Barroso e o exercício reiterado da crueldade, por Luis Nassif

Neste final de ano, ficou em suas mãos decidir sobre os indultados. Henrique Pizolatto era um dos prisioneiros que tinha direito ao indulto de 2017.

Algum dia, a pena de um escritor brilhante, especializado em mutações psicológicas, desvendará o processo de transformação radical do Ministro Luis Roberto Barroso.

Não se fala das mutações políticas, próprio dos macunaímas, especialistas em prever o rumo dos ventos. Esta é uma característica mais universal dos homens públicos e das corporações brasileiras. E Barroso é a melhor tradução dos estereótipos traçados pelos grandes escritores do início do século.

Falo da marca da maldade mesmo, da crueldade, da ausência de empatia em relação a terceiros, da pessoa que interpreta tão bem o personagem que cria para si próprio, a ponto de assimilar sentimentos que pareciam incompatíveis com o personagem anterior.

Na década de 70, a Universidade de Stanford imaginou um experimento revolucionário. Para estudar o comportamento em uma prisão, dividiu uma turma de estudantes em dois grupos, representando os presidiários e os carcereiros em um cenário de prisão dentro do próprio campus. De repente explodiu uma ferocidade sem tamanho dos “guardas” contra os “criminosos”, obrigando a suspender o estudo no sexto dia. Tornou-se um clássico da psicologia, inspirando documentários, livros e filmes.

Em 2007, com base nesses experimentos, o psicólogo Phil Zimbardo lançou o livro “O Efeito Lúcifer: Entendendo como pessoas boas se tornam diabólicas (The Luficer Effect: Understanding How Good People Turn Evil)”.

Os estudos se basearam nas atrocidades cometidas na prisão de Abu Ghraib. Alguém poderia provoca-lo para um projeto piloto no ambiente asséptico e solene do Supremo Tribunal Federal (STF). E, lá, se concentrar nas mutações psicológicas de Luis Roberto Barroso, de como o sujeito que se apregoava “homem bom”, o legalista, o homem que só queria o bem, o boa praça, pode se tornar um personagem tão frio e cruel.

No ano passado, atingiu milhares de famílias ao proibir o indulto de Natal do então presidente Michel Temer. O indulto é uma das poucas medidas que o presidente pode tomar individualmente. Consta na Constituição brasileira, assim como na americana. Aproveitando as tempestades da Lava Jato, Barroso interrompeu a medida e atropelou a Constituição.

Neste final de ano, ficou em suas mãos decidir sobre os indultados. Henrique Pizolatto era um dos prisioneiros que tinha direito ao indulto de 2017. O STF entrou em recesso e Barroso deixou o seu caso na gaveta.

Todos os outros condenados a prisão, na AP 470, foram indultados por Barroso, incluindo réus com penas muito maiores, como Kátia Rabello e de José Roberto Salgado (+ de 14 anos); Cristiano Paz (+ de 23 anos) e Ramon Hollerbach (+ de 27 anos). E

Mas Pizolatto permanecerá preso. Porque, com Barroso, não vigora a interpretação impessoal do que diz a lei e a Constituição, mas o exercício reiterado da crueldade contra o inimigo.

Luis Nassif

9 Comentários

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  1. Ele é como as “mutações constitucionais” que alardeia, sempre que pretende manipular uma decisão ou dar um voto capaz de reverberar na imprensa. Éle é um equívoco. Mais um, de várias indicações equivocadas para os Tribunais Superiores. Fachin é outro exemplo de mau caráter. Aproximou-se da magistratura, participou de foruns constitucionais, defendia os “sem terra” (também defendia a JBS) mas a doença que corroia seu caráter passou despercebida até ela aboletar-se numa cadeira do Supremo. Aí o cara se revelou. Já se anunciam outros equívocos para breve, com ministros terrivelmente evangélicos. Só falta o retorno à Inquisição.

  2. Tais experimentos e estudos demonstram como o ego humano, quanto mais aflorado, mais adultera a realidade e as pessoas tendem a acreditar ser (em essência) aquilo que elas estão fazendo (papéis, cargos, funções), esquecendo-se de que estes são temporários e através das ações enganosas feitas por eles, geralmente são cometidos os maiores erros (ou pecados). Por isto é dito que o ego é o inimigo que torna o eu cEGO. Perdoai-vos, pois (cegos que estão) não sabem o que fazem e pior, não enxergam o futuro que escrevem para si. Época de máximo ego, maior arrogância e cometimentos de injustiças, crueldades e desumanidade. Como não canso de repetir, a maior e pior armadilha que a humanidade tem criado, é o que podemos assistir através do esmagamento e ocaso do humanismo, a condição básica para ter-se empatia pelo próximo. Quanto menos humanismo, maior será a barbárie e suas barbaridades.

  3. já disse, repito e escrevo com a minha BIC AZUL.
    CAPA a vitaliciedade dessa canalhada, com a perspectiva de que voltarão a se transformar em abóboras, que eles tomam vergonha cara rapidinho.
    Teu problema, Nassif, é que vc não leva a sério a profundidade da minha superficialidade.

  4. Ao ver esse juiz empenhado no alinhamento com a Globo e com a Lava Jato, só de vê-lo sofismar que segue a voz das ruas, ao invés de seguir a constituição, a gente constata que a justiça brasileira vive um de seus piores momentos

  5. barroso ´é o tipo do cara autocrático – o estado sou eu – que atiça o clima de terror característico da direita que hegemoniza o atual capitalismo, notoriamente totalitário, como se sabe….
    (a iniciativa privada apoderou-se completamente do estado para ficar com tudo,expropriar a população).

  6. Etica é como se age quando todos estao vendo

    Carater é como se age quando ninguem esta vendo

    O poder mostra o verdadeiro carater das pessoas

    Barroso e Fachin nao sao casos isolados. JB e Toffoli sao outros exemplos. O que mais impressiona é que os ministros indicados por Sarney e Collor tem mais carater de que todos os indicados pelo PT.

  7. Pelas ações de Luis Roberto Barroso desde que se tornou ministro no STF creio que ele empreendeu uma cruzada contra os “barbaros”, os “corruptos da esquerda”, o marxismo, o socialismo ou qualquer cosa que não represente o universo asséptico, de gente de bem, preocupada com a “nação” e que preza por seu desenvolvimento subordinado aos Estados Unidos e Europa; mundo em que vive o senhor Barroso.

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