Feminismo, fake news, candidatura, união em 2022: Manuela D’Ávila na TVGGN

Confira os principais pontos abortados por Manuela no programa Cai Na Roda, realizado pelas jornalistas do GGN no Youtube

Jornal GGN – O 10º episódio do programa “Cai Na Roda” recebeu a ex-deputada e ex- candidata a vice-presidente da República Manuela D’Ávila, do PCdoB.

Com leveza e otimismo ímpar, Manu falou à redação do GGN sobre a resistência ao bolsonarismo, a luta travada contra as fake news e os aprendizados tirados da histórica eleição de 2018. Para ela, houve um “erro de diagnóstico” em setores da esquerda que subestimaram o potencial das redes sociais. Apesar disso, foi a sétima eleição que Manu disputou, e a primeira em que sentiu “alívio” como mulher.

Ela também tratou da construção de uma frente eleitoral para impedir a reeleição de Bolsonaro em 2022, da candidatura à Prefeitura de Porto Alegre, da violência política de gênero que atravessa sua carreira desde o primeiro mandato, entre outros assuntos.

Confira os principais pontos abaixo:

ELEIÇÃO 2020

Nós podemos fazer de Porto Alegre a alternativa àquilo que o Brasil vive. Nós resistimos porque nos impõem a resistência, mas nós queremos transformar a vida da população. Meu sonho é mostrar que é possível construir nesse momento da história atravessado por múltiplas crises – econômica, sanitária, ambiental – um outro rumo.

MULHER NA POLÍTICA

Essa vai ser minha oitava eleição. Eu vivi coisas incríveis desde os meus 22 anos, coisas que pouquíssimas brasileiras viveram. Nós somos muito poucas mulheres na política. Pouquíssimas ocupam um espaço público, menos ainda ocupam esse espaço aos 22 anos de idade como eu.

Eu vivi tempos históricos muito diferentes. Quando assumi [como vereadora], com 22 anos, não existia nenhuma mulher jovem nos espaços de poder. Também não existia o debate sobre feminismo tão pulsante na sociedade.

Quando fui à Brasília [eleita deputada federal pela primeira vez em 2006], parece que foi quase em um outro tempo histórico… Penso isso até para ficar feliz: que diante de tanto horror, tivemos transformações positivas. Fui com 25 anos para Brasília, com 300 mil votos, e era tratada de ‘bonitinha no Congresso’, sendo que a minha origem é a luta no movimento estudantil. Até hoje setores da direita usam contra mim a ideia de ‘quem sou eu? É aquela bonitinha, aquela riquinha’. Ainda são alimentados pelo preconceito construído naquele período. Hoje é impensável que uma das parlamentares que chegou em 2018 lá seja tratada de tal maneira, mesmo no ápice do bolsonarismo.

Sempre me faz refletir: [naquele tempo] de um lado, conquistei junto com meus companheiros políticas extraordinárias para o Brasil. A gente pôde voltar Prouni, Minha Casa, Minha Vida, a gente garantiu o dinheiro do pré-sal para a Educação. Era um tempo de conquista, de sonho para o Brasil desenvolvido. E agora essa penumbra, literalmente: a penumbra da fumaça do Pantanal que arde e chega nos grandes centros urbanos. Mas também temos grandes conquistas que ficaram. A consciência dos homens e mulheres negros, a consciência das mulheres, a consciência de que é possível e urgente subverter a política. Quintana tem uma poesia que ele fala que às vezes a gente ri e ninguém sabe de onde vem aquele riso, mas a gente está rindo das coisas que já passaram. As conquistas sociais são assim, elas vão ficando. Acho que a gente deixou marcas. Apesar de estarmos em um momento de extrema ofensiva da direita, nós deixamos marcas importantes.

MACHISMO NA POLÍTICA

Eu não tenho um relato de violência política de gênero. A minha vida inteira na política institucional é a violência política de gênero que não tinha nome. Quando me chamavam de ‘bonita’ e eu questionava, pediam para eu parar de ser chata. Quando me interrompiam nas entrevistas e ninguém se dava conta, achavam que eu era incapaz… Nos processos de decisão interno no nosso campo político também, mas sobretudo, externo, quando diziam que eu era incapaz… A minha vida inteira foi marcada por isso.

ELEIÇÃO DE 2018 e o “ELE NÃO”

2018 foi a eleição mais difícil que eu disputei. Acho que foi a eleição mais difícil na nossa história, não existiu nada como aquilo, mas foi uma eleição marcada por muitos sentimentos contraditórios.

Ao mesmo tempo em que era horrível a violência das fake news que eu sofria, eu senti algo que nunca tinha sentido. Para mim, como mulher, foi a campanha mais fácil de fazer. Porque foi a primeira campanha que as outras mulheres me olhavam e diziam: ‘Nossa, eles te interromperam no Roda Viva’, e aquilo não parecia um problema, um defeito, uma incapacidade minha. Ao mesmo tempo que foi toda aquela violência, em todos os sentidos, foi o primeiro momento que falei ‘uau’. [Depois do Roda Viva] as pessoas me ligavam chorando e eu me perguntava ‘o que que aconteceu’, porque, para mim, era mais um dos programas em que eu havia sido vítima de uma violência, um esforço de silenciamento, pessoas me explicando o que é o meu partido, onde eu milito há 23 anos; pessoas me explicando a minha trajetória para mim. Eu fiz 8% dos votos no meu Estado para deputada federal.

Para mim foi uma libertação, foi motivo de felicidade. Talvez não seja a expressão mais adequada, mas foi um encontro meu com a minha militância. Um momento de grande alívio, talvez seja essa a expressão. Pela primeira vez, na sétima eleição que eu disputava, eu pensei: ‘Nossa, a maior parte das minhas pessoas entende o que é estar na minha pele’.

A vivência das mulheres no Parlamento é atravessada pela violência política de gênero.

Acho que aumentamos nossa capacidade de identificação do que é violência política de gênero e isso faz com que exista um controle maior e denúncia maior sobre o que vivemos.

Ser atacada sabendo que as pessoas estão sabendo porque aquilo acontece me dá um alívio, um quentinho no peito, sabe?

O AUTO-RECONHECIMENTO COMO FEMINISTA 

Eu comecei a militar em 1999, no milênio anterior. Esse é um período, no meu entendimento, em que muitas de nós, mulheres, não identificávamos na questão de gênero uma questão central. Nós achávamos que debater questões relacionadas às mulheres era debater uma questão menor. Embora fôssemos minoria de mulheres que chegavam a ocupar cargos de direção nos movimentos estudantis, nós achávamos que tínhamos que fazer as grandes discussões e que essas questões não eram grandes. A gente tinha que disputar ideias sobre economia, infraestrutura, geopolítica, sobre temas mais duros.

Eu poderia usar várias expressões chulas para dizer como é que foi. Mas é que a vida deu um tapa na cara, né?

Eu venho de uma família muito matriarcal. Minha mãe é a figura central. Somos em cinco irmãos, quatro mulheres, só o mais novo é homem. Eu tinha uma ideia objetiva [do que era feminismo], a partir do meu lugar de fala eu interpretava a realidade. E eu achava que as mulheres já tinham alcançado todos os seus objetivos. Minha mãe teve que lutar muito. Ela se separou antes da lei de divórcio, foi afastada da universidade, reprovada em concurso público porque não era ‘virgem’, era ‘desquitada’. Então para mim [feminismo] era uma coisa importante, mas que tinha sido do passado, porque eu tive uma formação muito livre, eu escolhi o que eu queria fazer, eu escolhia onde eu queria ir, não tinha ninguém me dizendo o que eu podia ou não fazer, e para mim o feminismo era muito sobre isso. Eu achava que era uma luta superada.

Aí virei vereadora com 22 anos de idade e tomei o primeiro ‘pá, tum, tum’ na cara, né, gurias? Ali já balançou muito. Mas existem duas grandes viradas. Ali [como vereadora] me dei conta de que aquilo [a política] não era para mim, ‘isso aqui é dos homens’, um templo sagrado do masculino. Mas me elegi deputada.

Quando me elegi deputada, eu tinha 25 anos e fiz 271.939 votos. Isso é voto para caramba em qualquer lugar, mas aqui no Rio Grande do Sul é muito voto, foi a maior votação da história do meu Estado. Eu [de repente] cheguei em Brasília e virei um corpo caminhando. As pessoas julgavam a partir de se eu estava gorda, se eu estava magra, se eu estava separada.

Olhando para trás, eu adoeci completamente porque me botei a condição de provar para eles que eu não era isso. Então eu trabalhava 20 horas por dia. (…) Eu tinha que produzir muito mais que qualquer um para mostrar que eu não era aquela pessoa. Isso foi atravessando a minha militância.

tem um segundo momento de virada na minha vida que é a maternidade. Foi quase como se nascesse uma outra Manuela depois da maternidade da Laura. E essa expressão não é exagerada, não é ‘mãezinha’, não é de ódio à maternidade. É expressão de uma mulher que milita desde os seus 16 anos, que há bastante tempo já lutava em defesa dos direitos das mulheres, já tinha tido a tomada de consciência e que, mesmo assim, não percebia de forma viva como a relação com os cuidados domésticos ou com o chamado trabalho reprodutivo é a base estrutural da desigualdade das mulheres e homens na sociedade. Aí me dei conta de tudo.

Parecia que tinham me dado uma droga que eu conseguia enxergar, como nos desenhos animados em que o cara enxerga o que os outros não estão vendo. Eu comecei a enxergar coisas que há anos estavam na minha frente e eu não via. Coisas que a partir de detalhes, às vezes, me mostravam como eu até era aceita como mulher, mas não podia ser aceita como mãe.

Eu tenho um companheiro, meu marido é muito especial, me ajuda muito nesse processo de desconstrução e me faz perceber como eu reproduzo machismo. Ele foi muito importante para o meu exercício da maternidade.

Me lembro que eu queria viver a maternidade de um jeito que eu achava certo para mim. Nunca dei palpite para ninguém. Mas eu queria amamentar minha filha. Eu achava razoável que eu, como figura pública que sou, e acredito muito no poder do exemplo, não tivesse uma mulher negra reproduzindo a história das mucamas comigo. Eu achava que era importante porque, via de regra, são mulheres negras as que cuidam [das crianças] para outra mulher trabalhar.

Eu tenho uma situação privilegiada, meu marido é artista, não é um celetista que tem horário para cumprir. Então comecei a me dar conta de coisas elementares. Por exemplo: reunião de líder da bancada às 12h. ‘Vocês não dão almoço para as crianças? Eu preciso de intervalo para amamentar. Por que a sessão começa às 16h? Ninguém aqui busca filhos na escola?’ Eu crio meu enteado desde os 9 anos, mas a dinâmica dos primeiros anos de cuidado desmascara muito mais. É uma dependência basicamente total.

Então, digamos, me tornei feminista há mais de 13 anos. Foi uma coisa de me dizer ‘eu sou essa pessoa’, mas eu me tornei alguém, e me torno cada dia alguém mais convicta e radicalizada com o exercício da maternidade. Mudou tudo.

Ser mãe de uma mulher, então, é uma loucura. Depois que a Laura nasceu eu tive uma crise de choro por horas. (…) É muito duro. É uma luta ser mãe de mulher num País que matam tantas mulheres como o nosso.

FAKE NEWS

Eu fui principal alvo de ataque de fake news e das redes de ódio em 2018 porque as fake news andam de mãos dadas com as redes de ódio. A misoginia é um ingrediente que foi incluído no cardápio da política brasileira a partir do ano de 2016. Não existe fake news desprovida de um preconceito que existe de forma real na sociedade. O machismo existe de forma real na sociedade, foi agudizado com o golpe de 2016.

Quando acabou a eleição eu tinha que decidir o que fazer da vida. Terminei meu mestrado durante o processo eleitoral. Decidi escrever o primeiro livro sobre maternidade demonstrando que a gente continua no caminho do enfrentamento não com ódio, mas com redes de afeto e solidariedade, e a maternidade foi um ponto de encontro meu com mulheres durante a eleição, para desnudar a nossa invisibilidade. Então eu criei o instituto “E Se Fosse Você”, além de lançar o livro, pensando em algo muito simples, que era a ideia da produção de conteúdos didáticos e de internet que fizessem as pessoas perceber o impacto das redes de ódio na vida das outras pessoas, e de como eles precisavam ter um procedimento padrão de checagem de notícias.

Evidentemente que eu sei que para a gente derrotar as fake news precisamos de mais que a conscientização das pessoas. Mas precisamos também conscientizar.

Às vezes a gente vincula a ideia de há uma ignorância em setores que estudam menos. Mas mais de 90% dos adolescentes que estudam no nosso País não diferem fato de opinião. É disso que se trata.

Se trata – e aí respondendo sua pergunta [sobre pautas identitárias] – de pessoas que são dirigentes políticos e formulam suas opiniões sobre 2018 a partir de fake news sobre o ato do ‘Ele Não’, por exemplo. Pessoas que dão opinião sobre a luta das mulheres a partir da versão construída pela redes de ódio sobre a luta das mulheres, portanto, a partir da agenda do adversário é que constrói a sua visão sobre a realidade de como a esquerda deve atuar.

No terceiro livro que estou lançando agora – o ‘E Se Fosse Você’ – o prefácio é do Felipe Neto.

O Felipe Neto, em uma única noite, derrubou 1,4 mil vídeos no Youtube. Numa noite na eleição presidencial, nós derrubamos 13 mil vídeo que tinham sido compartilhados por 147 mil pessoas. Com uma única decisão judicial. Essa é a escala do que fizeram comigo em 2018.

O Jean Wyllys – que às vezes até as pessoas do nosso campo não entendem porque não está no Brasil, acha que é uma coisa identitária – o mandato dele em 2014 bloqueou 400 mil perfis de haters. O Felipe derrubou 1,4 mil vídeos e teve matéria no Fantástico e no Jornal Nacional…

No prefácio o Felipe diz que teve lá o apoio ao golpe, depois ele foi vendo o Bolsonaro crescer e aí se deu conta de que tinham muitos erros, mas ele continuava achando eu, o Jean e o [Marcelo] Freixo éramos ‘pessoas radicais’. ‘Essa esquerda radical, com causas impossíveis, que colocam tudo a perder’. E ele diz que mesmo sabendo o que eram as fake news a nossa respeito, o inconsciente dele reproduzia essa ideia de que nós éramos ‘radicaloides’. Só quando ele viveu as fake news é que ele se deu conta. Ele se pergunta como reagiria se tivesse um dia sendo chamado de pedófilo.

As pessoas, elas nos julgam a partir de mentiras e formulam opiniões sobre a realidade, a esquerda e direita, a partir de fake news e das impressões que as fake news vão deixando, e não disputam a agenda política.

Tentar negar o papel das mulheres é negar o ato mais importante das eleições de 2018. Nós mulheres trabalhamos. Não existe pauta identitária – mulheres, negros e gays. Nós somos os trabalhadores desse País. Durante a pandemia, o desemprego não é igual para todo mundo. As enfermeiras, as técnicas de enfermagem, as faxineiras, as caixas de supermercado, essas profissões majoritariamente femininas, com as escolas fechadas, nós é que não temos com quem deixar nossos filhos.

Quem está com ‘lero-lero’ de falar que defender mulher, negro e negra é fazer pauta de ‘identidade’… não é sobre a nossa identidade! Tudo no mundo é sobre a nossa identidade. Quem fala isso geralmente está reafirmando a sua identidade. Em geral, um homem branco. O professor Silvio Almeida fala isso no seu livro ‘Racismo Estrutural’: não me surpreende que sempre quem nos chama de identitários seja um homem branco, reafirmando a sua identidade.

Sinceramente não tenho nem paciência. Vai na comunidade, veja quem está sofrendo com a pandemia. É igual para branco e negro? Trabalhadores sofrem igual, mas não sofrem igual os homens e as mulheres. Quem cuida dos filhos num País como o nosso?

Quem quer debater a questão da desigualdade brasileira – e acho que é a vocação da esquerda, a gente existe para isso – quem quiser debater desigualdade social e ignorar que a desigualdade social e econômica brasileira tem uma coisa estrutural a partir da questão racial, e que tem a questão de gênero, não sei em que País vive.

A gente tem que ter uma agenda, nosso feminismo e a luta antirracista tem que ser popular. Vamos falar com as mulheres da comunidade. Qual é a pauta central? Elas querem creche. Na vida real é a creche que aniquila a possibilidade das mulheres voltarem ao mercado de trabalho ou trabalharem de forma melhor.

Acho que a gente precisa se reconectar com o povo. O problema é esse: quando a pessoa vai ficando muito longe, vai parando até de olhar direito, com nitidez, o que está embaixo.

PREFEITURA OU PRESIDÊNCIA?

Estou lutando muito para ser prefeita de Porto Alegre e é para ser prefeita pelos quatro anos.

Nossa cidade está absolutamente abandonada. Nos tornamos uma cidade tomada por crianças nas sinaleiras, com a nota do Ideb entre as piores do País, com mais de 220 mil pessoas que hoje vivem graças à renda emergencial. Eu serei a primeira prefeita mulher da nossa cidade e vou governar pelos 4 anos.

UNIÃO EM 2022

Eu torço muito para que a gente esteja unido em 2022.

O que eu quero e trabalho é para que nós estejamos unidos e tenhamos uma candidatura que dialogue com o futuro do nosso País.

Eu tenho a impressão de que a nossa base social, que se identifica com as nossas ideias, está unida.

O PCdoB, meu partido, vai trabalhar para construir a derrota do bolsonarismo, esse projeto que tem aniquilado a esperança do nosso povo.

“EXAGERADOS”

Sempre reflito sobre aquele período de 2012, 2013, 2014, em que um grupo de parlamentares, entre os quais eu me incluo, combatemos muito, muito, muito o surgimento dessa extrema-direita [na Comissão de Direitos Humanos da Câmara].

Eu lembro do Jair Bolsonaro e do próprio deputado Marco Feliciano. Mas nós éramos chamados de ‘exagerados’, ‘radicais’, que a gente queria dar visibilidade para eles ao querer puni-los pelos crimes que eles cometiam.

GOVERNABILIDADE

Como vamos governar [em Porto Alegre]? Com o povo da cidade. Nossa cidade tem tradição nisso. Na década de 1960, ela resistiu ao golpe com Brizola. Essa é a capital da legalidade no País, foi essa cidade que disse: ‘não, não vai ter golpe de verdade’, aquele golpe dos militares. Essa cidade criou o orçamento participativo, o Fórum Social Mundial, isso deixa marcas no povo. Essa cidade vai ser chamada para governador comigo e o Miguel Rossetto [PT]. Vai ser muito difícil, mas não vai ser um governo que vira para a sociedade e diz: ‘te vira’. Vai ser o contrário. Vai ter rede de solidariedade.

NAUFRÁGIO DA ESQUERDA

A esquerda não vai naufragar porque nossas causas são as causas justas. Nosso pensamento sobrevive há séculos. Foram se transformando a partir das demandas do nosso povo. Não existe como nós naufragarmos porque nós não somos partidos, não somos personalidade, nós somos, como diria o velho Marx, um espírito que ronda.

ERROS DE 2018 e REDES SOCIAIS

Eu realmente acho que muitos erros de diagnóstico se dão em função da incapacidade das pessoas em perceber que a internet não é um espaço de comunicação simplesmente. É um espaço de formação e de disputa de ideias.

Eu particularmente sempre achei que o Bolsonaro era o candidato favorito. Me diziam ‘ele não tem tempo de TV’, ‘ele não tem partido nacional’. Só que ele tinha ferramentas que fazia ele ter um partido nacional, que era a relação direta com as pessoas a partir das redes sociais. Acho que nós não entendemos ainda que as redes são uma espécie de assembleia popular permanente.

Eu nunca fiz política sem o uso de internet. Em 2005, no meu primeiro mandato, eu usava o Orkut para prestar contas do meu mandato.

Se a gente não entender disso, a gente vai continuar ferrado, sabe?

Não existe contradição entre redes e ruas. É redes e ruas, tudo ao mesmo tempo. Tá na rua e tá na rede, tudo junto.

Acho que nossa turma precisa compreender mais profundamente o que são as redes, o que são as fake news, o que é esse espaço de uma política muito mais horizontal.

As pessoas existem e elas sabem que elas existem, então nosso debate sobre democracia deve ser feito de forma radicalizada. É full time transparência. Não existe decisão que não possa ser submetida ao escrutínio.

É claro que tem gente que preferia um lugar mais cômodo, mas enfim, acho que a gente precisa entender para ter condições de construir algo em 2022.

ANTIPETISMO E FRENTE ANTI-BOLSONARO

[GGN pergunta: Devido ao antipetismo latente, é pré-requisito para a esquerda em 2022 que o PT não tenha um candidato próprio?] 

Deus me livre colocar requisitos para qualquer um. O pré-requisito é que a gente consiga ter um programa.

Agora, existem duas coisas para mim que são óbvias: existem setores da esquerda iludidos com a possibilidade de que o antipetismo seja dirigido ao PT. Não é. O antipetismo é antiesquerda, ‘anti’ nós, ‘anti’ nossas ideias. Basta ver que eles chamam petistas e não petistas de comunista, e não todos são filiados ao nosso partido, como é evidente.

Para mim é um problema de não compreender que há uma cruzada contra o nosso campo, uma cruzada da extrema-direita no mundo. O PT está no centro pelo simples fato de que é o principal partido de nós todos, e tem o principal líder político, que é o Luís Inácio. É por isso que está no centro dos ataques. Se fosse outro partido, seu principal líder ia estar no centro dos ataques também.

O requisito [para a união em 2022] é: um, compreender isso e, dois, compreender que não existe como a gente construir esse projeto para 2022 baseado no antipetismoSe é preciso que estejamos juntos, também é preciso que uma turma nossa supere isso.

Eu nunca fui do PT na vida. Desde os 16 anos sou filiada ao PCdoB. Mas acho importante que uma turma perceba isso. ‘Ah, vai ser [candidato] do PT, não vai ser do PT’, para mim, existem muitos critérios: o programa, quem está melhor nas pesquisas podem ser critérios. O mais importante é que estejamos unidos.

Eu me sinto com legitimidade para dizer isso porque eu era candidata à Presidência em 2018. Eu sei o que significaria a candidatura de uma mulher naquela conjuntura, sobretudo uma mulher jovem. Não significava pouca coisa para mim e para o PCdoB, e nós abrimos mão pela unidade.

Unidade não é uma bandeira vazia, é um exercício de ocupar espaços a partir de ideias que representamos, não só do protagonismo individual ou partidário.

Nesse momento o que nos une é muito nítido, porque o terror que o outro lado representa para o nosso povo é gritante.

SOBRE O CAI NA RODA – Com novos episódios todos os sábados, agora a partir das 20h, o “Cai Na Roda” é um programa semanal de entrevistas realizado pelas jornalistas do GGN, com o intuito de dar voz e vez a outras mulheres de diversas áreas de conhecimento. Já recebemos Ana Estela Haddad, Gleisi Hoffmann, Esther Solano, Letícia Sallorenzo, Laerte Coutinho, Tata Amaral, Paula Nunes, Cilene Victor, Eliara Santana e a ativista Paula Nunes. Confira a playlist.

Redação

1 Comentário

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  1. Amo Manuela. Pessoa franca e maravilhosa a quem conheço apenas pelo que a ouço (na maior parte das vezes leio) falar. Com todo meu amor eu a perdoo por não se candidatar a nada nesta eleição. E digo que perdoo, claro, porque discordo dela. E discordo com um bom motivo, que se chama “Coeficiente partidário”.
    Aquela montanha de votos que ela pode ter nesta eleição como deputada pode representar muito para constituir uma forte bancada do nosso lado na Câmara de Deputados. Numa democracia instável como a nossa em que muitos lá naquela casa de leis se vendem e passam apenas a agir em concordância com o executivo, é forçoso que Manuela venha a ponderar a importância de fazermos mais deputados de qualidade, que se assemelhem a ela em sua forma de ver, analisar e agir, para lá dentro daquela casa termos um quadro que realmente atue na recuperação e reconstrução de nosso país em curto prazo. Imagino que a consideração disso (se é que ela ainda não considerou ou pensou nisso) possa fazê-la mudar de posição…

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