O ex-presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta (18), em entrevista ao Estadão, que Mauro Cid tinha “autonomia” para agir na condição de ajudantes de ordens e negou que tenha mandado o militar vender parte das joias que ele recebeu de presente, no exercício do mandato. As joias desviadas indevidamente pertencem ao patrimônio da União.
Bolsonaro disse que teve acesso à matéria da revista Veja, onde o advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, reafirma que o militar apenas seguia ordens de um superior.
“Eu li a matéria. Não achei nada de concreto contra mim ali. O tempo vai esclarecer tudo isso aí”, disse Bolsonaro.
Quebra de sigilo
Ele também tentou fazer pouco caso da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que determinou a quebra de sigilo fiscal de Mauro Cid, seu pai, de Jair e Michelle Bolsonaro, mirando contas no exterior.
“Sem problema nenhum”, comentou Bolsonaro.
Quase tudo é personalíssimo
Ao mesmo tempo em que negou que tenha mandado Mauro Cid vender joias da União em lojas nos Estados Unidos, Bolsonaro defendeu que os presentes eram de uso personalíssimo.
“A portaria de 2018, se não engano, é governo Temer, fala que quase tudo é personalíssimo”, argumentou.
A portaria a que Bolsonaro se referiu foi revogada por ele mesmo em 2021. Em vez de responder se terá problemas com o extravio de joias em 2022, conforme investigado pela Polícia Federal, Bolsonaro argumentou que é preciso criar uma lei mais clara sobre o tema.
“Ele [Cid] tinha autonomia. Eu não vou mandar vender nada. Joias é tido como personalíssimo, ou seja, pertence ao presidente [sic].”
Investigação
Além disso, o ex-presidente cobrou investigação sobre os servidores do governo federal que classificaram as joias como itens de uso personalíssimo.
“Essa equipe que trabalha lá não é de comissionado, são pessoas antigas, e [se] classificou [como] personalíssimo, entra no acervo pessoal do presidente”, justificou.
Por fim, Bolsonaro disse que não recebeu nenhum direito fruto da venda de joias por Cid.
Assista a entrevista ao Estadão clicando aqui.
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Aterrorizado pelo impacto público da declaração do advogado de Mauro Cid de que seu cliente apenas cumpriu ordens ao vender objetos valiosos da presidência da República, Jair Bolsonaro veio a público dizer que seu ajudante de ordens tinha total autonomia para agir. A estratégia de defesa do ex-presidente me parece inadequada e errática. As joias em questão foram dadas de presente à presidência da República por autoridades estrangeiras. Ao dizer que Mauro Cid tinha autonomia para vende-las, Bolsonaro admitiu que tinha conhecimento das ações irregulares de seu ajudante de ordens. Portanto, se o advogado de Mauro Cid estiver correto Bolsonaro cometeu crime de peculato. Mas se a declaração do próprio Bolsonaro for verdadeira ele confessou o crime de prevaricação, pois não fez nada para impedir o ajudante de ordens de vender bens que pertenciam à presidência da República.