Conspirando contra a legalidade: a história do futuro escrita por Marco Antonio Villa

Em artigo publicado no jornal O Globo, o historiador Marco Antonio Villa afirma que:

 

“O PT usará de todos os meios para se manter no poder. Manteve até aqui a campanha em banho-maria, como era do seu interesse. Mas com a permanência de Dilma em um patamar que vai levar a eleição para o segundo turno — isto hoje é líquido e certo —, o partido vai abrir a sua caixa de ferramentas, como o fez em 2006 e 2010.

O uso da internet para desqualificar seus opositores é realizado há um bom tempo. O PT tem um verdadeiro exército de jihadistas prontos para o ataque. O recente episódio de mudanças no perfil de jornalistas na Wikipedia é café pequeno frente ao que vem por aí. O auge do jogo sujo será justamente durante a breve campanha do segundo turno, onde uma calúnia tem muito mais efeito eleitoral, principalmente se divulgada às vésperas da eleição.”

http://oglobo.globo.com/opiniao/os-jihadistas-tupiniquins-13568493

 

O artigo é de um autoritarismo preocupante. Em primeiro lugar, o autor pretende convencer o respeitável público de que vivemos sob um regime político ilegítimo. Ele afirma que o PT usou sua “caixa de ferramentas” para ganhar as eleições de 2006 e 2010. Pouco antes Villa assegura que a “…desmoralização das instituições foi sistematicamente praticada pelo partido”. No entanto ele mesmo desmoralizou o TSE dando a entender que aquele Tribunal participou de fraudes eleitorais para empossar Lula em 2006 e Dilma Rousseff em 2010.

 

Villa compara os petistas aos jihadistas islâmicos. A comparação é absurda, pois desde sua fundação o PT sempre foi um partido pacífico de católicos, agnósticos e ateus. Ao contrário do PSDB paulista, por exemplo, o PT não tem PMs acusados de homicídios em serviço nos seus quadros. O autor do artigo pressupõe que o PT é responsável pela alteração de um verbete na Wikipédia. Mas o que a Wikipédia é aberta e que seu conteúdo não é de propriedade de ninguém, podendo ser alterado por qualquer interessado. Eu não sou petista e mesmo assim já fiz alterações num verbete da Wikipédia http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/wikipedia-meu-amor-por-fabio-de-oliveira-ribeiro .

 

Segundo o especialista em fatos passados, o “…auge do jogo sujo será justamente durante a breve campanha do segundo turno…” . Além de pressupor um fato futuro – o referido segundo turno que pode não ocorrer – Villa antecipa qual será o comportamento do adversário do seu partido. Suas afirmações não são embasadas em fatos, mas em premonições e funcionam, pelo teor, como um ataque preventivo ao PT. No fundo, quem está jogando sujo é o próprio historiador.

 

As acusações fazem parte da disputa política. Marco Antonio Villa ataca o PT, mas nega ao mesmo o direito de fazer qualquer tipo de acusação contra o PSDB. Tudo se passa como se o PSDB fosse um partido acima de qualquer suspeita, muito embora esteja cheio de bandidos condenados pela Justiça por crimes que vão desde o roubo de dinheiro público até o tráfico de drogas.

 

Villa é historiador, portanto, podemos supor que o estudo continuado das tiranias do passado pode ter lhe causado algum tipo de desordem ideológica. O texto paranóico-crítico que ele divulgou no jornal O Globo supõe que o povo brasileiro não existe, que existe e não tem direito de votar no PT ou, pior, que a maioria tem obrigação de eleger o candidato do PSDB.

 

Em razão do conteúdo irracional e da linguagem ríspida utilizada no texto, fiquei com a impressão  que seu autor pretende construir um cenário futuro propício ao início de uma guerra civil. Caso Aécio Neves não passe do primeiro turno ou não ganhe o segundo, a democracia brasileira teria sido derrotada pelo PT, mesmo que a maioria dos brasileiros tenham dado um segundo mandato a Dilma Rousseff. Como todo defensor de tiranias, Villa parece acreditar que democracia boa é apenas aquela em que o seu candidato vencer.

 

Qual é a verdadeira intenção do autor? Sou apenas um advogado e professor de português. Domino bem a arte de interpretar textos, mas não costumo usar bolas de cristal. Não pretende ser equiparado aos historiadores do PSDB. Villa afirma que o PT é uma “…estrutura tentacular tem enorme dificuldade de conviver com a democracia, a alternância no governo e com o equilíbrio entre os poderes…” e que o “…maior obstáculo para o PT é a existência do Estado Democrático de Direito.” Estas são acusações levianas e preconceituosas feitas sem qualquer fundamento empírico. As escolhas feitas por Villa não deixam dúvidas: através do seu texto ele não pretende convencer os leitores com argumentos racionais, mas envolve-los emocionalmente utilizando dois sentimentos básicos (medo e ódio).

 

Não sou petista e, pelo que tenho visto, o  PT é um partido transparente cujas vitórias nas urnas tem sido limpas e proclamadas pela Justiça Eleitoral. O PT obedece o princípio da legalidade e se curva às decisões válidas proferidas pelo Poder Judiciário. O mesmo não se pode dizer do PSDB, partido que impede que seus podres sejam investigados nos parlamentos estaduais e que usa seus imensos tentáculos dentro do Ministério Público e do Judiciário para fustigar seus adversários e proteger os traficantes de drogas e ladrões de dinheiro público que existem nos seus quadros. Durante o governo FHC, o Procurador Geral da República não denunciou um único tucano desonesto. O banqueiro Daniel Dantas, ligado ao PSDB, safou-se da prisão com um HC concedido na calada da noite por um Ministro enfiado no STF por FHC.

 

Todos os piores e notórios defeitos do PSDB, Marco Antonio Villa projetou no PT. Os psicólogos podem explicar este fenômeno melhor do que eu, que prefiro me ater ao texto. Ao fim de seu delírio projetivo, o historiador afirma que a “… máquina autoritária petista pode ser derrotada”. Numa democracia o poder pertence ao povo e qualquer partido pode ser derrotado, inclusive o PT. Mas e se o PT não for derrotado, o que os jihadistas tucanos farão? A julgar pelo tom belicoso do texto, que evoca o anti-comunismo embolorado do período que vai de 1964 a 1988 (evidente no fragmento “…insistência em impor o projeto dos conselhos populares — uma espécie de sovietes dos trópicos…”) teremos que nos preparar para o pior.

 

Fique o senhor Marco Antonio Villa avisado de que em caso de guerra civil estarei do outro lado da terra devastada que ele começou a abrir entre petistas e tucanos caso seu candidato não seja eleito. Se for obrigado a escolher um lado, combaterei o autor do texto comentado com todos os meios que forem necessários à derrota da barbárie que ele estimulou.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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