Classificação dos governos de FHC como um governo socialdemocrata.

Vários autores de centro ou centro-direita procuram qualificar os governos de FHC como um governo socialdemocrata simplesmente para dar um charme aos governos claramente neoliberais dando uma espécie de tonalidade de esquerda a um governo que primou pela privatização da economia e abandonou por completo qualquer política de esquerda. Porém esta classificação como tal é um erro conceitual grave, uma verdadeira indigência intelectual.

Para não ficarmos somente na desqualificação daqueles que empregam esta notação é necessário se retomar alguns conceitos claros no uso das expressões políticas para não se ficar divagando e falando qualquer coisa sem sentido, uma dessas é o que é a definição e caracterização do que é uma socialdemocracia.

Se nos ativermos à definição corrente empregada por todos que escrevem sobre o assunto na Europa, socialdemocracia não é definida pelo nome do partido, mas claramente pela forma com que o governo se comporta e os apoios em que o mesmo se sustenta.

O que caracterizou as dezenas de governos socialdemocratas na Europa durante a segunda parte do século XX é a sua estrutura de poder onde partidos, com nome ou sem nome de socialdemocrata, governavam com apoio claro dos sindicatos para os mesmos obterem ganhos reais tanto na remuneração como condições de trabalho. Ou seja, a política econômica e social era apoiada pelos sindicatos que recebiam em troca uma série de reinvindicações, e se não há esta aliança entre governo e sindicatos não há socialdemocracia.

Fica aqui claro que tanto o parido Socialista Francês como o partido Trabalhista Inglês não são considerados como partidos socialdemocratas, apesar de promoverem políticas socializantes, ou da mesma forma não é possível definir períodos dos governos Roosevelt como uma socialdemocracia.

Muita confusão é gerada não se levando em conta a diferença entre um governo socialdemocrata para outros governos com políticas socializantes ou de bem estar-social, pois estas últimas podem ser feitas por qualquer partido de qualquer tendência política de acordo com as necessidades de estabilização do sistema político reinante.

De posse destas definições como jamais houve uma adesão do governo FHC a uma base sindical real, e como este governo jamais se primou por políticas socializantes é erro antológico tentar classificar os governos FHC ou como uma socialdemocracia ou como um governo com algum viés socializante, restando a este uma classificação de governo liberal de centro-direita.

Como os governos FHC nunca tiveram uma base de sustentação sindical, e por outro lado primou por uma deriva liberal privatizante e da mesma forma os governos do PT tiveram uma pequena influência da base sindical, sem que a mesma tivesse um protagonismo significativo nas politicas governamentais, devido a isto, tanto os governos Lula e no primeiro governo Dilma, a tendência foi uma espécie de populismo de esquerda, conforme definido por Ernesto Laclau na sua obra “A Razão Populista”.

A intensidade do populismo de esquerda do Brasil se diferenciou do Argentino por um lado mais se afastando do conceito, devido a falta de uma organização popular tradicionalmente mais ativa como na Argentina, e se aproximando mais do conceito devido ao reconhecimento mais próximo da população do pertencimento de Lula a uma definição de povo. Talvez devido a esta última característica, o PT com Lula tenha mais condições de recuperar a credibilidade junto ao povo do que o Kirchnerismo na Argentina.

De qualquer forma, definir o governo FHC como um governo socialdemocrata como: “o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi socialdemocrata -em qualquer lugar do mundo” é de uma tal indigência teórica cavalar que chega a ser alucinante, sendo, ao meu ver, mais uma ignorância teórica do que de uma desonestidade intelectual.

Para ficar mais completa a análise, dever-se-ia ter uma noção clara do que é a correta definição de populismo e de populismo de esquerda, porém para esta definição deixo para quem quiser definir melhor as palavras que pesquisem sobre o assunto e não continuar escrevendo besteiras.

Como comentário final e completando melhor a análise, fica evidente que os mesmo que definem os governos FHC como socialdemocratas fazem o mesmo erro da direita “xucra” que dizem que o Nazismo era socialista porque o nome do partido era Nacional-Socialista, ou seja, outro aborto teórico.

Redação

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