
Aos poucos, lentamente, vai sendo formado um consenso pragmático entre os economistas, para amenizar a armadilha da Teoria do Equilíbrio Geral Estocástico à brasileira.
A armadilha foi descrita ontem no artigo “Economistas do Brasil: o país conta com vocês”.
- A economia fica entre dois garrotes: metas inflacionárias extremamente rígidas e superávit fiscal.
- Há um terrorismo explícito contra a “gastança”, o “rombo” das contas e outros adjetivos mais propícios a páginas policiais do que econômicas.
- Bastam as expectativas de inflação saírem um pouco do limite máximo para ampliar o terrorismo, desaguando na grita geral por aumento na taxa Selic.
- O aumento da taxa Selic, por sua vez, inviabiliza qualquer tentativa de ajuste fiscal, em função do peso da dívida no déficit nominal e na relação dívida/PIB.
Há dois caminhos para atenuar essa caminhada para o abismo.
Um deles foi proposto ontem pelo economista Bráulio Borges, no Blog do IBRE: recorrer às chamadas medidas macroprudenciais.
É uma lógica objetiva. Todo o processo de inflação recai na conta de juros. É o único instrumento para manter a inflação na meta e suavizar os ciclos econômicos. Mas, obviamente, há num desarranjo fenomenal no modelo brasileiro. Enquanto a maioria dos países tem taxa real de juros de um ou dois pontos, algumas vezes negativa, no Brasil supera 8 pontos. O que Bráulio sugere são outras medidas para segurar a inflação, reduzindo o peso dos juros. São medidas óbvias, já defendidas aqui no Jornal GGN.
O primeiro passo é a política monetária se basear nas projeções de inflação da própria autoridade monetária, em vez de se sujeitar ao que ele denomina de “desvios de expectativas do mercado para a inflação”.
O segundo passo é se valer mais de outros instrumentos de política monetária que impactam a demanda agregada. Uma delas é o chamado “colchão de capital anticíclico”, que corresponde a uma exigência de capital das instituições financeiras, em momentos em que a expansão do crédito é muito forte. “Esse colchão corresponde a um dos aprimoramentos introduzidos no âmbito de Basileia III, sendo conhecido, em inglês, como “Countercyclical Capital Buffer” ou “CCyB”, explica ele. Funciona como uma espécie de estabilizador automático dos ciclos econômicos.
Segundo levantamento do BIS (o Banco Central dos Bancos Centrais) esse instrumento existe desde 2015 no Brasil, mas nunca foi acionado. Segundo o próprio BC, o chamado “hiato de crédito” está se abrindo, mas não se sabe a razão do BC não ter acionado seu mecanismo.
Sem essas ferramentas, fica-se nas mãos da taxa Selic, cuja capacidade de desinflacionar a economia brasileira caiu na última década, conforme demonstrou o economista Demian Fiocca. Exige-se uma taxa muito maior, com impactos negativos nas contas públicas.
Bráulio concorda com a tese de Demian, de que o teto da meta é excessivamente baixo para o caso brasileiro,obrigando a uma elevação da taxa Selic a ponto de evar a uma situação de “dominância fiscal” – situação em que a dívida torna-se tão grande que o serviço da dívida inviabilizaria qualquer tentativa de política monetária.
Kassab e Haddad
O Secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo, Gilberto Kassab, é a versão mais completa do que se entende por “raposa” política. Sua crítica ao Ministro da Fazenda Fernando Haddad – ontem, em um evento de mercado -, tem como único objetivo enfraquecer um adversário em potencial do seu candidato, o governador Tarcísio de Freitas.
A maneira de Lula preservar uma das poucas alternativas do PT para 2026 é colocar Haddad na coordenação das políticas de desenvolvimento do seu governo, em vez de deixá-lo preso ao saco de maldades da política fiscal.
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Tudo é válido. Desde que jamais se neglicengie a política.
Todas essas medidas estão a mão da agiotagem. Todas. Especialmente na atualidade, com os algoritmos tornando toda previsão mais fácil. A única coisa pra cortar o ciclo do cão correndo atrás do próprio rabo chama-se genialidade política.
Bob Fields JR em 5 anos no BC alimentou uma narrativa neoliberal aos mercados, alinhado com a ideologia econômica de seu mentor, Paulo Guedes. A expectativa criada enfeitiçou a turma do dinheiro fácil, que acreditou nas falácias de Estado mínimo, superavitário e privatista. Desarmar está bomba vai levar tempo, e Galípolo precisa ser minucioso nos próximos passos, cortanto o fio certo, um a um, pq um erro pode piorar o que já está ruim. Por exemplo, se o dólar continuar a subir e levar juntona inflação, e o mercado sinalizar por mais
aumento no juro, a chance do congresso abrir processo de impeachment é quase certa .
Um governo sob um ataque de servos ou o leão e as hienas
Lula deixou de ser referência para a esquerda ? Ou é apenas imitação do grande líder que nos levou à frente, numa imagem já esmaecida pelo tempo e inconstâncias da política. Hoje vejo manchete no Brasil247 dizendo que “Kassab estaria pressionando Lula”. Não deveria ser o contrário ? É sabido que a política é feita de avanços e recuos, acertos e desacertos ao sabor das contingências do momento. Neste jogo qualquer tropeço, hesitação é logo aproveitada pelos adversários e eventuais aliados na constante luta pelo poder. Mas, penso, que detendo o poder maior não pode ficar se encolhendo indefinidamente. Lula não tem maioria no Congresso mas tem um bom número de apoiadores e a caneta. Não poderia ser mais assertivo ?. Seus recuos e alianças deveriam ter contrapartidas à ocupação de ministérios e cargos. Da mesma forma é exemplar a nomeação de Galípolo – mais do mesmo – para o BC. Começa confirmando o abuso de Campos Neto e na sequência mais um aumento num arrazoado de difícil aceitação, salvo para os “mercadistas” sempre interessados em juros elevados e “casualmente” os sempre ouvidos. É quase uma unanimidade da crítica e apenas conta com o “apoio” de 0,5% da população, os afilhados do BC e sócios na derrama dos juros. Somos grandes produtores de grãos mas a população sofre com a carestia sem que o governo federal mova uma palha para, por exemplo, voltar aos “estoques reguladores”. Há razão plausível ou apenas a incapacidade de atuar ? O governo federal não pode adquirir grãos ao preço internacional ? Ou apenas entregar financiamentos com taxas abaixo do mercado ? Da mesma forma é a lambança com o preço dos combustíveis, “é mas o mercado e os globais irão chiar e daì ?” Atacados estes dois nós a inflação fica seguramente dentro da meta e o BC sem motivo plausíveis, se é que hoje há, para aumento da SELIC. Lula perdeu o viço, a antiga visão e, parece, apenas aguarda o fim do mandato para vestir o pijama. Eu que sempre votei em Lula já não tenho mais certeza de meus futuros votos. E talvez este seja o mesmo entendimento dos eleitores: para que votar em alguém que troca de lado se posso votar diretamente no lado vencedor ? É meu companheiro Lula: quem não se comunica se trumbica já disse Chacrinha e quem não luta por seus sonhos ou, pior nem os tem, está condenado à derrota. Vá à luta companheiro! O comandante nem sempre está na linha de frente mas tem que comandar. Não há vácuo de poder. Saúde, disposição e vida longa. O amargo que eu sorvo é mais amargo nestes tempos.
Bela análise!
Mas, faltou examinar mais o papel da mídia no cozinhamento, à fogo baixo, das mentes brasileiras.
O jogo é bruto, mas, dá para ganhar!
Acho que vc tem razão nos pontos apontados,mas o maior problema depois dessa política de conciliação principalmente com tal mercado, é falta de rumo a se tomar na transição porque manter em 600 o bolsa família e ainda aumentar em 150 pra cada filho com até 6 anos ,depois tem o programa pé de meia que agora está dando dor de cabeça, daí em completa submissão ao mercado tem que fazer um programa de corte de gastos que tira dinheiro diretamente do trabalhador e de quem mais precisa no caso do BPC.Queima capital político pra aprovar arcabouço fiscal e reforma tributária,tem alguns acertos também mas a massa do povo nem sabe ou se dá conta comunicação horrível.Tem outro problema grande vindo aí se a previsão de um certo jornal estiver certa e colocar o Artur Lira em algum ministério daí o descrédito vai ser total espero que não façam essa sandice. Infelizmente o único que teria um perfil com capacidade de derrotar a direita depois de Lula seria o Dino esse removido cirurgicamente do jogo . Mesmo com todos esses problemas atualmente Lula é praticamente a única coisa que nos afasta da barbárie,vou com ele em 2026 e em 2030 que Deus nos proteja
Votei no Lula, mas estou descontente com o governo dele.
É um governo fraco demais, medroso, covarde e que nao tem rumo.
Vai entregar o Brasil a extrema direita novamente em 2026
Vai lá, se candidata e faça melhor.
A respeito dos ataques de Kassab a Haddad, ele apenas aproveitou um momento político para atacar um inimigo por conta de uma mágoa antiga. Haddad o sucedeu na prefeitura de S. Paulo e uma de suas primeiras medidas foi cancelar um projeto de túnel gigante para ligar a Av. Roberto Marinho à Rodovia dos Imigrantes. Kassab mudou o traçado que existia desde Maluf e nunca foi executado, já que o malandro tinha levado a verba prevista para a obra para as Ilhas Virgens Britânica, mais do que triplicando o percurso e requerendo imensas desapropriações. Certamente era o pé de meia que Kassab arranjou para si, deixando que Haddad e seguintes pagassem a conta.
O “Garoto de Ouro” do Lula dará jeito nisso, naquilo e em outras missões que veio para cumprir a mando da banca. Não acredito que sua indicação seja ingenuidade, é ingenuidade demais, ou é burrice mesmo ou tem mais história por trás desse biombo.
O único jeito seguro de desarmar a arapuca dos juros altos, é tirar do mercado financeiro o controle do BACEN. Não podemos esquecer que tal controle já vem desde o início do plano real, independentemente de quem seja o presidente do Brasil. Quem nomeia os diretores do BACEN é o presidente da república, mas quem tem o controle é o mercado.
Esse colchão anticíclico não seria o similar ao velho depósito compulsório já existente?
Bancos e setor financeiro iriam reclamas dessas limitações, e o governo parece que anunciou intenção de estender créditos consignados para funcionários regime CLT, quer dizer, expandir mais ainda o crédito e o aumento da inflação.