Banco Central tem duas alternativas para corrigir a “anomalia” da Selic a 13,25%, diz Demian Fiocca ao GGN

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Economista propõe reajuste da meta de inflação e adoção de medidas macroprudenciais para tornar a Selic mais eficiente

Foto: Agência Brasil

Economista e ex-presidente do BNDES, Demian Fiocca avaliou, em entrevista ao jornalista Luis Nassif, do GGN, que o Banco Central (Bacen) dispõe de instrumentos ortodoxos para corrigir a “anomalia” de se aumentar a taxa básica de juros (Selic) sucessivamente. Ontem, mantendo a série de altas, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou a Selic a 13,25% ao ano, na primeira reunião chefiada por André Galípolo, nomeado por Lula para chefiar a instituição.

Demian Fiocca afirmou que o Bacen tem dois caminhos para frear e até reduzir a Selic, que não tem sido eficiente para a economia. Uma das ideias que tem sido bastante ventilada, e que foi sugerida por economistas em carta ao Copom, é o ajuste da meta de inflação de 3% para 4%. Demian, particularmente, defende um regime progressivo: 4,5% para 2025, 4,25% para 2026 e 4% para 2027. “Só isso já aliviaria uns 3 ou 4 pontos na Selic”, disse.

“A gente vai estourar as contas públicas, fragilizar as empresas, deixar toda a tensão sobre a situação fiscal, porque a inflação está caindo mas não pode cair só para 4, tem que cair para 3?”, indagou.

Segundo explicou o economista, “os juros altos estão afetando ativos e a qualidade de dívidas, o que vai piorando a situação das empresas, não só do governo. E aí as pessoas começam a se perguntar: por que mesmo temos juros cinco vezes maior do que o resto do mundo, se não estamos em crise econômica.”

Em artigo publicado recentemente, o economista Aloízio Araújo defendeu não mexer oficialmente no centro da meta de inflação, mas mirar o teto da meta, que é de 4,5% – o que, na visão de Demian, teria o mesmo efeito prático do que foi proposto na carta ao Copom. Segundo os economistas, a meta de 3% é inalcançável. Na opinião do jornalista Luis Nassif, é uma “maluquice” mover a Selic em torno de uma meta de inflação irrealista.

A segunda alternativa

Além de ajustar a meta, o Bacen tem outra alternativa para corrigir os rumos da Selic: adotar medidas macroprudenciais, que Demian Fiocca definiu como “contenção de crédito”. Segundo ele, outras economias pelo mundo têm adotado essa estratégia, sobretudo desde a crise de 2008. No Brasil, não seria nenhuma inovação nem algo complexo de se fazer, até porque as regras do Bacen permitem seu uso.

“O Galípolo tem uma saída. Não é o habitual, mas está lá escrito em algumas regras do Banco Central. Já foi usado como sucesso em vários lugares. Usa o controle de macroprudenciais. Ele pode dizer que não vai seguir com Selic ineficiente. Usa menos Selic e diz que está de olho no crédito, na alavancada dos bancos, de modo mais conservador. Não resolve a parte da meta, mas resolve a parte do custo [que a Selic alta impõe à economia]. Isso está ao alcance do Banco Central. Seria manter a mesma postura contracionista, o mesmo efeito sobre o que a gente chama de conjunto das condições de liquidez da economia, mas com menos custo.”

Assista a entrevista completa com Demian Fiocca abaixo:

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11 Comentários

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  1. Vence-se a inflação reduzindo o consumo, via elevação da taxa de juros, ou elevando a oferta. Para elevar a oferta é necessário baixar a taxa de juros a fim de que o capital produtivo possa contratar a classe trabalhadora e produzir serviços e produtos.

  2. O controle da inflação pela contenção do crédito iria atingir quem ? Os menos favorecidos – ferrados em qualquer situação, dado que de 5 salários para cima a inflação pesa menos. O custo seria menor com a reintrodução dos estoques reguladores e alguma contenção nos aumentos da energia ?

  3. A cara de satisfeitos como se tivessem feito alguma coisa boa, não, solução medíocre, não estudam, não trazem nada de novo, só a mesmice, falta conhecimento técnico, falta vontade de trabalhar direito.
    Comodismo, desde 1970 o chuchu era a causa da inflação, produzir chuchu é fácil, não é possível que em um pais do tamanho do Brasil só se produza laranja em São Paulo, banana em São Paulo, café em Minas Gerais e dai pra frente, os ministros dizem que a função é aumentar o credito tem que ir além disso tem que planejar a produção, a demanda, estudar as áreas passiveis de produzirem, ninguém vive de comer soja ou milho nesse país.
    se eram 30 milhões passando fome e 100 milhões mal alimentados, se dão auxilio para comprarem comida tem que aumentar a produção, os nove cérebros do COPOM não enxergam isso, os ministros das áreas agrícolas e sociais não enxergam, tem que acabar com os nove inúteis do Copom e trocar os ministros que não entendem de planejamento.

    1. É isso Maria Cristina. Menos economês e mais ação real para solucionar problemas. Inacreditável que até no gerenciamento da base venham com discussões acadêmicas sobre teorias econômicas. Será que pretendem alimentar o povo com teorias econômicas ? De que adiante incentivar a produção agrícola com empréstimos subsidiados se a safra é exportada em detrimento do consumo interno ? Os teóricos têm seu espaço legítimo e necessário mas e o agir ? Vamos ficar no blá blá blá ? Agir nem pensar ? Por estas e outras a esquerda perdeu espaço político. Voltamos às reuniões de teóricos e perdemos a luta na conquista de corações e mentes para um bando de loucos e abusadores contumazes.

    2. Certíssimo, o planejamento da produção é fundamental. Mas, não só isso, tem-se que organizar a comercialização e distribuição das culturas dos alimentos básicos. A remuneração também tem que ser a preços justos, pois hoje há comércio para a soja, fumo , frango e, talvez o boi no c.oeste. A adoção de restaurantes populares, sacolões, feiras livres e, quem sabe o retorno das cooperativas de consumo dos trabalhadores.

  4. Em economia a gente sempre deveria colocar as pessoas que estão ma mídia.

    Elas sempre tem as soluções.

    Tudo bem que passaram pelos cargos e não resolveram os problemas.

  5. O que esperavam: Galípolo votou a favor das decisões tomadas no ciclo atual de aumentos da selic, que proporcionou o início forte do ciclo de desestabilização do governo. Ele sabe que está auxiliando a desestabilizar o governo, a dar voz mais forte à extrema-direita, a minar o ciclo (parco e tosco) de desenvolvimento, a mais uma vez impedir qualquer processo de reindustrialização. Ele também sabe que o aumento da selic, nas atuais condições, nada fará com relação à inflação, assim como sabe que o estouro do dólar em novembro/dezembro nada tem a ver com questões fiscais, confiança no governo ou assemelhados. Galípolo sabe disso tudo e mais ainda, é certo. Mas, quem sabe, hoje, quais são as suas reais visões de mundo? Brasília e cargos fazem coisas. Para os donos do dinheiro, ele, hoje, é o real e efetivo presidente que interessa. Nassif pode tentar entrevistá-lo. Será que ele fará essa concessão aos mortais comuns e ordinários?

    1. Para o caso valho-me do futebol. No caso de bolas difíceis o goleiro manda para escanteio, nas fáceis ele encaixa. Na sugerida entrevista Galípolo tem condições técnicas de mandar para fora os petardos de Nassif que também tem plenas condições de dribles desconcertantes mas, com certeza, seria MUITO interessante e instrutivo aos que alcançarem o debate.

  6. Eu não concordo com essa visão de aumentar a meta de inflação. Ele indaga:
    “Vamos estourar as contas públicas”
    O erro estaria no governo querer aumentar as contas, a única saída seria o controle das contas públicas.
    Mas essa outra opção também é válida, no controle de crédito. Lembre-se que no governo Michel Temer, ele conseguiu deixar a inflação abaixo da meta, mesmo depois da crise, com inflação a 10%.

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