CNJ arquiva ação contra juíza que publicou artigo criticando governo na pandemia

Ministro destacou que a liberdade de expressão é direito fundamental de todo cidadão, inclusive dos membros do Poder Judiciário

Foto: Guilherme Santos/Sul21

Do Migalhas

O corregedor Nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, arquivou, nesta sexta-feira, 14, pedido de providências instaurado contra a juíza Valdete Souto Severo, do TRT da 4ª região, para apurar artigo publicado no sítio eletrônico “Democracia e Mundo do Trabalho em Debate”, no último dia 20 de julho.

Intitulado “Por que é possível falar em política genocida no Brasil em 2020” (acesse a íntegra do artigo), o texto critica a atuação do governo durante a pandemia. Ao analisar os esclarecimentos da magistrada, o ministro entendeu inexistir justa causa suficiente, no caso, para instauração de processo disciplinar contra a juíza do Trabalho.

Segundo o corregedor, verificou-se que o artigo escrito pela juíza do TRT-4 e publicado em meio eletrônico não pode ser caracterizado como infração aos deveres da magistratura, uma vez que, devido ao contexto e o veículo no qual foi publicado, tangencia o teor crítico-acadêmico, tratando-se, portanto, de obra técnica que não pode ser tida como atuação político-partidária e nem tampouco caracteriza manifestação de opinião sobre processo em andamento, adequando-se à resolva prevista no artigo 36, III, segunda parte, da Loman.

“Denota-se, em verdade, que a publicação do artigo em sítio eletrônico que detém conexão com o tema trabalhista, área de sua atuação preponderante, a juíza apenas exerceu regularmente sua liberdade de expressão, não se vislumbrando qualquer intenção deliberada de ofender as normas previstas na Loman, no Código de Ética da Magistratura Nacional ou na Resolução n. 305/2019”, afirmou Humberto Martins.

Tema novo

Ainda em sua decisão, o ministro destacou que a liberdade de expressão é direito fundamental de todo cidadão, inclusive dos membros do Poder Judiciário, conforme previsto no artigo 5º da CF. Entretanto, segundo ele, deve-se ter em mente que a conduta pessoal do juiz, muitas vezes, se confunde com a profissional. “O mundo contemporâneo está imerso em total conectividade. A consolidação da internet veio expor novos desafios aos magistrados”, alertou.

Humberto Martins ressaltou ainda que a CF/88 também dispõe a respeito da impossibilidade de magistrados se dedicarem à atividade político-partidária. Todavia, afirmou o ministro, à época, nem sequer se cogitava que, em um futuro razoavelmente próximo, existiram ferramentas digitais capazes de conectar pessoas por todo o mundo, bem como era inimaginável que a manifestação de qualquer pessoa pudesse atingir uma quantidade incalculável de indivíduos em poucos minutos.

“Nesse sentido, tratando-se de tema ainda novo, é preciso adotar-se cautela e analisar com atenção fatos que eventualmente possam vir a configurar violação aos deveres impostos aos magistrados, de modo a delimitar quais são os comportamentos que efetivamente ultrapassam os limites do legítimo exercício da liberdade de expressão garantido aos juízes sem que se coloque em risco a independência e a imparcialidade que a sociedade espera”, enfatizou o corregedor.

Veja a íntegra da decisão.

Redação

1 Comentário

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  1. Nassif: logo na CorteMorDeSuplicaçãDosPampas? Eu diria que essa Magistrada corre sério risco de logologo ser posta à disposição, “à bem do Judiciário”. É que os MinistrosMor dessa Corte escrevem na unha o nome dos desafetos. Este julgado foi sua “pena de morte” na carreira. Não será jamais promovida, nem ajudando MadreTerezaDeCalcutá. Esses do JudiciárioSulistas são como os da QuerênciaDeCruzAlta. Quando odeiam o fazem visceralmente. Lembra de um da Corte que, no seu plantão, isentou o SapoBardubo de alguma manobra suja de Curitiba e que o Presidente da Casa, mesmo estando em férias e “conferenciando” (diretamente) com os caras nos esteites, revogou imediatamente a decisão monocrática? Não consegue agora nem servente para servir cafezinho em seu gabinete. Eu, se fosse ela, largaria esse troço e passaria a advogar. Se é que eles vão permitir isso. Ou dedicar-se a atividade social. Porque no Judiciário só vai enfrentar perrengues.

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