O ignaro Almirante Balaão saiu das entranhas das histórias medievais e invadiu o Brasil, espalhando seu ar pestilento por todos os quadrantes da pátria.
Primeiro, foram os jornais que passaram a espalhar seu discurso de ódio. Depois, os partidos políticos. O ódio se espalhou pelos bares e chegou nas famílias, despertando os piores instintos, promovendo a discórdia e o ódio.
Nos tribunais, juízes vingadores disparavam dardos flamejantes sobre quem ousasse discordar. Procuradores contaminados pela imoralidade de Balaão mandavam prender pessoas como quem prendia escravos em galés, e saíam faturando em palestras imorais. Nas periferias prosseguia o exercício macabro de executar jovens negros.
De repente, parecia que o país soçobrava, a esperança da democracia racial que nunca se fez afundava de vez, a própria ideia de Nação se esvaía. Os defensores dos vulneráveis, dos direitos eram soterrados por toneladas de palavrório vazio, de Ministros do Supremo anunciando o novo Iluminismo, forjado na carne viva dos vulneráveis.
A oposição se debatia em brigas de egos e da desconfiança de quem foi apunhalado pelas costas.
Nesse momento, de enorme penumbra, as primeiras luzes da manhã mostraram um enorme carrossel surgindo nos céus do Brasil e mostrando o caminho. Eram os heróis da música popular brasileira se unindo em torno do guru maior, Gilberto Gil, celebrando seus 78 anos.
E, aí, a fé no Brasil foi renascendo, na enorme generosidade de um povo que, esmagado por séculos de iniquidade, não perdeu a fé, o lirismo, a solidariedade.
Feliz aniversário, Gilberto Gil, que a fé não costuma falhar.
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GIL
é domingos
no parque
é astronauta
lunik nove
é favela
refavela
é fazenda
refazendo
refazendo amores
dores
tempos
crises-crimes
haiti
ai de ti
ai de nós
drão de nós
no palco sua alma cheira a talco
parabolicamará de gentes nós
pela Internet
menino internetinho
secretariando as culturas
ministeriando as culturas
eu tô te esperando na janela
de pele negra
de sangue brasileiro
dançando negritude
ok, ok, ok
é flora
e andar com fé
não costuma faiá
punk da periferia
valeu
tá valendo
Viva !
Odonir Oliveira
É preciso mesmo muita fé. Mas não só. Os descrentes que me perdoem mas ação urgente é fundamental.
depois desse texto Nassif pode ficar 1 mês sem escrever nada.
Parabéns Mestre Gilberto Gil !!!!!!!
EXTRA II, O ROCK DO SEGURANÇA
Essa aparência de um mero vagabundo
É mera coincidência
Deve-se ao fato de eu ter vindo
ao seu mundo com a incumbência
De andar a terra, saber por que o amor
Saber por que a guerra
Olhar a cara da pessoa comum e da pessoa rara
Um dia rico, um dia pobre, um dia no poder
Um dia chanceler, um dia sem comer
Coincidiu de hoje ser meu dia de mendigo
Meu amigo, se eu quisesse, eu entraria sem
você me ver, sem você me ver, sem você me ver
PELA INTERNET
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut de acessar
O chefe da Mac Milícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus para atacar os programas no Japão
Eu quero entrar na rede para contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze
Tem um videopôquer para se jogar
EU QUISER FALAR COM DEUS
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
O ódio que Bolsonaro tem pela arte de verdade talvez se explique porque, embora seja um ser movido pelo mais primitivo instinto ( um Alien 1.0 ), ele pressente que todos os grandes artistas que o Brasil produziu na música vão ser lembrados no futuro com admiração e respeito (mesmo que não exista o Brasil, assim como admiramos Sêneca, Vírgilio, Horácio, Marco Aurélio mesmo não mais existindo o Império Romano ) – enquanto ele não passará de uma nota de rodapé macabra da história do país, o ser que traduziu o pior que sua elite miserável foi capaz de produzir.
“Era o verão de 79. Ela estava passando férias em Salvador. Eu a tinha conhecido um mês antes, e nós ainda não namorávamos. Telefonei para um amigo comum: ‘Diga que eu quero vê-la, que vou estar no Teatro Vila Velha entre quatro e seis da tarde. Tenho uma coisa pra mostrar a ela.’ Quando ela chegou, eu cantei a música. ‘Flora’ foi, portanto, uma cantada literal. Cantei Flora na canção e com a canção. É minha única canção-cantada. A alma exigia capricho: o sentimento era intenso, e o desejo, de uma relação durável. O que eu cantava não era só uma pessoa, mas toda uma vida com ela. Na letra eu já a imagino ‘idosa’, ‘bela senhora’, ‘futura’. Elis é que me disse: ‘Nunca uma mulher teve de um homem uma música dessa!’ A canção teve pra mim, como talvez pra ela, o caráter da irrecusabilidade da proposta. ‘Flora’ foi além das intenções nela contidas, acabou tendo uma função. A cantada funcionou. É bom que a música e a poesia também tenham essa utilidade. Um modo sutil de ser útil. Uma sutil utilidade, uma ‘sutilidade’…”
#PorTrásDaLetra – “Flora”
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