Imprensa francesa entende “bolo” de Bolsonaro em ministro como humilhação

Publicações destacam que Bolsonaro cancelou encontro com ministro das Relações Exteriores da França para cortar o cabelo, classificando atitude do presidente brasileiro de "gesto teatral" e tentativa de "humilhação"

Por Jean-Philip Struck

Na Deutsche Welle

Imprensa francesa repercute “bolo” dado por Bolsonaro em ministro

A imprensa francesa destacou negativamente a atitude do presidente Jair Bolsonaro de cancelar em cima da hora um encontro previamente marcado com o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.

Na última segunda-feira (29/07), minutos antes de uma reunião prevista em Brasília, o francês foi avisado de que Bolsonaro estava com problemas de agenda e não poderia comparecer ao encontro, que havia sido anunciando oficialmente na agenda do Planalto. No entanto, minutos depois do horário original da reunião, Bolsonaro apareceu em uma live nas redes sociais cortando o cabelo.

Le Drian foi primeiro membro do alto escalão do governo do presidente Emmanuel Macron a visitar o Brasil desde a posse de Bolsonaro.

“Jair Bolsonaro cancela um encontro com Jean-Yves Le Drian por causa de um corte de cabelo”, noticiou o jornal Le Monde [leia a íntegra aqui].

“Na diplomacia, Bolsonaro prefere a provocação, mas, em um confronto, o chefe de Estado brasileiro privilegia a humilhação do adversário”, disse o jornal, que lembrou que o governo Macron vem pressionando o Brasil em questões de preservação do meio ambiente, ainda mais depois da assinatura do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

Essa pressão vem irritando Bolsonaro, que já declarou aos europeus que não pretende aceitar “lições” de países europeus em matéria de preservação do meio ambiente.

“Ao aparecer publicamente no cabeleireiro em vez de ao lado de um dos pesos-pesados do governo francês, Jair Bolsonaro reafirma seu soberanismo tanto quanto seu desprezo pelo discurso moralizador de Paris em relação ao meio ambiente”, escreveu o Le Monde.

Já o jornal de economia Les Echos abordou o gesto do presidente brasileiro em uma reportagem com o título “Bolsonaro despreza Le Drian em Brasília”. Segundo o diário, a comunidade empresarial francesa com negócios no Brasil vinha pedindo que Paris enviasse algum ministro de destaque para visitar o país sul-americano após a posse de Bolsonaro.

O jornal destacou ainda que mil grandes empresas francesas têm sede no Brasil e entrevistou Fréderic Junck, presidente do Conselho de Comércio Exterior da França (CCEF) no Brasil, que disse que o “encontro perdido não agregou valor para nossas relações”.

O cancelamento do encontro em cima da hora, seguido pelo gesto de aparecer cortando cabelo na internet, também repercutiu negativamente em reportagem do site da revista ultraconservadora Valeurs Actuelles, que ideologicamente compartilha várias das ideias do círculo de Bolsonaro.

A publicação costuma publicar reportagens sobre supostas conspirações do bilionário George Soros (um alvo corriqueiro da extrema direita mundial) e textos criticando ativistas ambientais.

“Algo jamais visto! Em matéria de diplomacia impulsiva, o presidente Jair Bolsonaro deve ultrapassar Donald Trump”, publicou a revista, que classificou a coisa toda como um “escândalo diplomático em Brasília”.

“O encontro foi cancelado pelo próprio Bolsonaro no último momento. Motivo: ‘um problema de agenda’. Mas isso não impediu que o presidente brasileiro aparecesse no Facebook cortando o cabelo…”

“‘Romper com os códigos da diplomacia do jeito que Trump faz com a Coreia do Norte é uma coisa. Já a falta de educação e de cortesia  em relação a uma grande nação como a França nos deixa mortificados’, disse um diplomata brasileiro”, destacou a revista

“O gesto teatral brasileiro teve ainda um prelúdio inacreditável quando Bolsonaro abandonou qualquer discrição e declarou que Le Drian não ousaria lhe falar grosseiramente sobre questões ambientais”, destacou a revista.

Por fim, a publicação francesa lembrou que mais cedo no mesmo dia Bolsonaro havia citado incorretamente o cargo do ministro do Exterior francês: “Contra todas as probabilidades, ele nomeou (Le Drian) como primeiro-ministro francês (sic).”

Redação

5 Comentários

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  1. Bolsonaro confundiu o Ministro das Relações Exteriores com o Primeiro-Ministro. Dá para levar essa gente a sério… Os bolsominions estão conseguindo o que queriam; destruir o país.

  2. Bolsonaro esquece que a o país que faz a maior fronteira com a França é exatamente o Brasil, ou seja, TROPAS FRANCESAS poderão estar junto as nossas fronteiras sem precisar nenhuma justificativa.

  3. Nos tornamos um país antipático com esse boçal na presidência. Mas me pergunto por qual razão os ricos brasileiros que infestam os centros de compras dos países centrais do capitalismo não são tratados com o desprezo que merecem por causa do presidente que eles colocaram no poder. Resposta óbvia: ninguém não está nem aí desde que a grana daqui continue fluindo para lá! E esse é o limite do moralismo deles.

  4. Recordar é viver: editorial de capa da Folha de S. Paulo publicado em 02/04/2016

    Nem Dilma, Nem Temer

    A presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu as condições de governar o país.

    É com pesar que este jornal chega a essa conclusão. Nunca é desejável interromper, ainda que por meios legais, um mandato presidencial obtido em eleição democrática.

    Depois de seu partido protagonizar os maiores escândalos de corrupção de que se tem notícia; depois de se reeleger à custa de clamoroso estelionato eleitoral; depois de seu governo provocar a pior recessão da história, Dilma colhe o que merece.

    Formou-se imensa maioria favorável a seu impeachment. As maiores manifestações políticas de que se tem registro no Brasil tomaram as ruas a exigir a remoção da presidente. Sempre oportunistas, as forças dominantes no Congresso ocupam o vazio deixado pelo colapso do governo.

    A administração foi posta a serviço de dois propósitos: barrar o impedimento, mediante desbragada compra de apoio parlamentar, e proteger o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com problemas na Justiça.

    Mesmo que vença a batalha na Câmara, o que parece cada vez mais improvável, não se vislumbra como ela possa voltar a governar. Os fatores que levaram à falência de sua autoridade persistirão.

    Enquanto Dilma Rousseff permanecer no cargo, a nação seguirá crispada, paralisada. É forçoso reconhecer que a presidente constitui hoje o obstáculo à recuperação do país.

    Esta Folha continuará empenhando-se em publicar um resumo equilibrado dos fatos e um espectro plural de opiniões, mas passa a se incluir entre os que preferem a renúncia à deposição constitucional.

    Embora existam motivos para o impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável. Não que faltem indícios de má conduta; falta, até agora, comprovação cabal. Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura orçamentária ainda permissiva.

    Mesmo desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva; o impeachment tenderá a deixar um rastro de ressentimento. Já a renúncia traduziria, num gesto de desapego e realismo, a consciência da mandatária de que condições alheias à sua vontade a impedem de se desincumbir da missão.

    A mesma consciência deveria ter Michel Temer (PMDB), que tampouco dispõe de suficiente apoio na sociedade. Dada a gravidade excepcional desta crise, seria uma bênção que o poder retornasse logo ao povo a fim de que ele investisse alguém da legitimidade requerida para promover reformas estruturais e tirar o país da estagnação.

    O Tribunal Superior Eleitoral julgará as contas da chapa eleita em 2014 e poderá cassá-la. Seja por essa saída, seja pela renúncia dupla, a população seria convocada a participar de nova eleição presidencial, num prazo de 90 dias.

    Imprescindível, antes, que a Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal Federal afaste de vez a nefasta figura de Eduardo Cunha –o próximo na linha de sucessão–, réu naquela corte e que jamais poderia dirigir o Brasil nesse intervalo.

    Dilma Rousseff deve renunciar já, para poupar o país do trauma do impeachment e superar tanto o impasse que o mantém atolado como a calamidade sem precedentes do atual governo.

  5. Escuse moi, franceses, o presidente do Brasil tava ocupado assistindo um filme de gay porn e portanto tinha as maos ocupadas. Better luck next time.

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