Jornalões passam recibo sobre denúncias de cartel do câmbio, por Luís Nassif

Principal fator a alimentar as especulações foram, justamente, editoriais dos jornalões fazendo terrorismo sobre a situação fiscal

É curioso como os jornalões estão reagindo às notícias de denúncias contra um suposto cartel do câmbio, que opera no mercado brasileiro e provocou um salto inesperado do dólar – depois de um terrorismo sobre as contas públicas brasileiras.

Em entrevista ao Estadão, o insuspeito economista e filósofo Eduardo Gianetti, foi objetivo: “Claramente, há uma reação exagerada do mercado financeiro”, afirma. “Os indicadores fiscais brasileiros, embora preocupantes, não são calamitosos. Longe disso. Nós não estamos na beira de nenhum precipício fiscal.”

Se houve uma reação exagerada, significa que foi fora do normal. Se foi fora do normal, não se pode buscar uma explicação dentro do normal. É evidente que houve uma articulação entre algumas instituições.

O tiro de partida foi dado pelo JP Morgan, anunciando a transferência de investimentos do Brasil para o México.

O que dizem do México as agências de risco?

Moody’s: Aponta preocupações relacionadas ao desgaste fiscal, crescimento econômico fraco e pressões decorrentes do suporte à Pemex, a empresa estatal de petróleo.
Fitch Ratings: Ressalta que uma recessão mais profunda nos Estados Unidos pode representar um risco significativo para a economia mexicana, dado o estreito relacionamento comercial entre os dois países.
S&P: Observa que, embora espere uma gestão macroeconômica cautelosa nos próximos anos, há desafios potenciais nas relações comerciais com os EUA, especialmente considerando possíveis novas tarifas e a revisão do acordo USMCA em 2026.

Mas o principal fator a alimentar as especulações foram, justamente, editoriais dos jornalões fazendo terrorismo sobre a situação fiscal.

O susto com a possibilidade de judicialização da questão do cartel ficou nítido nos dois jornais.

O Estadão prosseguiu no seu terrorismo fiscal e incluiu um ingrediente conspiratório:

“À solidão de Haddad se soma outro problema: na cosmologia do partido e de Lula, ter um inimigo a quem culpar é o elemento preferencial para mobilizar militantes e conquistar votos. Inspirado nessa lógica pedestre, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), por exemplo, galvanizou esse espírito ao pedir à Polícia Federal (PF) que investigue e puna a “Faria Lima””.

A Folha se superou, demonstrando mais uma vez a enorme falta de critério na seleção de colaboradores. Foi buscar uma mestre em jornalismo, totalmente jejuna em economia, para criticar os jornalistas que, a exemplo de Gianetti, estranharam os movimentos anômalos do mercado: “Culpar ataque especulativo ou memes pela alta do dólar é fábula em defesa do governo e acinte à checagem jornalística”.

Diz a notável sábia especialista: “Ora, a gastança sob Lula é um fato constatável por números. E até um neófito em economia sabe que um rombo fiscal impacta a confiança de investidores, reduzindo a entrada de dólares no país, além de pressionar a inflação e aumentar a demanda pela moeda dos EUA como ativo de proteção. Resultado: alta do dólar”.

E termina com uma lição de jornalismo econômico inacreditável, uma autocrítica clássica, não fosse o fato da autora não demonstrar sutilezas estilísticas.

“Quando a imprensa se deixa levar pelas ondas de narrativas, derruba um de seus pilares: a checagem. Para atribuir causalidades, jornalistas têm o dever de se ater aos fatos e ao conhecimento científico e empírico já produzido sobre o tema que abordam”.

O “conhecimento científico e empírico produzido”, segundo a notável analista, nada mais passa do que a repetição incessante de inverdades – como a que proclama o desajuste homérico das contas públicas -, que serve para amadores, como a articulista, se considerarem empoderados para abordar um tema que não dominam. Diferença entre déficit primário e nominal, impacto da Selic no aumento da dívida pública, desproporção entre um déficit de 0,5% e um movimento radical de elevação do dólar, nada disso faz parte do universo de conhecimento da tal especialista em semiótica.

Nem se culpe a colunista. Ela apenas aproveitou um espaço dado pelo jornal em troca de uma opinião em defesa do próprio jornal. Ela entregou o que consegue entregar. A retórica raquítica é culpa da própria falta de critérios de qualidade do jornal.

De todo modo, as duas manifestações dos jornalões comprovam que entra-se em uma nova quadra da disputa econômica, na qual finalmente o crime de cartel passa a ser visto como uma possibilidade.

Não é apenas Zeca Dirceu, solicitando à Polícia Federal os dados de operações no mercado futuro da B3. Há grandes escritórios de advocacia preparando-se para ações judiciais para discutir a cartelização tanto do mercado de dívida pública quanto de crédito.

Poderá ser um capítulo relevante em direção ao amadurecimento do mercado e do capitalismo brasileiro.

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13 Comentários

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  1. Nassif,

    A direção está correta, o problema é a escala e alcance.

    A reação dos editoriais é um claro sinal:

    Não se trata de uma ou outra instituição ou “pirata cambial” isolado, é o todo, o sistema.

    A tese de que há perdedores, e que isso justificaria a suposta “lisura” desse sistema, e que as ações contra a moeda brasileira são apenas “anormais”, não se sustenta.

    Afinal, diz-se justamente o contrário das BETs, ou seja, ainda que alguém ganhe, todo o modelo é viciado, porque muitos perdem.

    Vou além:

    Nas BET, aqueles que não apostam, em tese, nada perdem, salvo as famílias desses pobres coitados.

    No jogo dos juros, perdem todos: os que “apostaram errado”, e países inteiros, continentes inteiros!!!!

    C’est la meme chose, mon ami.

    O modelo financista é um grande cassino, uma BET global, onde poucos ganham, mais com um suposto agravante:

    Se na BET o cidadão pode escolher entre não apostar, ou apostar, na BET financista não há muita margem de escolha para países periféricos, ou pelo menos, é isso que a intelligentsia e o senso comum dizem, que Lula e Haddad têm pouco espaço para fazer diferente.

    Eu discordo em parte…sim, a margem é estreita, mas há um espaço para fazer diferente, porém, com muito trabalho político e coragem.

    O que nesse governo não há, só há preguiça e medo.

    Se olharmos em perspectiva histórica, são essas agências que deram avaliações PRIME aos títulos hipotecários na crise de 2008, até dias antes do “crash”.

    Eu me recuso a acreditar que isso não seja um padrão recorrente, e se é padrão, é um crime impune, porque subtrai bilhões e bilhões das economias e as condenam a mais atraso (no caso dos países pobres), bem como excluem outras enormes parcelas das populações da vida econômica dentro desses países ricos, como vem acontecendo nos EUA e Europa.

    Los Angeles, a capital do estado mais rico dos EUA tem centenas de milhares de pessoas nas ruas, outros tantos na beirada do precipício econômico, acumulando dívidas, ao invés de auferirem renda.

    A Europa alimenta a indústria de imigrantes ilegais, como uma nova jornada escravocrata, cujos navios negreiros de hoje fazem os do século XV, XVI, XVII e XIX parecerem cruzeiros da MSC.

    É esse pessoa “indesejado” que é incorporado como estoque de mão-de-obra, sem direitos, e com baixíssima remuneração, enquanto o europeu médio fica com a supressão de conquistas, retração salarial e o ressentimento racista.

    É esse o modelo.

    Fundos de hedge e outros controlam grandes conglomerados de indústrias de segurança e insumos, alimentados pelo combustível chamado histeria da classe média branca, lá (entre os países ricos) e aqui (entre os países pobres).

    E tais fundos se alimentam de todas as variáveis possíveis da equação:

    Retração de renda e demanda alta por crédito familiar, taxas extorsivas.

    Déficit público causado pelas pressões cambiais e sabotagens (como essa recente) amentam ainda mais a demanda por crédito pelos países, que endividados, diminuem a renda e a proteção social do trabalhador e dos cidadãos em geral, que recorrem aos meios privados de dívida, ou…morrem.

    É esse o quadro, meu amigo.

    O cinismo da mídia é uma impressão digital na cena do crime, ou um DNA deixado na arma.

  2. Receberam pelo crime e, prazerosa e diligentemente o executaram. Agora que o escândalo aflorou, é hora de limpar o sangue dos punhais, ocultá-los, e exibirem a mais hipócrita cara de santa puta. A menos que rolem mais suculentos aportes do crime organizado.

  3. Pqp,Nassif precisa falar o ÓBVIO “Se houve reação anormal…”q bando de mal intencionados essa mídia é,faz escândalos com pacoquinhas,com flerte consetido de ministro negro mas.quando é algo importante mesmo…nada,acredito q mencionaram isso só de migué Nassif pq está ficando muito mal para a mídia mimada corporativa bilionária as suas estripulias manipilativas de não informação !!!
    Obs.:Nassif será q na cirurgia di Lula saiu rapadura do cérebro?Pq se fosse no meu sairia merd… !!!
    Obs2.;Nassif vc sabia q eu fazia xixi na cama até os 7 anos ???

  4. Muito “veja bem” e contorcionismo verbal. Teria sido melhor o silencio.
    Confucio – prefira o silêncio a fala vazia (Analetos)

  5. Sem uma constituinte todo debate em torno do erário é estéril. a Constituinte impõe uma linguagem renovadora, em tese, com amplo debate popular. com essa política de que lula é incapaz, por exemplo, de propor um plebiscito sobre distorções de rubricas disfarçadas para assalto ao erário. e tudo isso com o teto de limitação constitucional dos subsífios dos ministros do supremo. e que se dane o art. 39 da Carta ou a Lei 4.320 de 1964. todas as discussões sequer citam normas sobre o sistema finaceiro. o que denota o debate apenas para exercício de uma suposta intelectualidade.

  6. Uma forma de verificar se o câmbio está “irreal” é comparar preços de produtos no exterior. Os automóveis brasileiros tão criticados por ter um preço muito alto, agora estão muito, mas muito mais barato que os seus irmãos no exterior.
    Uma simples checagem no site da VW.de (Alemanha), você encontra o WV Polo 50% mais caro que o mesmo modelo brasileiro.
    Mas, nos jornalões não aprece nenhum especialista em carros para mostrar esta distorção.

  7. Nos relatórios do BC, que justificam os aumentos de juros, ja não há razões científicas pros ajustes, pra baixo ou pra cima, imagina os outros órgãos que opinam sobre economia

    Uns se fingem de cegos, outros aproveitam e se beneficiam enquanto o governo federal fica olhando sem pouco poder fazer

  8. A Justiça brasileira precisa investigar esse cartel desses “jornalões” dessa
    imprensa. Tem que parar de encará-lo como “jornalismo”. São cartéis do crime
    organizado do mercado financeiro. É preciso deixar a brincadeira de lado
    e encará-los seriamente como bandidos de organização criminosa.

  9. Tem que haver investigação sobre os grandes jornais e seus jornalistas para ver se eles estão recebendo algo do mercado financeiro para trombetear suas ideias novivas.

  10. A banca onde são comercializados os papéis da bolsa. Acredito que também o
    câmbio. É totalmente controlada por meio de artíficios de compra e venda
    colocados na pedra lá no momento das negociações. Eles conseguem manipular
    os preços das coisas colocadas naquele antro. É preciso criar um balcão
    de vendas (independente e participativo) controlados pelo CVM e por todas
    instituições idôneas. Chega de manipulação dos preços.

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