nós aqui estamos juntos com o cacique”, bradou Megaron Kaiapó, sobrinho do líder.

Na ONU, Bolsonaro também afirmou à comunidade internacional que o país não irá mais demarcar territórios tradicionais. “Quero deixar claro: o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como terra indígena, como alguns chefes de Estados gostariam que acontecesse”, disse.

Coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas, a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR) classificou a atitude do presidente como um “desserviço para o povo brasileiro”.

“É inadmissível. Colocaram a gente numa situação de vulnerabilidade porque é o chefe de Estado que está dizendo que não vai demarcar terras e está colocando em risco a vida dos povos indígenas. Tem que colocar um limite nesse descontrole do presidente”, defendeu.

Durante a coletiva, a liderança da minoria na Câmara anunciou que a oposição prepara para o próximo dia 17 um ato em defesa da Amazônia. Articulado em parceria com o Fórum Pela Amazônia, o protesto será em Marabá, no Pará, e tem o objetivo de potencializar, dentro e fora do Brasil, a campanha pela preservação da floresta. A manifestação tende a ser mais um capítulo da crise que cerca o governo Bolsonaro por conta de questões ambientais.

Edição: Rodrigo Chagas

Ouça o áudio:

Redação

5 Comentários

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  1. Discordo do cacique, este individuo hoje no poder não “tem que sair”. Ele nunca poderia é ter entrado.
    O prejuizo do país, em todos os aspectos, está quase irreparável.

  2. Notem: os deputados apoiaram o cacique, não suas conclusões. Uma espécie de apoio moral, não apoio político.

    “Tem que colocar um limite nesse descontrole do presidente”. Que limite? Um freio de cavalo talvez? Coma induzido? O que é “colocar um limite” a um degenerado desses, cujo problema é exatamente não ter limites?

    A esquerda parlamentar não levanta o Fora Bolsonaro de jeito nenhum! Eles são “Fica Bolsonaro” porque acham que o brasileiro é fascista! Eles acham que vão ter que fazer arminha na eleição! Eles só pensam em eleição! Mas na verdade a população quer um radical. Na falta de um radical de esquerda (que não existe nas eleições, veja Fernando Haddad e suas capitulações vergonhosas), foi essa merda ambulante. Que os parlamentares de esquerda não querem derrubar! Aceitaram de forma quase mansa o impeachment da Dilma e fogem do Fora Bolsonaro, a derrubada de um verdadeiro mentecapto criminoso, como o diabo da cruz! E nessa, por seu peso na burocracia partidária, travam a luta de toda a esquerda, e consequentemente de todo o povo brasileiro.

  3. LENITA DEMENTADA
    Mestre da linguagem, o mineiro Júlio Ribeiro, publicou em 1888, pouco antes de morrer em 1890 aos 45 anos de idade, a joia do romance brasileiro “A Carne”, no estilo da Escola “Naturalista” de Émile Zola. Romance estigmatizado desde então e no século XX por considerarem-no “libidinoso”, vejam só os leitores de hoje.
    Um trecho ainda hoje 131 anos depois, cai como uma luva sobre o domínio facinoroso dos que presidem a destruição atual do Brasil, que tornam heróis da pátria torturadores e matadores milicianos, comparando-se à personagem LENITA. Única herdeira, rica, virgem, com o falecimento do pai, fica hospedada e protegida por um riquíssimo fazendeiro do oeste paulista, canavial, moenda, engenho, açúcar e rapadura, alambique, e até cafezal, muitos escravos, capitães do mato, feitores, administradores.
    Com nitidez e clareza descritiva, crueza, brilho, contraste, impressionante, Júlio Ribeiro descreve: LENITA madrugara para secretamente, abrindo um furo na parede, assistir a um suplício de um escravo fugido na casa do tronco:
    “ … Sentia uma curiosidade mordente de ver a aplicação do bacalhau, de conhecer de vista esse suplício legendário, aviltante… Folgava imenso com a ocasião talvez única que se lhe apresentava, comprazia-se com volúpia estranha, mórbida na ideia das contrações de dor, dos gritos lastimados do negro misérrimo…
    “Ouviu-se o sino da fazenda vibrar muito sonoro.
    “Lenita tornou a espiar: a casa do tronco já estava clara. …
    “Abriu-se a porta e entrou o administrador seguido por um dos caboclos que tinha trazido o preto. …
    “ E sacudia ferozmente o bacalhau.
    “É um instrumento sinistro, vil, repugnante, mas simples. Toma-se uma tira de couro com três palmos ou pouco mais de comprimento e de dois dedos de largura… adapta-se um cabo a uma das extremidades, corta-se a outra, espontando-se as duas pernas a canivete e está pronto. …
    “O administrador abriu o tronco, o negro ergueu-se bafo, trêmulo, miserável. …
    “O caboclo tomou posição à esquerda, mediu a distância, pendeu o corpo, recuou o pé esquerdo, ergueu e fez cair o bacalhau da direita para a esquerda, vigorosamente, rapidamente, mas sem esforço, com ciência, com arte, com elegância de profissional apaixonado pela profissão.
    “As duas correias tesas, duras, sonoras, metálicas, quase silvavam, esfolando a epiderme com as pontas aguçadas. …
    “O sangue ressumou a princípio em gotas… depois estilou contínuo, abundante, correndo em fios para o solo. …
    “O negro retorcia-se como uma serpente ferida, afundava as unhas na terra solta do chão, batia com a cabeça, bramia, ululava…
    “- Um! Dois! Três! Cinco! Dez! quinze! Vinte! Vinte e cinco!
    “Parou por um momento o algoz, não para descansar, não estava cansado, mas para prolongar o gozo que sentia, como um bom gastrônomo que poupa um acepipe fino.
    “Saltou por cima do negro, tomou nova posição, fez vibrar o instrumento em sentido contrário, continuou o castigo na outra nádega.
    “- Um! Dois! Três! Cinco! Dez! quinze! Vinte! Vinte e cinco!
    “Os uivos do negro eram roucos, estrangulados…
    “O caboclo largou o bacalhau sobre o estrado do tronco e disse:
    “-Agora uma salmorazinha para isto não arruinar.
    “E tomando da mão do administrador uma cuia que esse trouxera derramou o conteúdo sobre a derme dilacerada.
    “O negro deu um corcovo, irrompeu-lhe da garganta um berro de dor, sufocado, atroz, que nada tinha de humano. Desmaiou.
    “Lenita sentia como um espasmo de prazer, sacudido, vibrante; estava pálida, seus olhos relampejavam, seus membros tremiam. Um sorriso cruel, gelado, arregaçava-lhe os lábios, deixando ver os dentes muito brancos e as gengivas rosadas.
    “O silvar do azorrague, as contrações, os gritos do padecente, os fios de sangue que ela via correr, embriagavam-na, DEMENTAVAM-NA, punham-na em frenesi: torcia as mãos, batia os pés em ritmo nervoso.
    “Queria como as vestais romanas…[na luta dos gladiadores…] … ter direito de vida e de morte, queria poder prolongar aquele suplício até a exaustão da vítima; queria dar o sinal ‘pollice verso’ [polegar virado para baixo], para que o executor consumasse a obra .
    “E tremia, agitada por estranha sensação, por dolorosa volúpia. Tinha na boca um saibo de sangue.”
    ————-
    Vivemos no Brasil uma época de LENITAS DEMENTADAS, que desejam a continuidade da tortura, do descer do chicote, o bacalhau, sobre o Povo desamparado, desempregado, tornado marginal da sociedade.
    Quanta infelicidade, e ainda temos segmentos da população que as apoiam, por serem, ou intrinsecamente maus, ou por não enxergarem o mal de tudo isso como mau, disso tirando proveitos e privilégios.
    Podemos imaginar na sociedade brasileira atual, quem são os NEGROS FUGIDOS, o ADMINISTRADOR, o CABOCLO ALGOZ, as LENITAS DEMENTADAS, e o FAZENDEIRO, o CORONEL, que nem sequer se fazia presente, que não assistia aos suplícios. E que dizia: ” – Ai filha! Você não entende deste riscado! Qual barbaridade nem qual carapuça! Nesse mundo não existe coisa alguma sem sua razão de ser. Estas filantropias, estas jeremiadas modernas de abolição, de não sei que diabo de igualdade, são patranhas, são cantigas – preto precisa de couro e ferro como precisa de angu e baeta. Havemos de ver no que há de parar a lavoura quando essa gente não tiver no eito, a tirar-lhe cócegas, uma boa guasca na ponta de um pau, manobrada por um feitor destorcido. Não é porque eu seja maligno que digo e faço estas coisas; eu até tenho fama de bom. É que sou lavrador e sei o nome aos bois..”
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    No fim da história há uma tragédia, com Manduca, o culto filho do fazendeiro. Vivido, divorciado, embora na visão preconceituosa da época, casado. Lenita, levada pela paixão da necessidade física e emocional do desabrochar da sua juventude, o leva a desvirginá-la e tornam-se amantes escondidos e ela engravida. É abandonado por ela, que no fundo deseja um casamento socialmente “digno” para perfilhar o seu futuro filho. Manduca suicida através de uma auto injeção paralisante de curare.
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    Vale muito a pena ler “A Carne”, esquecido e estigmatizado romance. Conhecer informações gerais sobre a economia e a sociedade paulista pré-abolição. Aprender sobre a natureza brasileira e sutis lições da humanidade e da desumanidade, dos erros sociais, e poder traçar paralelos à nossa época, na pré-abolição da imperialização dos Povos.
    ———-
    “A Mr. Émile Zola…
    “… Le tout petit dieu qui vit en moi s’est agité, et j’ai écrit La Chair.
    “Ce n’est pas L’Assomoir [a Taberna], ce n’est pas La Curée [O Regabofe], ce n’est pas La Terre [A Terra]… Une chandelle n’est pas le soleil, et pourtant une chandelle éclaire. …
    “Agréerez vous la dedicasse que je vous en fais?….
    “Permettez que je vous fasse mon hommage complet, lige…
    “St. Paul, le 25 janvier 1888
    “Jules Ribéiro.”
    ———-
    Roberto Souza
    24/09/19

  4. Anita Roddick é o nome de uma dona de casa inglesa que começou a fabricar cosméticos e perfumaria com ingredientes naturais e se transformou em um gigante da indústria de cosméticos com mais de 5 400 lojas em todo mundo THE BODY SHOP
    Essa mulher notável e muito adiante do seu tempo como defensora do meio ambiente teve uma desoladora experiência (como ela mesmo descreve em seu livro) no Brasil
    Eram os anos 80 e seu amigo o cantor Sting a convenceu a visitar o Brasil e a Amazônia de onde saía boa parte da matéria prima utilizada nos produtos da Body Shop
    Ao conhecer a Amazônia e as comunidades indígenas ela também foi apresentada pelo Sting ao Cacique Raoni da tribo yannomani de quem o cantor havia recebido uma Cobra Sucuri de presente e que usava pendurada no pescoço em seus shows
    Encantada com toda aquela natureza e após tomar banho pelada no rio Negro em companhia das indias (imagina isso na cabeça de uma inglesa) ela determinou que a sua empresa realizasse doações de 10 milhões de dólares através da ONG Cobra Coral para comprar remédios e instalar ambulatorios e escolas nas comunidades indígenas
    Isso feito após passados alguns meses ela recebeu a solicitação da compra de um segundo avião ambulância no valor de seis milhões de dólares
    Achou o pedido estranho e pediu para sua autditoria verificar a necessidade da aquisição
    Que SURPRESA!
    A tal da Fundação Cobra Coral do cacique larapiio descobriu que não existia mais um centavo das doações e que o primeiro avião comprado estava apreendido por contrabando e que os índios pilantras estavam todos andando de F1000 e compraram máquinas para garimpo e extração de madeira ilegal das suas reservas chefiados pelo Cacique Bandido Raoni
    Para encurtar a história
    Essa mulher que faleceu em 2017 determinou que a Body Shop jamais abrisse uma loja no Brasil por conta da maior decepção da sua vida (O nome é Raoni)
    Após o seu falecimento o The Body Shop foi vendido para Natura que então abriu a primeira loja da marca no Brasil
    Se duvidarem é só ler o livro da Anita Roddick
    Está tudo lá!
    Uma Vergonha!!!!

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