Marcas da violação: o dia seguinte a um estupro moral, por Tiago Nunes

Do Facebook de Tiago Nunes, como eu, brasileiro expatriado:

“Único colega brasileiro que tenho aqui no trabalho é um reacionário paulista leitor do Estadão. Veio falar comigo hoje de manhã, viu a minha cara e deu meia volta. Não nos falamos o dia inteiro. Na saída, eu o encontro no ponto de ônibus sozinho. Silêncio. Ninguém dá um pio. Como se algo terrível tivesse acontecido, como se algo de vital tivesse quebrado para sempre, sem volta. O vento frio batia na nossa cara sem trégua enquanto esperávamos o ônibus e posso dizer que havia algo de solene no ar. Parecia um enterro. E esse sentimento não partia só de mim, emanava dele também. Sabíamos que havíamos tomado um caminho sem volta, cada um de um lado diferente da estrada. O ônibus chegou e, sem falar uma palavra, sentamos em bancos diferentes. Ele saiu num ponto mais adiante, sem se despedir. Amanhã creio que voltamos a nos falar como se nada tivesse acontecido. Mas hoje não dava pra falar, para brincar, fazer piada. Hoje era o dia do enterro de uma jovem de apenas 27 aninhos. Tchau, querida democracia”.

Redação

2 Comentários

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  1. terra arrasada
    É certo que este é um cenário representativo do que se verificou em todas as instâncias da convivência social no Day after : lares, escolas, repartições, clubes, igrejas … E mesmo dentre os que estiveram alinhados surgiram divergências, nuances, frequências e tonalidades gerando ondas concêntricas de distanciamento (um paradoxo?).
    Natural, o pensamento livre é um ativo. No entanto, sob a atmosfera de animosidade e “torcidas” que foi criada e alimentada nos últimos meses, não há escuta, não há audição, não há troca. Restaram, das cinzas da violência, os monólogos irados e a surdez para tudo que seja diverso.
    Abundam os desencontros onde deveria, por força e necessidade que as circunstâncias impõem, imperar a concórdia e o diálogo.
    Tempos muito, muito tristes.

    1. Verdade, Edu.
      E como vc pode

      Verdade, Edu.

      E como vc pode ver do post, essa clivagem se deu na terra-mãe, mas tb nas comunidades de brasileiros expatriados.

      Tds estavam um pouco entorpecidos ontem. Todos em choque apos a inacreditavel votaçao na Camara.

      Mesmo os apoiadores do golpe ficaram em silencia. Nao tinha como comemorar aquilo.

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