Clipping do dia

As matérias para serem lidas e comentadas.

Luis Nassif

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  1. Quem me associa a doleiro

    Quem mente Padilha? Tem medo de fazer o enfrentamento com a mídia paulista? Quem mente Padilha e PT?

     

    Quem me associa a doleiro Alberto Youssef mente, diz Padilha

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    William Volcov/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

    Alexandre Padilha (PT), ex-ministro da Saúde, é pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo

    Alexandre Padilha (PT), ex-ministro da Saúde, é pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo

    O ex-ministro da Saúde e pré-candidato do PT ao governo de São Paulo Alexandre Padilha convocou uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (25) na capital paulista para negar que tenha qualquer associação com o o doleiro Alberto Yousseff. “Mente quem estabelece qualquer envolvimento meu com o doleiro”, disse o ex-ministro.

    O petista negou que tenha indicado Marcus Cezar Ferreira de Moura, que foi coordenador de promoção e eventos do Ministério da Saúde em 2011, para atuar como empresário da Labogen, laboratório farmacêutico de Yousseff. “Mente quem diz que eu indiquei Marcos Cezar Moura para qualquer laboratório privado. Mente quem diz que existe ou existira qualquer contrato com a Labogen na minha gestão.”

    O nome de Padilha aparece em conversas entre o deputado federal André Vargas (PT-PR) e o doleiro Alberto Yousseff que constam de relatório da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

    As conversas entre o parlamentar e o doleiro foram feitas por mensagens enviadas por celulares BlackBerry no final de 2013. Segundo a PF, ambos buscavam a indicação de um nome que não gerasse suspeitas das autoridades fiscalizadores para comandar o Labogen.

    Nos diálogos, Vargas passa um número de celular ao doleiro e afirma que “Padilha que indicou”. Segundo a PF, o número citado na conversa é de Marcus Cezar Ferreira de Moura, que em 2011 foi nomeado por Padilha para coordenar o setor de promoções e eventos do Ministério da Saúde.

    Na época da conversa, o Labogen negociava uma parceria com o ministério para produzir um remédio para hipertensão. O projeto, segundo a PF, renderia até R$ 31 milhões em cinco anos. A parceria foi cancelada em março deste ano antes da assinatura do contrato, após vir à tona a relação do doleiro com o deputado. Quando o rompimento ocorreu, Padilha já havia se afastado da pasta para se dedicar à campanha.

     

    Na entrevista coletiva, o ex-ministro afirmou que pedirá para ter acesso aos relatórios da Operação Lava Jato e que irá acionar judicialmente quem citou o nome dele “em vão”.

    “Diante das notícias que foram veiculadas hoje, e ontem pela noite, envolvendo de forma incorreta o meu nome, tomei duas decisões: constituir, formalmente, uma solicitação judicial à PF para que eu tenha acesso a todos os detalhes de um relatório que, segundo as notícias de hoje, buscam fazer qualquer envolvimento a meu nome a partir de mensagens trocadas por terceiros que não tem nenhuma relação com o Ministério da Saúde”, afirmou.

    “Vou orientar meus advogados, a partir do momento que tiverem acesso a todo relatório, a interpelar judicialmente qualquer pessoa que tenha utilizado meu nome em vão”, declarou Padilha. “Se o senhor André Vargas ou qualquer pessoa usou meu nome em vão, vou interpelar judicialmente e esclarecer isso”, disse.

    Apesar de prometer acionar a Justiça contra quem o citou, Padilha não deixou claro contra quem dirige seu descontentamento. O pré-candidato afirmou que Vargas já negou que tenha o citado nas conversas com o doleiro e disse confiar nas investigação da PF.

    O deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), também citado em contato com André Vargas sobre uma reunião com o doleiro Yousseff, enviou nota à imprensa negando qualquer envolvimento. “Não há nenhum fato que me desabone e meu nome foi usado indevidamente por terceiros. Repudio veementemente ilações e acusações a partir de interpretações de informações parciais vazadas com intuito eleitoral”, afirma no comunicado.

    Ligação com servidor

    Padilha disse que conheceu Marcus Cezar quando trabalhava na Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República, “em 2006 ou 2007”. Segundo Padilha, ele foi militante do PT e atuou na campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.

    O pré-candidato afirmou que Marcos trabalhou no Ministério da Saúde por apenas três meses, entre maio e agosto de 2011, e que o servidor não respondia ao ministro, nem desempenhava papel que o ligava a indústria farmacêutica ou a produção de medicamentos. Padilha disse ainda que Marcos foi indicado por assessores do ministério.

    Parceria com a Labogen

    A parceria com o Labogen seria feita por meio de uma PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo), programa do ministério criado para aumentar a oferta de medicamentos à população.

    Segundo Padilha, os contratos de PDPs só podem ser firmados entre o ministério e um laboratório público que se associa a um privado. No caso da Labogen, o laboratório parceiro seria o da Marinha do Brasil. O laboratório EMS também faria parte do acordo.

    O ex-ministro disse que há vários filtros desde que um laboratório privado procura o ministério para estabelecer uma PDP até o momento em que o contrato é firmado. O petista afirmou ainda que os recursos da pasta são pagos ao laboratório público. “O laboratório da Marinha teria contrato e receberia os recursos do ministério. Nenhum real seria pago diretamente a qualquer outro laboratório privado.”

    De acordo com Padilha, André Vargas o procurou informalmente, em algumas oportunidades, enquanto ele era ministro, para falar da parceria com a Labogen. O ex-ministro afirmou que sempre orientou o deputado para que encaminhasse a proposta formalmente ao ministério.

    Desdobramentos

    O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa tornou-se réu nesta sexta numa ação penal sob acusação de ter desviado recursos públicos da refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco pela Petrobras. Costa também vai responder pelos supostos crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

    Justiça Federal abriu mais duas ações criminais decorrentes das apurações da Operação Lava Jato da Polícia Federal, uma delas contra o doleiro Alberto Youssef. No outro novo processo penal, o juiz federal Sérgio Moro fixou uma fiança no valor de R$ 7 milhões para a libertação de um dos réus. Youssef, que foi interceptado em conversas com o deputado André Vargas, passou à condição de réu pela segunda vez com outros cinco acusados.

    O doleiro foi denunciado sob a acusação de ter praticado os crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

     

  2. O efeito Strangelove

    O efeito Strangelove – ou como somos levados a aceitar uma nova guerra mundial, por John Pilger.

     

    Há poucos dias estive a rever o filme Dr. Strangelove [1] . Já o assisti talvez uma dúzia de vezes; dá sentido a notícias sem sentido. Quando o major T.J. ‘King’ Kong entra em conflito com os russos e envia o bombardeiro nuclear B52 contra um alvo na Rússia, quem tem que tranquilizar o Presidente é o general ‘Buck’ Turgidson [2] . Ataque primeiro, diz o general, afinal “são apenas 10 a 20 milhões de mortos, no máximo”

    Presidente Merkin Muffley: “Não vou ficar na história como o maior assassino de massas desde Adolf Hitler”.

    General Turgidson: “Talvez fosse melhor, senhor Presidente, que se preocupasse mais com o povo americano do que com a sua imagem nos livros de história”.

    O génio do filme de Stanley Kubrick é que representa com rigor a loucura e os perigos da guerra-fria. A maior parte dos personagens baseia-se em pessoas reais e em maníacos reais. Não há hoje ninguém equivalente a Strangelove, porque a cultura popular está dirigida quase totalmente para as nossas vidas interiores, como se a identidade seja o zeitgeist moral e a verdadeira sátira seja redundante; mas os perigos são os mesmos. O relógio nuclear parou às cinco para a meia-noite; as mesmas bandeiras falsas estão hasteadas sobre os mesmos alvos pelo mesmo “governo invisível”, como Edward Bernays, o inventor das relações públicas, descreveu a propaganda moderna.

    Em 1964, o ano em que foi realizado Strangelove, “a diferença de mísseis” era a falsa bandeira. A fim de construir mais armas nucleares, e maiores, e de prosseguir uma polícia de domínio não declarado, o presidente John Kennedy aprovou a propaganda da CIA de que a União Soviética estava mais avançada do que os EUA na produção de Mísseis Balísticos Intercontinentais. Isso encheu primeiras páginas como a “ameaça russa”. Na realidade, os americanos estavam muito à frente na produção de ICBMs, os russos nunca estiveram lá perto. A guerra-fria baseou-se largamente nesta mentira.

    Desde o colapso da União Soviética, os EUA têm cercado a Rússia com bases militares, aviões nucleares e mísseis, ao abrigo do “Projecto de Ampliação da NATO”. Renegando uma promessa dos EUA feita ao presidente soviético Mikhail Gorbachev em 1990 de que a NATO não avançaria “nem um centímetro para Leste”, a NATO entrou à grande na Europa de Leste. No antigo Cáucaso soviético, a ocupação militar da NATO é a mais ampla desde a segunda guerra mundial.

    Em Fevereiro, os Estados Unidos montaram um dos seus golpes “coloridos” contra o governo eleito da Ucrânia; as tropas de choque eram fascistas. Pela primeira vez, desde 1945, um partido pró-nazi, abertamente anti-semita controla áreas chave do poder estatal numa capital europeia. Nenhum líder da Europa ocidental condenou este renascimento do fascismo na fronteira com a Rússia. Morreram cerca de 30 milhões de russos na invasão do seu país pelos nazis de Hitler, que foram apoiados pelo Exército Insurgente Ucraniano, o UPA, responsável por inúmeros massacres de judeus e polacos. O UPA era a ala militar, que inspira o actual partido Svoboda.

    Desde o golpe de Washington em Kiev – e da reacção inevitável de Moscovo na Crimeia russa, para proteger a sua Frota do Mar Negro – a provocação e o isolamento da Rússia têm sido invertidos nos noticiários como uma “ameaça russa”. Isto é uma propaganda fossilizada. O general da Força Aérea americana que chefia as forças da NATO na Europa – nada mais nada menos que o general Breedlove – afirmou há mais de duas semanas que tinha fotos que mostravam 40 mil tropas russas a “concentrarem-se” na fronteira com a Ucrânia. Também Colin Powell afirmou ter fotos de armas de destruição maciça no Iraque. O que é certo é que o golpe temerário e predatório de Obama na Ucrânia desencadeou uma guerra civil e Vladimir Putin está a ser atraído a uma armadilha.

    Na sequência dos conflitos de 13 anos que começaram no Afeganistão muito depois de Osama bin Laden ter fugido, de terem destruído o Iraque sob uma falsa bandeira, depois de inventarem um “inimigo nuclear” no Irão, de enviarem a Líbia para uma anarquia hobbesiana e de apoiaram os jihadistas na Síria, os EUA têm finalmente uma nova guerra fria para complementar a sua campanha mundial de morte e terrorismo com aviões telecomandados.

    Um Plano de Acção para Adesão à NATO (MAP) – directamente da sala de guerra de Strangelove – é o presente do general Breedlove à nova ditadura na Ucrânia. “Rapid Trident” [3] vai instalar tropas americanas na fronteira com a Rússia e “Sea Breeze” [4] vai colocar navios de guerra americanos à vista de portos russos. Simultaneamente, os exercícios de guerra da NATO por toda a Europa de Leste destinam-se a intimidar a Rússia. Imaginem qual seria a resposta se esta loucura se invertesse e acontecesse nas fronteiras da América. É ver o general ‘Buck’ Turgidson.

    E ainda há a China. A 24 de Abril, o presidente Obama vai iniciar uma visita à Ásia para promover a sua “Campanha para a China”. O objectivo é convencer os seus “aliados” na região, em especial o Japão, a rearmarem-se e prepararem-se para a eventual possibilidade de guerra com a China. Em 2020, quase dois terços de todas as forças navais no mundo estarão concentradas na área Ásia-Pacífico. É a maior concentração militar naquela grande região desde a II Guerra Mundial.

    Num arco que se estende desde a Austrália até o Japão, a China enfrentará os mísseis e os bombardeiros nucleares americanos. Está a ser construída uma base naval estratégica na ilha coreana de Jeju a menos de 640 km da metrópole chinesa de Xangai, centro industrial do único país cujo poder económico vai provavelmente ultrapassar o dos EUA. A “campanha” de Obama destina-se a minar a influência da China naquela região. É como se uma guerra mundial tivesse começado por outros meios.

    Isto não é uma fantasia Strangelove. O secretário da Defesa de Obama, Charles ‘Chuck’ Hagel, esteve em Beijing na semana passada para entregar um aviso ameaçador de que a China, tal como a Rússia, pode vir a conhecer o isolamento e a guerra se não se vergar às exigências dos EUA. Comparou a anexação da Crimeia à complexa disputa territorial da China com o Japão sobre as ilhas desabitadas no Mar da China Oriental. “Não podem ir pelo mundo afora”, disse Hagel descaradamente, “e violar a soberania das nações pela força, coerção e intimidação”. Quanto ao movimento maciço de forças navais e de armas nucleares da América para a Ásia, isso é “um sinal da ajuda humanitária que as forças armadas americanas podem proporcionar”.

    Obama está neste momento à procura de um orçamento para armas nucleares, maior do que no pico histórico durante a guerra-fria, a era de Strangelove. Os Estados Unidos estão a avançar na sua antiga ambição de dominar o continente eurasiano, estendendo-se da China à Europa: um “destino manifesto” assegurado pelo poder.
    Notas:

    [1] Dr. Strangelove (Dr. Estranhoamor): filme de Stanley Kubrick realizado em 1964, uma comédia de humor negro, que satirizou a tensão nuclear vivida pelo mundo durante a guerra-fria. Considerado “a melhor sátira política do século”.

    [2] A personagem Turgidson sabe como fazer a guerra, mas falta-lhe a perspectiva de decidir se deve ou não fazer a guerra. Compreende a política do Presidente contra ataques nucleares mas tem dúvidas quando se lhe apresenta a possibilidade de anular essa política e varrer do mapa a Rússia. Sente-se feliz em apresentar a ideia de desencadear o ataque mais destrutivo contra um inimigo que não fez nada.

    [3] Rapid Trident: exercício militar conjunto de 12 países na Ucrânia, que deve iniciar-se em Julho, com a participação dos EUA.

    [4] Sea Breeze: exercícios militares anfíbios organizados à escala multinacional (NATO), realizados anualmente na Ucrânia.

    O original encontra-se no Guardian e em johnpilger.com/… . Tradução de Margarida Ferreira.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

     

  3.  Reflexos da ditadura na

     Reflexos da ditadura na educação impedem país de avançar

    Em audiência na Câmara, especialistas pontuaram as heranças do período autoritário que impactam na má qualidade do ensino público e no acesso à educação.

    Os reflexos da ditadura civil militar sobre a educação foram tão nocivos e profundos que até hoje, 30 anos após o início da redemocratização, impedem o país de alavancar a qualidade e democratizar o acesso a este que deveria ser um direito fundamental de todo brasileiro.  Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Câmara, nesta quinta (24), especialistas foram unânimes em apontar as heranças do regime como principais responsáveis pela má qualidade da educação pública e pela vergonhosa falta de acesso a ela para os pelo menos 14 milhões de analfabetos, além de número maior ainda de analfabetos funcionais.

    Presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti lembrou que a ditadura pôs fim ao ambiente de otimismo pedagógico dos educadores brasileiros com o avanço da educação popular e emancipatória já nos primeiros dias após o golpe. Em 14 de abril de 1964, um dia antes do general Castelo Branco assumir o posto de ditador, foi extinto o Programa Nacional de Alfabetização, que vinha sendo implantado no país pelo educador Paulo Freire e seria inaugurado oficialmente em maio. Segundo ele, não foi nenhum rompante do regime. A decisão já havia sido tomada um ano antes, quando Castelo Branco ouvira Paulo Freire em um evento no interior paulista. “Vocês estão engordando cobras”, teria diagnosticado o futuro ditador.

    Na sequência, vieram as reformas educacionais que arrasaram com o modelo de educação brasileira. O presidente do Instituto narrou que, em 10 de junho de 64, na primeira reunião com secretários de educação, Castelo disse textualmente: o objetivo do meu governo é estabelecer a ordem entre trabalhadores, estudantes e militar.  E seu ministro Suplicy completou: estudante deve estudar, professor deve ensinar, e não fazer política. “Aí está o programa da ditadura: uma visão autoritária da educação e uma visão tecnicista que ainda permanece, suavizada, sem a ostentação e arrogância daquele período”, avaliou.

    Gardotti ressaltou também a introdução do caráter mercantilista da educação, trazido dos Estados Unidos, que a transforma em negócio, ao invés de direito. “Havia uma lógica de privatizar”, denuncia. Ele criticou a reforma universitária, que promoveu a “departamentalização”, apontada como estratégia para fragmentar o conhecimento. E também a forma autoritária como eram impostos os diretores, selecionados não pelo desempenho acadêmico, mas pelo perfil gerencial. “A reforma universitária visava reformar para desmobilizar”, resumiu.

    Sobraram críticas também à reforma do ensino básico, feita de modo a impedir o crescimento intelectual dos alunos. “A reforma da educação básica tem coisas hilárias, como dizer que todo mundo tem que se profissionalizar porque Jesus Cristo foi carpinteiro”, exemplificou. Segundo ele, em uma época que até o Banco Mundial preconizava que os trabalhadores tinham que ter uma formação generalista, a ditadura obrigou todas as escolas de ensino médio a introduzir a formação técnica compulsório, sem nenhum preparo para isso, e o resultado foi um fracasso.

    Outro fracasso registrado foi o do Mobral, criado para alfabetizar jovens e adultos e extinto no governo Sarney. Em quase 20 anos, o programa, que prometia acabar com o analfabetismo em 10, conseguir reduzir a taxa apenas de 33% para 25%. “O Mobral alfabetizou muito pouco. E era muito mais fácil do que hoje, porque esses 8% residual que temos agora está no campo e em locais de difícil acesso”, analisou.

    No inventário dos prejuízos causados pela ditadura à educação brasileira, ele incluiu também o desmantelamento dos vários movimentos sociais e populares, a eliminação da representação estudantil e a perda da capacidade dos educadores de influir nos rumos da educação. Para ele, é preciso mudar a concepção da educação. “Nós temos que formar professores a partir de uma outra ótica, de uma outra concepção de educação que respeite o saber das pessoas, que introduza o diálogo, o respeito, e vença aquilo que é o mais duro do que foi herdado da ditadura: a falta de democracia”, diagnosticou.

    Como exemplo, ele citou o quanto ainda é difícil implantar um conselho de escola ou mesmo difícil discutir política na escola, o que considera salutar para o país.
     
    “Estamos formando gerações sem discutir que país queremos”, afirmou. Gardotti lembrou que Paulo Freire já dizia que educar é politizar sim. “Não podemos formar estudantes na velha teoria do capital humano: estude, trabalhe e ganhe dinheiro. Paulo Freire respondeu claramente a esta teoria na época: a educação que não é emancipadora faz com que o oprimido queira se transformar em opressor”, concluiu.

    O sociólogo e colunista da Carta Maior, Emir Sader, lembrou que o arrocho salarial foi tão importante para a sustentação da ditadura quanto a repressão sistemática, o que acabou comprometendo a qualidade dos serviços públicos, inclusive a educação. “O santo do chamado “milagre econômico” foi o arrocho salarial”, afirmou. Segundo ele, até então, a escola pública era um espaço de convivência entre a classe pobre e a classe média, um espaço de socialização. “A classe média, a partir daquele momento, passou a se bandear para escola particular, fazendo um esforço enorme, colocando no orçamento os gastos de escola e deixando a escola pública como um fenômeno social de pobre”, observou.

    O sociólogo avalia que a ruptura causada foi tão significativa que a escola pública, até hoje, não recuperou seu vigor. “A democratização não significou a democratização do sistema educacional, não significou a recuperação da educação pública, da saúde pública. Isso está sendo feita a duras penas na última década, mas com uma herança acumulada brutal. Já tem reflexos no ensino universitário, mas não em toda a educação: a escola pública nós perdemos”, ressaltou.

    Para ele, os investimentos em educação superior são importantes, mas é a reconquista da qualidade da educação primária e média que deve ser tema fundamental e urgente à democracia brasileira. “Estamos muito atrasados. Até a saúde pública, apesar do viés duríssimo da perda da CPMF, nós conseguimos melhorar agora com o programa Mais Médicos. Mas a educação, não. A estrutura de poder herdada da ditadura só se consolidou, inclusive a da educação privada”, observou Sader, lembrando que os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso aprofundaram ainda mais o processo de privatização deflagrado pelos militares.

    Sadir Dal Rosso, professor da Universidade de Brasília (UnB), uma das mais afetadas pelo golpe civil militar, submetida a três intervenções, abordou o impacto da ditadura na universidade e na construção do pensamento brasileiro. Segundo ele, o controle das administrações universitárias, a demissão e expurgos de professores que não concordavam com o regime, os assassinatos de estudantes, o controle das organizações estudantis e a implantação de serviços de informação no meio acadêmico causaram prejuízos imensuráveis ao país, que ainda precisam ser investigados e punidos. “É necessário esclarecer a verdade e, neste sentido, é necessário rever a Lei da Anistia”, defendeu.

    http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Educacao/Reflexos-da-ditadura-na-educacao-impedem-pais-de-avancar/13/30792

  4. (…)Os ataques à Petrobras,

    (…)Os ataques à Petrobras, que vem sendo modulados, tanto pela direita neoliberal como pelas oposições anti-PT e anti-Lula – de corte direitista e esquerdista – talvez sejam a síntese mais representativa desta dificuldade. O ataque, turbinado pela grande mídia,  dá espaço para estes grupos políticos não dizerem,  de forma clara  (se fossem eleitos),  o que fariam com a economia e com as funções públicas do Estado, no próximo período. Unidos, esquerdismo e neoliberalismo, desta vez no ataque ao Estado – não somente ao Governo – ficam absolvidos de fazerem propostas para dizerem como o país deverá operar, gerando emprego e renda,  ao mesmo tempo que se defende da tutela do capital financeiro  e das pressões da dívida pública.

    A desmoralização de um ativo público da dimensão da Petrobras, os ataques ao seu “aparelhismo” político, a crítica aos gastos públicos excessivos (programas sociais, na verdade), os ataques às políticas do BNDES – de forma combinada com um permanente processo de identificação da corrupção com o Estado e com os Partidos em geral – fecham um quadro completo do cerco ao país: liquidem com a Petrobras e teremos o Estado brasileiro pela metade; acabem com os gastos sociais e teremos uma crise social mais profunda do que a das jornadas de junho; restrinjam o BNDES e o crescimento – que já é pífio – se reduzirá ainda mais;  desmoralizem os partidos e a política e a técnica neoliberal substituirá o contencioso democrático.

    Como os militares estão aferrados às suas funções profissionais e constitucionais e não estão para aventuras, o golpismo pós-moderno vem se constituindo através da direita  midiática. Esta, se bem sucedida no convencimento a que está devotada, encarregaria um novo Governo social-liberal da desmontagem do atual Estado Social “moderado”,  obtido no Brasil num cenário mundial adverso.

    Lido este cenário de refluxo da esquerda e de retomada dos valores do neoliberalismo selvagem, que devasta as conquistas da social-democracia européia, pode-se concluir que o debate verdadeiro no processo eleitoral em curso  – momento mais importante da nossa democracia republicana concreta – é o seguinte: ou o projeto lulo-petista se renova, baseado no muito que já fez e conquista novos patamares de confiança popular; ou o refluxo direitista liberal, que assola a Europa, chegará em nosso país pela via eleitoral, legitimado por eleições democráticas.

    A semeadura da insegurança, que precede as inflexões para direita, está em curso em todos os níveis e para responder a esta sensação manipulada – que vai da economia à segurança pública – é preciso dizer de maneira bem clara quais os próximos passos contra as desigualdades e contra perversão da política e das funções públicas do Estado. Chegamos a um momento de defesa política de um modelo novo combinado com a velha luta ideológica.

    Recentemente o MST, no seu Congresso Nacional,  deu uma demonstração de acuidade política e clareza programática. Fez a vinculação da questão agrária do país a um novo conceito de reforma:  vinculou as demandas particulares dos deserdados da terra à produção de alimentos sadios para os cidadãos de todas as classes, numa verdadeira rebelião agroecológica, que faz a disputa no terreno da produção e da política. Particularmente ele  se reporta àqueles que mais sofrem  os efeitos “fast-foods”, turbinados por agrotóxicos  e por malabarismos genéticos, cujos efeitos sobre a espécie humana ainda não são avaliáveis na sua plenitude.

    Trata-se, na verdade, da superação de uma demanda particular de classe – uma reforma agrária baseada na mera redistribuição da propriedade – para um plano universal de interesse da totalidade do povo, sem a perda das suas raízes classistas. Belo exemplo que vem do povo para ser absorvido e renovar a  cultura política da esquerda.  O capital financeiro, no mundo, está vencendo, mas pode ser barrado pela imaginação criadora de uma esquerda que seja consciente da grandeza das suas tarefas nos  momentos de refluxo. O MST deu um belo exemplo.  A esquerda o seguirá?

    http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-capital-esta-vencendo-Como-a-esquerda-pode-barra-lo-/4/30765

  5. Gérard Dumenil: A contradição

    Gérard Dumenil: A contradição que pode desafiar o neoliberalismo

    por Luiz Carlos Azenha

    Como os leitores do Viomundo, muito bem informados, já sabem — os da Folha, O Globo e Estadão vão levar algumas semanas para descobrir — os economistas franceses estão em evidência.

    Nos Estados Unidos, o livro Capital no Século Vinte e Um, de Thomas Piketty (ainda não traduzido para o português) é um fenômeno de vendas. Na Amazon, esgotou. Só existe em versão digital. O autor fala a auditórios abarrotados. É detonado pelos neoliberais.

    Comecei a ler, mas ainda não terminei. Baseio-me em resenhas.  Piketty pesquisou estatísticas de um grupo de países do capitalismo central dos últimos três séculos. Concluiu que a produção de desigualdade não é um fenômeno do neoliberalismo, mas inerente ao sistema capitalista. A única forma de enfrentá-la, hoje, seria criar um imposto global sobre o capital. Ou isso, ou a barbárie.

    Pode se inferir, a partir do conteúdo do livro, que o capitalismo de “livre mercado” é incompatível com a democracia liberal, motivo pelo qual o livro bombou nos Estados Unidos.

    Um articulista do New York Times escreveu: Capitalismo vs. democracia.

    Na segunda-feira, desde Nova York, publicaremos artigo de Heloisa Villela a respeito do livro que promete ser best seller mundial.

    Aqui no Brasil, os franceses Gérard Dumenil e Dominique Lévy estão lançando, pela Boitempo, A Crise do Neoliberalismo.

    Gérard fará uma série de palestras sobre o livro.

    Conversei hoje cedo, por telefone, com o autor.

    O livro descreve o neoliberalismo como uma reação dos capitalistas aos ganhos obtidos pelas chamadas classes populares no pós-guerra, especialmente através do New Deal do presidente Franklin Delano Roosevelt, nos Estados Unidos.

    Começando nos anos 70 e 80, no Reino Unido e nos Estados Unidos, através dos governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, os capitalistas estabeleceram aliança com a chamada classe gerencial de empresas públicas e privadas, tendo como objetivo reconquistar os lucros e o poder.

    Houve transformação radical no gerenciamento de empresas, além da globalização e da financeirização.

    Os capitalistas ganharam de forma espetacular.

    O laboratório neoliberal havia sido o Chile de Pinochet. Na globalização, diria eu, Azenha, a Dina — polícia política do ditador chileno — foi substituída pelo discurso único da mídia corporativa. Saiu o pau-de-arara do Fleury, entrou o poder coercitivo dos irmãos Marinho, a cadeira-de-dragão verbal do Sardenberg-Miriam Leitão-William Waack.

    Na crise de 2008, segundo Gérard Dumenil, os feiticeiros do capitalismo “perderam o controle de sua própria mágica”.

    Resultado de desequilíbrios internos nos Estados Unidos: a dívida altíssima dos domicílios e o gigantesco déficit comercial de Washington.

    Seis anos depois, a crise permanece.

    O autor francês prevê que ela será de longa duração.

    Nisso, coincide com seu colega Thomas Piketty, que tem falado em décadas de crescimento pífio das economias dos Estados Unidos e Europa. Em outras palavras, acreditam que o mundo capitalista vai se arrastar correndo o risco sempre iminente de explosão social.

    Gérard diz que o fracasso no enfrentamento da crise se deve ao fato de que não mudaram as bases do neoliberalismo.

    Continua nos Estados Unidos a lógica da distribuição de dividendos, da exportação de capital e da recompra de ações por empresas com o objetivo de sustentar o valor dos papéis nas bolsas.

    É como se a crise de 2008, afinal, não tivesse acontecido!

    Sobre o futuro, ele contempla tanto saídas à esquerda quanto à direita — com o espectro da extrema-direita rondando no horizonte.

    Porém, Gérard Dumenil aponta uma contradição central que pode ameçar a aliança entre capitalistas e a classe gerencial que trabalha em nome deles: a perda de poder relativo de Washington em relação a outros países.

    Para manter a hegemonia norte-americana, a classe gerencial sabe que é preciso cobrar impostos que os capitalistas evitam recorrendo aos paraísos fiscais — refúgios é uma definição melhor.

    Cobrar impostos, por exemplo, para sustentar as forças armadas. Para cuidar da infraestrutura. Para não perder da China.

    Para o economista francês, este descolamento entre os capitalistas norte-americanos e os interesses políticos/estratégicos/econômicos/diplomáticos dos Estados Unidos pode ser um fator definidor do futuro.

    Na classe gerencial, aliás, já tem gente pregando o fim dos refúgios fiscais, sem os quais o lucro dos capitalistas não sobrevive!

    Um rearranjo na aliança que comanda o neoliberalismo poderia provocar mudanças significativas no futuro.

    Um relatório recente da Oxfam concluiu que as 85 pessoas mais ricas do mundo controlam riqueza equivalente à dos 50% mais pobres.

    Será possível sustentar isso a longo prazo?

    http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/gerard-dumenil-a-contradicao-que-pode-desafiar-o-futuro-do-neoliberalismo.html

  6. O Brasil, a América do Sul e

    O Brasil, a América do Sul e a integração regional

    Para o bem e para o mal, somos, isoladamente, a única expectativa de potência regional
    por Roberto Amaral

    Uma das poucas coisas que estão se transformando em política de Estado no Brasil é a atual política externa, cujos fundamentos remontam à presidência Jânio Quadros e à atuação de Afonso Arinos de Melo Franco no Ministério das Relações Exteriores. Trata-se de uma política externa independente e progressista que prosseguiria com San Tiago Dantas, Hermes Lima, Evandro Lins e Silva e Araújo Castro, até o interregno da primeira fase do regime civil-militar – Castello Branco e seu ministro Juracy Magalhães (“O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”).

    Ainda na última ditadura, o que havia sido grafado como ‘Política Externa Independente’ (PEI) volta a aproximar-se de seus contornos originais nas gestões Magalhães Pinto, Azeredo da Silveira e Saraiva Guerreiro à frente do MRE. A atual PEI, portanto, é herdeira de longa história, que começa a ser gestada no quinquênio JK e formulada no Instituto Superior de Estudos Brasileiros,  onde se destacam os textos de  Hélio Jaguaribe. Após o mormaço dos anos 90, e a preeminência do neoliberalismo (ressalvem-se os bons momentos de Celso Amorim no governo Itamar Franco), temos, em todo o período Lula, e liderada pelo presidente, seu ator mais ostensivo, a política traçada e executada pela tríade Amorim-Samuel P. Guimarães-Marco Aurélio Garcia, que chega aos nossos dias com alguns pontos de inflexão. Com todos os méritos, é um desdobramento da história encontrada.

    Assim, foi-nos dado viver, no período 2003-2011, um dos melhores momentos de nossa política externa, ativa e altiva, animada por um encontro de fatores favoráveis, como a conjuntura internacional e o crescimento da economia nacional, de que inteligentemente se soube valer  o presidente Lula. Desse período destacam-se nosso  papel de ator e o movimento com vistas aos mercados africano e asiático (aproximação que amenizou entre nós as repercussões da crise econômica de 2008 ) e ao Hemisfério Sul, neste merecendo destaque nossa política e, dela derivada, nossa liderança na América do Sul. É exatamente neste ponto que as administrações Lula e Dilma se distinguem, conservando porém sua essência. Com a atual  presidente o Brasil passa a ter uma atuação internacional mais comedida (para o que terá favorecido o retraimento do ministro Patriota), com, por exemplo,  o inexplicado recuo da política para   o Irã  e o  amortecimento do esforço integracionista sul-americano. Registre-se, porém, nossa importantíssima vitória na OMC, com a eleição do embaixador Roberto Azevêdo para sua diretoria-geral, o alinhamento com  Alemanha, Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU relativamente à intervenção na Líbia e a atuação pronta e firme de nosso governo quando do golpe de Estado parlamentar que depôs o presidente Lugo, e o esforço, em conjunto com nossos co-irmãos sul-americanos, para sustar a desestabilização em marcha da Venezuela, gestada, como sempre, a partir de  Washington.

    Este período, todavia, não ensejou nem os debates nem as formulações doutrinárias dos anos 60. Saudades do ISEB. Contou, porém, e conta ainda, com a resistência conservadora, a resistência de sempre da grande imprensa, mobilizando ‘cientistas’ políticos mediáticos e diplomatas de pijama, uns saudosistas da ideologia neoliberal, outros simplesmente uma meia dúzia de ressentidos.

    Neste artigo nossas atenções se voltam para um só aspecto dessa política externa: a opção pela integração sul-americana, pois, lamentavelmente, ainda é necessário defendê-la.

    Para estimar a importância dessa política para o presente e o futuro do Brasil,  basta considerar que o Hemisfério Sul – nele com destaque nosso subcontinente – é, nada mais, nada menos – do que o espaço privilegiado de expansão do  capitalismo brasileiro, espaço no qual as grandes empresas nacionais poderão atuar, e onde já atuam, com sucesso e proveito. O instrumento exemplar da integração sul-americana e de nossa liderança é o Mercosul: desde sua criação (1991), as exportações brasileiras cresceram nada menos que 12 vezes, sendo que cerca de 90% dessas exportações são de produtos manufaturados. Para os países do bloco, exportamos nossos bens industriais, e não apenas soja e laranja. Essa evidência, todavia, é ignorada pelos diplomatas da FIESP, logo ela que supostamente deveria ser a maior interessada na recuperação de nossa indústria manufatureira, presentemente às voltas com uma  de suas crises mais sérias.

    O Mercosul, ademais, sepultou de vez a artificial rivalidade e competição mutuamente destrutiva entre Brasil e Argentina, fomentada desde o Império pelas grandes potências.  Nossa rica vizinha, que nos anos 90 tinha uma pequena participação nas exportações brasileiras, tornou-se o terceiro destino de nossos produtos, após  China e logo atrás dos EUA, mas com uma diferença radical: enquanto para aqueles países exportamos commodities (grãos, frango, carne, minérios etc.), para  a Argentina, como para os demais países do bloco, nossas exportações são de manufaturados.  É ilusório contar com o mercado dos EUA ou da UE para  nossos produtos industriais, motivo pelo qual aliança de livre-comércio com qualquer um desses blocos será sempre a aliança da panela de barro com a panela de ferro,  como se deu com o México ao aderir ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) em 1992. Que seu fracasso evite o nosso.

    A partir de 1994 (quando as regras do NAFTA entraram em vigor) a renda per capita do México cresceu apenas cerca de 1,2% ao ano, ou seja, bem abaixo dos índices médios alcançados por Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai e Peru, e abaixo da média dos emergentes.  De outra parte, ao invés de ser contida, como prometido, a imigração cresceu de 6,2 milhões, em 1994, para 12 milhões, em 2013. Não por acaso, o governo Obama bate recorde de deportação de imigrantes, e dentre estes destacam-se trabalhadores pobres do outro lado da fronteira, e assim, ironia da história, expulsos como estrangeiros indesejáveis das terras que foram suas… O México, que aspirava a exportar mercadorias, continuou exportando sua gente para o sub-emprego nos EUA. Apesar do NAFTA, o México não logrou, tampouco, atrair o capital estrangeiro. Ainda hoje, recebe menos investimentos do que Brasil, Chile, Colômbia e Peru. Por outro lado, o crescimento econômico dos países latino-americanos que não celebraram acordos de livre comércio com os EUA foi, no período de vigência do acordo até aqui,  maior do que o crescimento mexicano.

    O fortalecimento do Mercosul corresponde, ainda,  à necessidade de nossos países, juntos, exercerem maior influência nas negociações internacionais, em defesa de seus interesses, além de contrabalancear o poder das potências extra-regionais que sempre ditaram nossas políticas (internas e externas) – diretamente, ou por intermédio de agências e organismos internacionais como FMI, BIRD, Banco Mundial e quejandos.

    O Brasil não pode exercer, na região, o papel de sócio menor dos EUA, como lhe cobra a grande imprensa. Queria ela, por exemplo, que derrubássemos Morales a pretexto de defender a Petrobras, que defendêssemos os golpes que derrubaram Lugo e Zelaya. Surpreendida pelas denúncias acerca da espionagem da Agência Americana de Segurança-NSA, violando as comunicações do Palácio do Planalto e da Petrobras, o que levou a presidente Dilma a cancelar a viagem que faria aos EUA, tentaram amenizar a gravidade do episódio.  

    De outro lado, até porque isso atende aos nossos interesses – mais precisamente, na realidade, aos interesses dos capitalistas brasileiros – precisamos dar os braços aos países mais pobres e chamar Argentina e Venezuela (crises à parte) para um trabalho comum visando à redução das assimetrias. Política externa custa caro. Ela implica a diplomacia stricto sensu, mas não apenas isso. Tanto ou mais importante é a presença objetiva, material, e nesse sentido é preciosa a atuação do BNDES no financiamento de obras de infraestrutura, as quais, melhorando as condições logísticas de nossos parceiros (isto é, de mercados nossos), ainda ajudam à indústria brasileira, pois as obras são conduzidas por empresas nacionais e as encomendas de bens e equipamentos são ditadas no mercado brasileiro. Assim, foi de alto alcance a cooperação visando à construção do porto de Mariel (Cuba), nossa ponte para os mercados da costa Leste dos EUA,  da América Central e Caribe. Como será de largo alcance ajudarmos o Uruguai na construção de um grande porto de águas profundas que logo se transformará em escoadouro da produção brasileira e rota para o mercado do Pacífico, sem as limitações do Canal do Panamá. Esse porto, que pode atrair investimentos chineses, é importante para todos os países do Cone Sul, e por isso é duplamente importante para a economia e a política brasileiras. E foi política correta a decisão de financiarmos, com recursos do Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (FOCEM), a linha de alta voltagem que já leva energia de Itaipu para Assunção. O Paraguai é nosso sócio na grande hidrelétrica, e sua eletrificação já atrai empresas brasileiras, as quais lá se beneficiam de custos mais baixos, desta forma aumentando suas condições de competitividade.

    É imoral pensar pequeno. E estrategicamente desastroso.

    Somos a sexta economia do mundo, quarto território do planeta (lembremos, 8.500 mil km2), 200 milhões de habitantes, um litoral de quase 8 mil km de extensão, uma fronteira terrestre com cerca de 17 mil km, limítrofe com dez países, 50% do território e da produção da América do Sul.

    Para o bem e para o mal, somos, isoladamente, a única expectativa de potência regional. Negar esta evidência significa manter-nos reféns de interesses que obstaculizam nosso desenvolvimento, e, por conseqüência, o bem-estar de nosso povo.

    http://www.cartacapital.com.br/internacional/o-brasil-a-america-do-sul-e-a-integracao-regional-8749.html

  7. Brasileiros poderão ingressar em Coimbra com a nota do Enem

    Ciência e Tecnologia

     24/04 às 19p6 

    http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2014/04/24/universidade-de-coimbra-vai-usar-enem-para-ingresso-de-brasileiros/

    Universidade de Coimbra vai usar Enem para ingresso de brasileiros

     

    Estudantes brasileiros poderão ingressar na Universidade de Coimbra, em Portugal, com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O exame passa a ser aceito este ano para os candidatos a vagas de graduação. É a primeira vez que uma instituição estrangeira utiliza o Enem como critério de seleção.

    A Universidade de Coimbra aceitará os resultados do Enem de 2011, 2012 e 2013 e dispensará os brasileiros dos exames portugueses, que, até o mês passado, eram obrigatórios pela legislação do país. As notas no exame terão pesos diferentes de acordo com o curso ao qual o estudante pretende ingressar. No site da instituição, está uma tabela com os pesos das pontuações.

    A Universidade de Coimbra é a instituição portuguesa de ensino superior mais antiga. No ano passado, foi incluída na lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Cerca de 23 mil estudantes estão matriculados na instituição. Desses, mais de 2 mil são brasileiros.

    O vice-reitor da universidade, Joaquim Ramos de Carvalho, explica que o Enem é o primeiro exame internacional a ser aceito pela instituição como critério de seleção. A universidade deu prioridade pela alta procura de brasileiros. Segundo ele, a instituição estuda aceitar também o Gao Kao, uma espécie de Enem chinês.

    “Temos acompanhado a evolução e o sucesso do Enem. Prova disso é o número de universidades brasileiras que aceitam o exame como forma de ingresso. São instituições que respeitamos muito”, diz Carvalho. Ele acrescenta: “O Enem tem qualificações equivalentes [às exigidas pelos os exames portugueses]. Consideramos que podemos aceitar sem necessitar passar por prova”.

    Segundo o Ministério da Educação (MEC), o uso do exame pela universidade portuguesa “esta é mais uma prova da consolidação do Enem como critério republicano de acesso ao ensino superior”.

    No Brasil, o Enem seleciona estudantes para instituições públicas de ensino superior pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para bolsas em instituições particulares, pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Além disso, é pré-requisito para obter um financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e para o intercâmbio acadêmico pelo Ciência sem Fronteiras.

    Em 2013, mais de 5 milhões de candidatos fizeram o exame. Neste ano, o Enem poderá ser aplicado nos dias 8 e 9 de novembro. O edital ainda não foi divulgado.

     

  8. Classe media americana perde

    Classe media americana perde para a  canadense o posto da mais rica do mundo. Vale lembrar que no Canada a classe media pode pagar ate 35 % de imposto de renda e ricos ate 50 %.

     

    Classe média americana já não é mais rica do mundo, diz NYT

    Má notícia para o sonho americano: de acordo com dados analisados pelo New York Times, classe média dos EUA perdeu o posto de mais afluente do mundo

    São Paulo – A classe média americana foi, na segunda metade do século passado, o símbolo da força da economia do país. Não mais.

    De acordo com uma nova análise realizada pelo blog Upshot do New York Times, a renda dos segmentos médios da população dos Estados Unidos foi ultrapassada pela do Canadá.

    Foi usado o critério da renda mediana, que mede quanto ganha, após pagar impostos, uma pessoa que está exatamente na metade da pirâmide da população. 

    A renda mediana dos EUA foi de US$ 18.700 anuais em 2010 – um aumento de 20% desde 1980, mas praticamente o mesmo valor de 2000 (descontada a inflação).

    No Canadá, a renda mediana subiu 20% só desde 2000 e atingiu os mesmos US$ 18.700 em 2010 – e os números mais recentes indicam que desde então, ela cresceu mais do que a dos seus vizinhos do sul. 

    Em países europeus, a renda mediana ainda fica abaixo da dos americanos, mas a diferença é cada vez menor. Enquanto isso, os pobres americanos já ganham menos do que os pobres europeus de vários países.

    Os Estados Unidos continuam a ser a maior economia do mundo, assim como o país grande com PIB per capita mais alto. O crescimento também supera, na maior parte das vezes, o de seus colegas desenvolvidos.

    A diferença é que com o aumento da desigualdade nas últimas décadas, os ganhos econômicos tem fluido majoritariamente para a camada mais rica da população.

    Os dados utilizados pelo New York Times são do LIS, grupo que mantém o Luxembourg Income Study Database, banco de dados com estatísticas sobre renda de vários países ajustadas para permitir a comparação internacional.

  9. Ediçao especial do PHYSICS WORLD SOBRE FISICA NO BRASIL.

    Esta é uma reportagem que provavelmente não vai aparecer na “grande” imprensa

    Em vez disso, o último Physics World Special Report examina os desafios e oportunidades para os físicos no Brasil – o quinto
    maior país em tamanho e sétima maior economia do mundo.

    Você pode ler o relatório completo on-line 

    http://iop.msgfocus.com/c/112woeDJ5hCJzdPDTwLLiYPh

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