O britânico Ray Whelan e os cambistas de luxo da Copa do Mundo

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Jornal GGN – Matéria publicada na versão brasileira do site do El País relata o caminho das investigações que prenderam uma quadrilha que revendia ingressos da Copa do Mundo. O foco é o britâncio Ray Whelan, considerado o ‘cérebro’ da rede, que está preso desde a semana passada na penitenciária de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro. As denúncias podem implicar a própria FIFA, já que Whelan é diretor-executivo da Match Hospitality, empresa que tinha os direitos exclusivos de vendas de pacotes de luxo, e que é uma filial da Match, responsável pela venda de todos os ingressos da Copa e que tem como um dos acionistas Phillipe Blatter, sobrinho de Joseph Blatter, presidente da FIFA. Lei mais abaixo:

Do El País

O britânico que escapou do ‘Copa’

Whelan, cérebro da rede de revenda de ingressos na Copa, compromete a FIFA

Na biografia conhecida de Ray Whelan (Reino Unido, 1950), destacam-se dois dados: o primeiro é que foi agente de sir Bobby Charlton; o segundo, que na semana passada, nos dias cruciais da Copa, fugiu por uma porta de serviço do hotel mais caro do Rio de Janeiro, quando a polícia estava prestes a prendê-lo (pela segunda vez) como suspeito de dirigir uma rede de revenda ilegal de ingressos vinculada à FIFA. A operação policial, batizada de Jules Rimet, foi iniciada há três meses, sem que a própria FIFA fosse informada. A polícia tinha gravado com autorização judicial 50.000 conversas telefônicas, nas quais estavam envolvidos alguns dos sócios mais diretos da entidade. As conexões apontavam para figuras relevantes da organização. Porta-vozes da FIFA negavam qualquer implicação e asseguravam colaborar com a polícia, mas alguns balbuceios nos briefings matinais denotavam um crescente nervosismo. “Falem de futebol, falem de futebol”, dizia Blatter aos jornalistas quando saía do luxuoso hotel Copacabana Palace, em frente a uma das praias mais famosas do mundo, o mesmo de onde Whelan escapou quando a situação parecia a ponto de explodir.

Cerca de 100 horas depois, já terminada a Copa, o fugitivo se entregou à Justiça. Proclamou-se inocente e disse querer “exercer sua defesa”. Desde então, detido na penitenciária de Gericinó, na zona oeste do Rio, luta contra a acusação de ter dirigido uma rede de 30 pessoas que a cada Copa nos últimos 16 anos podia obter lucros ilegais equivalentes a 120 milhões de reais. Ou seja, mais de 450 milhões de reais em quatro Copas; centenas de milhares de ingressos desviados do sistema oficial e furtadas dos torcedores. Ray Whelan é diretor-executivo da Match Hospitality, a empresa à qual a FIFA concedeu os direitos exclusivos de pacotes de luxo (450.000 ingressos e serviços VIP) para a Copa: um negócio de centenas de milhões de dólares. A Match Hospitality, por sua vez, é filial da Match, companhia que tem direitos exclusivos para a venda de todos os ingressos da Copa (três milhões, 64 partidas por torneio) desde 1998. Um dos acionistas da Match Hospitality é Philippe Blatter, sobrinho do presidente da FIFA.

A trama pode ter gerado lucros ilegais de 450 milhões de reais em quatro Copas

Dos 50.000 grampos telefônicos, 900 correspondem a conversas e mensagens entre Whelan e o empresário argelino Lamine Fofana, detido alguns dias antes de Whelan e considerado o número dois da rede. Em um ou mais desses diálogos, fica comprovada a revenda de ingressos por dezenas de milhares de reais e a promessa de uma recompensa financeira. “Eu pago o sujeito da FIFA”, diz Fofana em uma delas. A Match alega que não falavam de ingressos, e sim de serviços VIP. Também insiste na inocência de Whelan. Mas Fabio Barucke, delegado-chefe da 18ª Delegacia de Polícia do Rio, afirma o contrário. Ele solicitou inclusive a ajuda do jornalista britânico Andrew Jennings, autor do livro Jogo Sujo: O Mundo Secreto da FIFA, segundo quem “Whelan sabe absolutamente tudo sobre o esquema de corrupção da FIFA”. A polícia até o momento prendeu 12 pessoas.

Os investigadores acusam Whelan de ser um dos principais fornecedores dos ingressos que eram posteriormente revendidos a preços muito superiores ao oficial. Fofana era o responsável por fazer as entradas chegarem a cambistas que negociavam com compradores individuais e agências de turismo. “Tinham montado um mercado paralelo de entradas”, afirma Barucke. No dia anterior à final, um ingresso nas ruas do Rio custava entre 20.000 e 30.000 reais. Na internet, os pacotes VIP custavam o dobro. Se for confirmado o papel central de Whelan e se ele decidir contar o que sabe, as consequências para a FIFA podem ser decisivas, no momento de pior reputação da entidade, com Blatter recebendo vaias nos estádios e com importantes patrocinadores exigindo transparência diante das fundadas suspeitas de corrupção na forçada entrega da Copa de 2022 ao Qatar.

O caso salpica um sobrinho de Joseph Blatter, e a polícia brasileira deteve 12 pessoas até agora

As ramificações do caso envolvem integralmente a FIFA. Whelan foi um dos consultores contratados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para colaborar na preparação da Copa de 2014, quando a entidade responsável pelo futebol brasileiro ainda era dirigida por Ricardo Teixeira, hoje radicado em Miami e culpado pela FIFA de ter recebido subornos milionários junto com seu ex-sogro João Havelange, ex-presidente da FIFA. Este, por sua vez, introduziu no negócio os irmãos mexicanos Jaime e Enrique Byrom, em 1986. Os Byrom são os proprietários da Match e, além disso, cunhados de Ray Whelan. Controlam com exclusividade a venda de ingressos para o torneio desde 1998. Fazem parte do círculo mais íntimo de colaboradores de Philip Blatter. A FIFA se gaba de uma colaboração de 30 anos com uma empresa “leal e respeitável”. Mas a polícia suspeita que eles dividiam lotes grandes de ingressos entre seus aliados e seus clientes, em um mercado ilícito que é ameaçado agora, ao ser revelado pela primeira vez.

Redação

10 Comentários

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  1. Gostaria de ver a policia

    Gostaria de ver a policia brasileira agindo com o mesmo “padrão FIFA” contra o Daniel Dantas e outros poderosos.

    Tomara que a policia do RJ tenha sucesso.

    Porque corre o risco de alguns juiz ou desembargador mandar soltar todo mundo por falta de provas, até porque, os acusadas não fazem parte dos 4 ps.

    “Gilmar Mendes deve está eufórico para o caso chegar ao STF.”

    1. Eu vi

      O então delegado Protógenes Queiroz prendeu-o em flagrante delito ,mas graças ao nosso Judiciário ele foi solto em menos de 12 horas e quem foi punido foi o delegado seu chefe e o juíz que o mandou pra cadeia .reforma do judiciário já !

  2. Não entendo o melê que a

    Não entendo o melê que a Polícia Brasileira está fazendo!

    A Fifa é uma entidade totalmente privada. Fez um acordo com o governo brasileiro para fornecer tantos ingressos pelo preço estipulado (por sinal menor do que queriam), deveria fornecer outros tantos para pessoas desabilitadas pela metade do preço. Ao que tudo indica a Fifa e a Match cumpriram o acordo.

    O que interessa à polícia brasileiro o que eles fizeram com o saldo de ingressos???? É uma empresa privada que vende os ingressos pelo preço que quiser, conforme “as leis de mercado”, e não precisa dar satisfações a ninguém.

    Ou eles acham que os milionários iriam ficar de madugrada na internet esperando um novo lote de ingressos? Como o número de interessados é muito maior que o de lugares é óbvio que a “lei de mercado”, na firma totalmente privada, iria prevalecer. Tchau e benção para a polícia brasileira…

    1. Cambismo é crime

      Cambismo é crime, previsto no Estatuto do Torcedor, que em sua maioria estava plenamente em vigor e aplicável durante a Copa do Mundo

      (Ao contrário do que acredita o Motta Araujo, que diz que o Brasil renunciou à sua jurisdição durante a Copa…)

      1. ‘Lei de Mercado” é Crime?

        Não dá para misturar cambismo com lei de mercado. A outra parte do acordo com a FIFA, ou seja, o governo brasileiro reclamou que o acordo de entrega de ingressos não foi cumprido? Não. Então a sobra de ingressos pertence a FIFA e ela vende para os “VIP’s” pelo preço que quiser e ninguém tem nada com isso. Ponto. É simples assim. Inclusive porque muitos destes potenciais compradores nem brasileiros eram. O resto é um bando de oportunistas querem aparecer na foto. Um delegado chegou a dizer que a policia dos outros países era incompetente porque há mais de três Copas que esta vendagem ocorre.

        O fato de eu não gostar da FIFA, da CBF e da privatização do futebol brasileiro, não me impede de distiguir o que é cambismo e o que é oportunismo de mercado. Afinal, nada mais neoliberal do que o futebol e Copa do Mundo…

        1. Simplificação jurídico / policialesca

          Estas simplificações policialescas acabam levando Ministro para a cadeia por “domínio do fato”, Ativista a pedir asilo ao Uruguai e por aí vai. So não prende quem gasta dinheiro público na construção de aeroporto privado.

          1. Mas é simples mesmo

            Juridicamente é simples mesmo. Prova prática disso: não anularam a investigação e o cabeça do esquema já está no Supremo pedindo habeas corpus, depois de houvir não do TJ/RJ e do STJ. 

            Agora parece que mesmo simples é difícil pra você entender…

          2. Empresa supranacional manda e desmanda em país alheio

            Veja bem o que é a autonomia de uma empresa supranacional que, digamos assim, não está submetida às leis de nenhum país. Qualquer clube de futebol e suas confederações têm que abrir mão da justiça do seu país e se submeter apenas aos tribunais esportivos da FIFA, para dirimir questões advindas dos eventos de que participam.

            Esta empresa criou um certame tão importante que se formam filas de países interessados em que ele ocorra em seus territórios. A FIFA impõe as condições para permitir que tal ou qual país sedie o SEU CERTAME. É feito previamente um acordo para que o evento se realize. Mas o CERTAME é da empresa supranacional. Ora se o certame é desta empresa os ingressos que não foram acertados com o país sede são da empresa. Quem define o que deve ser ingresso de cortesia, VIP, participantes especiais, brindes e delegações é a empresa supranacional e não o governo brasileiro e sua polícia. Ela não precisa de caixa II para vender sub-repticiamente estes ingressos. Se impostos existem a ser pagos (o que eu não tenho certeza) podem e devem ser pagos. Pronto.

            O Estatuto do Torcedor funciona para os estádios que pertencem aos estados da federação. Ao privatizá-los, que façam um contrato muito bem feito, senão vão cair na mesma situação.

        2. Acho que você ainda não entendeu…

          Não é “sobra de ingresso”, não é ingresso que foi pra bilheteria, não foi comprado e ficou sobrando. São ingressos que deveriam ter uma destinação específica (brinde, delegação, etc…) e foram desviados dessa condição, para ser revendidos em mercado negro, por baixo dos panos. Se fossem sobra de ingresso seriam vendidos normalmente, como esses aqui: http://glo.bo/1mC0clb.

          Ao ser vendidos assim geraram lucro de caixa 2 pra FIFA e ainda não recolheram imposto (sim, os ingressos vendidos da Copa pagaram imposto!), logo além do cambismo tem a sonegação.

          Agora, se você quer se esforçar grandemente pra argumentar a favor de um esquema de desvios que vem desde a Copa de 2002, fique à vontade. A FIFA agradece seu apoio…

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