Considerações sobre Witzel, o genocida, e o uso político das investigações, por Luis Nassif

Dá-se gás contra Witzel, mas emperram-se as investigações contra os filhos de Bolsonaro nos tribunais superiores. Simples assim, e se terá o mesmo efeito político da Lava Jato

Vamos a alguns pontos sobre a suspensão do mandato do governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro.

As investigações da Lava Jato Rio de Janeiro são sólidas. Não se confunda com a irresponsabilidade crônica da Lava Jato Paraná. O pedido para afastamento e prisão de Witzel é decorrência do chamado poder de caneta do governador que, mantido no cargo, poderia se prevalecer para atrapalhar as investigações.

A alegação levantada para o afastamento do cargo só se justifica se há indícios fortíssimos de utilização do cargo. Caso contrário, cria-se um precedente que poderá ser utilizado politicamente contra governadores sérios – o que não é o caso de Witzel.

Em sua defesa, Witzel recorreu a uma série de falsas espertezas, para se colocar na condição de perseguido político. Chegou até a invocar a perseguição da Lava Jato a Lula.

Vamos às principais espertezas:

1. Acusou a subprocuradora Lindora Araujo de perseguição política.

Toda a investigação, inclusive o pedido de prisão, foi feito pela Lava Jato do Rio de Janeiro que investiga há meses seus malfeitos. Lindora apenas deu encaminhamento aos pedidos.

2. Tentou se equiparar a governadores sérios, investigados pela compra de equipamentos de saúde por preços elevados.

Na eclosão da pandemia, houve uma explosão mundial para a compra de equipamentos. Não havia como adquiri-los pelos preços históricos. Witzel foi além disso. Seu acervo de operações suspeitas vai muito além da compra de equipamentos de saúde.

3. A história de que nenhuma prova foi apresentada contra ele no pedido de afastamento.

Recorre ao mesmo estratagema retórico de políticos como Donald Trump e Jair Bolsonaro: mentir sem ruborizar.

Witzel acertou contratos da esposa com empresas ligadas a Mário Peixoto. Diz ele que não houve nenhuma contrapartida de sua parte. Ora, um de seus primeiros atos foi permitir que empresas de Peixoto  voltassem a operar com o Estado, depois de proibidas por irregularidades cometidas. Seu argumento na época é que, como juiz, teria que dar oportunidade para a parte se manifestar. Só depois que caiu a ficha de que sua atitude era escandalosa, é que voltou atrás.

Aliás, esse episódio, mais o deslumbramento com o cargo – chegou a encomendar uma faixa azul para a posse -, a encenação de Rambo político, filmando-se em helicópteros com metralhadora, tornam Witzel um dos personagens mais ridículo do  zoológico político brasileiro. Mas de um ridículo mortal, ao colocar em prática sua política genocida, que visitou várias crianças atingidas por balas da sua política. Se existe justiça no mundo, ele há de responder por esses crimes a tribunais internacionais.

Mesmo assim, cria-se um precedente perigoso com a decisão de afastá-lo do mandato por uma decisão monocrática de um Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ai não dá. E era mera questão de aguardar alguns dias para que a autorização fosse homologada por um colegiado do STJ.

Outro ponto perigoso é o uso seletivo das investigações criminais do Ministério Público.

Trata-se do seguinte:

1. Ministérios Públicos investigam em várias frentes. Uma delas, por exemplo, o caso de Witzel; outra, a do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro sobre as rachadinhas.

2. Dá-se gás para as investigações contra Witzel, mas emperram-se as investigações contra os filhos de Bolsonaro nos tribunais superiores.

Simples assim, e se terá o mesmo efeito político da Lava Jato.

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. Só não entendi porque a procuradora ordenou busca e apreensão no gabinete do presidente da Alerj. Ops. O presidente da Alerj é do PT. Agora entendi. Detalhe: e favorável ao impeachment do governador e talvez seja por isso que o Toffoli cassou o impeachment. Ah, não , PT de novo! Viva a Venezuela!

    1. Precisamos diferenciar o PT fluminense do nacional. A lógica de política do fluminense é alvo de muitas críticas da própria militância local e nacional. Não é a toa que ex presidentes petistas vem condenando o apoio a um candidato a prefeitura de Belfort Roxo(baixada fluminense)que é bolsonarista.

  2. A lavajato iludiu a muitos, quando se colocou como o bastião da luta contra a corrupção. Agora vê-se que o problema não é a lavajato e sim o lavajatismo. Assim como o bolsonarismo precede e prescinde de Bolsonaro. O lavajatismo prescinde da lavajato ou do MPF. Bolsonarismo e lavajatismo são sinais da ruptura com a decência e abaertura da libertinismo e da liberação das maldades, perseguições e falso-moralismo. Sinais da corrupção endógena.

  3. Está havendo um grande equívoco em todas as análises que tenho lido. Em todas,sem exceção, admite -se que o genocida do Rio não merece uma lágrima sequer. Contudo, todos alertam para o precedente que se abre a partir da decisão monocrática de um togado qualquer.
    Este é o equívoco. Não abre precedente nenhum.
    Esse precedente já foi aberto pelo camisa preta do Paraná, um reles juiz de piso,que,sozinho,prendeu e arrebentou quem quis,como quis e quando quis.
    Um juiz de piso.
    A partir daí a porteira, se estava aberta,deixou de existir e a justiça que nunca foi lá essas coisas,escancarou o seu aparelhamento corporativo e elitista.
    Essa fera não voltará para a jaula sozinha e,pelo andar da carruagem, tem um poder de multiplicação imensurável.
    O melhor a fazer,neste momento, é começar a analisar a partir da constatação de que vivemos em uma ditadura, caso contrário continuaremos a fazer dia a dia análises de um novo começo quando estamos no meio.
    No meio de um golpe.

  4. Pelo que já li por aí das presepadas mortais desse governador, tais como “atirar na cabecinha” e “quem não estiver com a bíblia na mão é bandido”, pelo que pude entender dessas declarações na ocasião, o afastamento ou impedimento imediato compensa o uso político por outros ou qualquer abuso…
    perseguir por perseguir, todos perseguem, por isso não podemos perder ou afastar qualquer oportunidade de neutralizar a ação de qualquer um deles, principalmente quando a vítima principal é a população necessitada

    Em tempos de barbaridades permitidas e praticadas pela maioria, ter menos um só faz bem ao povo.

    É como penso. E se vai beneficiar esta ou aquela pessoa, quem tem que se tocar e analisar é o eleitor, mas certo de que existe uma parte da Justiça que não está nem aí para prejuízos ou benefícios originados da politicagem barata utilizada por todos.

    Mais uma vez o núcleo da visão: Perseguir por Perseguir, Todos Perseguem

  5. Nassif: trata-se de guerra entre facções de VerdeSauvas, como os do pó nos morros e suburbios do Rio e das grandes Metrópoles. São bandidos institucionais lutando pelo domínio de determinas áreas, E, é lógico, quem pode mais chora menos. Você percebeu a semelhança nas táticas, onde “esposas” e outras mulheres-laranjas são fartamente usadas? Dizem que é assim que os Carteis (eu disse “Cartéis”; não confunda) lutam, na geografia do tráfico. O Haiti, por exemplo, é uma excelente escola pra quem deseja um “Master of Business Administration” no ramo. Depois faz doutorado no ComandoSul, da Flórida…

  6. bandidos perseguindo ou protegendo bandidos só pode resultar de um estado completamente fora da lei…
    recentemente tivemos a prova, aqui mesmo no RJ, no tal tiroteio de noite inteira e até a metade do dia seguinte, sendo que neutralizaram apenas os que tentavam tomar o complexo………………………

    pelo que pude ver da cobertura jornalística, os donos tradicionais do pedaço continuaram por lá, livres, protegidos e a comemorar…….Vivas aos vivos! Fomos salvos pela eficiente polícia do RJ

    E o povão dando graças a Deus, que nesta altura do campeonato já deve estar pagando as contas pessoais até das maiores autoridades desse país de faz de conta que nos preocupamos com isso

  7. O padrão da política no Rio de Janeiro remonta décadas e décadas de disputas por poder, lucro e comando. Lá foi Distrito Federal, estado da Guanabara com estado do Rio de Janeiro. As disputas, golpes e crimes fazem parte do arcabouço desta terra. O caso atual é mais uma página do livro BRASIL e seus BUEIROS. Alguém achar que tudo isso começou por causa de um camisa preta de curitiba é porque não conhece de fato a TERRA de SANTA CRUZ. O legado e a cultura de poder é transmitido de geração a geração destas elites locais.

  8. Essa história de que “vamos acabar com a corrupção” e algo ridícula, porque é o mesmo que dizer que “vamos acabar com a ambição humana”. Pior ainda, quando o cara começa a fazer pose de maior vestal do mundo, pode apostar que trata-se de um bandido usando essa camuflagem.

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