Crise alimentar: Fim da renda emergencial fará Brasil lembrar a África do passado

José Graziano da Silva, ex-diretor-geral da FAO e pai do Fome Zero, não descarta risco de convulsão social no País

Jornal GGN – Se o governo Bolsonaro cortar o auxílio emergencial como pretende fazer a partir de 2021, a fome no Brasil chegará a níveis desastrosos, lembrando o drama humano visto no continente africano no século passado. É o que avalia o ex-diretor geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), José Graziano da Silva, o “pai” do programa Fome Zero.

Em entrevista a Jamil Chade, do UOL, Graziano afirmou que o corte na renda emergencial antes que o País consiga retomar a economia – o que, no cenário mais otimista, não ocorre antes do final de 2021 – “poderá incorrer em risco de uma crise alimentar similar a das fomes extremas que tristemente caracterizaram o continente africano no século passado, e também em algumas regiões mais pobres da América Latina.”

Graziano não descarta uma crise política e convulsão social decorrentes desse cenário. “Não se pode descartar essa instabilidade. Veja o caso brasileiro: antes da pandemia, essa faixa de pessoas mais vulneráveis já era de 15 milhões. Esse número pode dobrar facilmente se o auxílio emergencial for cortado ou o seu valor for insuficiente para comprar a cesta básica, especialmente no caso de se continuar a escalada inflacionária dos alimentos básicos, como se percebe atualmente”, disse.

Após o governo que derrubou o segundo governo de Dilma Rousseff pelo PT, o Brasil viu suas economia e políticas sociais definhar a ponto de voltar ao Mapa Mundial da Fome. Hoje, “mais de 5% da sua população [está] em situação de insegurança alimentar grave”, e esse patamar foi alcançado antes mesmo da pandemia do novo coronavírus estourar.

SUCATEAMENTO

Para Graziano, além da crise econômica, o desmonte intencional de programas sociais voltados para a segurança alimentar justificam o cenário atual.

Um “pequeno exemplo”, para ele, é a “PAA, Política de Aquisição de Alimentos”, operada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) “e que permite formar estoques de segurança alimentar (de até três meses de consumo) com os excedentes dos produtos básicos na época de safra, como arroz e feijão, entre outros. Com isso, é possível evitar as altas repentinas de preços na entressafra ou aumento repentino do consumo. Esse programa chegou a dispor de R$ 2 bilhões no Orçamento da União, mas nos últimos esse valor foi reduzido em dez vezes, passando a contar apenas com R$ 200 milhões. Para não falar da Conab, que está sendo sucateada para ser privatizada – seus armazéns estão sendo fechados ou vendidos.”

A entrevista completa aqui.

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Redação

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