Do Grupo Prerrogativas
A saga da Gamecorp chegou ao fim
Fábio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, anunciou em carta aos funcionários na semana passada a venda de sua participação na Gamecorp, empresa responsável pela PlayTV. Por anos os negócios de Fábio Luís foram devassados por ataques e denuncias caluniosas, mas nunca nenhum ilícito foi comprovado. Na carta (leia a íntegra abaixo), em tom emocianado, ele lembrou das “tempestades” que enfrentou com o canal. Foi um dos negócios mais polêmicos já realizados no Brasil. Há cerca de 15 anos, uma das maiores empresas de telefonia do país, a Telemar (atualmente Oi) investiu cinco milhões de reais por uma fatia minoritária de uma empresa até então desconhecida: a Gamecorp SA, que tinha entre seus sócios Fábio Luís da Silva, um dos filhos do ex-presidente Lula, do PT.
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O negócio foi feito às claras, inclusive com notas oficiais publicadas em jornais. E o dinheiro praticamente todo investido no negócio, a PlayTV, um canal de TV a cabo especializado em games, com um estúdio próprio de gravação, que chegou a empregar 300 pessoas, tinha entre seus patrocinadores e parceiros empresas como Itaú e Samsung e chegou a ocupar o primeiro lugar do Ibope em seu segmento, com programação destinada ao público jovem. Sob praticamente todos os aspectos, a não ser pelo sobrenome de um dos sócios, um negócio que poderia ter sido como outro qualquer.
Nos últimos 15 anos o nome da Gamecorp esteve nos jornais toda semana, só que raramente nas páginas de negócios. Fábio e os sócios foram acusados montar um negócio de fachada e de embolsar milhões para facilitar o trânsito da Telemar no governo Lula. A transação foi analisada pela CVM, pelo Cade, investigada pela Polícia Federal, Ministério Público Federal, objeto de discussão de duas CPI e duas operações da Lava Jato. Apesar da devassa, e do uso político das acusações a fim de atingir Lula, irregularidades nunca foram demonstradas.
Curiosamente, o negócio que se dizia de fachada, ficou com programação no ar por 17 anos seguidos, disponível para mais de 20 milhões de pessoas na TV a cabo. Fábio, que foi acusado de saltar sem escalas direto de um estágio no zoológico de São para o posto de CEO, nunca respondeu aos ataques.
Essa saga chegou ao fim. Nas últimas semanas, a Gamecorp foi vendida para o empresário Walther Abrahão Filho. Filho de um locutor esportivo, já foi candidato a vereador em São Paulo, coordenador do DEM e disputou vaga a deputado estadual pelo PR. Nunca foi próximo do PT, mas teria visto na Gamecorp um negócio sólido, oportunidade para realizar o plano antigo de ter uma TV. O valor do negócio foi mantido em sigilo. Segundo amigos de Fábio, ele e os sócios continuarão trabalhando com tecnologia.
Carta anuncia venda da Gamecorp
Lembro desses últimos 15 anos como se tivesse feito uma longa escalada, em um terreno muito íngrime, sempre contra o vento e as tempestades. A maioria das empresas precisa se preocupar apenas em fazer seu trabalho direito, para conquistar e agradar seus clientes. Eu acho que nosso desafio foi muito maior pois também tivemos que enfrentar a desconfiança da mídia, operações policiais para busca de documentos dentro de nossos lares, denúncias do Ministério Público, inquirições em CPIs, inquéritos na Polícia Federal, ondas de ataques em redes sociais e o julgamento fulminante da opinião pública. Não conheço um negócio que tenha sido tão vasculhado, por tanto tempo. Em vários momentos eu me senti absolutamente exausto. Mas agora, olhando para trás, posso dizer com toda tranquilidade e convicção que valeu a pena cada minuto dessa jornada. Apesar do massacre, nunca conseguiram demonstrar qualquer irregularidade. Nada. Quero dizer, bem alto, que eu tenho muito orgulho da Gamecorp e de tudo que construímos juntos, só com trabalho, criatividade e competência.
Tenho alguns arrependimentos. Poucos. Um deles é que perdemos tanto tempo enfrentando críticas por aquilo que não fizemos, que deixamos de comemorar o que fizemos. Hoje a indústria dos games é uma potência, mas quando começamos era muito diferente. Conseguimos enxergar um negócio, onde a maior parte das pessoas só via uma brincadeira de garotos. É hora de lembrar que fomos um dos inovadores dessa indústria aqui no Brasil. A PlayTV, primeiro canal voltado exclusivamente ao mundo dos games, disputou o primeiro lugar no Ibope contra grandes grupos de comunicação e chegou a reunir uma equipe de 300 pessoas, totalmente voltada para a produção de conteúdos. Conseguimos atrair investidores pela qualidade do nosso negócio. Construímos uma empresa que deu lucro, gerou empregos e da qual tirei meu sustento. Como vocês sabem, começa agora uma nova etapa. O mercado de TV a cabo sofreu mudanças muito grandes nos últimos anos. Para sobreviver a elas, entendemos que a empresa precisa de vários recursos que não somos capazes de mobilizar. A Gamecorp foi adquirida pelo empresário Walter Abrahão Filho, que já atua no ramo e tem a experiência e as condições para enfrentar esse desafio.
Fica meu enorme agradecimento a todos os nossos valentes e brilhantes colaboradores e aos meus sócios Kalil e Fernando, com quem dividi os melhores e os mais difíceis momentos dessa história. Nós três continuamos juntos, aprendemos um bocado e vamos seguir trabalhando com tecnologia. Para acabar, eu gostaria de dar um grande abraço em cada um de vocês, mas meu lado biólogo manda eu seguir à risca as recomendações, por isso #FiqueEmCasa.
Obrigado.
Fábio Lula da Silva.
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Pois é, uma pessoa que passou 17 anos sob ataque e faz uma despedida elegante, sem ódio. Um texto claro, bem escrito. Questão de criação, de família.
Isso mesmo, o que mais emerge do texto é a elegância. Depois vem a lição. Sucesso pra ele!
Então, como disse Lula, ele apenas fez um negócio que deu certo. Que talento empresarial!
Mas agora, você acredita mesmo que ele teria o apoio daquelas empresas todas, se não fosse filho do presidente da república?
Um negócio pode ser legal, mas também imoral.