Causos e expressões sulmineiras

Esses mergulhos em Minas me permitem uma arqueologia de expressões que não ouvia há tempos.
 
No almoço em Guaranésia, me trazem uns pedaços de lombo de primeira. O cozinheiro João do Arroz reclama:
 
– Vai desinteirar.
 
Valia quando, em casa, mamãe cozinhava porções certas para serem misturadas e alguém avançava nas partes mais apetitosas.
 
Ao meio dia, havia um refrão em Poços que parece ter sido padrão no sul de Minas:
Meio dia / macaco assobia / panela no fogo / barriga vazia.
 
Mas a melhor história da região me foi contada pelo deputado Carlos Melles, da vizinha São Sebastião do Paraíso
 
Disse-me que o locutor da rodoviária de Pouso Alegre chamava assim os passageiros da linha Pouso Alegre-Poços de Caldas:
 
– Atenção passageiros da Auto Viação Pouso Alegre com destino a Ipuiuna, Congonhar, Santa Rita de Cardas, Cardas e Poços de CALDAS.
 
Pior saiu-se o mineirinho que mudou-se para o Rio morrendo de vergonha do seu sotaque.
 
Em frente o seu apartamento havia um bar que fazia belos pastéis
 
O mineirinho passou três dias ensaiando como iria pedir, passando pelo desafio do erre.
 
Primeiro, pediu pastel de queijo. Não tinha.
 
Aí valeu-se do treinamento e pediu um pastel de “carrrrne”, com o erre quase genuinamente carioca. Também não tinha.
 
– Então pode ser de parmito mesmo.
Luis Nassif

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  1. Adoro causos e estórias do

    Adoro causos e estórias do Brasil adentro.

    O mineirinho chega à estação ferroviária com a mulher e se dirige ao guichê de vendas de passagens:
    – Moço, o trem das treis e deiz já passou?
    – Sim, já faz tempo que passou.
    – E o trem das cinco, custa pra passa?
    – Ah, vai demorar bem!
    – E antes dele num vai passa ninhum otro trem?
    – Não não. Nenhum outro trem…
    – Sinhor tem certeza?
    – Absoluta. O senhor vai querer comprar a passagem?
    – Não sinhô, brigadu.E virando-se para a mulher:
    – Eleodora, num falei procê qui a gente podia atravessa os trilhos sem medo…

  2. Registro.br

    Nassif, 

    Gosto muito do seu trabalho, você é dos poucos jornalistas (blogueiros) deste país que fala de forma lúcida e objetiva.

    Tenho uma empresa de tecnologia e há tempos observo quanto a empresa http://www.registro.br administrada pela CGI e NIC faturam tanto dinheiro sem ninguém incomodá-las.

    Pelo que pesquisei esta é uma empresa do Governo, porém administrada recentemente por uma empresa terceirizada.

    Eles chegam a faturar cerca de 65 milhões por ano (2,17  milhões sites no Brasil x 30,00 anual), até o início do ano passado não pagavam impostos, poucos funcionários, sem concorrentes (A única empresa que fornece dominio no Brasil, por regulamentação da CGI), enfim, faturam uma grana altíssima e ninguém sabe para onde este dinheiro está sendo aplicado e se de forma correta. (Está me cheirando lavagem de dinheiro para políticos corruptos)

    Como conheço o seu trabalho, seria interessante ver alguma reportagem a respeito desta organização, pois eu desconfio que há uma grande lavagem de dinheiro nisto, pois a estrutura desta empresa é minúscula!

    Fica a sugestão.

    Abçs.

    Samuel Cortez

  3. Meio-dia, panela no fogo, barriga vazia

    No Rio era assim, nao tinha o “macaco assovia”. Nao sei se ainda se diz (eu digo, mas tenho 65 anos…). 

  4. Tuta Curvo

    Eu sei de uma boa história de assombração que me foi contada por meu avô. Eu era criança e alguns detalhes me escaparam da memória. Por esse motivo, remonto o conto  com alguns adendos de minha imaginação. Como não podia deixar de ser, o acontecido se deu em uma cidade do interior de Minas. Havia um moinho encrustado na encosta de uma montanha bem próxima da cidade. Era muito antigo e tinha sido desativado, e todo o maquinário retirado, há vários anos. E foi justamente numa noite de lua cheia, que o povo da cidade foi acordado pelo ruído do moinho em funcionamento. Passava das dez horas quando o estranho e intermitente “plá… plá… plá… plá…plá..plá.plá.plá.plápápá…” foi ouvido por todos. O alvoroço estava criado e começado, todos saíram de suas casas desconfiados, a ver se aqueles sons de fato partiam de onde imaginavam, do véio muím.

    Um grosso do povo se aproximou do grupo em que estavam o prefeito, o delegado, o padre e o juiz, tendo este o apelido de demonho, por jamais condenar os ricos, apenas os pobres. Olhavam-nos com olhares interrogativos, aguardando que tomassem alguma decisão. O prefeito foi o primeiro a falar:

    – Ieu achu qui o sior délegadu i seus sórdadus dévil di subí inté u muím pá isclarecê essa istranheza.

    O delegado arreganhou os olhos e respondeu sério:

    – U sior préfeitu mi adiscurpi, maisi ieu num achu qui deva di sê ieu a subi lá, isso é coisa da arçada du padri, purque só pódi  sê assombrassão qui tá lá trabaianu, num sei purquê. U padri tem di benzê u locar, pá mandá di vórta as almas apénadas.

    Quando o juiz ouviu o delegado dizer “almas apénadas”, começou a dar uns passinhos para trás, para tentar se separar do grupo. Algo nele, um medo difuso, dizia que devia escapar de qualquer responsabilidade.

    O padre, por sua vez, procurou ponderar:

    – U délegadu está ciértu, ieu vô lá benzê u muím, maisi ieu vô ficá a meio quilómetru lonji, purque isso basta preu fazê us meus trabaios de sacerdóti i pô fim nissu.

    O povo aplaudiu, concordando com a decisão do padre, que demonstrava coragem e decerto iria resolver o problema.

    O padre saiu e rapidamente retornou vestido com sua batina especial e uma dúzia de beatas arregaladas e sorridentes:

    – Lá mi vô, qui nuósso sior Jésuis Cristu nus ajudi.

    E foi mesmo! Acompanhado pelas beatas, que portavam vários crucifixos e velas, começou a subir a trilha que levava ao moinho na montanha.

    Todos ficaram com os ouvidos atentos, esperando que o benzimento fizesse com que o moinho parasse e que as almas fossem reenviadas para descanso eterno.

    Ao cabo de uma hora, o moinho ainda batia. O povo ficava cada vez mais angustiado, já imaginando que o padre não conseguira sucesso. Até que o padre e sua comitiva retornaram desconsolados. E o prefeito foi logo dizendo:

    – U sior num cunsiguiu nada, será qui chegô a vê arguma coisa?

    – Não sior, a genti só iscuitava maisi di pérto os barui du muím, maisi num vimu nada. Ieu benzi i fiz tudos os trabai, mais num adiantô.

    O prefeito, então, exortou a que todos retornassem para suas casas e que tivessem fé que na noite seguinte os ruídos acabassem. Alguns ficaram na praça e notaram que o moinho parou assim que o sol nasceu.

    Mas não, para espanto geral, nas noites seguintes tudo se repetira, o moinho continuava firme nas suas batidas e ninguém tinha coragem de subir a montanha para ver com os próprios olhos as almas trabalhando. O medo do povo crescia e ninguém conseguia dormir tranquilo, pensado naquele estranho acontecimento. Foi quando algumas pessoas do povo se lembraram de Tuta Curvo, um homem muito corajoso que morava na cidade vizinha. Quem sabe ele não ia abrir o moinho e terminar com tudo aquilo? Ao menos, eles saberiam o que acontecia no interior daquele local. Porém, havia um problema, Tuta Curvo tinha sido um bandido jagunço muito temido e metia medo em qualquer um, embora estivesse regenerado. Tendo cumprido pena de dez anos no presídio de Belo Horizonte, havia encontrado a Mirtes, uma moça muito bonita que por ele se apaixonara. Então se lembraram que Tuta Curvo tinha um amigo na cidade. Sim! Era isso mesmo! Zeferino era compadre e grande amigo de Tuta Curvo. Foram ter com ele, que imediatamente partiu para trazer o amigo. Logo que chegou a casa de Tuta Curvo, Zeferino foi contando o motivo de sua visita. Tuta passou a mão na barba, bateu três vezes no peito, e disse:

    – Ieu resorvo eisse póbrema. Aminhã, ieu chego lá na praça um poco in antis da meia-noite, qui ié a óra ciérta di cuidá deisse tipo di cousa. Vô levá minhas armas i vô entrá nu muím pá passá fogo in tutas as cousa qui ieu vê, maisi avisa qui ieu vo querê pagamientu, um bão dinero. Ieu agarantu qui ispantu tuta éissa coisera.

    Zeferino voltou alegre e contou a novidade para toda a cidade, Tuta Curvo iria entrar no moinho e prometia resolver a questão. O prefeito, preocupado com as próximas eleições, se dispôs a fazer o pagamento do trabalho, mas desde que Tuta conseguisse sucesso.

    Na noite seguinte, faltando vinte minutos para meia-noite, Tuta Curvo chegou num cavalão, todo armado com duas espingarda, dois revolveres e um facão na cintura.

    Não quis conversa com ninguém, atravessou por entre o povo, pegou a trilha e foi subindo a montanha.

    O padre e povo se puseram a rezar e muitos se ajoelharam:

    – “Pão nuósso qui estais nu céu… Sarve rainha mãe di misericórda…

    De repente, começaram a ouvir muitos tiros e gritos. Todos olhavam para cima, tentando enxergar o moinho. E começaram a ver fogo, o moinho todo ficou iluminado por muito tempo, até que o ruído passou. Não demorou, Tuta Curvo reapareceu:

     

    – Jenti médrósa! Ucêis cagá nas carças pur nada. Ieu dei um jeitu. Tinha milhares di murcegos, ieu acendi um monti di tóchas i espantei tutas eiles. U barui das asas dus murcegos, batendo uns nos otros, paréci memo cum barui di muim, éira isso u qui tava acunteceno.              

     

     

  5. Algumas que eu me

    Algumas que eu me lembro:

    Barrer o terrero : Varrer o quintal

    Lavar os trem    : Lavar a louça

    Subi pra riba      : Subir o morro

    Dar manta          : Dar prejuizo à alguem

    Va dormir com a onça : xingamento

    Vá peidar n’agua: xingamento

    Vá a berda merda : xingamento

     

    Sou nascido em Eloi-Mendes,sul de Minas Gerais. Uai !

     

  6. minerês – português

    minerês – português

    Dicionário Minerês – Português

    Nota do compilador-assistente: A maioria das expressões aplicam-se a todas as falas dos mineirin, porém aquelas cuja pronúncia se aproxima do carioquês são da região compreendida entre Belrzont (ver item Belrzont no dicionário) e a divisa com o estado do Hhio de Janeiro.

    MINERIN: Típico habitante das Minas Gerais.

    UAI: O correspondente ao UÉ dos paulista. Uai é uai, uai.

    UAI UAI UAI UAI UAI: Sirene de ambulância mineira.

    ÉMEZZZ?: Minerin querendo confirmação.

    ÓIQUI: Minerin tentando chamar a atenção para alguma coisa.

    TXII: O irmão do pai ou da mãe (mulher do txii é a txxiiiiaa).

    PÃO DJI QUEJ: Alimento fundamental na mesa mineira, disputa com o TUTU a preferência dos minerin.

    TUTU: Mistura de farinha de mandioca com feijão triturado e uns temperin lá da horta.

    TREM: Palavra que nada tem a ver com transporte e que quer dizer qualquer coisa que o minerin quiser. Ex. Já lavô us trem? Eu comi uns trem. Vamo lá tomar uns trem? Nun vô visti ess trem.

    MAIS QUI BELEEEZZZ: Expressão que exprime aprovação, quando gostou de alguma coisa.

    NNN: Gerúndio do minerês. Ex. Brincannno, corrennno, innno, vinnno.

    BELRZONT: Capital de Minas Gerais.

    PÓPÔPÓ’?: A esposa perguntando ao marido se pode por o pó (para fazer café).

    PÓPÔPOQUIN: Resposta afirmativa do marido, pão-duro como todos mineirin.

    JIGIFORA: Cidade mineira próxima ao estado do Hhio de Janeiro, o que confunde a cabeça do minerin que não sabe se é minerin ou carioca.

    CÔFÓFÔ EU VÔ: Conforme for eu vou.

    OIAÍ: Olha aí.

    SÔ: Expressão indefinida que acompanha frases de exclamação.

    TÓ: toma…

    BÃO: Bom

    DIMAIS DA CONTA: Muito (usada em frases como “Bom demais da conta,sô.”)

    SUFÁ: É o mesmo que sofá em qualquer lugar do Brasil, é o mezzzzzzzz que TUMATE.

    PASSEIO: O mesmo que carçada.

    ONTI: O mesmo que ontem.

    ANTONTI: Antes de ontem.

    MINEIRÊS, procêis cunhecê: Fala de minerim é assim mezzz, estes são os 15 mandamentos da língua portuguesa dos mineirin de Belzonte:
    • Usar sempre i no lugar de e: (Ex.: minino, ispecial, eu i ela, vistido).
    • Dizer ÉMEZZZ? quando quiser uma confirmação.
    • Se quiser chamar atenção diga simplesmente ÓIQUIÓ.
    • Se estiver com fome coma PÃO DGI QUEJJJ…
    • Na falta de vocabulário específico utilizar a palavra TREM que serve pra tudo, exceto como meio     de transporte. Neste caso, é troço.
    • Se aprovar alguma coisa solte um sonoro MAIS QUI BELEEEZZZ!
    • Prá fazer café, primeiro pergunte PÓPÔPÓ? Achou pouco, ficou ralo? Pergunte: PÓPÔ                    MAPOQUIM DIPÓ?
    • Se você não sabe onde está e nem para onde vai, pergunte simplesmente: ONCOTÔ?                     PRONCOVÔ?
    • Se não estiver certo de comparecer, diga simplesmente COFÓFÔ EU VÔ, que quer dizer:               conforme for, eu vou.
    • Se o motivo da dúvida for algo que você tem que fazer, explique, “Vou fazer um NIGUCIM e volto        logo”.
    • Ao procurar alguém que concorde com você, dispare um NUÉMEZZ?
    • Usar sempre duas negativas prá deixar claro que você não sabe do que está falando “NUM sei          NÃO”.
    • Use sempre o diminutivo IMMM, tipo piquininimm, lugarzimm, bolimm, mineirim boiolimmm                viadimmm (no caso de cruzeirense).
    • Ao terminar uma frase, conclua com a palavra SÔ.

    O meu leitor Waldir Sousa deixou este comentário sobre o Dicionário Minerês – Português:

    “Moro em Alfenas, Minas Gerais. Nasci em Paraisópolis, MG. Sou engenheiro, formado em Itajubá, também em MG. E diplomáticamente quero falar uma coisa para vocês:

    Num saio de Minas dijeininhum. Mió coisa que tem é Minas Gerais. E numdimito que alguém fale mar de Minas Gerais.

    Acho que ôceis tem inveja dinóis. Seis queriam falá quinéim nóis. Tô convidanno ôceis pávimki. Fico isperanno ôceis. Um dedim de prosa cum minerim é bão taméim, seis vão vê. Minas Gerais fica pertim, pertim. Quinéim um tirim dispingarda.?Póvimki. Vô recebê ocêis dendicasa. E proseanno nóis tóma um lidipinga e nem vê o tempo passá.
    Agora vô inno que játôtrazado e meu celular inda tá carreganno. Óprocevê.?Tchau.”

     

    1. Meio cheio de chichês…

      E [i] “no lugar de [e]” é pronúncia oficial em meio Brasil. Escrita é uma coisa, fala é outra. Aliás a maioria das outras características tb nao é só de Minas. 

    2. Aumentando a lista

      DENDA : dentro da (dendagaveta)

      DENDU: dentro do (denduarmário)

      LIDILEIT: litro de leite

      PUCADIQUÊ: por causa de que, por que, porque 

      * acho que o melhor do mineirês é emendar as palavras, criando outras tantas. 

  7. A “coisa”

    Aproveitando que o Nassif esteve aqui perto de São Sebastião do Paraíso, lembrei de um causo contado pelo ilustre sul-mineiro de Caldas, Fernando Brant.

    O marido acompanhado da esposa e das crianças, chegaram a uma pequena Estação localizada na Zona Rural de um lugarejo, para aguardar a chegada do trem e ir até a cidade visitar os parentes.

    Olhando o relógio e verificando que ainda tinha tempo, o marido disse para esposa:

    – se ocê quisé comprá uns biscoito pras criança, inda dá tempo!

    Ela foi até a “venda” da Estação, levando as crianças e as malas da viagem, e o marido ficou do lado de fora olhando o horizonte a espera do trem.

    A esposa começou a demorar e no alto da montanha surgiu o trem. O marido apressado não teve dúvida e gritou:

    – MUIÉ TRAIZ OS “TREM” QUE LÁ VEM A “COISA”. 

     

     

    1. O que é trem em bom português

      Em Portugal e em MG trem significa bagagem de viagante, coisas, e não comboio ferroviário, trem de ferro. Os dicionários esclarecem bem isso. No Aurélio, após exibição dos significados corretos de trem aparece trem como brasileirismo, no significado que todos os não mineiros teimam em ser o correto.

      1. Haja purismo! Como se a língua fosse decidida pelos dicionários

        O significado de uma palavra é aquele(s) com que ela é efetivamente usada. Nao existe significado “correto”, existe significado existente ou nao existente. Se pessoas usam uma palavra num dado significado, esse significado existe. Ainda mais quando a maioria dos falantes da língua usa aquela palavra naquele significado, o que é o caso do significado de trem no Brasil. 

  8. O causo da cobra

    Pois é… Minas e seus contadores de causos… Um conhecido meu certa vez,  ganhou um concurso de causos e mentiras lá pelas bandas de Montes Claros. A estória dele foi mais ou menos a seguinte:

    Ele era representante comercial e tava na estrada entre Montes Claros e Januária, lá pelos idos dos anos 70. Dirigia um Jeep Willys “capota de padre (jipe fechado com teto de aço)” quando parou em Mirabela para comer no almoço uma carne de sol com arroz com pequi, acompanhada de uma boa Januária como aperitivo (naqueles tempos não havia bafômetro). Comeu muito, arrotou pouco e enfastiou um tantão. Viagem vai, viagem vem e antes de chegar ao arraial de Lontra deu um desarranjo nas tripas e a coisa apertou. Teve então que parar o carro ali mesmo na estrada, depois de uns facões de areia e perto de um “caminzin” no mato atrás de uns pés de jatobá e juá-de-boi, donde passava uma cerca de arame farpado. Na falta de papel mais jeitoso, teve que pegar o bloco de pedido de vendas para tirar umas “fôia” para sua serventia. Era bem melhor isso do que passar a mão por acidente num pé de cansanção, ainda mais que as hemorróidas estavam a furo. Tá ele lá nos afrouxamentos da disenteria quando amarelou de vez: viu uma cobra sucuri atravessando a picada vindo no rumo dele. De repente, eis que sai do mato outra sucuri daquelas da capa preta e começa o pau comer entre a duas cobras, cada uma com a boca “mais maior” (sic) do que a outra. Então começa a peleja das cobras, uma começando a engolir a outra e a outra a engolir a tal da uma… É cobra pra lá, é cobra prá cá e o meu amigo travado. Parou até o desarranjo: não passava mais nem agulha. Aí veio a pergunta: e aí, quem ganhou a briga das cobras? Resposta dele na bucha: “Comeram uma a outra e as duas sumiram!”

    Bem, dei um “floreado” no causo, mas pra não mentir sozinho eis aí a foto de uma das cobras antes do sumiço. Reparem bem no tamanho da barriga da bicha…

  9. clima de São Paulo

    Historinha dos anos 40 em cidadezinha mineira na divisa com São Paulo.

    Todo mundo tava pondo atenção aos luxuosos progressos no outro lado da divisa: luz elétrica, asfalto, telefone. Após manifestação dos moradores, a Câmara Municipal votou uma decisão de incorporar o município ao Estado de SP. Mas era preciso primeiro ouvir o Coronel, a última palavra em tudo importante na cidade. Vereadores e alguns cidadãos solenes foram à fazenda do Coronel. Conversou-se sábia e mineiramente, comeram-se umas cestinhas de pão-de-queijo e finalmente abordou-se o assunto. Do alpendre da fazenda, onde estavam reunidos, o Coronel examinou pensativamente o outro lado do rio que fazia a divisa entre os estados, acendeu um cigarro de palha e respondeu:

    – Faz sentido esse projeto. A gente podia ganhar muita benfeitoria. Só vejo um problema: é que não me dou bem com o clima da Sáo Paulo. 

  10. Um causo da região de Pouso

    Um causo da região de Pouso Alegre:

    Dizem que tinha um senhor que mentia muito, cujo nome era Dito Mota. O Dito ficou tão famoso por suas invenções que seu nome virou sinônimo de mentiroso na cidade. Toda vez que alguém era pego na mentira, era advertido por um : ô, Dito Mota! 

    Como todo mentiroso, Dito gostava de pescar. Um dia, estava um grupo de pessoas na beira do rio e alguém achou um tatu morto. Tão logo o Dito apareceu pra pescar, o pessoal combinou de pregar uma peça nele. O combinado era que um grupo o distrairia enquanto outro colocaria o tatu no anzol da vara dele. O pessoal puxou prosa com o Dito que até esqueceu da vara . Quando ele olhou, viu que tinha fisgado alguma coisa. Correu para a vara e, sem nenhuma surpresa, se deu conta de que era um tatu. Tão logo percebeu, comentou com o pessoal: 

    – Depois o povo fala que eu sou mentiroso, já é o terceiro tatu que eu pesco neste rio. 

     

  11. O Sul de Minas e o Triângulo

    O Sul de Minas e o Triângulo são as regiões de Minas em que ocorre o erre “caipira” (retroflexo) em fim de sílaba, como no interior do Estado de São Paulo e Norte do Paraná, enquanto outras regiões mineiras pronunciam o erre aspirado, como no Rio, no Espírito Santo e nas regiões Norte e Nordeste.

    1. SOTAQUE
      Certamente por terem sido as regiões anteriormente paulistas que mantiveram a influência do linguajar original e que mantêm comunicação entre regiões. Em Cruzeiro, ser mineiro é quase que a mesma coisa que ser da cidade. Aparecida tem mais mineiro que gente e em São José dos Campos, tem um bairro só de mineiros.

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